Acho que assim que nascemos, já saimos do ventre de nossas mães com um brilho diferente dos demais.
Aos meus oito ou dez anos eu já sabia muito bem o que eu queria.
Me lembro que eu ficava envergonhado de entrar no banheiro com mais garotos, pois eu ficava excitado ao ver o pinto deles.
Eu não jogava bola, mas adora brincar de outras brincadeiras.
Ta certo eu também não gostava de brincar com bonecas, mas a minha adoração era fazer desenhos de coisas, rostos, animais e outros objetos.
Me recordo que no final de ano na escola a professora de artes me pedia e eu sempre desenhava as imagens que eram enviadas a gráfica e delas eram feitos vários cartões de natal e boas festas.
Também me recordo que nesse período eu recebia os vários apelidos que os garotos inventavam para colocar em mim e dentre eles os que eu não me esqueço até hoje: franga, bichinha louca, viadinho, gazelinha, 220 volts, boiolinha, moça, e mais um monte, que não vem ao caso.
Apesar de minha diferença, desde pequeno minha mãe não me deixava e não aceitava que eu baixasse a cabeça para os obstáculos.
Uma vez na fila do colégio eu devia ter uns 11 anos e um garoto de 14 anos me derrubou:
Levanta franguinha ou você quebrou a sua unha?
Eu me levantei e dei um empurrão no garoto.
Ele segurou meu braço e me jogou novamente no chão.
Vai franguinha levanta para apanhar!
E eu me levantei e dei um chute no meio das pernas do garoto rs.
Me lembro que eu tinha um tênis que ascendia as luzinhas atrás, quem tem mais de 30 vai lembrar rs.
A ponta do meu tênis ascertou em cheio o saco do menino.
Ele ajoelhou na minha frente e começou a chorar, eu ergui o rosto dele e também chorando falei: e agora quem é a franguinha?
As meninas e os menino começaram a gritar, bater palmas e os pés no chão, colocando o ego do garoto ainda mais no chão.
Aquela foi a primeira e última vez que eu fui parar na diretoria.
Nesse período eu me fechei para todos e comecei a me dedicar unica e exclusivamente aos meus estudos.
Me tranquei numa arredoma invisível, criei uma personalidade forte e foi assim que consegui sobreviver ao colégio.
Eu tinha meu primo e o Raul que não separavam de mim, mas acho que isso acabou atrapalhando um pouco o crescimento dos dois.
O fato de eu me fazer de durão e de não me socializar com outras crianças, também prendia os dois.
Achamos que quando se é gay, nós conseguimos camuflar "ou deixar dentro do armário".
Mas não é bem assim que a banda toca, minha mãe sempre soube, meus amigos sempre souberam, e o único que não aceitava ou fingia que estava tudo bem, era eu mesmo.
Eu vivia me masturbando no banheiro imaginando como era um garoto de 17 anos que estudava na mesma escola que eu, seu nome era Daniel ele era filho do prefeito da cidade, super simpático e muito divertido, ele não tinha diferença com os outros e sempre tratou a todos como iguais.
Ele era simples e muito atencioso e isso fez com que eu criasse uma espécie de paixão platônica por ele.
Nunca fui retribuido e também nunca contei sobre isso(o cara é lindo até hoje rs).
Me lembro também que muitos meninos já ficavam interessados em mim.
Teve um que uma vez me chamou para ir ao banheiro com ele, que ia me mostrar o tamanho do pinto, eu colei o pé no chão e não sai do lugar, sai fora garoto que eu não gosto dessas coisas não ow.
Outra vez eu até aceitei ir com o garoto, mas o pinto era tão pequeno que eu nem perdi meu tempo.
Mas o primeiro pinto diferente que eu coloquei a mão foi o do Raul mesmo, nós estávamos com 13 para 14 anos, eu o masturbei e depois fomos brincar de pega pega rs.
Com meus 16 para 17 anos que eu conheci o Marcos e ele me apresentou ao amor, ele retribuia todo e qualquer carinho que eu oferecia, e depois que eu estava perdidamente apaixonado por ele que ele sumiu.
