Cap.2
Ele deu uma leve suspirada, e começou a falar.
- Sabe, eu nunca tive uma vida boa. Pelo contrário, minha vida foi péssima, até aqui. Fui feliz até o dia em que meus pais morreram. Fiquei sem chão, quando descobri que nunca mais os veria, que agora eu não tinha mas pra quem recorrer quando estava com dúvida, ou quando sofria um brincadeira no colégio- ele já estava com lágrimas nos olhos- sinto tanto a falta deles. Depois, fui morar com meus tios. Sempre fiz de tudo pra eles me notarem, mas eles nunca me notaram. Sempre foram grossos comigo, não ligavam pra mim. Eu tive que crescer sozinho, aprender o que é certo e errado sozinho, sem a orientação de ninguém. Vivi minha vida praticamente solitário, até o dia em que achei o anúncio de que iniciariam as provas pra entrar aqui. Pensei assim, vai ser bom, quem saiba eu não faça amigos, encontre um amor, seja um pouco feliz lá dentro, como eu nunca tinha sido aqui fora- aquela altura ele já deixava as lágrimas escorrerem. Foi ai que eu percebi que era algo muito grave- e fui. Fui feliz aqui. Encontrei amigos como você, sorri, cantei, vivi como um garoto adolescente normal até um certo dia. Era manhã, e eu tinha que fazer alguns exames que estavam faltando na lista de exames médicos que a escola pede. Fui, crente de que estava tudo bem comigo. No fim do dia, o doutor me chamou. Você sabe o que ele me disse ?- balancei a cabeça, negando- "Infelizmente, você, Hanz, tem uma doença que não tem cura, e o tratamento poderia ajuda-lo, mas muito pouco. Não tem mais jeito. Você não tem muito tempo de vida. Talvez 6 meses, no máximo... um ano, com os remédios"- de repente ele se joga em meu colo, se debulhando em lágrimas- eu, eu, eu vou morrer Isac. Eu tenho dia e hora marcada pra deixar todo mundo aqui.
- Não... Não, você só pode estar brincando né ? Diz que você está brincando Hanz.
- Infelizmente, eu não estou. Eu estou desencantado. Vou morrer. Não vou ter filhos. Não vou me formar na faculdade. Talvez nem descubra as alegrias do amor. Eu estou fadado a morte a partir de agora Isac, e não há nada que eu possa fazer. Os remédios somente poderão me dar mais 6 meses. Mas eu prefiro que isso aconteça logo. Assim não vou ter que sofrer mais- falava ele, se levantando.
- Calma, não é assim. Tem muita gente que gosta de você, assim como eu. O que farei sem meu melhor amigo. E tem mais, vamos pensar de um jeito diferente. Pensa... pensa que agora você tem que aproveitar a vida, não ficar jogado numa cama, chorando nos cantos, se lamentando.
- Como eu posso sorrir, sabendo que vou morrer ?- falou, se levantando e limpando seus olhos, que estavam inchados.
- Assim-falei, puxando seus lábios com minha mão. Ele sorriu.
- Para-falou, tirando sua mão.
- Eu sei que é triste Hanz, mas é agora que você tem que tentar ser feliz- ele sorriu.
- Só você mesmo pra me dar apoio num momento como esse-falou, me abraçando-melhor amigo que você não existe.
- Ah, existe sim, você- falei, rindo.
- Tá, para ou vou ficar com vergonha.
- Vamos lá, tomar café ou você vai ficar com uma cintura de violão.
- Bem que não seria ruim ter uma cintura de violão- falou, fazendo uma cara como se estivesse pensando. Aquele era o Hanz que eu conhecia.
- Que bom que voltou- falei, descendo as escadas.
MINUTOS DEPOIS
Eu, Marcos, Hanz e Edu conversávamos e ríamos a todo momento.
- Ai, sério que você deixou seu primo te ver pelado- eu perguntava de Marcos.
