Pera aí! Aquela voz era a do... Enzo. Eu não acreditava que o viria novamente.
- Uau! Eu não acredito que vou vê-lo novamente! - eu quase gritei, e o Victor apenas me olhou com uma cara, como se quisesse me chamar de retardado.
- Porque esse fogo todo? Você vai vê-lo novamente... O seu celular ou alguém especial?
- Os dois! Ahh! Viado! Você acredita que eu fiquei pensando naqueles olhos verdes o dia inteiro?
- De quem? Eu não to entendo porra nenhuma! E você já pode me devolver meu telefone.
- Eu to falando do Enzo! Aquele gostoso, aquela delicia de homem! Ai, como eu dava para ele. Aliás, eu dava tudo que ele quisesse. – eu me joguei no sofá.
- Por acaso este tal de Enzo, é o tal morador da favela, que te apontou uma arma?
- Sim. – eu balancei a cabeça sorrindo.
- Eu vou ter de chamar uma ambulância pra você. Definitivamente você enlouqueceu, né viado? Meu Deus! Ficar atraído por bandido, ainda mais um cara que pelo visto deve ser perigosíssimo!
- Ele não é bandido! Quer dizer... Eu não sei! Mas ele foi um fofo comigo. E eu percebi nos olhos dele, que ele é um cara legal.
- Deixa só o seu pai saber disso. Ele te põe pra fora de casa, ou melhor, te interna num hospício!
- Meu pai não manda em mim. E além do mais, você só está assim, porque ele não é nenhum mauricinho rico aqui de Ipanema.
- Claro que não Gui! Você sabe que eu não me importo com essas coisas. Mas é que você acabou de conhecer um cara, numa favela, numa situação nada agradável... E ainda fica desse jeito por ele? De homens bonitos o mundo tá cheio.
O Victor foi relutante em relação a minha aproximação do Enzo, mas algo dentro de mim me dizia que ele tinha algo bacana. Sei que não seríamos namorados, até porque, eu nem estou atrás de namorado... Mas é que... Ele mexeu comigo, e ponto!
- A Vivi sabe dessa tua maluquice?
- Sim. Eu contei do Enzo pra ela.
- E o que ela disse?
- O mesmo que você. Ai chega! Parece um interrogatório sem fim.
- Tira isso da tua cabeça, pelo amor de Deus. Pega teu celular e cai fora. Quanto menos aproximação com essa gente, melhor. Conselho de amigo.
- Você é chato hein viado?
- Eu só estou evitando coisas piores. Onde ele marcou para te devolver o aparelho?
- Amanhã, em frente ao shopping.
- Ótimo! Eu vou com você amanhã. E nem tente me proibir disso!
- Quer saber? Eu vou pra casa estudar que é muito melhor! Obrigado por ter me emprestado seu telefone. Amanhã a gente se fala. Beijo, tchau. – eu saí meio irritado com o Victor.
Eu só estava admirado com o Enzo, e não apaixonado. Eles estavam sendo dramáticos demais. Passei num barzinho e sentei um pouco. Pedi uma cerveja pra dá uma refrescada, pois o calor estava insuportável. Eu observava o movimento de Ipanema, meio reflexivo, até que voltei para a realidade, com um toque no ombro. Me virei, e tive uma surpresa.
- Oi Gustavo. Que surpresa boa. – ele era o cara que eu ficava de vez em quando.
- E aí? Beleza?
Aquele sorriso dele me matava. Eu conheci o Gustavo numa festa da Vivi. Ele havia acabado de chegar da Europa,e me lembro como se fosse hoje... Nós dois transamos no sofá da minha casa, pois os meus pais não estavam. Foi uma loucura o que eu fiz. Rsrs... - eu ri por dentro.
- Tudo bem sim querido. Você sumiu. Não me liga mais... Ainda está trabalhando com o seu pai, ou resolveu voltar a morar fora do Brasil novamente?
- Nem uma coisa, nem outra. Eu estou morando sozinho, num apartamento que eu aluguei; e resolvi trabalhar com o que realmente gosto.
- Hummm... Parabéns! Realmente é uma grande mudança. Aliás... Você está diferente. Mais bonito...
- E você com esse se jeitinho perigoso. – ele piscou os olhos e sorriu, me fazendo sorri também. – Você vai fazer alguma coisa hoje? – eu me perguntou, dando uma alisada em seu pau, e óbvio que eu entendi a malicia da pergunta.
Já havia dois meses que eu não transava, nem sequer um beijinho na boca. Olhei para ele novamente, e sorri de novo.
