Marcelo E Eu

Um conto erótico de Jader Scrind
Categoria: Homossexual
Contém 13889 palavras
Data: 17/01/2015 19:22:41
Assuntos: Gay, Homossexual

OLÁ DE NOVO, PESSOAL! DEPOIS DE ALGUM TEMPO CONSEGUI TERMINAR MAIS UM CONTO, MEU PRIMEIRO NARRADO EM PRIMEIRA PESSOA AQUI NO SITE, EU NÃO SEI SE SOU MUITO BOM ESCREVENDO COMO UM DOS PERSONAGENS, MAS VAMOS LÁ.

OUTRA VEZ, EU SEI QUE FICOU LONGO, LONGO, LONGO, (SÉRIO MESMO, ESSE FICOU LONGO) MAS SEI LÁ, PELOS COMENTÁRIOS DO CONTO LARANJAS DEU PARA ENTENDER QUE A EXTENSAO NÃO É UM PROBLEMA, ENTÃO DECIDI MANTER O CONTO DO TAMANHO QUE ELE FOI ESCRITO, CORTANDO SOMENTE O QUE FOR REALMENTE NECESSÁRIO CORTAR, ENFIM ESPERO QUE GOSTEM E BOA LEITURA.

Do assunto eu já não lembro, devia ser uma bobagem qualquer, só lembro que estávamos todos rindo, gargalhando até, e o som agudo e cortante da campainha interrompeu essa nossa alegria de um jeito que podia até ser um presságio. De repente, meu amigo Lucas, o dono da casa, enxugou as lágrimas que já saíam dos olhos de tanto rir; Luisa, sua namorada, bebeu mais um gole de vinho. Miriam, nossa amiga sentada ali ao meu lado no sofá, tratou de se levantar e seguiu até a cozinha para se servir de mais uma taça. E eu, eu senti meu coração dar um coice selvagem daqueles que machucam os ossinhos da caixa torácica. Ele veio. Lucas comentara que havia uma chance de ele aparecer, o que era a razão de eu estar na quarta taça de vinho, já meio embriagado, e estar soltando piadas infames que faziam os outros rirem tanto, mas para mim serviam apenas para tentar esquecer do nervosismo de pensar que ele podia aparecer. E ele apareceu.

Lucas olhou para mim antes de se levantar para ir abrir a porta, não havia nada que eu pudesse fazer; se houvesse um jeito, evaporaria cada pedacinho do meu corpo para não estar ali naquele exato momento em que a porta se abriu e ele entrou com sua blusa preta e calça jeans – não largara o estilo mesmo depois de tanto tempo – e assim que deu o primeiro passo para dentro alçaram vôo os seus olhos de águia que talvez por já serem treinados nem titubearam em vir a trezentos por hora na minha direção. E eu, pobre ratinho indefeso, quase caí para trás com o solavanco daquele olhar. O vinho na minha taça balançava de um lado para o outro deixando claro o quanto minha mão estava tremendo, bebi tudo de um gole para que ele não percebesse. Ele sorriu.

Primeiro, apertou a mão de Lucas e beijou o rosto de Luisa, depois vinha se aproximando na minha direção, eu sentado e ele em pé, assim parecia muito maior e sua sombra cobria o meu corpo todo enquanto ao fundo, como se ouvíssemos a voz indistinta de Lucas dizendo algo como "E do Igor você se lembra, não, é? Da época do colégio." Eu me levantei, ele apertou a minha mão enquanto dizia olhando ainda para mim daquele jeito seu:

– Claro que eu lembro – abaixou a voz em um tom para deixar as palavras escaparem por entre seu sorriso. – E você, Igor, lembra de mim?

Não respondi. Ele não falara a sério, sabia que eu lembrava. Mas Lucas não entendeu o que aquilo queria dizer e pensou que o meu silêncio era uma negativa, então esclareceu "Esse aí é o Marcelo, Igor, ele estudou com a gente no... segundo ano, se não me engano... grande amigo de peladas e piscinas, hein, Marcelão?"

Aí estava a razão de ele ser um grande amigo de Lucas e não meu, na época eu odiava esportes, com exceção de correr, adorava correr, mas isso não era muito popular entre os caras da minha idade. Por outro lado, enquanto Lucas pensava que Marcelo era apenas um conhecido meu, nós dois sabíamos da verdade que aquele vinho todo que eu tomei ficava tentando me fazer dizer em voz alta, coisa que eu não faria, sou muito bom para lutar contra a embriaguez.

Ele se sentou ao meu lado, Luisa comentou que até hoje não acreditava na coincidência, Marcelo se mudou para essa cidade há oito anos, Lucas, há três anos, nenhum dos dois se lembrava do outro quando num dia qualquer se cruzam e se reconhecem e reatam a amizade há tanto tempo interrompida.

– Não é, no mínimo, curioso? – ela falava meio mole pelo vinho, mas ainda longe de se enrolar no raciocínio. – Quero dizer, quais são as chances?

– Só eu que escolhi a cidade errada e me mudei pra longe daqui – comentei, meio sem saber o que aquilo queria dizer de verdade. Eu queria estar na mesma cidade que Marcelo? Ele girou o pescoço na minha direção, as veias da nuca por baixo da pele branca sobressaiam-se como raízes de árvores gigantescas.

Ainda bem que mais ninguém ligou para o que eu disse, até porque Miriam voltava da cozinha com a taça quase cheia, e soltou um sonzinho engraçado quando viu Marcelo ali.

– Olááááá, meu nome é Miriam, muito prazer – falou rindo. – Na falta de outros assentos, posso me espremer entre vocês dois, meninos? – ela tentou, já que Marcelo havia sentado sem saber no lugar em que ela estava, mas não conseguiu ficar confortável, ele era um cara alto e grande, desses musculosos que se usam uma camisa pólo não deixam espaço nenhum para o ar entre seus músculos e o tecido, aliás, ele que sempre gostou de musculação, agora precisava disso, uma vez que quando Lucas me contou pelo Skype que havia reencontrado um amigo do colégio chamado Marcelo e eu fingi que não me lembrava, ele também me disse que agora Marcelo se tornara policial.

– Oi, Miriam. Meu nome é Marcelo – sua voz, rouca como a de um angustiado jovem soldado americano vindo da guerra do Vietnã num daqueles filmes da década de oitenta. Ele lembrava tanto um soldado, o porte de um soldado.

– Você é que é o famoso Marcelo? Ual, bem diferente de como eu imaginei... – Mulheres e sua inabilidade em esconder o interesse por um homem, ela já havia mexido no cabelo sete vezes, sorrido catorze vezes, deixado os lábios próximos da taça de vinho sem de fato sorver a bebida só para provocar nove vezes, o que chamou a atenção de Luiza que cutucou o namorado e os dois notaram o que eu também havia notado. Miriam, quando queria, sugava qualquer homem para dentro dos fios dourados do seu cabelo, ou afogava-os no hidromel de seus olhos.

– Meu vinho acabou – comentei, me levantando e indo em direção a cozinha.

Não queria beber mais, não gostava de mim bêbado, mas ao mesmo tempo queria, porque naquele momento preferia desligar esse eu lúcido para voltar só amanhã de manhã quando já estivesse quase na hora de pegar o avião de volta para a minha cidade, e se o preço para isso fosse jogar garganta abaixo barris de vinho, estava disposto a pagar. Além da janela, nuvens começavam a se aglomerar no horizonte, sinais de chuva.

Enchi a taça até a boca, esvaziando cada gota da garrafa e estava pronto para tomar um longo gole quando a voz dele surgiu bem próxima e me fez derramar um pouco no chão.

– Opa, cuidado – falou, simpático. – Éh, eu vim me servir de um pouco de vinho também...

– Ah... sim, claro, quer dizer, fica com a minha taça. É que na garrafa acabou.

– Que é isso, essa é sua, está tudo bem.

Eu abaixado com um pano de louça molhado para limpar o chão, os joelhos flexionados, olhei por um instante na sua direção e ele me encarava, assim, as pernas desse jeito, a bunda exposta, aquele olhar parecia o de um lobo canadense tendo em vista o cervo que lhe serviria de jantar. Me levantei depressa, um pouco constrangido, ele não mudou de expressão.

– Não, pode ficar, insisto, eu já bebi antes, bebi até demais para falar a verdade – e foi a primeira vez que lhe abri um sorriso, nem tanto pelo que eu disse, e sim porque ficarmos insistindo em assuntos triviais como esse era algo que costumávamos fazer antigamente. Outros assuntos, é verdade.

– Vamos fazer assim, a gente fica aqui enquanto você toma a sua metade da taça, depois você passa o restante para mim. Já aproveitamos pra conversar um pouco. Que que você acha?

Assenti com um gesto de cabeça. Ele se sentou numa cadeira da mesa, oferecendo com as duas mãos a cadeira à sua frente para que eu me sentasse, sentei.

Dois rostos frente a frente, analisando olhares, sorrisos, mínimas expressões, o que dizíamos pouco importava, as respostas para as perguntas que realmente queríamos fazer estavam nos gestos por trás das palavras:

Seu maxilar se retesou por um instante enquanto ele perguntava se eu também iria para o show de mais tarde.

Meu pomo-de-adão involuntariamente subiu e desceu enquanto eu olhava para seus braços grossos dispostos sobre a mesa e respondia que ia sim ao show, aproveitando para perguntar se ele estaria lá.

Seus olhos afiados perfuraram o pouco que restava das minhas defesas e seus dentes nunca pareceram tão pequenos e tão bonitos nos instantes de abrir e fechar de lábios enquanto falava que estaria sim, mas a trabalho, mas mesmo assim faria de tudo para me ver por lá.

