The Scientist - 15

Um conto erótico de Pierrot The Clown
Categoria: Homossexual
Contém 4706 palavras
Data: 04/10/2014 13:26:28

Gente, capitulo novo! Eu vou postar um capítulo todas as terças e deveria ter postado nessa última massss, enfim, não deu, foi mal. Essa tá bem longo, mil perdoes, ou não, sei lá. E queria dizer MUITO OBRIGADA PELOS COMENTARIOS, leio cada um deles e são todos muito importantes pra mim.

Vou postar o link das duas musicas do capitulo pra quem quiser ouvir (e morrer de chorar como eu) aqui embaixo e é isso. Boa leitura, qualquer erro me avisem.

Musica do finalzinho do conto: http://youtube.com/watch?v=D6-EUSvJchI&itct=CDYQpDAYASITCL-H9LGxk8ECFZJ1qgodJQ8AxlITZ2hvc3RzIHRoYXQgd2Uga25ldw%3D%3D&hl=en&gl=BR&client=mv-google

Musica da parte Alice e Rafaela na ponte: http://youtube.com/watch?v=-5bznN76xRY

Rafaela:

Eu suava frio enquanto encarava o mundo lá fora pela janela do táxi, quando parávamos em um sinal qualquer, eu observava as pessoas que caminhavam na rua na tentativa inútil de tentar aplacar minha inquietação. Vi alguns rostos felizes, outros tristes, uns desanimados e muitos indiferentes, indecifráveis, assim como Alice. Não importava o quanto eu tentasse, ela tinha razão, eu nunca conseguiria desvendá-la totalmente. Ela era imprevisível mas me passava segurança, tinha um lado doce mas poucos conheciam, tinha um lado mau também que eu estava começando a entender melhor agora, sempre uma caixinha de surpresas. Inevitável não lembrar dela a cada segundo, com qualquer coisa.

Mateus ao meu lado apertava suas próprias mãos com força, estava vermelho e com uma expressão pesada, tão estranha para alguém como ele, pelo menos pra mim já que era a primeira vez que eu o via com tanta raiva. Ele suspirou e finalmente falou algo:

- Você acha que ela vai ficar bem? - Perguntou ele deixando transparecer toda sua aflição.

- Eu te faço a mesma pergunta, Mat. - Respondi segurando sua mão numa tentativa de lhe passar forças mas nem eu mesma as tinha.

Ele assentiu, apertou minha mão e direcionou o olhar para a janela novamente.

O táxi parou em frente à casa de Alice, descemos e tocamos a campainha exaustivamente mas ninguém apareceu. Batemos, jogamos pedrinhas nas janelas, gritamos e nada.

- Mat, eu acho que ela não tá mesmo.

Ele pôs as duas mãos na cintura, abaixou a cabeça e suspirou derrotado. Tirou o celular de dentro do bolso e eu percebi que suas mãos tremiam.

- Ei, cara, você pode dar uma ajuda aqui? Sim, sim, a Alice... Depois eu te explico, você pode me pegar aqui em frente à casa dela? Ok não demora. Beijo.

Assim que Mateus finalizou a ligação, Guilherme apareceu em frente à sua casa ainda com uniforme da escola e uma expressão confusa.

- Ué, o que vocês fazem aqui?

- Gui, tem notícias da sua irmã? - Perguntou Mateus.

- Ela deve estar no colégio, não? Por que? Aconteceu algo, não foi?

- Relaxa, Gui. A gente só queria conversar com ela sobre um trabalho. - Disse Mateus tentando não o deixar preocupado.

- Me engana que eu gosto - Disse Guilherme franzindo a testa. Ele tirou suas chaves do bolso e abriu a porta.

- Sério, guri. Agora entra que a gente já tá de saída.

- Ok, tchau, Mat. Quando encontrar a Alice diga à ela pra trazer pizza pro jantar.

Guilherme fechou a porta atrás de si e Mateus sentou na calçada. Ele passava a mão nos cabelos loiros agoniado e eu sentei ao seu lado. Em menos de 2 minutos um carro parou na nossa frente e Bernardo saiu de la acompanhado de uma mulher. Linda mulher, diga-se de passagem.