- Hoje? Não. Eu estava na verdade, pensando o que eu iria fazer hoje à noite.
- A gente pode sair. Curti uma balada e depois... Você poderia conhecer o meu apartamento.
- Você está querendo?... – eu me fiz de bobinho.
- Não. Claro que não!
- Brincadeirinha, bobo. Está fechado então. Hoje vamos pra Night e depois para a sua casa.
- Quer que eu passe na sua casa e te pegue, ou prefere me encontrar na balada?
- E perder a oportunidade de um gato como você ir até a minha casa? Nunca! Dez horas estarei pronto.
- Beleza! Te pego então. Bom, eu vou dar um rolé na praia. – ele piscou os olhos novamente e saiu. Eu fiquei rindo sozinho, enquanto degustava minha cerveja geladinha. A noite promete!
******
Cheguei em casa, e vi um recado dos meus pais na secretária. Eles estavam na casa da minha avó paterna, e só iriam chegar às 23:00. Que bom, porque eu ia poder me arrumar em paz, sem interrogatório do meu pai.
Tomei um banho bem gostoso, e cai na cama pra dormir. Era sábado, e eu aproveitei que não tinha trabalho da faculdade. As cenas daquela favela, do baile e principalmente do Enzo, vieram à minha cabeça. Até que finalmente eu apaguei.
CINCO HORAS DEPOIS...
- Ai meu Deus! Eu dormi isso tudo? – já passavam das 19:00 hs e eu nem havia escolhido a roupa que eu usaria hoje. Fui até a cozinha tomar um suco e me assustei com a presença do Arthur na sala.
- Que susto! Virou fantasma agora?
-Susto por quê? Tá devendo alguma coisa? Ou trouxe algum viadinho aqui pra dentro da nossa casa?
- Não é mais a sua casa. Você está casado, e agora tem a sua casa! – eu gritei. – E Para a sua informação, eu não trouxe ninguém pra cá. E se eu trouxesse? Você não tem nada a ver com isso!
- Olha pra você. Virou um pervertido, com esses trejeitos de afrescalhado. Você tinha de apanhar todos os dias, pra aprender a ser homem de verdade.
- Se pensa que vai destruir o meu sábado, você está muito enganado.
- Escuta aqui seu viado! Se você aborrecer os meus pais, eu vou arrebentar a tua cara.
- BATE! – eu gritei, encarando ele. Vai! Bate! Eu tenho nojo de você! Seu homofóbico de merda! Cretino!
Ele ia levantar a mão para me agredir, mas para minha sorte, meus pais chegaram. Acho que eles mudaram de ideia e vieram mais cedo.
- O que está havendo nesta casa? Qual é o motivo dessa discussão toda?
- Pergunte ao seu filhinho do coração, ao qual o senhor tanto venera. – eu me retirei dali, e fui para o meu quarto, Desabei num choro incontrolável. O Arthur tinha o poder de abalar o meu emocional. Que vontade eu tinha de sumir e abandonar todos eles.
Do quarto, eu podia ouvir o Arthur discutindo com minha mãe, por minha causa. Ela era a única que me defendia. Fiquei trancado, até o horário se me arrumar e sair dali o mais rápido possível.
- Aonde você vai?
- Num aniversário. – eu respondi sem nem olhar na cara do meu pai. Apenas encarei o Arthur... Eu ia dar o troco nele, por ter me tirado do sério, como todas as vezes que ele faz isso.
Quinze minutos, e o Gustavo apareceu no seu carro prata.
- Oi. Você tá ótimo nesta roupa. – Aconteceu alguma coisa?
- Não. Só um aborrecimento familiar, mas que não vai estragar a minha noite. Hoje eu quero beber e beber! Preciso extravasar. – ele deu partida no carro e fomos cair na noite carioca.
A casa tava cheia, e uma fila se formava para poder entrar. Eu pude ver uma confusão com uns dos seguranças. Um grupo de rapazes mal encarados queria entrar a todo custo, e quase tive um treco, quando percebi que um dos rapazes, era nada mais nada menos, que o Enzo, com suas tatuagens a amostra. Eu me estremeci e disfarcei para o Gustavo não percebi. Perguntei a uma garota o que estava acontecendo de verdade, e ela me respondeu que o grupo queria entrar com um menor de idade, e que os seguranças haviam chamado a policia para expulsá-los dali. Eu não sabia o que pensar. Quando o Enzo me reconheceu, ele me encarou profundamente.
CONTINUA...