Depois de tanto tempo eu havia me esquecido de o quanto eram sedutores os olhos de Marcelo, de o quanto minhas pernas perdiam a firmeza ao olhar para o seu sorriso, ao ouvir sua voz, ao tentar decifrá-lo antes que ele me devorasse como uma esfinge egípcia. Mas eu não podia esquecer que nunca consegui entendê-lo por completo, porque Marcelo, por vergonha, sempre escondeu uma peça do seu próprio quebra-cabeça, justamente aquela peça mais importante, a que ficava sobre seu coração. Se eu caísse nesse pântano mais uma vez, talvez não tivesse forças para escapar depois.

– Eu estou namorando – joguei as palavras sobre a mesa feito pedrinhas de brincadeira infantil, quebrando aquele nosso jogo de sedução. Se eu não dissesse aquilo naquele momento talvez não tivesse coragem nunca mais. Seu rosto se fechou como o céu aos poucos se fechava lá fora, não disse nada, continuei – Bruno, o nome dele, ele precisou ficar lá na minha cidade, por causa do trabalho...

Calotas de silêncio à deriva naquela cozinha. O vinho chegou à metade e eu deixei a taça sobre a mesa, ele não fez menção de pegá-la, seus olhos ainda fixos nos meus, com uma expressão diferente, não era raiva, não era ciúme, talvez fosse uma pontada de remorso tentando ser escondida, Marcelo nunca se deixaria ver frágil. Ele lembrava tanto um soldado, o porte de um soldado.

Miriam vinha se aproximando com a sua taça já vazia sendo usada como desculpa, eu a via se achegando pelas costas de Marcelo, mas ele não notava, quando ela o tocou nos ombros perguntando se beberíamos aquele vinho e não respondíamos, ele falou que precisava ir, tinha que trabalhar, levantou-se, despediu-se e partiu, sem romper aquela sua boa educação. Marcelo odiava drama. Sempre odiou.

A conversa continuou animada na casa de Lucas depois da partida de Marcelo, mas só entre o casal e Miriam, eu já não contava piadas, já não dizia nada. Faltavam quase duas horas para sairmos em direção ao show que era a razão de Miriam e eu termos vindo para cá, durante esse tempo não consegui mais desprender minha mente do Marcelo, não o policial Marcelo; o garoto Marcelo por trás do policial, aquele garoto que eu conhecia tão bem.

***

Não era a primeira vez que eu o via, que ouvia sua voz, ou que sentia uma atração irrefreável por ele, aquela manhã escura e chuvosa na nossa sala de aula nove anos atrás. Não era a primeira vez porque já estávamos em maio, o ano letivo há muito corria e de tempos em tempos eu girava meus olhos na direção da sala em que ele ficava e admirava-o enquanto ele não estava olhando. Marcelo. O nome combinava tanto com a pessoa. Marcelo. Mas aquela manhã escura e chuvosa era importante porque foi justamente naquela manhã, por quase todo mundo ter faltado, todos os amigos dele, todos os meus amigos, e os professores não estarem passando atividade nenhuma foi que ele veio se sentar próximo de mim, na carteira atrás da minha. Por algum tempo ficou em silêncio ali, sem querer atrapalhar a minha leitura, eu estava absorvido pelo mais novo livro de Haruki Murakami que havia sido lançado no Brasil, mas não tão absorvido a ponto de não perceber a presença de Marcelo e não estar nervoso com isso.

Ele se curvou todo para frente a fim de falar comigo, seu rosto entre o meu ombro e o meu ouvido.

– Que você está lendo?

A chuva batia contra a janela e corria em trilhas pelo vidro transparente ali ao nosso lado. Era a primeira vez que o garoto falava comigo, pelo menos assim, sem eu estar numa fantasia em meio as entediantes aulas de física.

– Se chama Minha Querida Sputnik, é de um escritor japonês.

– É sobre o satélite?

– Não, quer dizer, mais ou menos, é mais sobre um rapaz que gosta de uma amiga, mas ela é apaixonada por outra mulher.

Ele respondeu com um "Hum" interessado, eu olhei para o lado, seu rosto ali perto do meu tinha refletido na pele o brilho das gotas de chuva da janela, e assim parecia ainda mais bonito. Seus olhos de perto eram tão melancólicos, olhos de menino solitário, que parece tão tão feliz em estar acompanhado por você, e você se sente tão tão feliz em sentir essa felicidade dele.

Os outros três alunos que haviam enfrentado a chuva e estavam na sala com a gente sentavam lá na frente e não nos viam, mesmo assim Marcelo se afastou, voltando a se sentar ereto na cadeira de trás. Eu fechei o livro, me virei para ele, sorri. Não deixaria que passasse por mim a chance de conhecer melhor aquele cara. Naquela época eu não tinha medo de dar passos em falso, talvez porque ainda não tivesse caído nenhuma vez.

Conversamos sobre a chuva, sobre as provas, sobre Lucas um amigo em comum que se sentava comigo mas gostava de jogar bola com ele e seus amigos no fim de semana.

– Por que você não vai um dia desses?

– Esportes não vão muito com a minha cara – brinquei. – Ainda mais esportes com bola.

Ele riu, eu não conseguia mais desatar meus olhos daquele cara. Já naquela época, quantos anos tínhamos? Éramos da mesma altura mas ele parecia maior, a cor de sua pele de um branco mais que bonito, seu cabelo preto penteado provavelmente com os dedos, o topete da cor dos cílios, uma um começo de barba por baixo do queixo, olhos castanho-claros, ele devia conhecer o poder daqueles olhos, eu soube por fofocas que havia ficado com a Júlia da sala ao lado na semana retrasada, a Mônica do bloco B na semana passada, a Natália da nossa sala atualmente. Pegador das garotas mais saídinhas, príncipe das mais românticas. Onde eu me encaixava nisso? Em algum lugar eu tinha que me encaixar, caso contrário não sonharia as vezes com ele nem me esconderia no banheiro para que não vissem minha excitação ao vê-lo sem camisa nas aulas de Educação Física. As pernas grossas para a idade, sempre de bermuda, deixava que vissem os pelos pretos, poucos, bonitos. As camisas sem manga permitiam que meus olhos viajassem pelas curvas entre um músculo e outro, bíceps, tríceps. Se eu não tinha certeza da minha orientação sexual até o começo daquele ano, Marcelo foi responsável, mesmo sem saber, por acabar de vez com as minhas dúvidas. Era aquilo que eu queria, ele era o que eu desejava.

Perguntou de mim, o que eu fazia para passar o tempo, contei dos livros que lia, das corridas a noite, dos meus filmes favoritos, programas de tv. E ele prestava tanta atenção no que eu dizia que eu tinha medo de ficar sem assunto e por isso continuava falando, listando as coisas que eu gostava. Eu não me considero um rapaz feio, aliás correr faz bem para a auto-estima, ler faz bem para a cabeça. Sou magro, não muito magro, mas perto daqueles músculos juvenis de Marcelo eu sou magro sim, negro, o cabelo cortado bem baixo, mas não careca, as vezes uso óculos para leitura e me sinto mais bonito com eles, correr também é responsável pela minha bunda ser a parte mais bonita do meu corpo, redonda mas não redonda como uma bunda de menina, quem gosta de bunda de menina que vá e fique com uma.

– Ei, Igor? Igor? Você tá aí? – quando estralou os dedos na minha frente despertei sendo tragado de volta do profundo devaneio. – Estão nos chamando para outra sala, vão juntar os alunos de todos os segundos anos numa classe só.

E fomos, mas ainda assim mal enchia as quarenta cadeiras todos nós ali, a maioria desconhecidos uns dos outros, um silêncio meio constrangedor, Marcelo se sentou comigo na outra sala. Mas o constrangimento durou até uma garota de uma outra turma tirar da mochila uma garrafa de plástico, 800 ml, de coca-cola, e surgir com a idéia assim que o professor que cuidava de nós saiu da sala. Desafio. Bóra jogar. E num segundo, carteiras foram arrastadas para os cantos, todos riam, alguns mais tímidos ou que só foram para o colégio para estudar não se manifestaram, não fariam parte da brincadeira. Não vou ficar aqui explicando as regras, todo mundo conhece. O jogo era "desafio", sem a opção "verdade", se a garrafa caísse em você, você beijava quem lançou a garrafa, se um homem lançasse e a garrafa caísse num homem, ele beijava a primeira menina que estivesse a direita da direção que a garrafa apontou.

– Vamos participar? – Marcelo perguntou para mim.

– Eu acho melhor não. Eu, pelo menos, não vou. Mas se você quiser vai lá, tenho certeza que a maioria das garotas quer que você participe.

Outra vez ele me olhou, na época seus olhos ainda eram filhotes de águia, já sabiam voar mas não com tanta velocidade como teriam no futuro, eu tinha certeza. Ele inteiro era perfeito e anunciava que seria ainda mais perfeito um dia, que estava crescendo, que estava galgando a montanha da sua própria perfeição. Duas meninas que eu não conhecia vieram tentando nos arrastar para o jogo, eu não deixei e elas não insistiram muito comigo, mas com o Marcelo sim, ele dizia não mas elas o pegavam pelo braço e o puxavam, puxavam, mas não adiantou, ele não quis, não saiu dali, desistiram decepcionadas e ele olhou para mim com o olhar de "dá pra acreditar nessas duas?".

Ao todo na roda que se formou tinha umas trinta pessoas. Paramos de conversar e só ficamos observando o jogo. A primeira a rodar a garrafa foi a garota que teve a idéia, girou e o rapaz que foi apontado levantou-se e beijou a menina, um beijo daqueles longos, gigantescos, me deixando com um sentimento estranho. Eu nunca beijei ninguém.

– Posso te contar um segredo? – ele perguntou.

– Claro.

– Foi bom eu não ter entrado no jogo, eu não consigo dizer não quando alguém me desafia. É uma questão de princípios – disse essa segunda parte num tom de brincadeira.

As rodadas passavam, mais gente se beijava.

– Posso te contar um segredo? – eu perguntei.

– Claro.

– Você é a única pessoa nessa sala que eu beijaria.