- Caras, da pra explicar o que merda tá acontecendo? Cadê a Lice? - Perguntou a garota, deixando Mateus e eu confusos.

Ela era alta, tinha os cabelos negros repicados abaixo dos ombros que lembravam um pouco os de Alice. Os olhos verdes e o corpo magro. Senti ciúmes e depois me senti um monstro por isso. Não era hora para esse tipo de sentimento.

- É o que todos nós queremos saber. - Respondi.

- Desculpa mas... A gente te conhece? - Perguntou Mateus.

- Oh, desculpem. Mateus e Rafa, essa aqui é a Olívia, minha irmã. Chegou de Londres essa semana. Nós somos amigos da Alice desde criança. - Explicou Bernardo e a moça sorriu.

- Prazer. - Ela disse simpática.

- Prazer. - Respondemos com um aceno de cabeça.

- Gente, vocês vão atrás e eu fico aqui caso ela apareça. Quero matar a saudade do Gui também. - Disse Olívia alheia à gravidade da situação. Todos concordamos.

- Então, alguém aqui vai explicar o que tá acontecendo? - Perguntou Bernardo.

- Agora não, Bê. Depois a gente explica. Tenho que achar ela primeiro. - Disse Mateus.

- Ok, entrem, mas depois eu quero saber tudo com detalhes, hein?

- Vai por mim, Bernardo, você NÃO vai querer saber. - Disse Mateus com o olhar carregado de raiva. Bernardo percebeu pois não deu mais nenhuma palavra.

Passamos horas procurando, Alice. Rodamos a cidade, reviramos todos os lugares possíveis e nada. Estávamos tão desesperados que quando percebemos já nos encontrávamos no hospital tentando falar com a mãe dela. Ela demorou para vir falar conosco e quando veio, não parecia estar em seus melhores dias. Eu me peguei mais nervosa ainda por estar conhecendo a mãe de Alice naquele momento, ela não me parecia uma mulher fácil.

- O que vocês querem? Não tenho tempo a perder, crianças.

- Dra. Marta, ahn, nós queriamos saber se... Se a senhora sabe da Alice - Perguntou Mateus.

- Deve estar por aí. Tenho que voltar, hoje tenho plantão, você pode passar em casa e ver se o Gui precisa de algo, por favor?

- Dona Marta a senhora não entendeu, sua filha pode estar em perigo, nós estamos preocupados e...

- A vida da Alice nada me interessa, se ela procura seus problemas, ela que os resolva.

A mulher deu as costas e sumiu no corredor do hospital nos deixando boquiabertos.

- Essa mulher não toma jeito mesmo. Que nojo - Disse Bernardo. Fiquei horrorizada com a atitude da mulher e entendi Alice um pouco mais. Com uma mãe daquelas sobreviver no mundo de hoje em dia é tarefa quase impossivel.

Entramos no carro e dirigimos à procura de Alice pela cidade novamente. No trajeto, Mateus acabou contando tudo a Bernardo que teve que parar o carro e socar o volante até a raiva passar e jurou matar o cara culpado por tudo aquilo. Naquele momento senti que nós perdemos as forças, choramos em silêncio, com exceção de Bernardo, até Mateus interromper, enxugando suas lágrimas:

- Gente, se ela estivesse aqui acharia isso muito bicha. - Disse Mat com uma risada que se misturava com sua voz de choro.

- Também acho. - Respondi.

Bernardo nada falava, apenas encarava a rua.

- Eu não faço idéia de onde ela esteja. - Mateus disse e encostou a cabeça no vidro do carro. - Ela sempre faz isso. Quando éramos mais novos ela sempre sumia assim quando algo acontecia, sempre perdia a cabeça e fazia coisas estúpidas nessas sumidas também. Uma vez ela passou metade de um dia no alto de uma árvore porque tinha brigado com a mãe. Procurei que nem um louco.

