Com uma boa limpeza a casinha se tornou um pouco mais habitavel. Possuia uns poucos moveis que se deterioravam, porem seriam uteis para os primeiros tempos. Cozinhavamos mal de inicio, e durante muito tempo nao houve nada alem de ovo frito e arroz pastoso que comiamos rindo, as vezes tendo de abrir uma lata de sardinhas porque a coisa era realmente intragavel.
Mas era a nossa casa, o canto nosso que tanto queriamos, e havia sempre uma alegria tao grande naquele cotidiano mais do que simples, principalmente às tardes frias em que aproveitavamos a companhia um do outro no sofa -cama, com a gata que morava no forro da casa e que passou para nossa moradia, deitada tranquilamente a nossos pes, disputando o espaço do sofa.Fernando tinha trazido sua vitrola -um presente dos tios que esperavam por energia eletrica algum dia na area rural, coisa que ainda nao havia - junto dum disco do Francisco Alves comprado numa tarde de extravagancia nossa pelo centro da cidade. Tocava a musica "Caminhemos " e rapidamente decoramos a letra, cantalorando pela casa. Tambem nos amavamos muito ao som dela apos o jantar.
Logo que recobrei a saude foi essa a nossa rotina ociosa por uns dias : acordar tarde, fazer sexo, tomar um cafe horrivel com pao amanhecido, fazer sexo, procurar emprego nos classificados, providenciar e comer o jantar, Francisco Alves na vitrola, sexo ate nao aguentar mais, colocar a comida da gata no canto da sala e dormir outra vez.
Nosso dinheiro se esgotava. Do que a madrinha me deu restava muito pouco e o que Fernando conseguira das suas economias de anos e vendendo tambem a bicicleta derretia em nossas maos. Ele falou em escrever à mae pedindo por ajuda financeira, contudo logo repudiou essa ideia. Embora nao dissesse claramente sei que saiu de casa com um certo escandalo por parte da mae, tendo que decerto enfrenta -la para poder prosseguir. Apesar dessa magoa, algum tempo depois ele escreveu para casa, afirmando que estava bem e pedindo que nao o procurassem..Deixou endereço mas nao responderam.
Enfim conseguimos emprego, com um intervalo de quase uma semana cada um. Eu como almoxarife numa biblioteca longissima de casa e ele como aprendiz de oleiro. O ordenado era ruim, entretanto era o que havia por enquanto. Me dava tanta pena ver as unhas do meu rapaz sempre sujas de argila nos momentos em que me acariciava o abdomem e os genitais...mas aprendeu depressa aquela arte, assim como as outras e logo fazia boas peças.
Viramos o ano nessa vida singela, trabalhando duro, se amando, nos passando por irmaos ali na vizinhança. Eu me sentia satisfeito com tudo,tanto que sempre que podia gastava um dinheiro e ia com Fernando à umas lanchonetes do centro. Era fevereiro e nossos sorvetes transbordavam nas casquinhas, leitosos e arrancando piadas obscenas de Fernando que as dizia em voz baixa. Foi quase no final do nosso passeio que o olhar dele se iluminou com a aproximaçao duma lambreta pilotada por um rapaz da nossa idade, jeito de almofadinha.
- Veja! -disse Fernando com um entusiasmo rasgado, levantando -se do banco, chamando - Carlos! Ei, Carlos!
Quem diabos seria Carlos? ,eu me perguntei enquanto aquele rapaz se aproximava sorrindo.
*
*
*
Me escreva pessoal : aline.lopez844@gmail.com
Ate a proxima!