Ele olhou para mim com outros olhos, mais aguçados que os de um lince. Era a primeira vez que eu jogava limpo, não mandava indiretas, disse claramente o que estava querendo ali. Desnecessário dizer o quanto de coragem precisei armazenar em barris dentro de mim para poder dizer aquilo, mas disse, fui mais forte que a timidez, que o medo. Agora era a sua vez.

Ele disse: – Você pode ir comigo pra minha casa depois da aula?

Quando mais alguém se beijou ali ao nosso lado, eu já não sentia inveja, estava exatamente onde deveria estar.

Nossos guarda-chuvas um ao lado do outro na hora da saída, o resto dos alunos que passavam pela gente não tinha como saber o que estava estava havendo entre nós, foi aí que começamos a guardar segredos, a fazer coisas as escondidas, e naquele momento eu me sentia feliz com isso, temendo um pouco ser descoberto mas não o bastante para me fazer voltar atrás. A chuva despencava pelas bordas do guarda-chuva formando uma cortina d'agua ao nosso redor.

Na sua casa, grande, deserta, perguntei onde estavam seus pais, ele disse que os dois trabalhavam na cidade vizinha (a nossa cidade não tinha grandes empresas que valessem a pena trabalhar, e isso explica porque todos nós, eu ele meus amigos os amigos dele, fomos embora dali o mais depressa que conseguimos) disse também que não tinha irmãos, o que queria dizer que passava o dia todo sozinho.

– Senta, fica a vontade – falou se dirigindo ao quarto, voltou com uma camiseta nas mãos e a trocou na minha frente, seu corpo visto assim de perto me deixou mais aquecido. – Quer um suco? Vem aqui na cozinha, eu vou fazer alguma coisa pra nós.

Prendado, sabia esquentar lasanha congelada no forno, coisa que eu só sabia fazer no microondas. Exibido, dobrou as mangas da camisa a altura dos ombros, adivinhando de alguma forma o quanto eu gostava dos seus braços. Me sentei à mesa enquanto ele andava de um lado para o outro preparando o suco.

– Você perguntou o que eu gostava de fazer, mas não disse o que você gostava – observei.

– Bom, vejamos, você já sabe que eu gosto de jogar bola. Também sabe que eu gosto de me meter na cozinha – pôs o dedo indicador sobre os lábios sorrindo – isso fica entre nós, hein, não quero ninguém achando que eu fico em casa com avental e rolinho no cabelo...

Minha risada jorrou farta – Claro, não vou espalhar por aí seu segredo donaflorindeônico.

Ele também riu alto.

– Sério cara, você fala desse jeito mesmo? Você usa essas palavras com todo mundo?

– Absolutamente. Reterei comigo tuas confidências.

Ele se prostrou, sorrindo, irônico. Eu gostava de gente irônica.

– Também nado todas as quintas-feiras. Ah, e gosto de vídeo-game, principalmente jogos de guerra. Acho que vou seguir uma profissão nessa área, soldado, policial, bombeiro, não sei ao certo ainda.

– Pelo menos você já tem uma idéia, eu nem isso.

Trouxe o suco para a mesa, me serviu, deu uma olhada na lasanha e com todo cuidado tirou-a do forno e a fatiou, trazendo dois pratos, sentou-se na cadeira da frente, nossos pés num contato tímido e desproposital, eu afastei o meu e depois me arrependi, mas conclui que seria estranho voltar atrás. Comemos uma garfada cada praticamente ao mesmo tempo.

Depois de alimentados, ele pegou a própria faca e a pôs no centro da mesa, e, olhando para os pequenos peixes brilhantes que nadavam na profundeza dos meus olhos, falou:

– Gira.

Por um segundo, talvez até menos, eu não movi um músculo, nós éramos daqueles que se olhavam e se olhavam incansavelmente, ele esperava ansioso pelo meu movimento e quando o fiz foi bem forte, girei a faca em sentido horário, e se alguém olhasse bem de cima sentiria uma aflição gigantesca para saber de que lado aquele objeto ia parar, eu sentia isso, Marcelo não, permanecia olhando para mim, como se já soubesse o que iria acontecer, como se já soubesse que aquela lâmina pararia apontando para seu peito estufado sob a camiseta branca o que deixava a mostra as pontas dos mamilos, e por já saber desse resultado pareceu nem ter olhado para a faca antes de se levantar e dar a volta na mesa, eu fiquei em pé também, frente a frente.

Me pegou pela cintura, me puxou para junto do seu corpo.

– Diz.

– Me beija.

Aproximou seu rosto, eram as únicas partes dos nossos corpos que não estavam grudadas naquele momento, minha excitação contra uma de suas coxas, a dele cutucando minha barriga.

– Diz tudo.

– Me beija. Eu te desafio a me beijar.

E foi quando o teatro acabou, ou melhor, quando as falas acabaram, porque no instante em que a última silaba saiu da minha boca deu espaço para que os lábios dele viessem, urgentes, ferozes, e me beijassem a ponto de tirar o ar e fazer pulsar meu pau. Gostoso o beijo dele. Gostoso o jeito que ele enlaçou minhas costas e me deixou livre para me apoiar nos músculos do seu braço, nas curvas da suas costas, na resistência de suas costelas, na macia proeminência do seu peitoral, sem para isso precisar interromper aquele beijo, meu primeiro beijo. O som da chuva contra o telhado era a trilha sonora no exato momento em que Marcelo me encostou na mesa e foi aumentando mais a voltagem do beijo, curvando minhas costas para trás, e eu deixava, eu gostava, eu sentia o quanto ele também estava querendo aquilo, nós dois. Logo, para não quebrar a coluna eu tirei meus pés do chão e os contornei no corpo dele, ficando agora estirado na mesa, me oferecendo para ser dele, Marcelo empurrou para longe nossos pratos que por pouco não caíram, sorriu, puxei-o pela nuca para continuar aquele beijo e segurava com as duas mãos o seu rosto enquanto ele tirava minha camisa, desespero, sofreguidão, eu puxei a dele, não tinha pelos no peito, a pele era gostosa de sentir sobre a minha. Aqui não, ele falou me erguendo e me puxando pela mão para a sala, deitou-se no sofá e me puxou para continuarmos aquele beijo, eu em pé e curvado, ele puxou para baixo minha bermuda minha cueca, o pau duro se destacou na minha nudez mas ele não o tocou, sua mão foi para as minhas nádegas, eu me estiquei mais, tirei o que faltava da sua roupa também, lindo, aos poucos fui me deitando espremido no sofá, ao seu lado num 69, seus pelos pubianos tinham cheiro forte, gostoso, meu nariz passeava por eles como beija-flores sobre tulipas, seu pau se oferecendo diante do meu rosto enquanto lá embaixo ele puxava para cima meu pau e meu saco para ver melhor a minha bunda. Que linda essa bunda, Igor. É assim que eu gosto de uma boa bunda gostosa – sua fala foi interrompida por um ahhh abafado do momento em que meus lábios acolheram seu pau, sugando sua essência pré-gozo e puxando-a para dentro de mim enquanto eu me segurava nas suas coxas grossas e cheirosas, chupava até o fim, até o talo, éramos novos e nossos paus ainda não estavam do tamanho que ficariam nos anos seguintes, mas já havia uma masculinidade neles, uma vontade de penetrar, de fazê-los o centro do nosso corpo nem que por uma noite, nem que por uma transa, nem que por um piscar de olhos. Chupava e ouvia sua voz rouca de tesão dizendo que delicia, isso cara, assim, delicia de boca e a chuva caindo e seus dedos ágeis tocando nas massas da minha bunda, mas ele não me chupava também, eu não disse nada a respeito mas também gostaria de ser chupado. Ele se ergueu e ficou sentado no sofá, eu ajoelhado diante do seu pau, com os joelhos no chão, chupando e olhando para seus olhos, para seu rosto que ficava vermelho quando ele estava com tesão, para as planícies e colinas do seu corpo atlético, massas espalhadas no relevo da sua barriga, saborosos mamilos nas pontas dos peitos que nessa posição ficavam mais bonitos, a barba no seu queixo, a vermelhidão sangrenta dos seus lábios, a imensidão castanha dos seus olhos, a beleza das frases sujas que ele deixava escapar por entre os lábios. Vou te comer todinho, Igor. Agora você é meu aluno e eu vou te ensinar como é que se fode. Que boca do caralho, que delicia de boca, chupa bem pra porra, hum, hraaa, assim, enfia as bolas na boca, olha pra mim, isso, é pra mim que você tem que olhar, assim, assim. E eu olhava, olhava com gosto, estava adorando tudo o que acontecia entre nós abaixo da chuva daquele começo de tarde, e o provocava arranhando suas coxas, tirando a boca do seu pau para beijar sua barriga, seus braços que contornavam meus ombros, mordendo seus bíceps marcados por longas veias retas e verdes, e ele me olhava fingindo reprovação quando na verdade estava adorando aquilo e sabia que eu sabia que ele estava adorando, não podia mentir para quem estava com o seu pau pulsante nas mãos, na boca, não podia mentir porque seu corpo o desmentiria, eu era tão seu como ele era meu.

Me ergueu, deixando-me em pé, e me virou de costas, abrindo a minha bunda bem diante dos seus olhos, seus dedos abriram espaço para que a sua língua me tocasse no ponto mais sensível. Arfei alto, quase me desfazendo.

– Gosta assim?

– Ah, sim, Marcelo, assim.

– Fala meu nome, isso, quero ouvir você falando meu nome enquanto eu me acabo nesse cu gostoso – seus olhos, quando safados, eram ainda mais brilhantes.

– Ai, Marcelo, hum, Marcelo que língua quente, ahnn, não me morde assim não, assim eu não vou agüentar Marcelo, huuum, Marcelo, tá tão bom Marcelo, Marcelo tua língua tentando entrar em mim, ahn, hum, Marcelo, que delicia Marcelo.