Mateus riu baixinho, uma pequena risada daquelas que vem acompanhada de dor e tem o som triste. Senti uma pontada no coração e já começava a perder o controle da minha preocupação quando minha cabeça deu um click.

- MATEUS!!!!!

- AI - Mateus pulou no banco do carro assustado - Olha aqui garota se eu fosse cardíaco agora já estaria a 7 palmos abaixo da terra.

- Sabe onde fica o velho parque de diversões aqui da cidade?

- Sim, aquela velharia, o que tem?

- Bernardo, dirige pra lá agora.

- Mas eu nã...

- AGORA - Eu disse eufórica e Bernardo desistiu de tentar argumentar.

Os meninos me olhavam com cara de louca mas entre todos os lugares em que podíamos procurar, esquecemos desse. Só eu sabia o quanto Alice gostava dali e me senti idiota por não ter pensado nisso desde o começo.

Chegamos no começo da noite e havia pouco novimento. Descemos do carro.

Eu andava em direção ao parque em passos acelerados e os meninos atrás de mim já deviam ter entendido algo, pois também procuravam com o olhar. Parei de súbito quando avistei o corpo pequeno de Alice sentado na ponte de madeira que havia na beira do lago. Suspirei e pude ouvir os risos de alívio de Bernardo e Mateus atrás de mim também.

- Eu vou até lá. - Disse Bernardo.

- Nop, fica bê. - Disse Mateus o interceptando.

- Tá louco?!?! Claro que eu...

- Não, tu não vai. Olha, eu entendo que você seja amigo de infância dela mas eu também sou e a conheço melhor do que a mim mesmo. Alice finge de durona mas em momentos frágeis... se chegarmos assim ela vai querer fugir. E você sabe o quão frágil é esse momento.

- Eu sei. Ela sempre sentiu demais.

- Eu vou. - Comuniquei a Mateus.

- Ok, Rafa. Devagar. Você sabe que ela nunca vai demonstrar nada. Mas depois da calmaria...

- Vem a tempestade. - Completei preocupada.

- Quando a tempestade chegar estaremos todos aqui, mas enquanto ela não chega nós apenas damos cobertura. - Disse Mat segurando a mão de Bernardo que o abraçou.

- Eu queria tanto abraçá-la agora e quebrar a cara daquele idiota. - Disse Bernardo lagrimando.

- Todos nós queríamos, Bê. Vai lá, Rafa.

Caminhei até a ponte com o coração acelerado e doendo.

- Alice? - Chamei baixinho. Ela não se virou.

Eu podia ver a fumaça do cigarro que ela fumava de dissipando no ar e vários outros já fumados jogados ao seu lado.

- Alice? - Chamei novamente com a voz já embargada, perdendo meu autocontrole.

- Eu. - Ela respondeu.

- Posso sentar do seu lado?

- Você quem sabe.

Olhei mais uma vez o reflexo da lua no lago, fechei os olhos e suspirei antes de sentar ao seu lado. Quando o fiz, a vi levando o cigarro até os lábios vermelhos e depois soltando a fumaça no ar. Ela ainda vestia a mesma roupa, com exceção da blusa que agora fora trocada por uma camiseta cinza com o logo da banda The Who, ela sempre a carregava na mochila. O uniforme da escola estava enrolado em sua mão esquerda. A blusa deixava visível algumas de suas tatuagens e a pele alva. Por Deus, ela parecia um anjo e me perguntei que tipo de ser humano doentio faria algo mau à ela. Eu sentia uma vontade fora do comum de chamar aquela garota de minha e cuidar dela pro resto da vida, sabia que isso não seria fácil mas eu sempre fui persistente.

O vento frio daquela noite bagunçava seus cabelos, algumas mechas caiam sobre os olhos, como sempre a deixando mais linda, mas naquela noite o mar azul estava... Vazio. Isso me fez despertar. A olhei mais atentamente e vi sangue em seu queixo, alguns respingos em sua roupa. Nessa hora mandei meu autocontrole à merda.

- ALICE!!!!!

- Você já chamou meu nome umas 300 vezes desde que chegou aqui. - Disse calmamente enquanto eu a examinava.

