Três Formas de Amar - 24

Um conto erótico de Peu_Lu
Categoria: Homossexual
Contém 2435 palavras
Data: 17/08/2014 12:44:57

Três Formas de Amar – Capítulo 24

- Mãe?

- Oi filho... Te assustei? – ela apareceu na porta da cozinha.

- Um pouco – esbocei um sorriso – Não me avisou nada, nem o porteiro me disse.

- Quis fazer uma surpresinha. Faz tanto tempo que não te vejo...

Minha mãe sempre expressou um desejo em morar no interior do Estado. Achava mais calmo, longe da confusão, perto dos familiares, mas sempre adiou por minha causa. Queria me ver estudando numa faculdade, trabalhando, e correndo atrás do meu sustento. Depois que evoluí um bocado com a ajuda da Paula, ela se sentiu mais tranquila para concretizar o seu sonho. Seria uma prova de fogo para ambos. Sempre moramos sós, nós dois. Ela se mantendo boa parte da vida ocupada para me dar todo subsídio necessário e eu tentando corresponder da melhor maneira possível. Um laço que se rompeu, mas fisicamente apenas, já que nos falávamos sempre que surgia uma oportunidade ou quando batia uma carência.

Puxei-a para um abraço forte, apertado.

- Estava morrendo de saudade. Quando você chegou? – disse com a cabeça repousando no seu ombro.

- Ontem pela manhã. Seu Jonas me disse que você tinha viajado.

Seu Jonas era o porteiro. Todos conheciam minha mãe. Apesar de deixar o apartamento aos meus cuidados, considerava que aquela casa era sua. Ela mantinha uma cópia da chave e tudo estava no mesmo lugar, como sempre gostou.

- Aproveitei e fiz umas comprinhas... Dei uma volta na cozinha e já deu pra ver que você está passando fome – ela esboçou um sorrisinho ao me ver revirando os olhos – Não adianta fazer essa cara, é a verdade. Pra onde você viajou, foi a trabalho?

- Não mãe, campeonato de vôlei. Estava no Ceará.

- Ah, o vôlei! E como foi? – Às vezes ela se esquecia das minhas atividades.

- Foi legal, vencemos as duas partidas... – respondi sem muita empolgação.

- Eita, que desânimo! Aconteceu alguma coisa?

- Não mãe, cansaço só. Acabei de chegar do aeroporto. Vou tomar um banho porque amanhã tenho que acordar cedo tá?

- Tudo bem filho, vá descansar – ela puxou minha cabeça para um beijo na testa, sua marca registrada – Ainda teremos a semana toda para colocar o papo em dia – completou sorrindo.

“A semana toda... Que ótimo!”, tentei não revirar os olhos novamente. Adorava a presença da minha mãe, mas talvez ela tivesse chegado num momento complicado. Estava mesmo desanimado e chateado com uma porção de coisas, mas se deixasse transparecer, receberia uma avalanche de perguntas. Ela ficava preocupada com muita facilidade, talvez pelo meu histórico de introspecção. Compreensível.

Tomei um rápido banho, me despedi e fui me deitar. Mandei uma mensagem para Rodrigo, dizendo que já havia retornado. Ele não respondeu, e preferi culpar o horário. “Já deve estar dormindo”, concluí.

...

Saí do banho no dia seguinte sentindo cheiro de bolo de chocolate e já imaginava o que encontraria na mesa. Perto da destreza de Dona Catarina na cozinha, os cafés matinais de Rodrigo pareceriam um lanche de criança. Terminei de me vestir e segui ao seu encontro. Ela ainda não tinha notado minha presença quando me sentei já espantado com a quantidade de coisas para duas pessoas comerem. Minha mãe estava com roupa de ginástica e achei graça em lembrar que ela acorda muito cedo para a sua caminhada sagrada.

Fez festa ao me ver, procurando espaço para alocar mais guloseimas. “É... Nessa semana, de fome eu não morro”. Tagarelava sobre diversos assuntos da família, que todos falavam que eu nunca aparecia, queriam saber como eu estava, se ainda estava trabalhando... Era uma metralhadora de informações. E sim, minha família tinha algo de fofoqueira, tipicamente interiorana. Não no mau sentido, o de querer causar intriga, mas de curiosidade com a vida dos seus membros. Tentava acompanhar, mas meu pensamento estava bem longe dali. Precisava encontrar uma forma de conversar com Rodrigo, ter um dia normal, adiantar coisas do trabalho, e uma infinidade de pequenas obrigações. Procurava mentalizar que tudo daria certo, mas já tinha me acostumado a esperar qualquer imprevisto, visto os últimos acontecimentos.