Ele afastou seu rosto até então mergulhado no meu corpo e me puxou pelos quadris para que sentasse sobre ele, sobre seu pau, e eu fui obedecendo, minhas costas na sua barriga, minhas coxas entrecruzadas as dele, meu rosto no seu ombro, minha bunda no seu pau, os corpos alinhados, confundindo cheiros, uma dorzinha começou a surgir e eu me contorci um pouco e ele sussurrou no meu ouvido, "calma, já vai passar" e mordeu minha orelha, beijou minha bochecha, a raiz dos cabelos, e eu me entregando até a alma para o homem que eu mais desejei na vida, pensando que agora era meu o rapaz que fazia minhas notas despencarem por não prestar atenção nas matérias e sim no teu corpo gostoso, olha como é gostoso esse corpo agora embaixo do meu, esses mamilos me roçando, esses braços que eu aperto até deixar minha marca vermelha na carne branca, e a dorzinha aumentando, já era dor, já era uma grande dor, mas eu não ligava, ele estava ali comigo e cruzei meus dedos nos seus e rebolei minha bunda afundando-a de vez naquele pau que até então entrava aos poucos. Eu gritei baixinho, ele gemeu alto. Virei meu rosto na sua direção com seu pau mais-que-dentro de mim, ele olhou para dentro dos meus olhos, realizado, minha bunda agora era sua, a bunda que ele queria, a bunda que ele disse achar bonita, eu me dava inteiro e aproximei meu rosto para dar-lhe um selinho, que ele fez questão de transformar num beijo mais fundo que o abismo, e eu me lancei, lancei do penhasco dos seus lábios para dentro da escuridão dos seus beijos, porque sabia que antes de me estatelar no chão eu veria uma luz branca, uma luz tão doce e comecei a rebolar a bunda sem parar o beijo e ele sorriu sem parar o beijo e suas mãos dançaram pelo meu corpo sem parar o beijo e eu acariciava seu peito sem parar o beijo, e meu pau ameaçava gozar sem parar o beijo e ele ia rápido galopante para dentro de mim e saía e voltava e saía e voltava sem parar o beijo e eu levantei as pernas e apoiei meus pés no seus joelhos me abrindo ainda mais para ele sem parar o beijo e ele mostrava sua virilidade e me comia com prazer batendo na minha bunda nas minhas coxas, chocando nossos corpos sem parar o beijo até que eu sentia o gozo vindo, e não queria bater uma porque não queria gozar ainda mas não adiantou e por dentro do beijo a luz branca vindo, mais perto, mais perto e eu me afastei do beijo e gozei farto, gritando, MARCELO MEU MARCELO, e ele sorrindo vitorioso, macho triunfante me vendo desabar, explodir diante do seu pau duro pregado dentro de mim e eu nem ligava que ele fosse meu macho, que ele me subjugasse, que aquele pau estivesse fazendo de mim um beta diante do seu alfa poderoso e animalesco, meu alfa gostoso, Marcelo, ainda não havia gozado e eu já arfava de tanto prazer branco esparramado sobre a minha própria barriga e escorrendo aos pouquinhos.

– Tá doendo agora meu pau em você? Quer que eu pare?

Estava doendo um pouquinho, o gozo fez meu corpo todo ficar um pouco mais sensível, mas eu não iria deixar ele sem experimentar o mesmo que eu havia experimentado, não pararia antes que Marcelo gozasse nem que para isso eu ficasse até aquela chuva passar, até aquele dia passar, o inverno passar e as flores da primavera cobrissem o país eu não pararia de dar pra ele antes que ele gozasse e disse:

– Não para. Vai até o fim...

Ele agradeceu a permissão beijando meu rosto, levantou ainda enganchado em mim e me levou até um grande espelho retangular que havia ali na sala, me deixando de quatro no chão e continuando a me foder, e nós víamos nossos corpos refletidos, tão bonitos que éramos juntos, ele me comendo, eu lhe fazendo gemer, e seu pau sumindo para dentro das minhas grandes nádegas enquanto ele me segurava pelo quadril.

– Olha que linda a minha pele e a tua assim, juntinhas, meu pau branco sumindo dentro da tua bunda morena, olha Igor, olha amor, hum, olha como eu fodo você, olha como o teu Marcelo mete, tua bunda me aceita, tua bunda gosta de mim, você gosta de mim Igor? Você gosta de ver teu macho, Igor, hunm – mais rápido, mais rápido, mais rápido – Eu via você me olhando, eu olhava pra tua bunda e via você me olhando, seu tesudo, seu moleque gostoso. – mais rápido, mais rápido. – Que delicia de bunda, que delicia, cara – mais rápido, minhas nádegas sofrendo as chicotadas das suas coxas se chocando. – Vou gozar em você, Igor, vou gozar tudo em você cara, ah, ah...

Parou. O gozo querendo escapar do fundo de mim e ele não deixava, o pau lá dentro, nossos olhares se encontraram através do espelho, ele em pé, eu de quatro, e ele me levantou com carinho, falou pra gente ir tomar banho, fomos, sem forças para fazer qualquer coisa além do que já havíamos feito, depois, enquanto a chuva ainda não passava, ficamos jogando vídeo-game de cueca no seu quarto, sem constrangimento algum do que tínhamos feito, falávamos sobre o jogo e sobre como ele havia gostado de me comer, sobre que com que time eu ia escolher para jogar e como eu havia gostado de chupá-lo.

– Mas agora é serio, Igor, diz uma coisa – pôs o pause. – Você é assumido?

– Eu sou, não fico espalhando aos quatro ventos, mas para quem já perguntou eu disse que era gay. Meus pais sabem, meus amigos também.

– O Lucas sabe?

– Sabe sim, ele não é preconceituoso, cara. Por que a pergunta?

– Nada não. Vamos continuar o jogo.

As cinco horas ele disse que teria que ir pra academia, perguntou se queria que ele me levasse em casa, eu achei melhor não, e então, antes de abrir o portão da sua casa, ele perguntou:

– Posso te esperar amanhã a tarde?

– Cara, eu vou ter que almoçar em casa, mas depois...

– Certo, vou te esperar então.

Ao nos abraçarmos, ele segurou com as duas mãos a minha bunda.

– Tchau, Igor.

– Tchau, Marcelo.

A chuva parou na metade daquela noite, enquanto eu em meu quarto tentava continuar minha leitura do Minha Querida Sputnik mas antes das palavras formarem frases minha mente já estava distante daquelas páginas outra vez, voando pelas curvas de Marcelo, pelos aromas do corpo de Marcelo, pelos sabores na pele e pelo de Marcelo, pelas delicias na voz de Marcelo, pela potência no pau de Marcelo. Minha bunda ainda o sentia, esperava ansiosamente pelo dia seguinte.

Mas no dia seguinte, durante as aulas, ele não me dirigiu a palavra nenhuma vez.

Sem a chuva tudo voltou a normalidade, meus amigos compareceram, os dele também, Marcelo cumprimentou Lucas quando se cruzaram na porta, mas a mim não. Não que eu esperasse que ele pegasse a minha mão e a gente saísse saltitando pelos corredores, aliás, eu não sei dizer ao certo o que eu esperava para aquele dia seguinte, mas não aquilo, aquela frieza. As vezes olhava para a sua direção esperando flagrá-lo olhando na minha, mas não acontecia. Como se não fôssemos nos encontrar dali a poucas horas. Como se não nos conhecêssemos.

Isso foi uma pedrada num animal solitário dentro de mim, que a partir daquele dia passou a andar mancando. Mas a tarde, depois do almoço eu fui até a sua casa, nem que para perguntar o que foi aquilo mais cedo, mas ele simplesmente não me deixou tocar no assunto, quando cheguei me recebeu no portão sem camisa, e foi o tempo de fechá-lo para que me puxasse para um daqueles seus beijos abissais, esmigalhando as minhas mágoas.

– Já ta com saudade de mim, Igor? – perguntou, frente a frente de mim, segurando minha bunda com as duas mãos. – Eu vi você se oferecendo na sala, seu gostosinho. Me atiçando, né...

– Pensei que não tivesse visto – comentei apenas, esperando que com isso ele entendesse que eu esperava mais, que eu notei o quanto ele me evitava na sala, e que eu adoraria no mínimo um olhar. Mas era preciso que ele entendesse isso tudo a partir de uma pequena frase e ele não entendeu, ou fez que não entendeu, e simplesmente saltou na direção do meu pescoço, me chupando, e me arrastou para dentro da sua casa, já tirando minha roupa no caminho.

Não demorou para que eu entendesse que esse era seu plano. Amantes a tarde, desconhecidos de manhã. Pelos dias seguintes eu odiava me sentir usado como se fosse sei lá, uma distração, uma maneira de Marcelo se livrar da solidão da sua casa; mas ao mesmo tempo, eu gostava dele, eu adorava ir para sua casa e ser recebido com beijos, chupa-lo, sentir lentamente o gosto de cada pedacinho do seu corpo, dar alucinadamente para ele de todas as formas possíveis e em todos os cantos imagináveis dentro daquelas paredes. Eu não podia exigir que ele dissesse para todo mundo do colégio que ele estava ficando comigo, embora no fundo eu quisesse isso, sabia que não seria aceito. E depois da foda a gente conversava, eu não era só um brinquedo de sexo, nos tornamos amigos no fim das contas, falávamos sobre assuntos dos mais doidos, desde séries de tv a será que a vida fora da terra, e depois transávamos de novo antes da hora da academia.

– Mas você sabe que é com você que eu malho pesado, não sabe – ele dizia sempre uma frase assim quando nos despedíamos... e eu ria e o dava um último beijo mais apaixonado que os anteriores, porque dali só poderíamos nos beijar outra vez na tarde seguinte.

