...Mas ao caminhar pela cidade, sob o sol forte da tarde, comecei a me sentir tonto. Fazia muito tempo que não bebia água ou comia alguma coisa. Mas como O’Malley também não e estava ali, firme e forte, resolvi aguentar. Porém, logo o chão começou a me faltar, minha vista escureceu, e tudo girou. Não pude mais resistir e caí, mais uma vez encontrando o vazio...
O que vou contar agora é o que sei do que houve pela boca de Michael. Eu caí no chão, pois ele não teve tempo de me segurar. Ele se preocupou e correu até mim. Então me pegou nos braços, dando graças a Deus por eu ser tão pequeno e leve, e me carregou o resto do caminho que faltava até o barbeiro-cirurgião, cerca de um quarteirão depois. Ao chegar lá, seguido pelos cavalos, já que Llyir sempre o seguia e estava puxando o cavalo de meu pai, ele chutou a porta.
– Eu preciso de ajuda aqui, pelo amor de Deus! O menino vai morrer! – Ele estava angustiado – Onde está o doutor?
- Acalme-se, senhor! Ele está no andar de cima, cuidando de outro paciente! – disse uma senhora, que era a esposa do barbeiro-cirurgião – Leve o menino pra lá, tem uma outra cama sobrando!
Michael subiu as escadas comigo, de lado, pra poder passar. Ele nem agradeceu ou falou com a esposa do médico, apenas correu pra cima. Chegando lá, ele encontrou uma sala ampla, com apenas uma divisão, e lá havia três camas. Em uma, um garotinho pálido tossindo muito. Na segunda, havia outra pessoa, um homem, mas estava coberto e distante, e como o médico estava próximo, O’Malley não viu quem era. Quando viu a cama vazia, se dirigiu para ela. Era entre a cama do menino e a do homem.
- Doutor, me ajude aqui pelo amor de Deus! Esse menino levou um tiro três dia atrás – Michael falava ao me colocar na cama – eu estanquei o sangramento, mas ele desmaiou no caminho pra cá!
- Ei, ei! Calma aí, eu já terminei com esse paciente, vou ver o rapaz – disse o barbeiro se aproximando e retirando as bandagens com uma tesoura – Santo Deus, rapaz, o que fez aqui? Isso está infeccionado, vai dar trabalho!
- Eu o encontrei quase morto, mas onde eu estava, a única coisa que pude fazer foi estancar. Eu cauterizei a ferida com minha faca quente, mas a bala ainda está aí! – disse Michael, se sentindo culpado – Eu fiz merda, doutor? Ele vai morrer?
- Não, não fez merda. Mas cauterizar é uma medida paliativa, rapaz – falou o médico, um senhor de cerca de 40 anos, branco e calvo – Ele tinha que ter sido trazido aqui antes. Vou operar, retirar a bala, suturar e ele vai precisar repousar por no mínimo duas semanas pra poder ficar bom. De resto, é com ele.
- Ele vai conseguir, ele forte, esse moleque! – Disse Michael tentando sorrir – Eu fico onde?
- Não fica! Você vai sair, tomar umas cervejas, eu não sei. Mas não vai ficar aqui, me atrapalhando – disse o médico – minha esposa pode me ajudar e você deve ter coisa mais útil pra fazer.
- Mas doutor, eu não posso sair de pert...
- Sem mas, nem menos. Desça e avise minha esposa pra subir e fechar a barbearia, com você pra FORA! – disse o “médico”, já lavando as mãos – ande, ande!
Sem questionar novamente, Michael saiu, sem esquecer de avisar a esposa do barbeiro que ele precisaria dela comigo. Ao sair, Michael simplesmente parou. Ele se questionou do porque de estar tão preocupado comigo, mas resolveu fazer algo de útil pra esquecer aquilo e voltar depois.
Bem, a questão é que, quando voltei a mim, mais uma vez me assustei. Eu abri os olhos e vi que estava dentro de um aposento grande. Ao meu lado direito, uma cama vazia, com lençóis limpos (o menino já havia recebido alta). Ao meu lado esquerdo, um homem, coberto até o pescoço, cochilava. Era loiro e bonito. Sua barba e cabelos brilhavam sob o sol que passava pela fina cortina que cobria a janela.
