Voltei pra barraca onde Carine. Não deitei por que sabia que não dormiria mais, sentei lá e fiquei fingindo que estava lendo. Não demorou muito até ela despertar, sorriu e eu tentei sorrir de volta.
- Acordou que horas?
- Agora pouco – dei um beijo nela e coloquei o livro de lado – tô indo procurar café.
- Traz um pra mim?!
Ela sentou por cima dos lençóis espalhados. Carine era linda, era alta com pernas bonitas, o cabelo liso vivia em um coque, e era inteligente, gostava de estudar. Respondi um “tá” e saí. O sol estava mais quente e as pessoas aparecendo aos poucos. Não vou negar, meus olhos procuravam alguém. Tomei café com pão de queijo numa mesa com estranhos engraçados, demorei um pouco até voltar até a barraca com chocolate e pães de queijo, Carine já tinha tomado um banho, dei um beijo nela e disse que daria um mergulho. A piscina de lá era enorme, quando eu era guria eu fazia natação, não era muito fã de esportes, mas amava a natação. Eu fiquei lá sozinha durante uns 20 minutos, até um pessoal lá cair na piscina também. Fiquei mais de uma hora nadando, depois fui pro banheiro tomar uma chuveirada. Minha cabeça vagava, eu não conseguia pensar em algo fixo, ou algo com sentido.
Passou assim a manhã toda, pessoas conversavam em grupos, pessoas jogavam futebol, outras na piscina, outas, sei lá, ainda dormiam de ressaca?!
Na hora do almoço, Carine comeu e eu fiquei na mesa com ela, tomando coca-cola. Eu usava regata, short e havaianas, óculos escuro e cabelo no coque. Carine conversava comigo. Quando terminou, sugeriu que fôssemos para debaixo de uma árvore perto do campo de futebol, que não teria ninguém. Fomos, ficar embaixo de uma árvore era muito melhor que uma barraca embaixo do sol. Sentei encostada na árvore e Carine sentou entre minhas pernas. Em menos de vinte minutos, lá vem. Vi uma silhueta entrando na sombra que a árvore causava e senti um cheiro forte de brisa e cigarros. Eles, eram 9 pessoas. Ela usava saia verde-escuro, uma blusa branca por dentro da saia, o colar perdido entre a blusa. Os lábios rosados combinava com as sardas em contraste com a pele. Sentaram há uns 4 a 5 metros, já no campo de futebol, onde a sombra da minha árvore ainda cobria dando sombra. Os 2 garotos que “dormiram” com ela estavam lá, o garoto que entrou “sem querer” na minha barraca e a garota loira também. Assim que passaram por mim deu de ver a cicatriz na coxa, que começava e se perdia no verde da saia. A garota loira deu um cigarro pra ela, ela colocou entre os lábios e a garota loira acendeu. Nem todo mundo lá fumava, mas mais da metade. Eles conversavam e sorriam, tinham nos visto, só havíamos nós ali, eles e Carine e eu. Então uma garota começou a tocar uma gaita e eles ficaram lá, viajavam num silêncio que parecia irreal. E eu lá, viajando nela.
Uma vez ou outra Carine falava alguma coisa. Eu estava calada, me apaixonando. Ela olhou em minha direção, pensei, por um segundo, que tivesse me reconhecido. Mas então ela sorriu e uma covinha apareceu no rosto. Fechei os olhos e suspirei. Um cara saiu por detrás da gente, na árvore. Estava tendo pessoas “vistoriando” o sítio inteiro, pra manter “a ordem”, tais pessoas estavam usando coletes brancos, escrito -apoio-. Eles ainda estavam fumando, o cara que apareceu estava com o colete, pensei: “fodeu muito, ela vai se ferrar!”, o cara falou primeiro com os garotos, mas não me pareceu brigar. Ele agachou um pouco e deu um beijo no rosto de Natasha. Falou com todos lá. Sorri, pensei que ela seria expulsa do sítio. Carine e eu saímos e eles ainda ficaram por lá. Ás 20hrs começaria uma festa, no próprio sítio. Falei pra Carine que eu não queria ir (não queria vê-la com outra pessoa, ou só não queria vê-la), ela falou que iriamos caminhar na praia. Fomos, lá foi calmo e eu tentei pensar no momento. De lá fomos pegar um ônibus pra ir pra casa, ela foi a primeira a ir, pegávamos ônibus diferentes. Fiquei lá, esperando. Já estava ficando um pouco inquieta com a demora mas logo então meu coração ritmou. Ela, e quando digo ela, falo de Natasha, despediu-se da loira e foi caminhando até a plataforma que eu estava. Me olhou e franziu o cenho. O ônibus aparaceu e eu fiz uma promessa interna pra ela não entrar. Entrou. Entrei, não aguentaria esperar um próximo. Fui atrás e ela mais a frente, com fones de ouvido e jogando no celular. Eu só conseguia olhar pra ela.
* * *
Passaram-se 3 meses, já era dezembro de 2013. Lipe tinha faltado nesse dia, era uma terça-feira. Não falava com muitas pessoas, não era muito fácil de fazer amizades. Fiquei rabiscando o caderno esperando o horário de arte terminar. Tinha dormido mal na noite anterior, queria chegar em casa e dormir um pouco. Bateu o sinal e eu saí com as coisas ainda na mão, com pressa. Passei pela porta e olhei uma certa garota, o choque me fez derrubar as coisas que estavam na mão. Paralisei, não consegui abaixar pra pegar as coisas, uma menina da minha sala que abaixou e pegou. Perguntou se eu estava bem. Menti que sim. Natasha estava lá, no pátio, fones de ouvido e lendo um livro. Lá onde inúmeras vezes me sentei com Lipe, na MINHA escola. Me perguntei o que diabos ela fazia ali. Caminhei depressa e fui até a entrada/saída, joguei as coisas dentro da bolsa e respirei fundo. Pensei que nunca mais a veria, tinha me acostumado a tal ideia, acho que não queria vê-la de novo.
Não consegui sair de lá. Respirei fundo e fui na sala, todo mundo já tinha saído, não sei o que eu queria com isso. Olhei pra lá, ela ainda olhava pro livro. Fiquei 2 minutos na sala e sai de novo. Ela tinha parado de olhar pro livro e olhava em direção a minha sala. Fiquei sem saber o que fazer e entrei no banheiro. Respirei fundo e fiquei um tempo lá, não sei se esperando que ela esbarrasse por lá. Saí, aquele horário mais ninguém nas salas. Caminhei o mesmo percurso de antes e ela me seguiu com o olhar. Eu sei por que estava olhando pra ela. Pensei em comprar um lanche e ir comer lá perto mas achei que seria meio tosco. Pensei em pegar o livro que estava lendo e fingir ler, sentada no pátio. Mas fui pra escadaria perto da entrada/saída, sentei lá e fiquei esperando ela sair. Me perguntei de novo o que ela faria ali... Esperando o(a) namorado(a)? Esperando o pai pra irem juntos pra casa? Deu 13 horas e o pessoal do turno vespertino começou a chegar. Era muita gente. Alguns me olhavam estranhamente. Daí entra a loira da festa no sítio, de mão dadas com uma outra garota. Logo atrás os 2 meninos da barraca, sorrindo alto. Ela não tinha saído até aquela hora... Não foi mais tão difícil assim descobrir o que ela fazia lá. Ela estudava lá pela tarde, éramos separadas por uma hora de relógio.