Ainda assim tramava planos ardilosos pra chamar sua atenção durante as aulas, eu queria que aquelas garotas entendessem, ou pelo menos desconfiassem, que ele não estava mais disponível (embora estivesse, nós não estávamos namorando nem nada assim, mas eu queria fincar minha bandeira sobre aquele cara como fincou a sua em minha cabeça) eu queria que elas parassem de dar em cima dele, que soubessem que todo dia eu esvaziava a porra do saco dele e o satisfazia inteiro até ele ficar com o corpo todo mole, então eu acariciava o seu cabelo e soprava o suor do seu corpo porque ele gostava disso, ele gostava de um pouco de carinho mesmo com essa pose de machão-futuro-policial.

Nas aulas de educação física eu ia de bermuda e sem cueca e quando ele parava de jogar para beber um pouco de água, deixava sua mão ralar em mim para que visse que se abaixasse a minha bermuda minha bunda estaria ali, livre para ser dele outra vez. Conversava com outros garotos que não eram os meus amigos de sempre pra ver se lhe causava ciúmes mas a maioria ele só olhava por um instante e já se despreocupava, como se confiasse demais no seu saboroso taco para sentir ciúmes de qualquer garotinho meia-boca, mas as vezes não, as vezes, quando algum rapaz mais intelectual, principalmente um chamado Sérgio, alto, esguio, bonito, de óculos, e que gostava de ler tanto quanto eu se aproximava de mim para conversar sobre literatura durante as aulas, o que eu achava de Sartre, Fitzgerald, Herman Hesse, ou de certo poema de Drummond, aí a figura era outra, eu via o quanto Marcelo se incomodava, e de tarde me comia com mais voracidade, duas três vezes seguidas, e ele nem tocava no nome de Sérgio, nem conversávamos, só fodiamos, mas eu entendia porque ele dizia coisas como "Diz que você é meu.", "Fala: 'Eu sou teu, Marcelo'.", "repete meu nome, repete, assim. Você vai ser sempre meu, Igor. Sempre." E eu entendia que aí estava seu ciúme, ele não gostava das pessoas que podiam oferecer coisas que ele não podia, mesmo que eu não estivesse ligando para ninguém que não fosse ele.

Mas ainda assim, nada do que eu armava era o bastante para que Marcelo tivesse coragem de pelo menos apertar a minha mão. Puxar um assuntozinho qualquer que fosse. Por que não podíamos ser colegas na sala e amantes a tarde? Por que não podia vir se sentar comigo e o Lucas desse lado da classe? Era tanto medo assim de ser taxado de gay? Mas afinal, ele ficava comigo todos os dias, já havia parado de pegar as garotas do colégio, até porque não tinha tempo para isso, e cada vez mais nos entregávamos um ao outro, nos incinerávamos um na pele do outro, nos tratávamos com cada vez mais intimidade e carinho um pelo outro. Não podia ao menos cogitar a lógica possibilidade de ele também ser gay? O mundo não ia cair, aviões não despencariam do céu, navios não afundariam em pleno Indico, nem sequer ninguém perderia o apetite por saber que ele era gay. A vida de ninguém muda por causa disso, a não ser a da própria pessoa ao assumir quem verdadeiramente é.

Lá por novembro eu armei meu último plano para tentar convence-lo a entender isso tudo. A tarde pedi seu caderno na sua casa para ter certeza de que copiei corretamente uma atividade do dia anterior e quando ele não estava olhando pus um bilhete nas páginas da disciplina que ele usaria no dia seguinte, e assim que a aula de língua portuguesa começou eu ansiosamente esperei para ver bem o momento em que ele abriu o caderno e encontrou meu bilhete, e eu notei que ele estava lendo com olhos arregalados, e que aos poucos tirou o casaco e pos sobre o colo e depois levou sua mão direita para debaixo da carteira também, se tocando por baixo do tecido do casaco, devia ter tirado o pau da calça, saído do sério, lendo o meu bilhete:

"A minha é bunda de homem, coxa de homem, panturrilha de homem, eu sou homem, você é homem e eu daria tudo para estar coberto pelo teu corpo numa cama mergulhada no infinito estrelado, em meio aos movimentos quentes tua pele contra a minha pele, os pelos da tua perna enroscando-se nos da minha, assim como tua língua, os dedos da tua mão, os gomos da tua barriga, teu pau meu pau irmãos, minha bunda tua, tua bunda minha, te conto um desejo no ouvido e me contorço todo quando você realiza, gemo de verdade quando você mete mais fundo no meu sonho, arranho tuas costas e você levanta as minhas coxas para expor meu cu rosado, Marcelo, teu nome combina tanto com a pessoa, Marcelo, teu pau tem o gosto equivalente ao cheiro dos pelos da tua nuca, Marcelo, quando você enfia e sorri olhando para mim meu corpo por dentro se enche de luminescência e eu danço com a bunda para te acolher melhor dentro de mim, Marcelo, me encho de vontade de beijar teu nome como beijo teu queixo, de me arranhar no teu nome como me arranho nos fios curtos de tua barba que começa a crescer sob o maxilar, de me deixar penetrar pelo teu nome como me deixo pelo teu pau poderoso que acaba comigo e me faz e me faz, Marcelo, Marcelo, Marcelo"

Isso aconteceu no inicio da terceira aula do dia, e dessa vez ele não conseguiu resistir, ele olhou para mim, olhou várias vezes e releu o bilhete várias vezes também, eu havia vencido, eu havia provado para mim mesmo que conseguia derrubar suas defesas assim como ele derrubava as minhas tarde após tarde. E quando o sinal para o intervalo estava prestes a tocar ele vestiu outra vez o casaco, guardou o papel no bolso e esperou, o sinal tocou e assim que eu estava para sair da sala e ele me pegou pelo braço e falou no meu ouvido "Vem comigo" me soltou e seguiu determinado no meio da multidão de alunos, eu fui atrás, despistando os meus amigos, e quando entrei ele me puxou para uma das cabines, fechou a porta, me beijou de um jeito mais selvagem do que costumava ser.

– Quer me deixar louco, é, Igor? Porra, quer acabar comigo? – abaixou minha calça até a altura do joelho, seus beijos me tiraram literalmente o ar, eu eu estava adorando, me encostou na frágil parede que separa as cabines, prensando meu corpo no seu, abaixou sua calça um pouco também. – Agora não vou agüentar até de tarde, vou ter que te comer aqui, seu filho da mãe. Olha como você me deixou, pega aqui, sente como você me deixou.

– É como você me deixa sempre.

– Cala a boca.

Queria que eu subisse nele e cruzasse minhas pernas nas suas costas, mas com as calças arriadas isso era simplesmente impossível. Sem paciência, tirou minha calça sem tirar os tênis, jogou sobre a privada fechada e levantou minhas pernas no ar com a força dos braços, me enganchando nele. Era um daqueles dias em que ele vestia regata e eu me apoiava nos seus braços nus, beijando-o enquanto seu pau alcançava a portinha do meu cu, assim no seco era a primeira vez que ele iria me comer, sem te-lo chupado primeiro, seu quadril todo se dobrou com o pau na minha portinha, ele parou o beijo e olhou no meus olhos por um longo tempo, olhos arregalados, raivosos, perdidos, confusos, e quando seu quadril voltou a ficar reto seu pau entrou todo, com força sobrehumana, dilacerante, e ele olhava a minha boca urrando, eu gritei e um piá que entrou no banheiro na mesma hora falou "Tão fodendo aí é?" e Marcelo respondeu "Cuida da tua vida, porra.", juntando sua voz com o meu grito o que dava para perceber que éramos dois dentro daquela cabine e ele nem ligou, nem eu. Quem ligou foi Lucas, literalmente ele telefonou para mim bem na hora, Marcelo pegou meu celular na calça e viu o número.

– Atende – deu o telefone na minha mão. – Atende com o meu pau enfiado em você.

Eu obedeci e enquanto Marcelo ia e voltava dentro de mim, chupando meu tórax e me olhando nos olhos eu falava com o Lucas tentando disfarçar meus gemidos involuntários.

– Cara, cadê você?

– Eu... não posso falar... agora.

– Que é isso, ta transando aí é? quem ta aí com você, eu conheço o cara, hein, seu safado? – ele me tratava assim, mas entre nós era uma amizade genuína, sem malicia nenhuma.

– Que que você quer... Lucas?

– Então, sabe a Luiza do terceiro ano – nós estávamos no segundo ano, Luisa era um ano mais velha. – Ela ta aqui perto agora, conversando com umas amigas. Eu preciso que você faça a ligação entre nós, entendeu? Tu sabe que eu gosto pra caramba dela, cara.

– Eu não posso agora, ahn... – deixei escapar quando Marcelo mordeu meu mamilo, e Lucas riu alto do outro lado da linha.

– De que adianta eu ter um amigo gay se não for me ajudar a pegar mulher? Ei cara, goza rápido aí e vem me ajudar, falou. – desligou o celular.

Dei o aparelho na mão de Marcelo e voltei a gemer diante do seu pau. Apertei seus ombros com tanta força que sua pele iria voltar marcada para dentro da sala, e imaginar isso fez meu pau latejar, ele olhava assim para mim e meu corpo respondia ao seu olhar me fazendo ficar mais sedento por ele, inebriado pelo perfume dele que mudava na hora do sexo, aberto para ele, inteiro, entregue.

– Você não descansou enquanto eu não te comesse aqui. Você não descansou. Você não se contentou em me dar todo dia. Você gosta tanto assim do meu pau? – eu só gemia, ele falava nos intervalos entre as estocadas e eu mal conseguia juntar as palavras de tanto prazer que o seu membro, a sua força, a sua virilidade, me causavam. – Fala!

– Gosto.

– Diz tudo.

– Eu gosto do teu pau, Marcelo. Eu adoro teu pau. Eu quero teu pau só pra mim, Marcelo. – me juntei ao seu ouvido, quando estava prestes a gozar, e fiquei repetindo seu nome para dentro dos seus tímpanos. – Marcelo... Marcelo... meu Marcelo...