Onde eu estava, eu me perguntei. Olhei pra baixo e vi bandagens limpas sob o lençol que me cobria. A dor no meu abdome estava lá, presente, chata, mas parecia menos pungente e diferente do que eu sentira antes. Havia um pequeno sino de ferro em um criado-mudo que estava entre minha cama e a do homem loiro. Eu o peguei e o toquei. Precisava de respostas.
Logo, uma senhora baixinha e atarracada chegou, vinda de uma escada que eu conseguia ver pela porta agora aberta do aposento. Era gordinha e tinha grandes bochechas vermelhas e aparentava cerca 35 anos.
- Bom dia, senhora. Onde eu estou? – perguntei assim que ela entrou – como vim parar aqui?
- Bom dia, rapaz. Sou a senhora Dulling, esposa e assistente do Dr. Dulling – ela falou me olhando séria. Provavelmente não gostava de ter um mestiço em sua casa – fomos nós que cuidamos de você. E quem o trouxe foi seu amigo ruivo, o senhor O’Malley.
- Oh. Muito obrigado por cuidarem de mim, sra. Dulling – eu falei sem jeito. Sabia que eles não tinham feito de graça, iriam ou já tinham cobrado de Michael pelos meus cuidados – onde está Michael? Faz quanto tempo que estou aqui?
- Bem, você parece ser um grande dorminhoco mesmo, como diz o sr. O’Malley. Está dormindo há dois dias – ela disse. Me senti preocupado e aliviado. Pelo menos, foi menos tempo que da última vez – O sr. O’Malley foi tomar café. Ele só sai de perto de você pra comer e ir ao banheiro.
Nessa hora eu corei. Então, Michael mais uma vez velara meu sono. Eu gostava daquele cuidado e carinho que ele sentia por mim, mesmo que fosse só um pouco. Me chateava, porém, que talvez ele fizesse aquilo somente porque eu o lembrava de seu irmão mais novo. Não queria ser o irmãozinho de Michael. Mas, o que eu queria ser, então?
Tentei não pensar muito nisso, pois sempre me pegava confuso e eu não estava preparado pra tentar de fato entender o que se passava comigo. Logo, a senhora Dulling saiu e eu fiquei novamente só com o paciente ao meu lado. A senhora Dulling havia prometido trazer um prato de comida pra mim, com um pouco de água, e depois que ela o fez, e minha fome e sede estavam saciados, fiquei olhando para o teto por um tempo. Onde estaria O’Malley? Porque demorava tanto pra vir me ver. Eu sentia falta dele... Não, não há porque sentir falta dele, eu pensei. Nós mal nos conhecíamos. E certamente, O’Malley não sentia minha falta, se estava tanto tempo assim longe de mim, eu pensei. Então uma voz ao meu lado me acordou de meus pensamentos:
- Hum, então o belo indiozinho adormecido finalmente acordou, uh?- virei para o lado e vi o belo homem loiro me olhando e sorrindo de canto de boca. Sua voz era baixa e ele parecia cansado – Estava preocupado de melhorar antes de você e sair daqui sem ouvir sua voz...
- Ah, sim. Bem, eu... me desculpe, senhor. Eu não me lembro de lhe conhecer – eu falei confuso. Porque ele falava comigo daquela forma? –será que nós já nos falamos e eu não lembro? Em Santa Lourdes?
- Não, nunca estive em Santa Lourdes. Mas eu também levei um tiro, e estou aqui há mais tempo que você – ele disse sem desviar os olhos de mim – acordei ontem de manhã, e te vi aí deitado. O seu “amigo” é muito preocupado com você... Ahn, me perdoe. Sou Nicholas Devlin, mas pode me chamar de Nick. E você?
- É um prazer, senhor Devlin. Me chamo Zhan Wichitta – falei um pouco áspero. Não gostei do tom que ele usou na palavra “amigo” – Michael O’Malley e eu nos conhecemos há pouquíssimo tempo. Ele é um bom homem, apenas isso.
- Bem, bom saber disso. Ele já deve estar voltando, ontem ele mal saiu de perto da sua cama – ele falou – Se nome é um pouco diferente do que costumo ouvir, mesmo para um índio.
Então, apesar de não me sentir cem por cento à vontade com aquele homem, contei-lhe minha história, sobre a paixão proibida entre meus pais e como se casaram. Contei que bandidos tinham atirado em mim a que causaram a morte de meus pais, mas não mencionei quem eram. E contei como O’Malley tinha me salvado da morte.