Eu fiquei doente, cai na cama, entrei em depressão e um dia a minha mãe cansada de me ver no estado em que eu estava, resolveu abrir o jogo comigo.
Eu achando que estava falando algo super confidencial, mas ela toda risonha e nervosa me disse:
Filho que você é gay eu sempre soube, você sempre foi diferente dos outros e por isso o meu amor por você era ainda maior.
Agora você não tem que ficar deitado numa cama por alguém que não esta nem aí por você.
E foi nesse dia que a admiração que eu sentia pela minha mãe aumentou no nível máximo.
Na realidade nós que nos comportamos de um jeito diferente, nunca passamos despercebidos, eu demorei 16 anos para abrir o jogo.
Eu sou gay, não entendo de moda, não falo girias loucas, não me jogo nos homens, mas gosto de um carinho e por isso me apaixono fácil, sou fã da Madonna, do Michael, da Katy, adoro um country music, gosto de um eletrônico, mas minha paixão é toda e qualquer musica MPB, gosto de limpeza e sou muito sistemático o detalhista.
Não gostava de bonecas, aliás eu morro de medo de bonecas que abrem e fecham os olhos (Bebezão), e me borro de medo de palhaços, não me maquiava, e não usava sapatos ou roupas da minha mãe.
Eu gosto de rock, eu curto filmes de terror e eu adoro discussão.
Gosto de natação, e musculação, mas não gosto de dietas ou regimes, gosto de comer o que me dá vontade.
Sou gay, mas não fico dando pinta por aí, não me jogo na night, mas se eu beber quem paga o pato é o William.
Eu quero dizer com isso que se temos esse segredo guardado no peito o melhor a se fazer é abrir o jogo, os pais, os amigos e a família vão estar sempre alí em apoio.
Guardar um sentimento desses é perigoso, é dolorido e prejudicial para nós mesmos.
Eu sofri bullying a minha infância toda, mas na época os fracos se calavam ou se mostravam fortes, não existiam leis de apoio ou auxílio como existem hoje.
Era complicado, você apanhava na rua e depois apanhava em casa, por não ter se defendido.
O dia que fui para a diretoria eu me lembro que a minha professora da época foi até a direção, bateu o pé, discutiu, brigou e pediu a expulsão do garoto pois se eu tinha chegado ao ponto que cheguei foi por desespero.
Hoje os pais vão na escola tirar satisfação com o professor, quando quem tem que educar são os pais.
Os professores tem dever de nos ensinar.
Eu sofri por um tempo por ser diferente aos demais do grupo, mas esse sofrimento me deu forças para crescer e me tornar quem eu sou hoje, nunca me fiz de vítima e sempre fui atrás de cada objetivo que eu queria alcançar.
Por isso meu amigo e minha amiga, quem sofre calado (a), adoece, não vive e acaba perdendo tudo de melhor que podemos receber quando temos apoio dos que estão próximos a nós.
Se aceitarmos o rótulo que nos colocam é por que o merecemos.
Sou gay e só me arrependo de não ter aberto o jogo, ter dialogado com minha mãe e minha tia antes, pois isso poderia ter mudado muita coisa em minha vida.
O primeiro a aceitar a nossa condição e a nossa sexualidade, somos nós mesmos.
Sou gay e sou muito feliz hoje com a vida que levo.
Esse tipo de coisa, de situação aconteceu comigo e por isso eu me sinto a vontade para falar.
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Uma condição egodistônica caracterizada por um indivíduo ciente de sua preferência sexual, mas deseja uma orientação sexual diferente por causa de transtornos psicológicos e comportamentais associados.
Uma pessoa gay pode até controlar seu desejo, ser celibatária, se assim desejar, mas não pode deixar de ser homossexual, de possuir esta tendência, esta orientação. Infelizmente ainda há psicólogos envolvidos em iniciativas como estas, geralmente promovidas por grupos religiosos protestantes neopentecostais e até católicos. Um documento da Igreja Católica americana desaconselha terminantemente tais “tratamentos”. Os profissionais envolvidos estão sujeitos a processo nos seus respectivos conselhos regionais de psicologia.