- Ei, tem alguém aí? – Minha mãe estalava os dedos na minha frente.

- Desculpa mãe, estava pensando em umas coisas do trabalho. Já estou um pouco atrasado, inclusive – odiava mentir para ela, mas não queria encher a sua cabeça de problemas.

- Então vai escovar os dentes que vou separar algumas coisinhas pra você levar – ela se deu por vencida.

Agradeci com um sorriso e um beijo na sua mão, saindo apressado para o banheiro.

...

A caminho da agência, recebi uma mensagem de Rodrigo, dizendo que não tinha visto quando escrevi, porque já estava no vigésimo sono, confirmando o que suspeitei.

- “Beleza, relaxa. A gente pode bater um papo hoje?” – respondi.

- “Acho que sim. Me liga quando sair do trabalho que eu te encontro”.

- “Certo. Só não pode ser lá em casa. Minha mãe vai passar uns dias comigo”.

- “Ah, que bacana... A gente combina então”.

Não prossegui com a conversa. A verdade é que eu não estava sentindo um clima legal entre a gente. Mais da parte dele do que da minha. “Isso nunca é um bom sinal...”. Na agência, o trabalho continuava na mesma, com reuniões intermináveis e ideias pouco inspiradas. Tinha a sensação de que as horas não passavam e o dia estava arrastado demais. A apresentação da minha campanha com Antônio estava próxima, e precisávamos acelerar o processo. Foi o que me manteve focado, e às vezes distraído, longe dos outros problemas.

À noite, mandei nova mensagem para Rodrigo, procurando saber uma posição, e ele me pediu para ir à sua casa. Em seguida, liguei para minha mãe, informando que chegaria um pouco mais tarde. Não queria parar a minha conversa para ter que explicar alguma coisa, caso ela estivesse preocupada. Segui para o meu encontro, cheio de dúvidas e ansiedade, ainda pensando no fim de semana confuso que atravessamosOi Lu, entra! – Rodrigo pediu.

- E aí, como você tá?

Cumprimentamo-nos com um breve abraço.

- Eu tô bem. Cansadão, mas bem – ele esboçou um sorriso – Quer alguma coisa? Coloquei uma pizza no fogão pra gente comer.

- Valeu, tô começando a ficar com fome mesmo. Quando tiver pronto eu bebo alguma coisa.

Ficamos na sala, sentados no sofá. Não queria começar o assunto de vez, mas também estava decidido a não ficar fazendo rodeios sobre o tema.

- Como foi lá na agência hoje, tudo tranquilo? – ele começou.

- Tudo sim. Estão rolando uns projetos bacanas, a mesma correria de sempre.

- Não é nenhuma concorrência não né? – ele sorriu, fazendo graça da nossa situação.

- Não, pode ficar sossegado.

Após um breve silêncio, emendei:

- Como foi a volta da viagem? Conseguiu adiantar o voo mesmo?

- Não, precisei comprar outra passagem. Mas foi melhor, cheguei mais cedo, descansei...

- E você tá bem?

- Tô levando... Acho que aconteceu o que precisava acontecer – ele já estava mais sério, sem querer desenvolver muito o contexto.

- Entendi. Naquele dia eu acabei contando tudo para Ricardo. Sobre a gente.

- Sério? – Rodrigo estava surpreso.

- Sim, e disse algumas verdades pro Beto. Por pouco a gente não partiu para a briga.

Rodrigo me olhava atento, tentando calcular o que dizer.

- Você deveria conversar com eles. Eu sei como eu agi, mas isso não significa que você precisa agir igual. São seus amigos...

- Não, não são meus amigos – interrompi – Na verdade, na volta para Salvador, fiquei pensando se em algum momento eles chegaram a ser. Talvez a minha visão de amizade fosse um pouco confusa.

Aquela conversa começou a virar uma autoanálise e já estava começando a ficar cabisbaixo. Rodrigo percebeu, e mudou de assunto:

- Sua mãe está aqui?

- Tá sim. Chegou no final de semana e vai ficar uns dias comigo. Às vezes ela faz isso.

