A aula da saudade havia terminado já há meia hora para os formandos em Odontologia quando João Carlos, o JC, veio falar comigo para saber da minha resposta...
_ Já decidiu, Pedro? Se já me diz...Qual a proposta que você vai aceitar?
_ A tua é a melhor, só que, caso eu aceite trabalhar junto com você na clínica do seu pai, terei que começar já na segunda-feira. O Ewerton vai me dá pelo menos vinte dias de férias, coisa que tô realmente precisando. Tava aqui pensando numa coisa que omiti sem querer, minha mãe não tá nada bem cara e o Câncer espalhou completamente...
_ Caralho meu, por que você não disse logo? Claro que isso muda tudo. Meu pai vai entender a tua situação e com certeza vamos esperar você. Será que posso fazer algo por você e sua família?
_ Mais do que você já esta fazendo? Rapaz, se não fosse a sua ajuda e dos demais amigos eu nem sei o que seria de nós lá em casa. Sei inclusive que minha divida com cada um de vocês só cresce.
Pedro Souza Lins, garoto pobre e batalhador que ao ganhar uma bolsa de estudos conseguiu a muito custo ingressar na Faculdade de Odontologia depois de muito batalhar na vida. Era o único filho de Margarida Souza Lins, mãe solteira, lavadeira em casa de família e que no último ano da Faculdade do filho, foi diagnosticada com câncer de mama infelizmente já em fase terminal. Apesar de tudo, nunca se deixou abater pelos reveses da vida que teimavam em lhe rondar e mesmo tendo que vender o almoço pra comprar o jantar, seguiu em frente e se tornou um homem de bem e um dos mais brilhantes alunos do curso na Universidade Federal do Ceará. A mãe não cansava de dizer que ele era o seu maior orgulho contrariamente a avó e o avô que viam nele apenas mais uma boca pra alimentar, fora a vergonha dele não saber nem quem era o pai.
Por ser muito bom nos estudos, desde o final do Ensino Fundamental que ele sempre teve no mínimo 10 amigos sob sua responsabilidade em aulas particulares. Ganhava um bom dinheiro que sabiamente usava nos seus gastos pessoais e também ajudando a mãe.
Era um garoto magro e alto de tez clara e cabelos castanhos claros. Os olhos destoavam da cor do cabelo, eram negros tal qual a asa da graúna do José de Alencar e seu corpo era totalmente proporcional, causando às vezes inveja nos amigos que se matavam em academias de musculação, dietas balanceadas e praticas intermináveis de esportes.
Tinha na pessoa de João Carlos um dos maiores e melhores amigos da vida e assim que ele veio com essa proposta de trabalhar na Clínica Menezes Gurgel, ele soube que tinha vencido na vida, pois o Dr. Glauber Menezes Gurgel, pai do amigo João Carlos havia ampliado a Clínica e decidiu contratar mais três profissionais e ao falar com o filho, ele automaticamente lembrou do melhor aluno do curso que seria inclusive Orador na Colação de Grau que se aproximava.
Os dois praticamente viviam pregados um no outro e nem o fato da mãe de Pedro ser a lavadeira da casa de João Carlos, alterou essa amizade. Ele estava com 23 anos, dois anos a menos que JC.
_ Nesse caso, quero trabalhar com vocês, aceito a sua proposta. Só não esquece de falar com teu pai o quanto antes e assim que você tiver algo a me dizer, liga no rato, beleza? O rato, era como eles chamavam os respectivos aparelhos celular que tinham...
_ Pode deixar Pedrão, agora vamos que faço questão de te deixar em casa.
_ De jeito nenhum rapaz... Você vai preferir me levar ou levar a Suzana Amaral, ela inclusive hoje não veio de carro, talvez tivesse planos...
_ Sinto muito em te dizer amigo, que ela fique com seus planos eu tenho outros... Vamos?