E foi quando ele gozou, bem na hora em que eu estava gozando, pela primeira vez em todo esse tempo gozávamos juntos, ele era atlético e tinha condicionamento para transar por horas, mas se queimou todo naquela transa de minutos, junto comigo, e as massas da minha bunda mastigaram seu pau, fazendo-o arfar depois do gozo. E sua cabeça se recostou abaixada no meu peito, os cabelos afagando meu tórax. Ele nunca ficou assim de cabeça baixa depois do sexo. Respirava pesado ainda. Acariciei seu cabelo e ele continuou assim, parado.

Depois olhou para mim e me abraçou, sem dizer nada.

– Você tá bem, Marcelo?

Ele me apertou mais forte e eu correspondi, abraçando-o também. Algum tempo depois, me disse bem baixinho.

– É melhor você ir primeiro, o Lucas precisa da tua ajuda, não é?

Eu me desvencilhei do abraço, me vesti e abri a porta do vestiário, ainda dei uma última olhada para trás, ele continuou lá, não fez menção de reerguer as calças, talvez não fosse sair tão cedo daquela cabine.

Encontrei Lucas, ele me fez ir até a Luisa e "recomendá-lo" para ela, essa história dos dois deu muito certo aliás. Pouco tempo depois estavam namorando sério. Mas eu estou me adiantando. Nas últimas aulas daquele dia ele estava diferente, pensativo, o caderno aberto, eu não sabia se meu bilhete ali na página de cima. Me preocupei com ele.

Naquela tarde, aconteceu. Ele me recebeu mas sem beijos, me pediu para sentar e no meio de uma conversa toda cheia de ovos a se pisar eu já havia entendido tudo, antes que ele dissesse as palavras fatais eu já as descobrira porque eu já estava experto em decifrar os seus gestos, mas mesmo assim foram brasas pontiagudas me destruindo as palavras "Acho que não dá mais para nós nos encontrarmos, Igor. O ano está acabando e você sabe, estamos nos tornando adultos, ta chegando a hora de eu arranjar uma mulher e sossegar..." Foram essas as palavras. Exatamente essas. Era hora de arranjar uma mulher, eu não servia mais.

Eu não dizia nada, mal pensava depois do baque de ouvir aquilo tudo, o animal que mancava dentro de mim caiu por um instante de queixo e naquele momento que ele não reergueria nunca mais.

– Você não vai falar nada?

– Foi pelo que eu fiz hoje? Pelo bilhete?

Um instante mínimo antes da resposta vir: – Não é isso. É só que eu, eu estou muito próximo de você, a gente está todo dia junto, assim, como é que você espera que um dia a gente possa seguir nossas vidas?

Eu não queria seguir minha vida, esse era o ponto. Para Marcelo, o que fazíamos na sua casa todas as tardes era apenas algo provisório, um passatempo, um belo dia decidiríamos não nos ver mais e sumiríamos um da vida do outro, mas eu sei que ele também se envolveu, ele não agiria como agia comigo se não tivesse se envolvido.

– Por que você precisa arranjar uma mulher?

Eu sentado no sofá e ele andando de um lado para o outro na minha frente. Quando eu disse aquelas palavras, parou, seus olhos com um brilho úmido que antecedia as lágrimas.

– Porque eu não sou gay, Igor. Eu não sou viado. Por isso.

Agora meu silêncio se fez completo, ele se sentou ao meu lado tentando se desculpar, dizer que não era de mim que ele estava falando, que só não iria agüentar se seus pais soubessem, se os amigos soubessem, ele mesmo não se toleraria se fosse gay, e ele não era, jurava que não era. Mas eu não dizia nada. Nem falei que precisava ir, simplesmente me levantei e saí da sua casa. Abri o portão e me fui, sem chorar ali, naquela hora, somente depois, em casa, durante o banho eu me permiti chorar. Seu cheiro estava indo embora de mim, seu suor saía da minha pele e escorria pelo ralo junto a água e o sabão.

Dali até o fim daquele ano, era ele que olhava na minha direção durante as aulas, eu sabia, eu sentia seu olhar, mas agora era a minha vez de não corresponder. Quando Sérgio me perguntou, num dos últimos de aula, o que eu achava de Rayuela, de Julio Cortazar, eu perguntei se ele não gostaria de conversar sobre esse livro mais tarde, depois das aulas, e todo mundo na sala sabia que eu era gay e entendeu o que aquilo queria dizer, alguns mais debochados soltaram muxoxos divertidos, mas Sérgio nem ligou, seu cabelo liso e despenteado, alto como o de um gênio excêntrico, bonito na sua forma pessoal de beleza, falou que gostaria sim de me encontrar mais tarde. Marcelo não voltou do intervalo nesse dia.

No ano seguinte, formandos, ele não pegou a mesma sala que eu e Lucas, que a esse ponto já estava namorando firme Luisa. E eu namorando Sergio. Mas da boca dos outros ouvia que ele continuava pegando garotas e mais garotas pelo colégio todo. Estranhamente, Lucas não falava dele para mim, tecnicamente para ele não havia motivo nenhum para isso, eu e Marcelo oficialmente nem fomos apresentados.

Antes dele se mudar de cidade, eu o vi mais uma vez depois que já havíamos nos formado. Nós nos trombamos diante de uma mesa de bebidas numa festa da faculdade, dois anos depois de nos separarmos. Ele cursava educação física e treinava pra entrar para a polícia. Eu cursava Letras porque gostava de ler mas não imaginava-me dando certo como escritor, tampouco virando professor de literatura. Ele trazia consigo dois copos, eu somente um. A essa atura Sérgio e eu já não estávamos juntos. Nos olhamos de perto mais uma vez, seus olhos ainda tão castanhos, seu corpo mais adulto, sua barba mais densa, nenhum de nós disse sequer uma palavra, algum tempo depois nos afastamos. Cada um para seu lado, como ele queria.

E eu não o vi mais, embora não possa dizer que o esqueci. Fui embora torcendo para que ele ficasse naquela cidade. Imaginei que nunca mais o veria outra vez, até o dia em que Lucas falou que o reencontrou, assim por acaso. Dali em diante eu já sabia que cedo ou tarde nos reencontraríamos. Eu pensava, juro que pensava, que estava pronto para esse encontro, que finalmente havia encontrado em Bruno um namorado perfeito para mim, mas estava errado. Absolutamente.

***

Não havia uma única música naquele show que não me lembrasse dele. Que não me remetesse a ele, cantava com os olhos fechados, as mãos para o alto, espremido no meio da multidão, Marcelo estava por ali em algum lugar. Em algum momento entre a terceira e quarta música, eu havia me perdido dos meus amigos e estava sozinho bem próximo da grande que me separava dos artistas, depois eu ligava para eles e nos reencontrávamos, o importante agora para mim era fechar os olhos e me lavar em música até não sentir mais meus ombros tesos como estavam desde que revi Marcelo na casa de Lucas.

Após o show, me afastei do barulho e liguei para eles.

– Alô, onde voces estão?

– Escuta, Igor, a Luisa passou mal e eu tive que levar ela para o centro médico e eles pediram para eu leva-la a um hospital, estou aqui agora.

– Cara, e como ela está?

– Ainda fazendo exames, mas acho que não foi nada muito grave, a Luisa não é acostumada a ir em shows tão grandes assim, deve ser a pressão que caiu...

– Tudo bem, eu pego um táxi e vou pra aí então.

– Que é isso cara, você não sabe o quanto os taxistas vão te roubar pra te levar embora daí? Isso é truque pra enganar gringo. Mas escuta, eu falei com o Marcelo, o turno dele acaba as duas, ele disse que pode te trazer com ele quando estiver voltando daí. Tudo bem para você?

Nada bem, eu sabia exatamente até onde iam as minhas forças para resistir a Marcelo, e ir embora com ele estaria muito além disso.

– Pode deixar, nenhum taxista vai passar a perna em mim. Te vejo daqui a pouco. Até, cara, e manda um melhoras pra Luisa por mim. – desliguei antes que ele retrucasse, insistindo para eu voltar com Marcelo. E segui para o ponto onde uma fila de táxis estava esperando por passageiros.

No entanto, antes de eu chegar a porta de um deles, ele me pegou pelo braço, imponente, me impedindo de continuar.

– Que que você pensa que está fazendo? Você vai embora comigo.

Marcelo. O policial, o soldado, o garoto. Marcelo, teu nome combina tanto. Tentei dizer não, mas gaguejava diante dele, nervoso, excitado. Tive que respirar fundo para conseguir proferir a frase:

– Pensei que você largasse as duas.

– Já passou das duas, Igor – ele falou, me arrastando na direção do seu carro. – O Lucas não te falou para ir comigo?

– Falou, é que eu... eu...

Abriu a porta da viatura, eu não quis dar o passo para dentro, ele deu a volta no veiculo e ficou me olhando, esperando a minha próxima ação. Se eu decidisse não entrar, o que poderia fazer comigo? Eu simplesmente podia ir embora dali, pegar o táxi, não vê-lo por mais longos anos, talvez agora sim para sempre, eu sabia disso e ele também, seus olhos esperavam pelos meus movimentos, e quando eu finalmente tomei a coragem necessária e entrei, eles agradeceram a mim lá dentro do carro, enquanto Marcelo dizia:

– Põe o cinto.

A quase cem por hora não era seguro andar no meio das ruas repletas de gente que havia acabado de assistir ao show também, mas Marcelo não ligava, ligou a sirene da viatura e disparava investindo contra a estrada.

– Assim, quando a gente chegar ao hospital vai ser como paciente e não visita – falei.

– Quem disse que estamos indo pro hospital? – ele falou e um pequeno sorriso maquiavélico brotou dos seus lábios e veio ardilosamente na minha direção.

– Marcelo, por favor...