- O QUE MERDA ACONTECEU COM VOCÊ? - Perguntei pegando sua mão que estava enrolada no uniforme, a descobrindo e notando que também estava ferida e sangrando. - DEUS!!!

- Cai fora, Rafaela. Pra inicio de conversa, você nem deveria estar aqui. - Ela disse puxando sua mão de volta e fazendo uma careta de dor.

"Claro que deveria, idiota, eu te amo." Foi o pensamento que passou na minha cabeça, mas, por algum motivo tudo que consegui dizer foi

- Claro que deveria, eu...

- Não, não deveria. Nós não temos nada. - Ela disse fria e abaixou a cabeça.

- Alice?

- Diga.

- Eu tenho um pai alcoolatra que graças a Deus ta tentando se recupar, você acha mesmo que palavras impulsivas me afastam? Elas nem sequer me afetam.

Alice riu pela primeira vez na noite.

- Às vezes eu te odeio.

- Eu também. - Disse sorrindo e pegando sua mão ferida para examinar.

- Eu bati nele. - Disse Alice e logo em seguida levou outro cigarro à boca, o acendendo com o isqueiro.

- VOCÊ O QUÊ??????????????

- Da pra parar de surtar?

- Desculpe.

- Acho que você já deve ter sacado algumas coisas e...

- Eu já sei, Al. Desde a noite do chuveiro. Não precisa falar se não quiser.

- Bom. Então eu bati nele. - Deu de ombros.

- Quando? Como? - Perguntei tentando controlar meu nervosismo.

- Eu perambulei por aí até o fim da manhã, até que vi ele passando pela rua, eu o segui e ele entrou com aquele tal de Lucas em uma casa. - Alice engoliu em seco. - Quando ele saiu eu bati nele.

- E ele?

- Apanhou, né?

- Alice!

- Ok, ele ameaçou até minhas futuras gerações.

- Meu deus você tem que ir à policia.

- Pra que? Eles nunca resolvem nada.

- Ele te feriu?

- Não, ele tentou mas acho que eu tava com tanta raiva que...

- Que...?

- Não sei.

- Você é impressionante, imprevisível e... Louca.

Alice deu um meio sorriso.

- Fiquei atrás de você feito louca junto com os guris. - Falei.

- Cadê eles?

- Ficaram no carro.

- Eu precisava pensar. Desculpem.

- Desculpo se vier pra casa comigo.

- Dorme comigo?

- Claro. Vem.

Peguei em sua mão e a levei até o carro onde Mateus e Bernardo estavam mais do que ansiosos. Bernardo assim que a viu deu um abraço de urso, Alice fez uma careta fofa, arrancando risos de nós 3. Mateus antes de ir abraçá-la parou do meu lado e disse baixinho

- Obrigada, você é a salvadora da pátria. Se fosse comigo ela só sairia de lá com um guindaste.

- Eu a amo, Mat, então não precisa agradecer.

- Às vezes queria ter buceta também pra resolver esse tipo de coisa fácil. - Ele disse com a mão no queixo, acariciando a barba mal feita e fazendo cara de pensador.

- MATEUS!

- Ué, é verdade. - Disse ele sorrindo e indo abraçar Alice.

- Gente, chega de tanto abraço pelo amor de Deus. Eu tô toda doída. - Alice dizia sorrindo.

Fomos todos para o hospital, sobre os protestos de uma Alice indignada. Era o único próximo na cidade e eu não poderia culpá-la por preferir que sua mão caísse do que ir até o hospital e encontrar sua mãe. Se fosse eu em seu lugar também iria preferir.

Demos entrada na emergência. Alice já havia sido medicada e seus ferimentos estavam sendo limpos quando vimos Dra. Marta atravessar o corredor e parar em frente à sua maca. Alice suspirou e se deixou cair deitada ali, sorrindo com incredulidade, um sorriso que dizia algo tipo "puta que pariu, mais essa não". É... la vamos nós de novo.