- É... mas foi sem querer, é que eu tava querendo alcançar uma caixa em cima do guarda roupa, e a toalha caiu. Ele parecia hipnotizado, vocês tinham que ver.
- Oh coitado, você deixou seu primo babando por você !- dizia eu.
- Olha, mas não conta pro Mariano, ou ele vai ter um ADP !
- Ataque de Pelanca !- dizíamos nós três, rindo a bessa. Foi quando eu olhei pra Hanz, e percebi que ele olhava focadamente pra porta de entrada. Olhei, e percebi que ele olhava um garoto, que estava entrando. Ele parecia ser novo, estava todo atrapalhado, com sua mala na mão, tentando encontrar seu quarto. Ele era bonito. Tinha um cabelo loiro brilhante, liso, mas não usava franja. Tinha uns olhos pretos bem marcantes, era médio de altura, encorpado, tinha boca e nariz quase que perfeitos. Era branco. E realmente, bem bonito.
- Algum de vocês conhecem aquele garoto ?- perguntei, fazendo Marcos e Edu virarem pra trás para ve-lo.
- Não- os dois disseram em coro.
- Vamos lá falar com ele então !- falei, imediatamente puxando Hanz. Tinha visto nos olhos dele que ele tinha gostado daquele garoto.
- Nã... espera Isac- logo chegamos próximos ao garoto.
- Olá...- falei, estendo minha mão.
- Ah oi- olhei pra Hanz, ele estava meio cabisbaixo
- Me chamo Isac, este é Marcos, e este Eduardo, mas pode chamar de Edu- falei, apontando pra cada um- e este é Hanz, meu melhor amigo- falei, dando um leve empurraozinho, pra que Hanz o olhasse, e os dois pudessem se ver.
- M-muito prazer- falou, estendendo a mão pra Hanz. Ele havia gaguejado, isso já era um bom sinal. Os dois se olharam por vários segundos, até Hanz baixar novamente a cabeça e se afastar- é... me chamo Leonam, vocês poderiam me ajudar, é que eu sou novo aqui, e queria saber aonde fica o quartoÉ o meu quarto !- Marcos gritou- bem que eu achei que algum novato entraria lá, já que o outro saiu da escola. Então, se você quiser saber aonde é, eu te ajudo.
- Ah... tudo bem.
- É, Edu, vai lá com eles tá- falei, tentando fazer eles me deixarem sozinho com Hanz. Assim que eles saíram, as zoações começaram.
- Aaaaaaa, você acha que eu não vi, você gostou dele !- falei, apertando seus ombros.
- Eu não gostei dele, apenas achei ele bonito.
- Hum, então você gostou.
- N-não, é... que eu... ah, tá, achei ele interessante.
- Ai amigo, acho que ele gostou de você também- falei, subindo as escadas.
- Será ? Hum, acho que não, um rostinho lindo como aquele deve ser hetero, e se não for, deve ter dono.
- E se não tiver ?
- Do mesmo jeito, acho melhor não investir nele.
- Porque ?
- Porque... É... eu sou tímido demais, ele não gostaria de mim.
- Hum, sei. Finjo que acredito.
DIAS DEPOIS
A rotina ia passando. Fui me acostumando, e Hanz, por incrível que pareça, estava mais feliz que nos dias atrás. O aniversário dele estava chegando. Eu sabia disso, e não deixaria em branco. Era domingo, e muito mais fácil de dar uma festa.
- Então, Marcos e Edu, irei precisar de vocês, nós precisamos fazer uma festa de níver pro Hanz. Mas tipo, só pra nós, não vai ser legal um monte de outras pessoas juntas.
- Porque a gente não faz no observatório ?- Edu deu a ideia.
- Ótima ideia, então vocês vão conseguir tudo o que eu pedi ?
- Sim.
- Ok, vou até Cabo Frio e comprarei três presentes, um pra cada um de nós, e, Edu, você poderia convidar o Leonam pra mim ?- ele me olhou com uma cara bem esquisita, até estranhei.
