O dia de trabalho para os dois transcorreu sem maiores incidentes. Lucas foi liberado exatamente as 14:00 h de uma tarde nublada. Franzé passou o dia todo na companhia de Alberto Barreto Teles, seu chefe imediato nas fiscalizações internas que já haviam sido adiadas por demais.
Lucas estacionou o ônibus na garagem, trocou a roupa, uma vez que já havia sido liberado do serviço e foi praticamente de carona até a sede da empresa que ficava na Avenida Pontes Vieira. A viagem no coletivo foi tranquila, ele era que estava uma pilha de nervos, afinal de contas iria encontrar depois de muito tempo o cara que tinha feito ele sofrer sem necessidade e se não fosse pela irmã Célia, talvez as coisas tivessem sido bem diferentes.
Chegou a sede faltando dez minutos para a sua apresentação ao Diretor Social e se encaminhou direto ao elevador que o levaria à sala do dito cujo.
_ Boa tarde, moça. Eu sou Antônio Lucas Prata e estou sendo esperado pelo Sr. Roberto Filho.
_ Claro Sr. Lucas, pode entrar. Ele mesmo me pediu para que o mandasse entrar assim que chegasse.
Lucas agradeceu e após andar uns seis passos, parou em frente a porta da sala do Diretor Social, bateu três vezes e ouviu a voz do homem em alto e bom som:
_ Entre.
_ Boa tarde Sr. Roberto.
_ Ora, ora, ora, que surpresa meu caro Lu. Até que enfim, o próprio Satã abriu as portas do inferno e liberou você para que viesse a minha presença. Pelo que eme lembre, da penúltima vez que te vi, você estava sob minha proteção e sua irmã, se bem me lembro, aquela coisa que entrou na minha casa onde você morava no subúrbio se disse sua irmã e te levou embora. Ela sabe como acabar uma diversão. A propósito, ela já morreu?
Como Lucas nada disse, ele tomou como um sim a sua pergunta e sorriu de puro contentamento.
_ Que Deus a tenha, ou que o diabo a carregue de vez.
_ Minha irmã Célia esta viva e muito bem, Senhor.
_ Você ainda mora com ela?
_ Não senhor. Há quase três anos e meio vivo com meu companheiro num bairro bem distante dela. Mantemos apenas um contato bastante regular, graças a Deus.
_ Companheiro? Ora rapaz, isso sim é que é uma grande novidade. Quer dizer então que você e esse seu companheiro vivem como um casal, é isso?
_ Sim e se interessar saber, numa grande felicidade. Não temos vergonha do que somos e muito menos escondemos nada de ninguém.
_ Tô vendo que você esta bem mudado. Aquele rapaz ingênuo e inocente se transformou num viadinho cheio de obrigações e direitos adquiridos. Um esclarecido. Que lindo isso, né mesmo?
_ Não senhor, sou um homem que encontrou em outro homem algo muito maior que talvez o senhor jamais vá entender ou mesmo ter.
_ Acho bom você deixar de ser insolente comigo Lu, afinal de contas, nós temos assuntos a resolver e que não podem passar de hoje.
_ Então o senhor me diga que assuntos são esses que não lembro de ter deixado nada pendente, muito menos com o senhor.
Beto Teles abriu sua agenda e dela retirou um cartão e entregou a Lucas.
_ Quero você lá hoje às 19:00 h. Posso adiantar que será um prazer te receber no nosso novo apartamento. E olhando pra você agora, devo dizer que o tempo lhe fez bem. Você se tornou um belo homem e pelo que vejo adquiriu modos, fala mais corretamente, nem parece aquele Zé Ninguém que eu tirei das ruas e que limpava vidros de carros pra ganhar um prato de comida.
_ Sinto muito Sr. Roberto, não tenho como ir. Como o senhor acabou de falar eu mudei e me tornei muito melhor do que já fui na vida. Sou um cara simples, sabe? E nada que o senhor faça...
_ Cala a porra da tua boca, Lu. Você me pertence. Meu, só meu e de mais ninguém. Aquele amigo que você veio encontrar aqui quando o vi pela última vez, é ele não é? Entõa deixa eu te dizer uma coisa... Se você não for me encontrar hoje nesse endereço que te passei, esse seu amor, vai ser o primeiro que vai cair fora da empresa que meu pai fundou, nem preciso dizer que ele terá muita dificuldade em encontrar emprego depois de uma demissão por justa causa, tá ouvindo?
