A primeira vista – Capítulo 15.1
Acordei com a boca seca. Havia dormido com ela aberta em frente ao ventilador. Me sentei na cama tentando umedecer os lábios e senti cheiro de café. Escutei Kaio no telefone falando com o Marcos. Não entendia direito o que, mas aquela conversa demorou muito.
Eu me vesti e saí para a sala. Kaio terminou a ligação.
- Finalmente, Igor! São quase 10h!
- Meu Deus... Você não me acordou porquê?
Saímos sem tomar café mesmo pra cidade. Ele me deixou em casa e seguiu pra dele.
Uma mensagem da Milena chegou assim que entrei no meu apartamento.
“Igor, vai se vestir mais tarde na casa do Kaio. Todas as roupas estão lá.”
Inventei algo pra comer e fui pra casa do Kaio. Estava uma zona! Seu Antônio provava o terno novo e tinha os botões do blazer sendo ajeitados por dona Márcia que vestia um vestido laranja no melhor sentido “ai meu olho!”. Quando cheguei na sala encontrei com Marcos. Ele estava divino. O terno do noivo não era desse planeta de tão lindo. Era brilhante, literalmente, muito moderno até! O cabelo estava bem arrumado e pela falta das manchinhas já tinha sim um pé de maquiagem no rosto. Ele estava no centro da sala sendo arrumado por uma menina que usava o uniforme da empresa do Klaus. O sorriso desajeitado dele com certeza denunciou a cara de bobo que eu estava fazendo enquanto o admirava.
- Suba Igor! Kaio está lá encima, vão se vestir logo! – Dona Márcia gritou.
Eu subi a escada ainda observando o Marcos. Ele estava muito lindo, eu não me canso de lembrar. Bati na porta do quarto do Kaio.
- Entra.
Quando abri a porta Kaio estava no mesmo terno que eu já havia experimentado. O cabelo com gel escorrido pra trás muito bem feito, terminando de abotoar o blazer. A gente ri até hoje desse cabelo com gel. Ele parecia o personagem da “A Feia Mais Bela”, o Fernando Mendiola. O cabelo estava muito parecido.
- Você tá a coisa mais linda desse mundo! – eu disse querendo rir do cabelo dele.
Ele deu uma volta e sorriu. Me beijou.
- E você já é, mas precisa se vestir.
Kaio se olhava no espelho impaciente.
- Nunca usei meu cabelo assim. Foi exigência de mamãe. Você gostou? Porque eu acho cafona.
- Tá lindo Kaio. É legal pra você não aparecer com a cara de sempre.
- Só que eu gosto do meu cabelo de sempre.
Ele ficou lá reclamando do cabelo, até que se deu por vencido e viu que teria que sair daquele jeito mesmo. Eu rapidamente me vesti.
- Como vocês estão lindos! – Dona Márcia gritando com as mãos pro alto.
A menina que trabalhava pro Klaus acenou para que sentássemos. Ela começou a passar uma leve maquiagem em nós dois. Aquilo era estranho, nunca tive que passar por isso pra ir a um casamento.
Um tempo depois saímos para o clube e muitos convidados já estavam em seus devidos lugares. A equipe do Klaus era muito competente e cuidava de tudo.
O comentário do momento era o vestido da dona Márcia, acho que chamaria mais atenção que o da noiva. Tirando o vestido dela, todos os olhos eram pro Marcos. Começou a cumprimentar e abraçar as pessoas com os pais sempre sorrindo. Muitas pessoas ditas importantes na cidade estavam presentes. O prefeito e sua esposa, empresários bem sucedidos, fora as famílias ricas de berço.
Kaio me puxou pra ver a banda. Um piano, bateria, violão, violino, baixo e tudo mais. Todos os músicas estavam de terno e ensaiavam algo. Era uma banda mesmo! Eu nunca havia visto um piano de perto, então fiquei admirando a madeira. Era maior do que eu imaginava.
- Você gosta? – Kaio passou a mão no piano.
- Sim. É maior do que pensei.
Ele sentou e passou os dedos nas teclas. Apesar do som, ninguém pareceu notar. Havia apenas muitas conversas. Eu olhei pro espaço e em pouco tempo as pessoas foram chegando e chagando... Deus, eram muitos convidados!
Enquanto eu me distraia olhando pras pessoas Kaio começou a dedilhar o piano. Era “Clair de Lune”. Umas das músicas que o Edward toca pra Bella no filme “Crepúsculo”. Eu fiquei impressionado, porque estava igual! Olhei para as pessoas mas ninguém prestava atenção. Parecia que não estavam ouvindo nada. Ele tocava com muita atenção até que parou. Olhou pra mim com um sorriso de satisfação enorme.