- Ok
TEMPO DEPOIS
A festa já estava toda pronta, já estava linda. Fiz Marcos levar Hanz pra ver o torneio de xadrez com os outros pra que eu pudesse aprontar tudo.
- Me ajuda a colocar essa faixa Edu- falei, o chamando.
- Espera aí- logo ele veio correndo. Eu não parava de pensar, que ajudaria meu amigo a ser feliz, pelo menos uma vez, antes dele partir.
- Você convidou aquele garoto ?- ele deu uma breve enrolada, até que falou- sim. Mas ele disse que não viria, que tinha que fazer uma visita.
- Ah, que pena- não que eu não acreditasse no meu namorado, mas eu via os ciumes nos seus olhos- ok, está quase tudo pronto, vou ver se o bolo já está pronto- sai andando em direção a cozinha, e quando percebi que ele já não me olhava mais, rumei para o quarto de Leonam. Bati na porta, e como esperava, ele estava no colégio.
- Ah, oi Isac, pode entrar- falou, ele, abrindo a porta.
- Vem cá, você vai sair hoje ?
- Não... porque ?- suspeitei desde o princípio.
- É... Você gostaria de ir na festa de níver do Hanz ?- vi ele sorrir.
- Sério ? Mas a gente nem é muito próximo.
- Que nada, acho que ele vai gostar se você for.
- Você acha ? Mas, bem, eu não tenho presente.
- Se você quiser, comprei um pra você, eu sei que ele vai adorar- falei dando um embrulho pra ele- é um romance novo que ele disse pra mim que queria muito ler. E então ? Você vai.
- Bem... sendo assim, vou.
- Então, daqui a uns 15 minutos, você vai lá pro observatório, sabe onde fica né ?
- Sei.
- Pois é, te espero lá- falei, saindo do quarto. É, eu já tinha pensado em tudo pra que ele aceitasse ir na festa, e pra que rolasse algo entre ele e Hanz.
MINUTOS DEPOIS
Já estava tudo pronto para a festa. Edu ficou de boca aberta ao ver que Leonam tinha vindo. Preferi nem dizer nada. Todos já estavam lá, e só faltava eles virem. Liguei pra Marcos.
- Pode trazer, mas lembre-se, vende-o antes, pra ele não ver.
- Ok.
Não demorou muito e eles estavam chegando.
- Marcos, porque você está fazendo isso, eu quero ver !.
- Anda, só mais um pouquinho, continua subindo- logo ele chegou no topo- pronto, agora você pode tirar a venda- ele a tirou rapidamente.
- Surpresa !- ele sorriu ao ver a gente, e ficou todo corado.
- Eu não acredito que vocês fizeram tudo isso pra mim.
- É por que nós gostamos de você- falamos, eu e Edu, correndo pra abraça-lo. Ele sorria como uma criança. E ficou todo vermelho ao ver que Leonam também estava ali.
- Feliz aniversário, Hanz- falou ele, timidamente.
- Obrigado
- Vamos cantar Parabéns- falei, acendendo as velas do bolo- Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida, eeeeeee- gritamos quando ele apagou as velas. Logo demos os nossos presentes pra ele, mas tenho certeza que o que ele ficou mais alegre foi o do Leonam.
- Ah, sério que você também comprou presente, vou ficar mal acostumado- falou, e ficou de queixo caído quando viu o livro- eu... Não acredito que você achou esse livro- ele olhou pra mim, eu pisquei.
- Você gosta ?- perguntou, calmamente.
- Se eu gosto, eu aaaamooo esse livro, gente, eu achei que ainda não tinha sido lançado, olha essa capa, olha esse texto, ai, muito obrigado, muito obrigado- na hora da empolgação, ele deu um beijo no rosto de Leonam, que fez os dois ficarem corados. Eu só sorria com aquela fofura. Depois ficamos conversando sobre diversos assuntos. Estava tudo na maior paz, até Edu dar um grito.
- Ai, eu não aguento mais !
Continua
Gostaram ??? Obrigado pelos comentários.