Dra. Marta fez sinal e a médica que fazia alumas suturas no ferimento saiu, ela fechou a cortina de plastico atrás de si e se aproximou da maca. Apertei a mão saudável de Alice e sussurrei baixinho em seu ouvido que estaria aqui por ela sempre.

- Quem você pensa que é, Alice? Quem você pensa que é pra sair por aí agredindo os outros? Desconfiava que você fosse meio marginal, agora tenho certeza. - Despejou dra. Marta.

- Que fofo, correu pros braços da ex. Pra ele ter te procurado devo ter feito algum estrago.- Disse Alice e riu.

- Como você não sente vergonha? Você destrói todos ao seu redor e sai rindo.

- PORQUE VOCÊ ME DESTRUIU PRIMEIRO. - Gritou Alice, finalmente chegando ao seu limite. - EU CANSEI DE VOCÊ E SE TEM UMA COISA DA QUAL EU SENTIRIA VERGONHA PELO RESTO DA VIDA SERIA DE ME TORNAR O QUE VOCÊ SE TORNOU.

- Como você pod...

- COMO VOCÊ PODE? Me culpar por tudo de ruim que acontece, me jogar no mundo e deixar eu me virar, deixar machucarem uma pessoa com o mesmo sangue que corre aí dentro. - Disse Alice com a respiração descompassada e as mãos trêmulas.

Marta apenas a olhou seriamente, deu as costas e foi embora. Todos no hospital olhavam, eu ouvia nos corredores os sussurros de "a filha e o ex esposo da dra. Marta chegaram aí feridos, dizem que brigaram feio". Alice me pedia pra sair dali e eu não tinha como negar o pedido diante de tudo que havia acontecido. Ela devia estar exausta e os meninos haviam ido à lanchonete. Uma mulher pequena e de cabelos grisalhos apareceu para conversar conosco.

- Menina Alice!

- Dona Glória. Quanto tempo - Disse Alice ainda um pouco nervosa, abraçando a mulher.

- Muito mesmo, até estranhei quando você parou de vir aqui cada semana com um osso quebrado. Onde tá o hematoma dessa vez, filha?

Alice riu e mostrou a mão.

- Ja cuidaram de mim, dona Gloria. Agora eu só quero minha casa. - Disse Alice simpática.

- Tudo bem, filha. Cuidado por aí. Você sempre foi uma menina forte, não deixe que nada te convença do contrário.

- Eu sei, Glorinha.

- Você sabe que não foi sua culpa.

- Eu sei sim - Alice sorriu triste.- Eu sei.

A mulher disse se referindo ao episódio de minutos atrás, beijou a cabeça de Alice e saiu. Fiquei encantada com tamanho carinho demonstrado em pequenos gestos e minha curiosidade falou alto:

- Quem é ela?

- Uma enfermeira. Eu meio que cresci aqui então ela cuidava de mim.

- Ela me pareceu muito gentil.

- E ela é. Demais.

Logo fomos liberadas e pegamos os meninos na lanchonete. Passamos no supermercado e compramos um monte de besteiras para o jantar já que Alice convidou todos para dormir em sua casa. Quando chegamos encontramos Olívia e Guilherme jogando videogame. Entrei de mãos dadas com Alice e Olívia assim que a viu se jogou em cima dela.

- ALICEEEEEEEEEEEE - Disse a abraçando.

- Liv, ai minha mão. - Alice disse sorrindo. - Que saudade.

Olívia a puxou até o sofá e Rafael parou ao meu lado.

- Relaxa, gata. Bernardo disse que ela é hétero. - Mateus disse sussurrando no meu ouvido.

- Eu também era. - Respondi olhando diretamente pras duas e ele riu.

- Vem, ajuda a gente a fazer o jantar.

- Vou. A mãe dela não vem mesmo hoje?

- Não, não. Aquela mulher praticamente mora naquele hospital.