- Hum... você deve ser muito grato à ele. Eu seria – ele falou quando eu terminei – você vai se recuperar logo. Eu ouvi o Dr. Dulling falando ao seu amigo que o tiro não pegou em nenhum órgão vital. Você deu sorte, Zhan. Eu já estou aqui há bem mais tempo, mas finalmente estou me recuperando!
Ele então começou a falar um pouco de si. Que ele trabalhava como segurança de um ricaço, dono de uma das companhias que estavam fazendo as ferrovias. Que tinha vindo pro Texas pra fugir da Guerra Civil, que acabara naquele ano, mas que era de Nova York. Tinha aprendido a atirar bem com um tio, e com isso conseguiu o emprego. Mas o comboio do empresário tinha sido assaltado e o grupo que o fez levou muito ouro e matou seu empregador, deixando-o para morrer no deserto. Mas um grupo que passou por lá o salvara, assim como Michael fizera comigo. E então começou a contar piadas, a maioria tão engraçada que eu tinha que me controlar pra não rir muito e abrir os pontos.
E foi nesse momento que Michael chegou, com um enorme saco nas costas. Ele nos viu ali, rindo juntos e fechou a cara. Então cruzou o quarto rapidamente, se colocando entre a minha cama e a de Nicholas.
- Bem, parece que já está bom, Zhan. Está até rindo que nem um macaco de circo com o senhor Devlin – ele falou olhando pra mim, sisudo, de costas para Nick – Acho que logo vamos embora e deixar tudo aqui pra trás.
- E-eu estou melhor, sim. Obrigado por se preocupar, mais uma vez, O’Malley – eu disse. Estranhei o tom dele – Mas não acho que já posso seguir viagem... o que há no saco?
- Ah, isso? Eu vendi seu cavalo velho e comprei umas coisa pra você. Espero que não se importe – ele falou. Me importava, sim. Mas não ia fazer caso. Eu não tinha dinheiro pra nada e precisa de roupas novas. Vender o cavalo era a única solução – e consegui um presente pra você.
- Não, não me importo... o que você trouxe, posso ver?- ele logo tirou umas peças simples de roupas, mas eram bonitas. Uma calça avermelhada e uma camisa branca, e um colete combinando com a calça. Havia um par de botas novas também – e o presente? Você tirou dinheiro do seu bolso pra comprar algo pra mim? Não precisava!
- Bem, eu quis. E espero que goste. Deu um trabalhão achar alguém que fizesse um desses direito – ele tirou um arco muito forte e bonito do saco. Tinha sido feito com muito esmero e parecia do tipo que dura por gerações de uma família. Tirou também uma aljava com flechas, feita de couro decorado – é Apache, espero que não se importe. Um índio que mora na periferia da cidade fez, nem foi tão caro assim, não se preocupe. E tem mais!
Ele então puxou um par de facas excelentes, já presas em um suporte de couro para a cintura. Eram do tipo que se arremessa com facilidade, mas eram robustas o suficiente para sem usadas em combate corpo a corpo.
- Nossa, O’Malley, eu nem sei o que dizer! Eu adorei os presentes! – eu estava muito feliz. Ele tinha pensado em mim e acatou o que eu disse sobre minhas habilidades como caçador – Agora eu vou poder ajudar você a acabar com o bando do Do...
-Shhhh, não vamos falar o nome desse maldito. Tem gente estranha ouvindo em todo canto! – claro que ele estava se referindo a Devlin. Fiquei constrangido, até perceber que meu companheiro de quarto novamente cochilava e provavelmente não ouviu a indireta – é melhor você praticar, já disse que não vou ser babá pra sempre.
- Puxa, O’Malley, não vou decepcioná-lo, prometo! Obrigado! – não sei porque, nesse momento estendi meus braços pedindo um abraço. Ele meio que congelou, mas no momento em que eu ia abaixar os braços, ele se abaixou e me abraçou, com cuidado pra não me machucar – você está sendo um grande amigo, Michael.
- Eu, só preciso da sua ajuda, moleque. Mas eu não sei porque, gosto de você – Ele se afastou um pouco e ficou me olhando nos olhos durante um bom tempo, ainda em meus braços – você tem um rosto tão lindo. Nem parece um menino. Ahn... me desculpa, eu não devia ter falado isso!
