Cap.5
- Você também- ouvi suas risadas- agora senta lá, que eu vou já servir seu omelete.
- Tá bom, mestre cuca- ele riu de novo. O cheiro de toda aquela comida estava ótimo. Tomei aquele café olhando para o rosto dele, que por algum motivo insistia em me encarar terminantemente.
NARRADO POR CADU
Até agora ninguém sabe direito como foi minha versão nessa história. Começarei desde o início. Digamos que eu nasci rico. Mas nunca liguei muito para riquezas. Desde criança, sempre me enturmei muito com garotos tidos como pobres, financeiramente. Eles geralmente não eram afrescalhados como os ricos, brincavam da maior parte das brincadeiras que eu gostava, e eram bem legais comigo. Enquanto os ricos eram bossais ao extremo. Até que um dia eu conheci um garoto rico não bossal. Ele, o meu marido, Gabriel, carinhosamente, Gabe. Sentia uma ligação muito forte entre nós. Tanto que, como ando dizendo, foi amizade a primeira vista. Aos poucos fomos ficando melhores amigos. Ríamos, brincávamos juntos, dormíamos um na casa do outro. Aos poucos a idade avançou. Nossas cobiças não eram mais o brinquedo maior, ou aquela blusa do Bob Esponja. E sim celulares, tablets, notebooks. E, nossa amizade não se desmanchou na adolescência. Não foi cada um pro seu lado. Sempre estudamos no mesmo colégio, nunca na mesma sala. Mesmo com as iminentes forças da independência que tomam conta dos adolescentes tomarem conta de mim também, eu não queria ficar independente de Gabe. Acho que nem ele de mim. Por isso nunca ficamos longe um do outro. Éramos amigos íntimos. Do tipo que conhece a intimidade do outro, literalmente. Acho até que tínhamos desejos um pelo outro. Pequeno, mas tínhamos. Sempre soube que era gay. Perdoem-me as meninas, mas nunca vi nada desejável nelas, fora a personalidade. Já nos rapazes, via muitas coisas desejáveis. Minha amizade com Gabe, como vocês podem ver, era quase que de irmão. Tínhamos um carinho imenso um pelo outro. Sim, nos abraçavamos constantemente, rolava muitos beijos no rosto, carícias no cabelo, noites abraçados. Pode parecer coisa de casal, mas pra mim era coisa de amigo. De um único amigo. Gabe. Até que tivemos nossa vida virada de cabeça pra baixo. A pouco tempo atrás, meu pai informou que ele e o pai de Gabe tinham um trato, e nós teríamos que nos casar. Porque ele queria isso ? Simples, ele quer que eu assuma as empresas. E pra isso, é necessário ter alguém ao seu lado, homem ou mulher. Não que eu não tenha ambição de assumir as empresas, mas eu queria poder eu mesmo escolher, e não ficar prometido assim. Sim, me assustei quando vi que teria que me casar com meu melhor amigo. Nunca havia visto ele como um noivo. Mas sim, podia dar certo. Poderíamos nunca ter uma relação amorosa, mas nossa cumplicidade no geral faria com que o casamento entre nós desse certo. Ele precisava da minha família pra sobreviver, infelizmente. Não casar teria efeitos colaterais significativos. Por isso casamos. Tenho que reconhecer, foi uma super festa. Mas o maior momento foi a hora que eu o beijei. Não foi um super beijo, apenas um selinho. Mas foi inesquecível. Seu sorriso depois daquele momento foi impagável. Na nossa lua de mel, que foi férias, o clima era super amistoso. Estávamos felizes, apesar de termos sido obrigados a nos casar. Tudo corria como eu imaginava. Não seríamos infelizes.
- Você lembra quando a gente vinha aqui crianças ?- dizia ele, sentado no galho de uma árvore, ao meu lado.
- Lembro. A gente corria de um lado pro outro, pegava goiaba escondido, era muito legal- sua risada sempre foi linda. Era uma das coisas que eu queria ter. Aquele sorriso- vamos arrumar as coisas, amanhã voltaremos.
- Poxa, mas eu estava gostando tanto daqui- disse, entrelaçando seu braço com o meu.
- Eu também, mas a gente não pode ficar mais tempo longe da cidade. Ainda não terminamos o ano.
- Você promete que a gente vem pra cá no ano novo ?- ele sorriu.
- Sim. A gente vem comemorar a virada do ano, a nossa maneira
NO DIA SEGUINTE
- Você está com uma cara péssima Gabe- dizia eu, olhando pra algumas olheiras em seu rosto.
- Você me acordou cedo demais - disse, tomando uma golada do café.
- Mas o motorista já chegou. Vamos, pega as suas coisas e vamos- colocamos todas as nossas coisas no porta mala e seguimos viagem. Sempre gostei de viajar de carro, as paisagens me fascinavam de um jeito incrível. Continuei observando as paisagens, quando de repente, sinto sua cabeça bater em meu braço. Me assustei- ai. Ei- olhei pra ele, dormia, lindamente. Sorri. Ele era muito fofo dormindo. Lentamente peguei seu corpo e coloquei sobre meu colo. Acariciei seus cabelos por alguns segundos. Enquanto olhava pra ele. Suspirava. Beijei seu rosto, como um beijo de bom sono. Ele não se mexeu- prometo te fazer muito feliz- minha surpresa foi sentir ele entrelaçar seus braços em meu corpo, e se aconchegar em meu colo, como uma criança. Uma criança muito fofa. Por algum motivo, meu coração bateu mais forte.
Continua
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