- Kaio desde quando você toca piano que nunca me disse? – Eu sentei do lado dele no banco.
- Fiz umas aulas por aí... Tipo, Crepúsculo é uma droga, mas você já assistiu que eu sei e Claude Debussy é simplesmente demais! Eu então uni o útil ao agradável e toquei. Olha só, são quase 3h. Vamo sair daqui.
Fomos pra perto de nossa posição no altar e o Marcos ficou na dele conversando com o Padre enquanto dona Márcia ajeitava o terno dele. O estranho alí não era isso. O estranho era o comportamento do seu Antônio. Ele ficou com um grupo de senhores que aparentavam ter a mesma idade que ele. Conversavam e bebiam algo até que ele olhou pra mim e todos os outros senhores olharam. Eu não sei o porquê, mas me deu um gelo na espinha. Olhei no sentido contrário e puxei papo com o Kaio.
Pelo visto Milena estava vindo porque uma funcionária falou algo no ouvido da dona Márcia e ela pediu que todos se apressassem. Um burburinho na entrada do clube começou. Todas as cabeças olhavam pra trás pra saber se era a noiva ou não. Até que os flashes começaram. A equipe de fotografia do Klaus entrou em ação e não se conseguia ver nada na entrada a não ser os feixes de luz branca. Todos os convidados se levantaram. Milena surgiu no fim da passarela radiante.
Deus, como ela estava linda naquele dia! O cabelo em coque com um enfeite bem bonito, o vestido como já sabem em tomara que caia mas ainda assim comportado, a cintura bem fina e a calda em tamanho regular, nada muito extravagante. Adivinhem quem estava quase nas últimas pra chorar? Marcos. Ela chegou no altar e beijou o pai. Subiu cumprimentou dona Márcia de forma bem longa. A marcha acabou e elas não desfaziam o abraço. Aparentemente dona Márcia estava falando algo pra ela. Até que acabaram. Os dois então seu puseram em frente ao padre.
Não vou narrar o casamento, o texto vocês já devem imaginar. “Estamos aqui reunidos para celebrar....” Kaio e eu continuávamos nos nossos lugares.
- Sim, eu aceito. – Milena.
- Sim, é claro que aceito. – Marcos. Até o Padre riu.
Não vou mentir... Talvez meu olho tenha deslizado pra minha aliança enquanto eu via a troca de alianças entre Marcos e Milena. De novo aquela sensação estranha que tenho sobre casamentos... Tentei ignorar. Suspirei muito forte e Kaio me olhou estranho. Eu fiz sinal de negação com a cabeça e sorri. Marcos e Milena agora estavam casados. Casados! Porque eu queria fugir do altar? Sério. Eu vou como convidado mas não me convidem pra ser padrinho do casamento de vocês leitores, por favor. Não quero mais passar por isso não. Fiquei imaginando as consequências de um matrimônio... Eu estava pensando tão alto que quase não vi o beijo e me espantei com as palmas. As fotos devem ter saído lindas com um dos padrinhos com cara de retardado que estava no além em pleno casamento!
Assinamos alguns papéis.
- Que demora... Eu pensei que as pessoas casavam mais rápido. Vamo comer algo. – Kaio.
- Kaio, o casamento é um momento muito importante na vida de alguém! Não pode ser feito às pressas. Casamento é o momento em que... Ai! – Vi os olhos do Kaio revirarem e ele impediu meu monólogo me puxando pra fora do altar.
Saímos pro gramado do clube. Como já era fim de tarde o sol começou a dar um trégua. A recepção dos convidados iria começar. A equipe começou a carregar cada uma das cadeiras do espaço de festa para o gramado e as dispuseram em volta de mesas. Havia um tablado de mais ou menos uns 70cm de altura no gramado que servia como pista de dança. A banda entrou em ação e já era possível curtir uma boa música. A mesa da família, que também era a dos noivos – agora casal – era enorme. Uma junção de várias mesas na verdade. Haviam comida e bebida à vontade. A banda começou com MPB das antigas, coisa de Barão Vermelho pra trás em mil novecentos e sabe-se lá Deus...
Fomos pro tablado. Começamos a nos mexer com a músicas porque eu gostava de Barão Vermelho. Eu e Kaio ficamos tentando lembrar da letras. Houve um momento em que o Kaio saiu e voltou com vários brigadeiros na mão. Todos personalizados com as iniciais do casal.