Ele trocou de marcha e me interrompeu dizendo:

– Escuta, você vai comigo pra minha casa. Você vai passar a noite comigo, Igor. Não to te forçando, eu sei que você quer também. Nem vai adiantar dizer que não. Então você pode ficar quietinho até a gente chegar ou pode aceitar que eu vou te levar pra minha casa e comer você a noite toda. Se você aceitar isso vai ser mais fácil e nós podemos conversar desde já, porque vai ser a única hora que vamos ter pra conversar, entendeu?

Eu não consegui dizer uma palavra. Ele estava diferente, não tanto a ponto de não reconhece-lo, mas estava nervoso, impaciente, irritado, e isso me dava um pouco de medo. Sabia que ele não iria, digamos, me bater, mas mesmo assim com um soco de Marcelo eu quebraria em dezenas de pedaços. Ele falou pelo aparelho de rádio da viatura que naquela noite não passaria no distrito para deixar o carro de trabalho e pegar o seu, não daria tempo, já estava a caminho de casa. Depois que desligou, eu olhei mais uma vez para ele, com as mãos pressionando forte aquele volante. A raiva tentando esconder o medo da rejeição. Marcelo nunca se deixaria ver frágil, mas eu conseguia, sempre consegui.

– Gostei do jeito que a sua barba ficou – eu disse. Não era esse o seu plano, se eu começasse a conversar era porque estava de acordo a ir com ele, pois então eu aceitava, o animal ainda caído no chão dentro de mim abriu os olhos sofregamente esperando por um carinho, embora tivesse medo de ser golpeado mais uma vez, não se tornou arisco, ainda tinha um resto de esperança.

Ele relaxou um pouco ao ouvir minha voz, a velocidade caiu para sessenta por hora, seus ombros baixaram, suas mãos deixaram o volante respirar. Eu nunca conseguiria punir Marcelo por tudo que ele me fez, porque puni-lo era também punir a mim mesmo por não estar com ele.

– Toca nela.

Eu olhei para a estrada, já não havia ninguém na rua, parecia mais seguro, tirei o cinto, com a mão direita toquei na sua barba, macia e áspera ao mesmo tempo, mais volumosa do que eu me lembrava, seu maxilar maior, tudo nele maior. Meu rosto lentamente na sua direção, beijei sua barba, mordiquei seu maxilar, ele encheu o peito e esvaziou devagarzinho, se aliviando da tensão mais uma vez.

– Que saudade de você, Igor...

– Eu também tava com saudade do meu Marcelo...

Ameacei beijar seus lábios, mas me contive e o deixei com a boca entreaberta, me esperando. Sua farda era de tecido fino e não ocultava a massa grossa no meio das suas pernas.

– Agora você precisa ficar de olho na estrada – falei.

Seus olhos de águia se voltaram para mim e me tiraram do chão, me levando com suas garras para o pico de alguma montanha, de onde eu não conseguiria fugir sozinho.

– Você mora sozinho? – perguntei, na hora não pensei direito, não quis perguntar isso para saber se ele ainda não tinha se casado, mas somente porque não queria ter nenhuma surpresa quando nós chegássemos lá.

– Sim, eu sou divorciado...

– Cara, que pena. Quanto tempo esteve casado?

– Uns dois anos, faz algum tempo já. Ela simplesmente não me satisfazia – ele olhou na minha direção, mas eu estava virado para a janela. – E você, Igor, está morando com o... seu namorado?

– A gente tentou morar junto, mas não deu muito certo. Decidimos viver em casas separadas mesmo – a conversa não estava deixando nenhum de nós mais confortável, decidi mudar completamente de assunto. – Mas olha só, você conseguiu mesmo se tornar policial, parabéns, Marcelo!

Ele riu todo orgulhoso.

– E você, o que tem feito?

– Abri uma livraria na cidade em que moro, não é grande nem nada, mas eu gosto muito de trabalhar nela...

– Fico feliz por você. Eu lembro que você gostava muito de livros. Aliás... – ele hesitou, tímido, lindo quando ficava tímido. – Eu li naquele livro, o que você estava lendo quando nos falamos pela primeira vez.

– Minha querida Sputnik?

– Isso, eu achei numa vitrine de livraria e lembrei, aí comprei ele...

– O que achou?

Ele me olhou outra vez.

– É a nossa história, não é? você gostava demais de mim, queria algo sério comigo, e não é que não gostasse de você, eu gostava Igor, tanto quanto, mas eu não podia ficar com você, porque eu não sou... – a frase definhou na sua boca, eu sabia o que ele iria dizer.

– Ei, Marcelo. Vamos combinar uma coisa aqui e agora. Pomos uma pedra naquilo que ficou pra trás. Não vamos ficar falando disso, por que, não é? Amanhã eu pego o meu avião e talvez você e eu não nos vejamos mais depois dessa noite, para que gastar tempo remoendo tudo aquilo?

– Você está certo – disse baixinho, o carro entrando no estacionamento do seu prédio. Quando parou na sua vaga ele não destrancou as portas.

– Marcelo?

– Me beija? – ele perguntou, usando exatamente o mesmo tom de voz daquele garoto carente que passava o dia todo sozinho em casa.

Me aproximei dele, me espremendo no caro.

– Diz tudo – falei, usando as duas palavras que ele sempre usava para mim, provocando-o.

– Por favor, Igor, me beija, me dá a tua boca outra vez – no meio da sua carência, um sorriso safado: – Eu te desafio a me beijar agora.

– Olha, que eu aprendi com um amigo a nunca dizer não a um desafio, questão de princípios, sabe?

Subi no seu colo, seu pau maior que a marcha do carro ainda espremido naquela calça, as minhas duas mãos nas suas bochechas, tocando sua barba, eu assim parecia mais alto que ele e ele olhava para cima esperando pelo meu beijo, um macho alfa esperando pelo seu beta. Quando meu beijo chegou na sua boca, era eu inteiro que chegava nele, que me entregava a ele junto aquele beijo, e ele tomou minhas costas e nossos corpos mataram a saudade um do outro, sua língua me desbravando outra vez, a minha desejando explora-lo como antes, minhas mãos nos seus braços musculosos, nas veias da sua nuca, "Teu pau tem o cheiro da sua nuca" lembra? E ele me balançava de leve em cima do seu corpo, causando atrito da minha bunda contra o seu pau.

– Eu preciso ter você outra vez, Igor – falou, respirando pesado depois do beijo. As mãos repousando no inicio da minha bunda.

– E eu preciso de você, Marcelo. Hoje eu preciso de você.

Ele abriu a porta do carro, ainda nos beijávamos do lado de fora, no elevador já não, ele se afastou, ficou na parede contrária a minha, e eu entendi que era porque o elevador tinha câmeras. Poderia lhe dizer que provavelmente a garagem também tinha, mas achei melhor não.

Assim que abriu a porta da sua casa, me puxou para dentro e me agarrou com a gana de um grande policial de dois metros de altura, sem truculência me revistou com suas grandes mãos brancas, sua língua vistoriou minha boca, suas costas serviram de abrigo para as minhas pernas que se enlaçaram nelas, ele gostava assim, eu também, tê-lo como apoio, confiar nele para não cair, confiar a minha vida a sua força de macho, eu confiava no meu Marcelo. Ele tirou a minha camisa, andou comigo até o sofá, me despejou nele, puxou meus tênis, minha calça, minha cueca, me deixou assim pelado, frente a frente, meu pau duro se exibindo e ele não se incomodou, não me virou para ver minha bunda, porque eu também tinha pau, era homem, ele tinha que entender isso, e finalmente entendia que o seu desejo mais selvagem era provocado por um homem. Tirou sua camisa, não se depilava, a parte superior do peitoral pintada de pelos pretos e lindos, a barriga lisa e musculosa, Marcelo ainda era o homem mais gostoso que eu já tinha visto. Sua calça se foi, sua cueca se foi.

– Marcelo, você poderia...

– Quieto. – Se deitou comigo no sofá, voltando a me beijar vorazmente. Quando foi descendo pelo meu pescoço eu tentei dizer outra vez:

– Você poderia... – eu queria dizer para ele esperar um segundo porque eu queria tirar o controle remoto da tv que estava embaixo de mim e machucando um pouquinho minhas costas.

– Quieto – repetiu. – Agora, a gente não fala, a gente fode.

Se era assim que ele queria, que assim fosse. Levantei seu rosto quando ele estava chupando meu mamilo esquerdo e fiz ele olhar nos meus olhos, e enquanto ele me olhava, usei de todo meu contorcionismo para levantar minha perna esquerda, o que o puxou para o centro de mim, seu corpo maior que o meu, branco sobre o meu, negro, sua bunda pareciam duas montanhas maciças sobre as grossas coxas e ele me olhava sorrindo com as minhas habilidades e agora que eu o tinha no meio de mim, abri mais as pernas, estiquei ao máximo as duas para o alto, me expondo, abrindo toda minha bunda para que ele visse meu cuzinho por entre as grandes nádegas, e depois ainda flexionei os joelhos e eles chegaram a altura dos meus ombros. A baba no seu pau brilhava, cristalina como uma fonte de diamante líquido.

– Então me fode. Me fode todo, Marcelo.

Do seu corpo todo, a parte que mais crescera, estranhamente, era o pau, não exatamente em tamanho, que ele já tinha dezenove centímetros antes, mas em grossura, como se tivesse, assim como o restante do corpo de Marcelo, ganhado músculos com o passar dos anos. Lembrei de que Lucas havia o chamado de Marcelão mais cedo e sorri, falei baixinho "Marcelão" e ele sorriu chupando meus mamilos com aquele pau lá perto da minha bunda, mesmo duro pendia para baixo devido ao tamanho e parecia macio e saboroso.

Tentei empurra-lo para o outro lado do sofá para poder ficar por cima e chupar seu pau, mas ele não deixou, nem moveu sua massa toda de cima de mim.