- Que legal. Pelo menos você tem uma companhia.

Aquilo me soou estranho, mas Rodrigo logo procurou corrigir:

- Digo por que eu também sinto falta da minha às vezes, e carinho de mãe sempre é bom.

- É... – não queria falar sobre a minha mãe, e precisava ser mais incisivo - Rodrigo, tá acontecendo alguma coisa? – falei na lata.

- Como assim?

- Assim mesmo como você tá imaginando. A gente passou um final de semana estranho, mal se comunicou, teve toda aquela confusão.

- Luciano...

- Há uma semana eu estava te conhecendo melhor, conhecendo a sua família – disparei, já no ponto que eu queria – Depois você viajou, a gente mal se falou, tudo ficou bem estranho. Hoje você mal respondeu às minhas mensagens. O que é que tá pegando cara?

Rodrigo suspirou e ficou em silêncio. “Definitivamente, alguma coisa está errada”.

- Conversa comigo Rodrigo. Pode falar, numa boa.

- Luciano... – ele fez uma pausa me encarando - Tudo indica que eu vá embora de Salvador...

Ensaiei uma fala, mas parei por um momento. Tentei repassar todos os últimos fatos na minha cabeça, procurando uma justificativa:

- Descobriram alguma coisa na sua empresa? Tem a ver com alguém que a gente conheça?

- Não, não descobriram nada. Ninguém fez nada – ele se apressou em esclarecer – Na reunião lá em São Paulo, um dos diretores sinalizou o desejo de unificar toda a parte de comunicação no escritório da matriz. Isso significaria que eu ganharia um cargo maior, e comandaria tudo de lá.

Eu tentava encontrar um jeito de não ficar desanimado, afinal, aquilo seria ótimo para a carreira dele. Mas não era fácil não pensar na nossa situação.

- Já tem alguma data para acontecer? – disse já supondo que ele aceitou.

- Não, eu não sei ainda.

Novo silêncio. Por um breve instante me passou pela cabeça o tempo que ele já sabia sobre o assunto.

- Rodrigo, porque você só está me dizendo isso agora?

- Porque eu não tive escolha. Soube disso no meio da semana. Dei um jeito de viajar para o jogo. Queria estar com você, conversar sobre isso, mas aconteceu o que aconteceu.

- Poxa, uma mensagem ajudaria, uma ligação. Há dias sinto você mais frio. O que aconteceu com “não gosto de deixar assuntos inacabados”? Só se aplica a você? – disse meio chateado.

- Luciano, não é assunto inacabado. Não fala assim pô! Não é uma conversa qualquer para ser avisada num texto não. Era uma coisa que eu queria te falar pessoalmente.

O celular de Rodrigo apitou no bolso. Ele olhou para a tela, silenciou e guardou novamente, voltando a me encarar. Não bastava a confusão na empresa, a confusão com os amigos... Sempre tinha que surgir um impasse maior. Mas estava decidido a contornar a situação:

- Tudo bem, digamos que você vá embora amanhã. Como podemos fazer?

- Como assim?

- Sobre a gente Rodrigo, acorda! A gente se vê quinzenalmente? Uma vez você vem, uma vez eu vou? A gente faz um planejamento?

- Luciano... – Rodrigo suspirou novamente.

- A gente dá um jeito, velho. Chega de ficar se deixando levar pelos problemas que impõem pra gente. Nos ajustamos...

Rodrigo estava sério, mas evitava me olhar diretamente.

- Eu... não acho que vá dar certo, Luciano. Desculpa, é complicado.

Durante alguns segundos tentei assimilar o significado do que ele estava dizendo. “Ele está terminando, é isso?”, tentava me lembrar de tudo que tinha rolado até ali:

- Então o “vou fazer de tudo pra gente ficar junto” não era nada, é isso? – falava calmamente, sem querer transparecer uma ira crescendo dentro de mim – E o “estamos só começando?”, o “confia em mim”, “vamos fazer dar certo”, “você é um cara especial”... hein?

Rodrigo não disse nada.

- Responde, porra! – deixei escapar num grito.

Rodrigo agora me encarava, sério. Um cheiro forte de queimado começou a invadir a sala, junto que uma fumaça que vinha da cozinha.

- Merda! – Rodrigo saiu correndo para tirar a pizza do forno – Espera um pouco!