- Come e depois dança! – eu avisei. Ele não deu ouvidos e ficou comendo os brigadeiros e dançando comigo.
Uma mão pousou no meu ombro. Era seu Antônio.
- Igor, venha cá. Quero que conheça umas pessoas. – Me puxou pelo ombro e fui obrigado a deixar Kaio lá de boca cheia.
Ele me levou até o grupo de senhores que eu relatei mais cedo. Me apresentou, disse que eu era amigo do filho dele e que já era bem íntimo da família, que fazia Direito e era um ótimo aluno. Impressão minha ou ele estava vendendo um peixe por acaso? Eles começaram a fazer perguntas, falar sobre a empresa deles, eu sempre acenando tudo e respondendo como podia. Minha cabeça sempre me perguntando o que eu estava fazendo alí. Não havia como fugir porque seu Antônio não tirava a mão do meu ombro. Kaio chegou do meu lado. Todos o cumprimentaram. Kaio sorriu e foi simpático. Olhou pro pai com um olhar que eu entendi de longe e seu Antônio começou a despedir por mim. Save by the bell!
Marcos e Milena enfim tiveram uma folga dos convidados e seus presentes e felicitações. Eu fui os cumprimentar. Mal começamos a conversar e logo chegava algum convidado querendo abraços... Era difícil manter uma linha de pensamento na conversa com tantas interrupções. Milena estava feliz do casamento ter dado certo e me deu mais um abraço. Ficou agradecendo no meu ouvido por tudo.
- Tá bom Milena... Hoje todo mundo quer tomar esse menino de mim... Credo! – Kaio disse irritado.
Ficamos perambulando pelo clube. Era um lugar muito bonito. Kaio furtou uns brigadeiros da mesa e fomos dividindo. Foi anunciada a valsa. Os noivos dançaram e até eu aproveitei e dancei um pouco com a Milena.
Mais de oito da noite, a festa não parava. Tudo estava a todo vapor. Kaio e eu já havíamos dançado várias músicas, a banda já havia se retirado e o Dj assumiu revezando um pouco de tudo que o pessoal gostava. Eu lembro bem que tocou “Lights” da Ellie Goulding. Muito provavelmente seja uma das músicas que eu mais gosto nesse mundo! O pessoal já havia bebido muito então não havia mais pudor nenhum ali, só um monte de gente dançando!
Algumas pausas foram anunciadas. Marcos subiu no palco e fez uma declaração linda pra Milena. Emocionou todo mundo. Todo mundo aplaudindo e de repente Kaio saiu do meu lado e subiu no palco pegou o microfone e testou. Os aplausos pararam. Essa eu queria ver!
- Bom noite a todos. Eu sou Kaio Azevedo, irmão mais novo do noivo. – As pessoas aplaudiram. Eu ri sozinho. Pra que o aplauso por que ele disse o nome? Acho que ele pensou igual porque também riu. – Bom, eu não preparei discurso nem nada – coçando a cabeça – mas eu também gostaria de dizer umas palavras ao casal.
Ele fez um discurso improvisado lindo pro Marcos. Foi demais! Marcos subiu no placo e o abraçou. Depois Marcos foi pro piano e Kaio continuou com o microfone na mão. Fiz uma leitura labial bem rápido e vi Kaio dizendo “Vai!” pro Marcos. Marcos começou a tocar o piano e eu não reconheci de imediato a música.
“Sometimes I feel like throwing my hand up in the air
I know I can count on you…
Sometimes I fell like saying “Lord, I just don’t care!”
You’ve got the love I need to see me though…”
Um ponto pra quem lembrar da música! Sim, foi a música que estávamos escutando quando nos beijamos pela primeira vez! Cara, ele lembrava!
“Sometimes it seems that are going is just too rough… and things go wrong no matter what I do.
Now and then it seems that life is just too much
You’ve got the love I need to see me though…”
Definitivamente essa foi a maior declaração que o Kaio já fez, dentre as muitas que eu graças a Deus posso contar! Na frente de todo mundo, cantar uma música daquela, não desafinar? Só o esforço já tinha me conquistado. Meus olhos marejaram de ver ele todo suado e nervoso tentando manter a voz firme.
“When food is gone you are my daily meal
When friends are gone I know my saviour’s love is real
Your love is real
You’ve got the love… You’ve got the love... You’ve got the love.”
A música acabou e Marcos começou a aplaudir puxando os demais aplausos da plateia. Eu fiquei boquiaberto!