João Carlos, foi um dos garotos que sempre precisou da ajuda do amigo em aulas particulares. Os dois travaram amizade desde o primeiro dia que Pedro Lins chegou no novo colégio após ter ganho uma bolsa de estudos e após seis meses a mãe do amigo passou a trabalhar na mansão dos Menezes Gurgel três vezes na semana.
JC era o cara que fazia questão de estar cercado de amigos por todos os lados. Ele era apontado como o verdadeiro amigo dos amigos, o cara que sempre estaria junto nos melhores e piores momentos. Desde que D. Margarida Lins adoecera e não mais pôde trabalhar que ele juntamente com alguns amigos, ajudavam a família do amigo Pedro em praticamente tudo.
JC era baiano de nascimento e morava em Fortaleza desde os quatro meses de vida. Era um moreno claro de olhos verdes, alto, bonito, de lábios cheios, riso fácil, musculatura forte e definida. Nutria em segredo algo mais que uma simples admiração, ou mesmo uma relação de inocente amizade pelo amigo Pedro Lins.
_ Você me dá uns dez minutos? Te encontro lá no estacionamento, beleza? Acho que deixei um livro na sala de aula,
_ Tá certo. Dez minutos e nenhum minuto a mais.
Pedro voltou à sala de aula e no caminho encontrou o amigo Ewerton Menezes Gurgel Leite , primo de Jc.
_ Ei Pedrão, assim que te procurei você já havia saído. Então já decidiu?
_ Acredito que sim Ewerton. Seu primo vai falar com seu tio Glauber e ele me disse que vão esperar por mim em vinte dias.
_ Porra Pedrão nem acredito que você vai deixar passar a oportunidade de ser um dos nossos na nossa Clínica e vai trabalhar de empregado juntamente com o JC.
_ Você sabe que fiquei tentado a aceitar a sua proposta cara, só que infelizmente eu não tinha como dispor pra ontem, R$ 30.000,00 Reais pra entrar de cabeça nessa jornada. Minhas economias são apenas 35% desse valor e eu vou precisar usar esse dinheiro em casa. O estado da minha mãe piorou cara, e eu infelizmente não posso fazer nada. Sinto muito irmão... Desculpa a recusa.
_ Porra cara e você não disse nada. Eu teria dado um jeito, tinha até emprestado a grana pra você Pedrão.
_ E começar a trabalhar cheio de dívidas?
_ E o que tem demais em dever uma quantia tão pequena? tem gente entre nós que vai formar e nem emprego tem.
_ É como tô te dizendo Ewerton... Seria demais pra mim. Se lá na frente eu tiver em melhores condições e você ainda me aceitar juntamente com os outros terei o maior prazer em trabalhar pra mim. Amigos?
_ Claro. Quer uma carona?
_ Já tenho, seu primo tá só me esperando lá fora.
_ Porra o JC sempre chega na frente né? Valeu amigo pelas duas recusas no mesmo dia.
_ Não diz isso dessa maneira cara, até parece que tô esnobando.
_ Fica frio Pedrão. A gente se vê na Colação de Grau e no baile, beleza?
_ Beleza amigo. E Pedro seguiu novamente para o estacionamento e ao encontrar o amigo João Carlos, foram embora juntos.
A mãe de Ewerton era irmã do Dr. Glauber e os dois apesar de serem primos jamais se deram bem. Enquanto Jc era filho único assim como Pedro, seu primo tinha mais três irmão também formados na área da saúde e a Clínica Gurgel Leite era bem mais ampla e aparelhada que a Menezes Gurgel.
Apesar de muito se parecerem fisicamente, Jc era de longe um esnobe enquanto Ewerton levava a vida sempre com os pés no chão. Outra coisa que os primos tinham em comum era justamente o amigo Pedro Lins, pois ambos sentiam um algo a mais e bota algo a mais nisso por ele.
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Vcs estão prontos para mais uma caminhada em minha companhia? Dessa vez os primos e o amigo que eles tem em comum serão os protagonistas dessa louca história que espero grade a cada um de vc que a acompanhar. O meu agradecimento pelo carinho de sempre e que tudo dê certo dessa vez. Nando Mota.