Permaneci em silêncio e não pensei duas vezes em ir embora, é claro. “Espera um pouco é o caralho!”. Por mim o chão poderia se abrir, queria desaparecer. “Lidar com relacionamentos, e problemas, e novas descobertas é um saco!”, era a única coisa que se passava na minha cabeça. Na saída do seu prédio, meu celular apitou, mas não parei para ler. Tinha pressa. Precisava me isolar do mundo.

...

Aproveitei a ausência de minha mãe na sala ou na cozinha, e segui para o quarto. Não tinha nem vontade de tirar a roupa. Olhei o celular. Era uma mensagem dele:

- “Não fica assim, por favor. Vamos conversar de um jeito racional”.

Queria gritar e mandar ele para todos os lugares possíveis.

- “Não há o que conversar. Tô tranquilo. Obrigado por mais uma primeira vez”.

Não consegui responder mais nada e desliguei o celular. Milhões de pensamentos percorriam a minha mente. Me senti um babaca, um imbecil, ingênuo demais para perceber algumas coisas. E comecei a chorar. Um choro silencioso, não de dor ou de tristeza (ao menos eu não estava interpretando assim), mas de raiva. Raiva por ter passado por cima de tanta coisa, medos, angústias, pra nada. Não me dei conta quando percebi um vulto se aproximando.

- Luciano, você tá chorando? – Minha mãe acendeu a luminária ao lado da minha cama – O que houve, não te vi chegando...

Nenhuma desculpa do mundo serviria para eu fugir de um momento como aquele.

- Nada não mãe... tô chateado com algumas coisas – passava a mão nos olhos para disfarçar, mas a minha cara denunciava.

- É algo que eu possa ajudar? Você quer conversar?

- Não mãe, relaxa... daqui a pouco passa.

Dona Catarina me deu um beijo na testa, sem querer se intrometer. Sempre que ficava assim acuado, ela procurava respeitar o momento. Fez um afago no meu cabelo e se levantou. De repente, voltei a pensar o quão idiota estava sendo. “Ela é sua mãe, estúpido!”. Era hora de abrir o jogo. Precisava desabafar com alguém:

-Mãe, espera...

(continua)

...

Oi pessoal! Desculpa a ausência, mas uma gripe me pegou de jeito e não tinha forças para ficar na frente do laptop. Me surpreendi com os comentários, não imaginava que esse episódio tivesse tanta repercussão, admito. Marcos Roger, que bom que continua acompanhando, valeu mesmo! Guigo1, que situação hein? Espero que já esteja numa boa com a sua família. O “tirar satisfação” foi uma coisa do momento. Nessas horas a emoção fala mais alto. Drica Telles, é verdade! Qualquer tipo de preconceito é irracional, e só cria mais exclusões. Falta respeito às pessoas. Ru/Ruanito e Geomateus, não sou muito de agressão física, mas confesso que quase chegamos lá. Irish, também acho o ódio em si uma coisa ruim, mas nesses momentos, é uma coisa que não dá para controlar. Stylo, concordo com você, amigos genuínos são artigos raríssimos. KaduNascimento, eu tenho a sorte de ter uma supermãe! KarlinhaAngel, que honra estar entre os seus preferidos. Assim você me deixa sem graça (rs). Mais uma vez, obrigado por todos os comentários e votos. Ainda hoje, volto com outro capítulo para compensar, prometo. Beijão!

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Comentários

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kkkkkkkkk na hora q vc explode vc esquece os princípios

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Lamentável a desistencia tão facil do Rodrigo, quase um atestado de fraqueza, infelizmente. Espero que ele se arrependa.

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Mais um obstaculo,espero que superem!

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Q triste esse capítulo....tu vai si abrir agora com tua mãe espero q pelo menos um poukinho dessa tua angústia passe! luh axo q ninguém nunca ti perguntou isso mais tem como tu mi explicar "as Três formas d amar"? bjim luh

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Luciano precisa se libertar, deixa o Rodrigo ir, quem tem que ver a burrada que tah fazendo é o Rodrigo. Abração!!! Se puder me add no face ou skype, eu adoro conversa com os autores(se for me add, fala alguma coisa no chat pra mim saber que e vc). Whats se preferir::: (85)8929-1690

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Skype:: brcednc (Eduardo Nascimento)

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