- Obrigado. – ele riu tímido no microfone.
No fundo do palco Kaio estava todo suado e rindo com o Marcos. O mais velho passou por mim, sorriu e bateu no meu ombro. Enquanto ele saia eu fui falar com o Kaio.
- Mais o que foi aquilo meu amor?
- Não gostou? – Rindo. Ele ajeitou o terno e o cabelo. – Ensaiei pra caramba, e ainda nem saiu do jeito que eu queria! Você lembrou da música?
- Claro que sim! – fui lhe dar um beijo. Ele me apertou e na hora me veio uma vontade louca de ir ao banheiro. – Kaio, meu amor, não me aperta... Eu preciso ir ao banheiro. Sério. – eu falei com esforço. Era a coca-cola... Sempre é assim! Ele riu e me soltou. – Onde tem banheiro aqui??
- Alí... Onde tem aquela fila enorme de mulheres. O masculino é do lado.
- Então me espera. É rápido!
- Vou pra mesa. Te espero lá.
Eu saí desesperado pro banheiro. Ótima hora pra quase mijar nas calças! Antes de entrar no banheiro vi Milena e Marcos alí pertinho tendo um momento só deles dois longe daquele tumulto.
Entrei e logo notei um cheiro estranho. Aff... Banheiros masculinos são sempre os piores. Digo, nunca entrei em um feminino mas acredito que ele não feda tanto!
Espera... Aquilo era fumaça?
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São uma da manhã... É, eu atrasei mesmo. Mas tá aí. Espero que gostem. Mais 2 ou 3 capítulos e enfim a primeira parte do conto acaba. A segunda tem quase a mesma quantidade de capítulos então dá de postar rapidinho tudo. Espero que estejam gostando.
Mikepb: kkkk Obrigado! Isso de ficar ansioso por capítulos é tão típico meu... Por isso tento vir o quanto antes porque eu sei o quento é ruim ficar esperando. Tem contista aqui do site que eu morro de ódio de tanta demora. FIco roendo as unhas querendo ler! kkk
Drica (Drikita): Eu olhei pra ele e o chamei com um gesto de "vem cá" com os dedos indicador e médio da mão direita. O Kaio diz que é mais que isso. Tem o olhar, o jeito de chamar, meu sorriso... Tudo isso ele diz que contribui pra dar a impressão errada. Eu não entendo, sinceramente. Pra mim isso é ciúme e pronto.
Alê8: Bom isso né? Sem pretensão. Tá bom só de tá perto. É bom demais.
thigor_ps: Na época que publiquei o conto pela primeira vez eu não sabia se relatava ou não isso. Foi difícil pra ele lembrar.
oPAKO: Estão super bem! Eles entraram de férias da universidade, então o Lucas viajou pra casa dos pais, o Bernardo foi pra casa da mãe dele. Bernardo vai passar o ano novo em Fortaleza, cortesia do namorado da mãe dele. Lucas vai passar o ano novo com os pais mesmo. Resumindo estão separados desde semana passada e só vão se ver após o ano novo. Lucas está um chato no WhatsApp mas eu sei que é saudade do Bernardo e falta de paciência com tanta distância. Bernardo por outro lado está a pessoa mais amável do mundo principalmente porque não fala mais nada a não ser essa viagem pra Fortaleza que ele queria tanto conhecer. Parte da impaciência do Lucas também se dá pelo ciúme do Bernardo longe curtindo adoidado nessa viagem sozinho e ele preso com os pais. Bernardo tentou levar o Lucas mas não tinha como os pais dele deixarem então tiveram que se separar mesmo. É isso... Mas o Lucas vai sobreviver. Bernardo vai se comportar sim.
Kevina: Não há de quê! Se der eu condenso dois capítulos em um só e já posto direto.
guisandes: Lindo mesmo. Legal que logo chega o inverno de vez e fica do mesmo jeito que eu relatei no conto! Super legal. Sim, Teresina. "Nada mais pode ser revelado."
Drica Telles(VCMEDS): Awn Obrigado! Meu jeitinho de escrever é esse mesmo rs. Não sei o que tenho com casamentos, talvez algo de vidas passadas mas sei que não curto muito não. Tenho muitos planos pro futuro com o Kaio mas ele já sabe que casamento não rola.
Ah! Adoro esse montão de respostas!
Obrigado também esperança, Ru/Ruanito, Geomateus, Agatha28, LUCKASs, kelly24!
Até o próximo.