Jantamos a macarronada de Bernardo, Olivia depois de matar a saudade também foi pra cozinha e preparou almôndegas. Durante aquele pouco tempo confesso que ela me conquistou. Ela se mostrara apaixonada pelo namorado que veio de Londres com ela e era divertida também, se ela conseguia fazer Alice sorrir automaticamente me fazia também. Guilherme preparou suco. Alice parecia bem, havia tomado banho e vestido uma camiseta grande e short. O clima entre nós era tão bom que por algumas horas eu esqueci o mundo lá fora e tudo que havia acontecido, Alice parecia compartilhar do mesmo sentimento. Quando acabamos o jantar, Alice foi lavar a louça enquanto os meninos arrumavam um quarto para dormir, Olívia brigava com Guilherme pelo sofá e os dois acabaram concordando em dividir, já que queriam passar a noite jogando.

- Parecem duas crianças de 13 anos. - Eu disse observando Olivia e Gui.

- Mas uma realmente tem 13 anos. - Disse Alice rindo e vindo me abraçar.

- Você tá com as mãos molhadas, "Lice".

- Ciume da Liv? - Disse ela sorrindo, o que me fazia ir aos céus e voltar.

- Jamais.

- Pois saiba a senhorita que ela é hétero. E tu beija minha boca e não minhas mãos. - Disse ela passando as mãos molhadas e geladas no meu rosto.

- AI, ta gelado porra. - Eu disse rindo e ela correu para o outro lado da mesa.

- Eu sei. - Ela disse e mostrou lingua.

Fui até ela a segurando pela cintura. Fechamos nossos olhos e ficamos com os rostos colados. Eu sentia sua respiração e as batidas do seu coração. Ficamos por um tempo assim até eu a beijar. Lento, carinhoso, o beijo mais carregado de sentimentos que já pude sentir.

O momento foi quebrado por guilherme que entrou na cozinha e parou abruptamente na entrada ao ver a cena. Gelei na hora mas ele e Alice começaram a rir me deixando confusa.

- Ah cara, eu preciso de uma namorada.

- Você precisa é dormir, guri.

- Rafa como ela conseguiu te conquistar? Posso te chamar de Rafa, né? Ouvi o Mateus chamando.

Olhei para Alice a interrogando com o olhar e ela sussurrou um "ele sabe".

- Pode sim, e hm... Bem, eu que corri atrás da sua irmã. - Respondi rindo bagunçando seus cabelos loiros.

Guilherme tinha os olhos extremamente azuis e encantadores como os da irmã, mas os cabelos eram loiros como os de Mateus e os de Alice negros, que contrastavam perfeitamente com a pele alva. Ele era muito esperto para a idade e um amor de pessoa.

Mateus e Bernardo não desceram mais. Nos despedimos de Liv e Guilherme que ficaram jogando, Alice me pegou pela mão e subimos para o quarto. Tomei banho e vesti uma camisa de banda qualquer dela. Me troquei em frente a ela que me lançava olhares, mas sabiamos que não tinhamos forças fisicas nem emocionais pra qualquer coisa naquela noite, e pra falar a verdade, eu só queria ficar perto dela. Fui até sua pequena estante de cds, escolhi um e coloquei para tocar. Alice estava deitada, de olhos fechados, e embalada pela melodia dos primeiros acordes da musica que começava, deitei em seu peito. Ficamos assim por um tempo e minha cabeça não conseguia parar de pensar sobre o porque de Alice possuir tanto sentimento de culpa e o comportamento da mãe. Tudo ainda era confuso demais para mim.

- Alice?

- Sim?

- Pelo que te culpam tanto?

Senti seu corpo que estava relaxado ficar tenso e me arrependi na hora. Fui apressada. Maldita curiosidade.

- Desculpa, não deveria ter perguntado, eu...

- Tudo bem. - Ela disse fazendo carinho nos meus cabelos. - Minha mãe me odeia porque eu pareço muito com meu pai, tanto emocionalmente como fisicamente.

- Por que você nunca fala dele?

- Não tenho porque falar. O relacionamento dos dois sempre foi conturbado, meu pai traía muito e minha mãe sempre aguentou de tudo porque o amava. Algum tempo depois foi descoberto que uma veia do coração do dele estava totalmente obstruida e, não entendo muito bem disso mas, ele precisava de um transplante.

