Gente, escrevi a parte final do conto anterior, mas por algum motivo, não publicou. E como eu estava escrevendo do celular, se perdeu. Então achei melhor pular os detalhes do conto anterior, pra não sofrer duas vezes.
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ResumidamenteNaquela mesma noite, a vó se foi. Foi uma barra pra mim. Por volta das 23h, eu sentei na recepção do hospital vazio. Meus soluços ecoavam corredor a fora. Eu precisava esperar minha familia chegar para me levarem para resolvermos toda a burocracia e depois irmos pra casa. Ali naquele canto, eu chorei muito. Lembrei da primeira vez que fui àquele hospital, e de quando a levava para as consultas. Tudo acabou muito rápido. 2 dias antes, eu estava abraçada a ela na frente de casa, dizendo que tudo ia ficar bem. E agora eu chorava por saber que não a veria mais. Lembrei das últimas palavras dela. Com dificuldade ela falou:
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"Você é meu anjo bom. Que Deus te abençoe e te guarde".
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Chorei mais. Até que ouço alguém se aproximar. Era uma senhora de uns 45 anos. Vestia um jaleco, provavelmente era enfermeira ou técnica. Sentou ao meu lado, colocou a mão no meu ombro e disse:
Ela: Eu entendo bem sua dor. Perdi minha mãe faz alguns dias. É uma dor que não tem fim. Mas acredite, a gente vai aprendendo a viver.
Afundei o rosto nas mãos e chorei mais. Ela ficou ali comigo, em silêncio.
Eu: Eu a amava tanto, sabe? Tanto tanto tanto.
Ela: Ela também deveria amar você.
Eu: Mas eu sei que ela está bem agora. Sei que querer mantê-la aqui seria egoísmo meu.
Ela: Isso mesmo, filha. Não deixe seu coração preso à isso. Amar é deixar o outro livre.
Ela apertou minha mão e se foi.
Nunca voltei a ver aquela mulher, mas só Deus e eu sabemos o quanto ela foi importante pra mim naquele momento.
No dia seguinte, eu assisti o cortejo sair de longe. Não chorei mais. Meu coração estava em paz, eu sabia que aquilo ali não era minha vó. Era apenas um corpo, que ela usou para ser quem foi, durante sua estada na terra. Quando entrei na casa da minha vó outra vez, dei de cara com uma nova realidade que eu teria que enfrentar. Todos estavam caídos pelos quartos, sofás e poltronas, dopados e chorando. Meus tios estavam desolados. Mais tarde, quando todos acordaram, eu vim para casa. No dia seguinte, era terça, e eu teria uma prova para fazer na universidade. Óbvio que não fui. Ainda havia documentos para serem providenciados. Fui à capital e resolvi tudo o que faltava. Passei num Hipermercado e comprei um livro para minha tia chamado Borboletas na Janela. É um livro espírita que trata de uma maneira sossegada da passagem de uma moça. Comprei chocolates também, mais algumas coisas e fui para lá. Passei em casa, fiz uma malinha e me dirigi para a casa da minha vó. Minha tia tinha sinais de depressão e eu não poderia deixá-la só. Não naquela hora. Eu acordava às 7h para preparar o almoço e cuidar da casa. Constantemente também estava de olho na minha tia, olhava sua pressão, lhe dava comprimidos, chás, etc. Quando ia dormir, era quase 23h. E era a única hora que eu podia falar com Ci. Pra piorar, era a única hora que eu podia chorar. Então ela tentava me consolar, mas depois de uns dias, ela não tinha mais um pingo de paciência com essa situação.
Ci: Mah, eu sinto sua falta. Quando você vai pra casa?
Eu: Ci, dá pra você parar de ser egoísta? Puxa, eu tô mal, vc sabia? Minha vó faleceu, eu mal consigo chorar aqui, eu estou cansada, estou trabalhando pacas. E vc ainda vem discutir comigo?
Ela não me entendia de jeito nenhum. Então desligamos. Minha sogra decidiu se meter e só piorou a situação. Uma tarde, ela me ligou.
Sogra: Mah, como vc está, minha filha?
Eu: Tô indo, Célia. Tô indo.
Ela: Falei com Ci. Ô minha filha, vc fique esperta. Não vá ficar se acabando também não. É como Ci falou, tua tia fica aí fingindo pra ficar te mantendo perto.
Depois do "fingindo"... eu não ouvi mais nada.
Eu: É o que? Ela falou isso? Ela disse que a tia está fingindo?
Minha sogra tentou explicar, mas fiquei super chateada e desligamos.
Mais tarde Ci ligou, e tivemos outra briga feia. Tudo só piorava. Eu não aguentava mais aquilo. Quem iria acabar enlouquecendo era eu. Então depois de alguns dias, peguei minhas coisas e decidi voltar pra casa. Estava visivelmente abatida, mais magra e mais pálida que o normal. Cheguei em casa, tomei um banho e ela ligou.
Eu: Oi.
Ela: Oi. Como vc está?
Eu: Vou ficar bem. Obrigada por me deixar quando mais precisei de vc.
Ela: Amor, me perdoa. Mas só assim pra vc acordar. Vc precisava sair de lá e cuidar um pouco de vc. Sua tia estava te enlouquecendo.
Eu: Rs... nisso eu preciso concordar com vc.
Ela: Rs... Eu te amo, cara pálida.
Eu: Eu tbm te amo, cabeção.
A vida foi voltando ao normal, e graças a Deus o tempo foi tratando de acalmar tudo. Foi um período difícil pra todos nós. A vó era muito amada, e deixou muitas saudades. Mas nunca esqueci o que aquela mulher me disse na recepção do hospital: "Amar é deixar a outra pessoa livre". Seria egoísmo meu querer que a vó continuasse aqui, na situação em que ela se encontrava. Eu ainda lembro dela com todo carinho e ternura do mundo. Em poucos dias, fará 1 ano que ela se foi.
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Obrigada pela força e paciência para concluir esse capítulo. Bjoos