Diante do meu espanto inicial, Lucas logo tratou de me explicar o caso todo: tinha um tio materno que morava num pequeno sitio, na Serra da Mantiqueira. Ha algum tempo esse tio reclamava que procurava alguem para caseiro mas nao encontrava: o inverno era bem rigoroso na serra, nao havia energia eletrica, e o trabalho era pesado. Ele queria se mudar em breve com a familia para a cidade, porem o sitio nao poderia ficar abandonado.
- Eu achei que por voce ter origem na area rural, talvez nao achasse o emprego assim tao ruim - disse Lucas enquanto caminhavamos - Mas sobretudo pela saude de Fernando, voce sabe.
Nao, nao era nada ruim. A questao do bom clima como complemento ao tratamento era algo de fundamental importancia. Aquela seria uma chance excelente para isso, talvez unica. E ainda, que falta sentiamos da terra, dos campos abertos, o vento e a chuva no rosto! O amor por aquela vida selvagem e pura nao desaparecia com um periodo de vida urbana, nao mesmo.
- Nao tenho medo de trabalho pesado, Lucas - respondi com convicçao - E por ele eu enfrento de tudo.
- Infelizmente nao posso lhe prometer nada, Reinaldo - disse ele mudando os livros para o outro braço - Soube desse caso todo ha um mes, nao vi meu tio depois disso, e nao sei, portanto, se ele arranjou alguem... Amanha mesmo telefonarei a um conhecido la de Campos e vou me informar sobre isso... Dependendo da resposta, reservo a vaga para voce.
- Nem saberia como lhe agradecer...
- Deixe disso - falou ele encabulado.
Em casa Fernando nao escondeu o olhar de surpresa assim que entramos. Apertou a mao de Lucas, olhando -o com curiosidade, mas nada disse.
- Nao tinha me dito que ele era tao bonito, Reinaldo - me disse Lucas com um sorriso cumplice.
- Queria que avaliasse por si mesmo ...
- O rosto dele lembra o do Antinoo, nao? - continuou meu amigo, olhando o loiro de perto - Eu acho bem parecido.
Fernando corou um pouco, sem saber o que falar. Como eu, tambem nao fazia ideia de quem era Antinoo, mas decerto nao tinha se esquecido daquela piada infeliz de Carlos envolvendo aquele nome e o nosso.
- Tem um pouco de refrigerante que comprei à tarde - disse ele, meio embaraçado. Voce gosta? Vou buscar.
Nao esperou resposta, saiu ligeiro para a cozinha. Vi Lucas rindo consigo, divertido com o jeito "matuto " do garoto. Em seguida ele viu sobre a mesa, perto de onde tinha colocado seus livros, o cartao -postal de Carlos. Pegou e o observou em silencio.
- Viu? - falei baixinho - Estava agora com ele, tenho certeza. Nao larga o raio desse cartao por nada.
- Seu desprendimento e paciencia com isso tudo sao dignos de louvor, meu caro - respondeu Lucas, pondo o cartao no lugar. - Esse sanatorio, se nao me engano, e' o melhor e mais caro da Europa.
Fernando voltou com o refrigerante e um guardanapo. Parecia menos timido agora, encarando o visitante.
- O Rei escolhe amigos bonitos, devo confessar - falou com certo tom impertinente.
- Engraçado que me elogie assim, com franqueza e talvez um pouco de ciumes, pelo jeito com que me olha - disse Lucas sem perder o bom humor.
- Nao, claro que nao...- disse Fernando altamente constrangido, como se pego no flagra, me olhando num rapido pedido de socorro.
- Sossega, moleque - disse-lhe Lucas com um olhar penetrante - Voce tem um rapaz de ouro ao seu lado.
Ele desviou os olhos e nada respondeu. Despediu -se de Lucas com um resmungo timido e assim que o outro saiu estourou numa certa irritaçao, dizendo nao querer ver estranhos enquanto nao sarasse, que tinha vergonha, que eu lhe escondia os amigos, que nao gostava de me ver com homens bonitos, ainda menos se eles fossem como nos, feito aquele que acabara de sair.
- Eu percebi, e ele tambem nao escondeu - resmungou, tossindo baixo - Onde diabos se conheceram?
Embora achasse aquela crise de ciumes engraçada, rara nele, esforcei -me para nao rir. Abraçando -o, deliciado, vendo -o se acalmar devagar, contei sobre Lucas, escondendo o encontro no Cafe Mocambo, claro. Nao falei tambem sobre a suposta proposta de emprego na Mantiqueira, preferindo contar quando houvesse algo concreto.
- Boa gente ele, seu bobo - falei, cheirando seus cabelos.
Ele nao respondeu, refletindo consigo ainda. Pedi -lhe um beijo.
- Nao, Rei - sussurrou, manhoso - Ainda transmito os bacilos...
- E voce acha o que? Devo ter bacilos seus ate entre os cabelos - puxei -o para mim, numa sede do gosto dele, beijando -o sem qualquer resistencia - Pronto. Nem doeu.
Ele deu uma risada frouxa, esparramando -se no sofa. A alegria, vitalidade e jovialidade dele voltava aos pouquinhos, e minha satisfaçao com aquilo era imensa. Estava tudo valendo a pena.
Dois dias mais tarde eu mal tinha chegado do serviço quando bateram à porta num frenesi. Quando abri me deparei com o semblante esbaforido e radiante de Lucas a me olhar.
- Reinaldo, sera que voces poderiam se mudar depois de amanha? - disparou ele.
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La vai outro erro poluindo a pagina, me desculpem :(
Adoro quando comentam, seus lindos. Comentem à vontade, critiquem, façam sugestoes, perguntas,etc.Respondo nos comentarios, acho mais facil.
Beijo grande, povo *-*
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- Viu? - falei baixinho - Estava agora com ele, tenho certeza. Nao larga o raio desse cartao por nada.
- Seu