_ Não seu Roberto, não faz nada contra ele não, por favor. Deixa a gente seguir em paz. O senhor tem sua vida, sua esposa, filhos, sua empresa, o senhor pode ter quem o senhor quiser, deixa a gente em paz.
_ Você sabe falar rapaz, adorei sua frase... O SENHOR PODE TER QUEM O SENHOR QUISER... Posso mesmo e terei, não se atrase. Você esta liberado.
Lucas aaiu da sede da empresa completamente arrasado. O que ele poderia fazer agora? O que Franzé poderia fazer para ajudá-lo? Pela primeira vez na vida depois de muitos anos, chorou de puro desespero em plena Avenida Pontes Vieira.
Ele não saberia dizer por onde andou, uma vez que estava perdido e sem qualquer orientação. Já passava das 20:00 h da noite quando ele finalmente chegou em casa, para alivio de Franzé.
_ Graças a Deus você chegou, amor. O que aconteceu? O que aquele desgraçado queria?
Lucas apenas abraçou Franzé e não o largou mais. Seu choro foi assustador, na verdade, desesperador. Ele não soltava Franzé de jeito nenhum e não parava de repetir a mesma frase entre um soluçar e outro:
_ Eu te amor, amor... Eu te amo muito... Eu te amo, amor... Eu te amo muito...
Com muito custo, Franzé o acalmou e o levou até o banheiro, onde um bom banho quente foi tomado. Com todo o carinho do mundo e sofrendo pelo sofrimento do amado, Franzé após o enxugar, o fez deitar na cama e deitou ao seu lado...
_ Pronto amor, tá tudo bem, viu? Você vai ver que nada vai acontecer. Tenta dormir agora. Olha, prometo que ficarei aqui até você dormir, ta bom?
Lucas estava deitado de conchinha com a cabeça em cima do peito de Franzé, que o acariciava suavemente.
_ Ele me queria de volta, amor. Queria que eu fosse a um lugar onde ele encontra com outros homens e disse que se eu não fosse, meu ato de rebeldia teria consequências. Me perdoa amor, falei que era feliz e tinha um companheiro a quem amava e me amava, ele zombou disso e me chamou de viadinho por conta do que lhe disse. Eu saí da sala dele sem rumo, sem chão, desesperado, quando dei por mim tava dentro de um ônibus que ia pra cidade de Aquiraz. Juro que demorei por isso, eu não fui onde ele me disse pra ir. Eu lembro que pedi pra que ele me deixasse em paz, que fosse viver a vida dele junto com sua família, sua esposa, seus filhos, mas ele nem se importou com meu pedido. Ele me quer só pra se vingar. Falou horrores da Célia, chegou aperguntar se ela já estava morta, deu até a entender que isso seria uma coisa maravilhosa e que ela estaria no inferno... Nova onda de soluços... Depois ele me ameaçou caso não aparecesse onde ele me disse pra ir... Ele vai fazer você perder o emprego... Desculpa meu amor, acho que estraguei sua vida... Eu jurei pra mim mesmo proteger você e terminei estragando tudo... Lucas realmente estava muito fragilizado. Franzé o acalmou da melhor maneira que pôde e após fazê-lo dormir, foi até seu armário, pegou a caixa com o envelope e começou a separar uns documentos que muito interessariam aos Herdeiros da Holding.
Lucas teve um sono agitado e várias foram as vezes em que suas mãos procuraram o corpo do amado Franzé em buasca de proteção e apoio.
No dia seguinte os dois acordaram num silêncio jamais visto em sua casa. Lucas se arrumou, Franzé vestiu o roupão e foram tomar o café da manhã juntos, o relógio marcava 06:15 h.
_ Bom dia lá na empresa amor, falou Lucas. Você me perdoa o que eu fiz?
_ Ei amor, pára com isso. Hoje será um dia bastante proveitoso pra nós dois, você vai ver. Agora preciso ver teu sorriso pra poder levar essa imagem sua na minha caminhada.
_ Os dois trocaram um super e apaixonado beijo.
Lucas saiu e Franzé foi se arrumar. Antes de chegar na empresa iria tirar várias cópias dos documentos que havia separado na noite anterior.
Pontualmente as 09:00 h, Franzé chegou na sede da Holding com um lindo sorriso no rosto.
_ Bom dia Senhor, Franzé.
_ Acho que o meu será ótimo Isabel. E seguiu pelo corredor até o elevador.
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Povo do lado esquerdo, todo o meu carinho e que cada um tenha o melhor dos domingos dessa vida. Nando Mota.