- Ele conseguiu? - Perguntei interessada. Eu já estava sentada na cama olhando nos olhos de alice e ela deitada com os braços cruzados atras da cabeça.

- Não chegou a conseguir, mas por um tempo ele me pareceu bem. Minha mãe fez de tudo por ele, pediu um tempo no trabalho, gastou muito dinheiro em exames, dormiu no hospital com ele várias noites e quando ele estabilizou, foi embora com outra mulher. Ela pirou. - Alice deu um meio sorriso e continuou. - Eu lembro de me sentir pessima pois ele nem sequer deu tchau ou explicou algo. Só sumiu no mundo. Soube depois que ele teve outros filhos.

- Nossa...

- Minha mãe nunca gostou de mim e não posso te dizer o porque exatamente. Meu pai era o unico que ainda brincava comigo e me ouvia, mesmo sendo fechado ele estava lá. Quando ele foi embora eu fiquei muito magoada e cortei todo tipo de contato, eu tava entrando na adolescencia, sabe como é... Eu sabia de vez em quando das brigas dele com minha mãe. Detalhe: ele nao podia ter fortes emoções.

Eu observava Alice, ela respirou fundo, suspirou e por fim continuou:

- Pra resumir, uma noite briguei feio com minha mãe e fugi de casa. Ela chamou meu pai, dizendo que ia me mandar morar com ele quando me achasse. Eu sei que mesmo agora não estando mais aqui ela ainda o ama. Meu pai veio até aqui e... - Alice engoliu em seco - Bom, não sei muito bem, eu voltei com uma ligação do hospital. Ainda cheguei a vê-lo sendo reanimado em uma sala e... Minha mãe estava histérica gritando que era tudo minha culpa, enfermeiros tiveram que segurá-la, meu irmão não era muito apegado a ele e estava na casa da avó.

A voz de Alice era pura dor mas eu sabia que ela era forte demais para derramar uma lágrima sequer. Deitei em seu peito novamente e senti seu coração acelerado.

- Então você fez isso? - Passei os dedos calmamente em cima de sua tatuagem.

- Sim, por muito tempo essa imagem habitou minha cabeça e eu simplesmente não conseguia apagá-la. As vezes se eu fecho os olhos ainda consigo ouvir os gritos da minha mãe misturados com o barulho infernal daquela máquina e o cheiro de éter.

- Não foi sua culpa, Lice.

Diante daquilo tudo eu não tinha palavras, muito menos Alice. Eu apenas admirava a garota ao meu lado, admirava a força e a bravura, admirava o dom dela de ainda conseguir sorrir e encantar a todos que eram um pouquinho mais insistentes com aquele sorriso que eu tanto amava, apesar de tudo.

Naquele momento deitada no peito de Alice eu apenas a abracei o mais forte que pude e continuei ali escutando sua respiração pesada e sentindo seu cheiro doce. No som, uma nova musica começava. Levantei a cabeça e a vi de olhos fechados cantando baixinho.

You saw my pain, washed out in the rain

Broken glass, saw the blood run from my veins

But you saw no fault no cracks in my heart

And you knelt beside my hope torn apart

But the ghosts that we knew will flicker from view

And we'll live a long life

So give me hope in the darkness that I will see the light

Cause, oh, they gave me such a fright

But I will hold as long as you like

Just promise me we'll be alright

So lead me back

Turn south from that place

And close my eyes from my recent disgrace

Cause you know my call

We'll share my all

Now children come and they will hear me roar

So give me hope in the darkness that i will see the light

Cause, oh, they gave me such a fright

But I will hold as long as you like

Just promise me that we'll be alright

But hold me still bury my heart on the cold

And hold me still bury my heart next to yours

So give me hope in the darkness that I will see the light

Cause, oh, that gave me such a fright

But I will hold on as long as you like

Just promise me that we'll be alright

The ghosts that we knew made us black and all blue

But we'll live a long life

But the ghosts that we knew will flicker from you

And we'll live a long life

(Você viu minha dor, lavada na chuvaVidros quebrados, viu o sangue correr das minhas veias