Ele se afastou bruscamente e desceu, dizendo que ia beber água. Eu fiquei parado olhando para meus presentes e imaginando se eu realmente estava sentindo o que achava que estava. Não poderia mais negar que eu estava me sentindo atraído por O’Malley. Que eu o achava fisicamente atraente. Que até seu sotaque e seu jeito bronco me deixavam paralisado. E que nos momentos em que porventura demonstrava carinho, eu levitava.
Então dormi mais um pouco. Ainda estava exausto. E assim uma semana inteira se passou. Conversava muito com o sr. Devlin, ou Nick, como ele insistia em ser chamado. E também com Michael. Ele arranjou um emprego de segurança num pub local, devido ao seu tamanho, mas não pagava bem e provavelmente teria que trabalhar mais de um mês pra pagar minha conta médica com os Dulling. E isso seria um perda de tempo enorme, pra mim e pra ele. Eu temi estar me tornando um peso para Michael, e isso atrasaria sua vingança e a minha.
Michael pouco falava com Nick, mas depois de um tempo, passaram a pelo menos a se cumprimentar e falar trivialidades. Eu não entendia porque eram tão secos um com o outro, pois tinham tudo para serem bons amigos, ao meu ver. Nick se recuperou rápido do tiro que levou, o dr. Dulling era muito bom. Logo estávamos andando pelo quarto pra nos exercitarmos. A cama da direita quase sempre ficava ocupada por pessoas com tosse ou febre, mas que nunca demoravam mais que um dia lá, pois eram moradores de Audacity. À noite, era ocupada por Michael.
Numa tarde quente, enquanto a sra. Dulling preparava um banho para cada um de nós, estávamos andando no quarto, vestidos com camisolões que eles nos deram. Por baixo, nada. Demos algumas voltas, conversando bobagens, pois depois do primeiro dia eu evitava falar de meus pais. Eu chorava sozinho à noite, quando ninguém podia me ouvir.
Num momento de distração, eu acabei tropeçando e cai pra frente, e num movimento rápido, mais rápido do que deveria um homem convalescente, Nicholas se adiantou e me segurou, fazendo uma careta de dor por ter feito o esforço.
- Woah... calma, belo adormecido, não pode cair senão vai estragar o tratamento... – ele disse ainda fazendo uma careta de dor- e não queremos que você machuque o rosto...
Eu estava com as mãos apoiadas no peito largo e forte dele. Ele era bem mais forte que Michael, mais definido. Não tinha uma barriguinha de cerveja como Michael, mas também era mais baixo, deveria ter cerca de 1,80m. Ele me segurava pela cintura, que naquele momento eu percebi, era um ponto fraco meu... Logo ele subiu uma das mãos e acariciou meu rosto. Com o polegar, delineou meus lábios, e nesse momento eu fechei os olhos e deixei meu rosto pender em sua mão. Desci as minhas por seu abdome com cuidado, para não doer, e senti seus músculos. Ele era liso como eu, sem pelos no torso, apenas em grande quantidade nas pernas fortes. Ela tinha um rosto quase quadrado, forte, e as entradas no cabelo dourado e a barba por fazer lhe davam um ar másculo.
Ele se inclinou pra frente e disse:
- Eu sempre faço o que sinto vontade, ao contrário do seu “amigo”, que está louco pra provar sua boca e não o faz – ele então se aproximou mais e quando ia me beijar, ouvimos um grito lá de baixo, da sra. Dulling. O banho estava pronto, pra um de nós – bem, acho melhor irmos. Ou ela vai subir e nos ver. O que acha?
Apenas fiz que sim com a cabeça, e me afastei. Ele desceu na frente e eu fiquei para trás pensando naquilo que ele fez. Na vontade que também me deu de beijar aquele homem viril e másculo. De me deixar conduzir por suas mãos fortes. Mas pensei mais ainda no que ele disse sobre Michael. Sobre ele querer me beijar também, me querer, mas evitar. Eu queria beijar Nick, queria Nick por perto. Aquela semana tinha sido muito boa em sua companhia. Mas eu também queria Michael. Era Michael que povoava meus sonhos. Mas Michael não sentia o mesmo... ou sentia?