Mas você não viu falha, nenhuma rachadura em meu coração

E você se ajoelhou ao lado da minha esperança dilacerada

Mas os fantasmas que conhecíamos vão sumir de vista

E nós viveremos uma vida longa

Então me dê esperança na escuridão que eu verei a luz

Porque, oh, eles me assustaram tanto

Mas eu vou aguentar enquanto você quiser

Só me prometa que nós vamos ficar bem

Então me leve de volta

Vire para o sul desse lugar

E feche meus olhos da minha desgraça recente

Porque você conhece o meu chamado

Nós vamos compartilhar meu tudo

Agora, as crianças vêm e elas me ouvirão rugir

Então me dê esperança na escuridão que eu verei a luz

Porque, oh, eles me assustaram tanto

Mas eu vou aguentar enquanto você quiser

Só me prometa que nós vamos ficar bem

Mas me segure, enterre meu coração no frio

E me segure, enterre meu coração perto do seu

Então , me dê esperança na escuridão que eu verei a luz

Porque, oh, eles me assustaram tanto

Mas eu vou aguentar enquanto você quiser

Só me prometa que nós vamos ficar bem

Os fantasmas que conhecíamos nos fizeram tristes e negros

Mas nós viveremos uma vida longa

Mas os fantasmas que conhecíamos vão se afastar de você

E nós viveremos uma vida longa)

Alice cantava enquanto acariciava meus cabelos e eu entendia a letra perfeitamente. Não consegui controlar as lágrimas.

- Alice?

- Hum? - Respondeu ela ainda acariciando meus cabelos.

- Namora comigo?

Ela me olhou nos olhos, séria, sem nem piscar e eu estava tão nervosa a ponto de vomitar.

Ela riu. Eu morri por dentro com aquele sorriso e estava morrendo por fora também de tanto nervosismo.

- Pensei que depois de tudo que aconteceu hoje você iria querer distância da minha vida maluca.

- Claro que não.

- Vou pensar no seu caso. - Ela disse dando de ombros.

- O quê? - Perguntei levantando uma sobrancelha.

- Brincadeira, sua cara foi ótima. É claro que namoro.

Ela me beijou. Naquele momento senti um milhão de fogos de artifício explodindo dentro de mim e um sorriso dela foi a última coisa que lembro de ter visto antes de adormecer em seus braços.

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Comentários

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Perfeito D .

Melhor conto da cdc atualmente. Pfv não demora a postar.

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Simplesmente perfeito seu conto... Não deixa de escrever...

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Aliar um conto lindo desses com essas músicas... poxaaa, vc tem uma sensibilidade encantadora, bjos no coração e por favor... continue nos dando mais presentes como esses... abração.

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Oh my god! Perfeito demais . Lindoooo. Ñ tenho palavras para descrever o quanto esse conto está sendo perfeito e maravilhoso. Esperando o próximo :-D:-)

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realmnte ta td perfeito alice sem palavras vc eh otima escrevendo vc se entraga transborda emocoes e sentimentos nas palavras amos esse conto e ate o proximo... bjoss

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Essa história já é uma das minhas favoritas! Você escreve com tanto sentimentalismo que consigo imaginar perfeitamente todas as cenas e elas ficam lindas em minha cabeça. Eu leria essa história o tempo inteiro. Continua logo, pelo amor de Deus!rs

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Verdade tudo que as meninas disseram acima! Excelente... Arrasou... Bjs Ju.

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Meu deus amor, que perfeito. Vc escreve tao bem, vc é a melhor namorada do mundo. Eu te amo. Continua logo, por favor

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Caralho!!! Desculpa mas n achei palavra q coubesse tão bem como essa. Sem comentarios. Simplesmente incrível. Cont o qnt antes. E pode escrever longo. Amoooo e sua escrita e tão boa q nos envolve demais. Bjoooo ^^

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Simplesmente perfeito! Viajo em seus contos, são maravilhosos. Continua :)

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