Depois desci e tomei meu banho. Imaginei Nicholas lá. Sem roupas naquela banheira. Imaginei-me com ele na banheira. E imaginei-me com Michael. Me senti estranho por querer os dois...
Depois do banho, o Dr. Dulling decidiu que poderíamos vestir nossas roupas e ficar sentado por mais tempo, talvez na varanda de sua casa, para pegar um pouco de sol e respirar ar fresco. Ambos estávamos bem melhores e logo receberíamos alta. A sra. Dulling era muito boa com ervas e os unguentos e chás que ela preparava nos fizeram ficar fortes rápido. Fora a excelente comida que ela preparava.
Subi e coloquei minhas roupas novas. Eram lindas. Imaginei Michael perdendo seu tempo comigo, procurando as roupas e verificando o tamanho, por mim. Elas até combinavam com minha pele. Imagino se ele pensara nisso. Acho que não. Não era um homem de “frescuras”. Então quando ia sair do quarto, vindo do outro lado da divisória do cômodo, Nicholas surgiu vestindo um conjunto de roupas impecavelmente brancas. Calça e terno, e camisa, com um colete amarelo-dourado. Suas botas marrons, bem clarinhas, combinavam com o chapéu.
- Nossa, Nick. Está muito elegante. Parece até que vai à missa! – eu falei, olhando-o de cima a baixo. Estava realmente muito bonito – porque tanta elegância? Só vamos até a varanda.
- Pra você. Pra estar bonito pra que você me veja bonito – ele falou olhando nos meus olhos. Caminhou até mim e novamente tocou no meu rosto – Porque eu te vejo lindo a cada segundo, meu príncipe de âmbar.
- Nicholas, eu acho melhor não. Eu nunca estive com ninguém antes, seja homem ou mulher... isso não parece certo – eu falei. Acho que estava tão vermelho que parecia uma pimenta jalapeño – eu prefiro que não façamos nada.
- Mas eu sei que você quer. Eu sei que quer ele também, eu vejo como o olha. Mas ele nunca será seu – ele disse se aproximando mais – eu nunca tive medo de viver o amor do jeito que eu o sinto, Zhan.
Ele já estava se aproximando mais uma vez, e dessa vez eu ia beijá-lo. Com medo, mas eu realmente também queria. Precisava do sabor da boca rosada dele na minha. Mas, mais uma vez ouvimos um grito da sra. Dulling, que veio subindo as escadas o mais rápido que pôde, a redonda senhora.
- Zhan! Zhan! Senhor Devlin! Pelo amor do Senhor Jesus!! O senhor O’Malley, ele... – ela estava sem fôlego – ele está no pub... um bando de arruaceiros entrou... estavam fazendo bagunça e ele se meteu... Oh, meu Deus... está havendo um tiroteio no pub! Jimmy, o outro segurança, está morto na porta, é que dizem!!
Eu quase caí! Eu estava pálido e gelado. Não poderiam tirar Michael de mim. Não daquela forma. Ele era tudo que eu tinha. Minha família, agora, eu estava sozinho. Ele era... meu homem. Ninguém mataria Michael. Eu fui até o canto do quarto e peguei de lá o arco e a aljava com trinta flechas, me dirigindo então pra porta.
- Onde você pensa que vai, rapaz? Você está convalescendo! – disse a senhora Dulling – ficou louco?
- Eu preciso ajudar o Michael. Eu não posso deixar que ele morra! – eu já estava descendo as escadas – ele é tudo que tenho...
Senti uma mão forte segurando meu braço, e parei. Virei e vi o Nicholas me olhando firme, com o olhar de reprovação. Só então notei que ele tinha um revólver em um coldre, na cintura.
- Não vou conseguir te impedir de ir, não é, Zhan? – ele perguntou me olhando nos olhos. Fiz que não com a cabeça, também olhando-o nos olhos – Então vou com você. Você também se tornou importante pra mim, Zhan.
Então descemos juntos as escadas e passamos pelo dr. Dulling, pálido, perto da porta. Provavelmente ele estava bebendo no pub quando a confusão começou e trouxe as notícias do tiroteio. Eu saí, com a convicção de que mataria todos em Audacity se fosse preciso para trazer Michael e também Nick sãos e salvos daquele pub.