– Se você me chupar eu gozo – falou vindo outra vez me beijar. Deixa eu te comer assim, no seco?

Minhas mãos em voltas das suas costas. Abraçando o grande policial, o grande garoto solitário. Ele entendeu meu gesto, podia me comer assim, mas teria que ficar assim, grudadinho em mim, me beijando o tempo todo, porque só com o tesão dos seus beijos eu agüentaria a dor das suas pauladas. A cabeça foi tentando entrar, difícil, meu cu, apertado, desacostumado a um pau assim.

– Que é isso? – entre beijos – Teu namorado não ta te dando o que você precisa, Igor?

– Enfia... – falei, sem sentido nenhum, quase desmaiando de tesão.

Me olhou nos olhos:

– Diz tudo.

– Enfia teu pau bem dentro de mim, Marcelo. Me abre de novo. Me abre pra você... Me dá o que o Bruno não consegue me dar...

Ele pegou o próprio pau pela base, olhando nos meus olhos, narizes quase em contato, e o pressionou para dentro de mim, a cabeça em chamas me levando consigo na sua voragem de prazer. Sempre fui de me queimar inteiro quando se tratava de Marcelo, de me jogar a dor e ao extremo tesão porque só assim eu conseguia tocar a medula do meu desejo por ele, eu desejava aquele homem, mais que tudo que qualquer um possa imaginar, eu desejava aquele homem em mim.

Gritei quando a cabeça entrou.

– Grita! Grita na minha vara! Grita no meu caralho!

Eu gritava e ele enfiava mais, seu corpo se movendo sobre o meu enquanto ele me mostrava porque era o macho alfa, porque eu sonhava com ele, porque eu sempre o desejei.

Ao entrar tudo meus olhos virados se fecharam ao receber mais um beijo, a recompensa por ter agüentado, e eu retribui, abri mais ainda minhas pernas para que ele bombasse livremente, arrebentasse meu cu até então fechado, que voltaria para Bruno sendo outro cu, sendo totalmente outro.

Ele segurou com as duas mãos no encosto do sofá acima da minha cabeça e usava do impulso para ir e voltar dentro de mim, seus braços protegendo meu corpo, seus olhos nos meus, beijei seu bíceps, mordi, beijei sua bochecha, mordi, beijei seu pescoço, mordi, beijei a raiz dos seus cabelos, mordi, beijei seu pomo-de-adão, mordi, beijei seus lábios, mordi e ele ia e voltava dentro de mim apaixonado como um leão apaixonado, como uma máquina fervente apaixonada, como um sentimento do mundo aberto através de uma boda foda bem no fundo do cu a entrada da alma bem na ponta do pau a veia do coração apaixonado, e ele dizia que não ia agüentar muito que estava para gozar, que ia ser a primeira, a primeira e eu gritando no seu pau isso goza goza que eu também vou gozar Marcelo, goza amor, goza em mim, me goza, me desfruta, me gasta com teu gozo ahhhhh. Ele desabou em cima de mim, suando cheiroso, sem fim seu gozo dentro de mim, sem fim meu gozo nas nossas barrigas. Sua cabeça afundada no meu ombro e eu o apertei contra mim, suas costas, suas coxas, sua bunda, eu o apertei para mais perto de mim e acariciei a massa muscular do meu Marcelo enquanto ele recobrava o ar respirando o cheiro da minha nuca.

Depois de uns dez minutos assim, parados, unidos, ele se levantou, me pegou pela mão, vem, vamos pro meu quarto, disse e nós andamos assim, pelados pela casa, de mãos dadas e entramos no seu quarto e ele acendeu a luz e me perguntou:

– Você quer que eu tome um banho?

– Eu gosto do teu cheiro assim – respondi. – E você, quer que eu tome um banho?

– Eu gosto do teu cheiro assim – respondeu.

E se sentou na cama, as pernas grossas o pau meio amolecido, pendendo, e eu me aproximei e o joguei deitado, e fui beijando seu corpo, pouco a pouco, o tórax, as costelas, o peito, a barriga, o umbigo, os pentelhos, o pau o saco. Meu gosto nele era como se fosse o gosto dele. Desci pela estrada interna das suas coxas, seus joelhos, suas canelas, panturrilhas, pés, tudo aquilo, todo aquele homem meu, o enigma da peça que faltava no quebra-cabeça de Marcelo já não fazia diferença, todo aquele homem era meu, e se no dia seguinte não nos víssemos mais, não podia me esquecer de hoje, de agora. E subi e voltei a chupá-lo, suas bolas, seu saco, seu pau. Ele endurecia e eu nem acreditava que estava endurecendo também, dando prazer ao Marcelo e ele olhando para o teto e agarrando com as duas mãos os lençóis da cama.

– Fala meu nome – suplicou

– Marcelo – falei de boca cheia. Seu pau latejou e seus músculos fisgaram ao mesmo tempo como se tivesse levado um choque ao ouvir minha voz.

Se levantou, me ergueu na cama, voltamos a ficar em 69 de ladinho, e eu voltei a chupa-lo sabendo que ele não iria me chupar, mas me enganando porque sua boca veio e tomou meu pau, suas mãos apertando forte minha bunda enquanto sua boca de homem recebia meu pau quase inteiro, e ia e voltava se técnica mas com muita força de vontade. Ia e voltava. E eu ia e voltava mais feliz. Se ele não tivesse medo de aceitar, passaria o resto da minha vida assim, chupando-o, dando pra ele, e ele teria que trabalhar sem roupa e enquanto dirigisse sua viatura eu estaria embaixo do banco chupando-o e seu parceiro olharia espantado enquanto eu o chupava e ele dirigia, e os bandidos não entenderiam como podia um policial sacar a arma para ele enquanto um rapaz chupava seu pau no meio da rua suja no meio da noite suja, e depois na delegacia e nos tribunais e nos restaurantes que passasse teriam que se acostumar a ver o policial Marcelo sendo chupado e comendo o cu do seu macho beta, do seu dependente, que viveria de leite, como um carneiro dos mais brancos e puros, viveria de fera do seu macho. Mas ele tinha medo e eu o entendia, então tinha que aproveitar aquele momento e chupá-lo o máximo que eu pudesse.

E depois de tanto ele me falou que estava para gozar e me deu sua porra e eu bebi sem tirar seu pau de dentro de mim, segurando na sua bunda para puxa-lo mais para dentro e no seu saco para sentir o leite vindo, e ele ainda assim, mesmo já tendo gozado, mesmo com o pau começando a amolecer na minha boca, continuava me chupando, e demorou um pouco mais mas eu gozei também e ele se engasgou e eu ri e ele não gostou de eu ter rido mas depois aceitou e fizemos as pazes num beijo amendoado, com nossos gostos, e eu me deitei junto a ele e ele se virou e me deixou por baixo do seu corpo e perguntou:

– Eu vou te machucar se dormir assim, aqui em cima?

– Não, não vai. Eu vou adorar você assim.

E ele se aconchegou sobre mim e seus pelos me aqueceram e eu perguntei se podia me aconchegar melhor também e ele respondeu "hu-hum" e eu fui me abrindo, as pernas o embolaram, e com a minha mão direita encaixei seu pau mole dentro do meu cu, e ele sorriu já de olhos fechados e beijou meu rosto e eu beijei seus lábios sentindo seu pau se acolher dentro do meu corpo.

E antes que amanhecesse eu acordei com ele me chamando no ouvido e senti seu pau começando a se endurecer dentro de mim e perguntou "posso" e eu respondi "deve" recomeçou a me foder e eu olhando assim para seus olhos queria muito que ele não parasse e que o dia nunca viesse e que naquela madrugada coubessem todas as fodas do mundo, todas as transas de uma vida porque assim talvez eu conseguisse controlar esse meu desejo por Marcelo, ou não, ou seria para sempre essa minha fome daquele homem. E4u gozei primeiro porque ele me masturbava gostoso e eu sussurrei continua e ele continuou me fodendo mesmo eu já tendo gozado e urrou quando gozou, lá do fundo do saco esse último gozo, e o sol nascia e ele desabou gostoso em cima de mim outra vez, saciado como se sacia uma fera com carne fresca, e eu fechei meus olhos feliz por te-lo saciado mas antes de dormir ele disse:

– Igor, posso te perguntar uma coisa?

– Pode.

– Por que não deu certo você morar com o Bruno?

Custei a responder, o sono tomando a minha racionalidade e não me deixando escolha se não dizer a verdade:

– Porque quando eu transava com ele eu dizia teu nome, eu falava Marcelo na hora de gozar, Marcelo, Marcelo...

Pensei que ele já tivesse dormindo e não tivesse me ouvido, mas ouviu, e gostou do que ouviu e disse:

– Quando eu consegui convencer a minha ex-mulher a me dar a bunda, eu comi e ela e vi que não era a mesma coisa, é só com você que eu...

Não lembro o fim, um de nós deve ter sido agarrado pelo sono nesse ponto.

No dia seguinte acordei antes dele, seu corpo ainda me cobrindo, o sol queimando suas costas e ele não acordava. Aos poucos fui me tirando dali de baixo, não queria uma despedida cheia de lágrimas, era melhor guardar a recordação da noite anterior como sendo a última. Tomei um banho, preparei alguma para ele comer quando acordasse, faltava menos de duas horas para o meu vôo. Me vesti e fui embora da sua casa. o porteiro do prédio me viu e não falou nada.

No táxi a caminho, liguei para Miriam e perguntei e pewrguntei se ela já tinha ido para o aeroporto.

– Já sim. estamos nós três aqui.

– Então a Luisa já saiu do hospital, que bom. Eu estou a caminho também.

– Não era nada grave com ela, mais importante é: Igor, onde você passou a noite?

– Na casa do Marcelo.

Ela não respondeu a minha afirmação, se limitou a dizer que estavam me esperando.

– Ei, Igor, Lucas aqui – ele tomou o celular da Miriam. – Você pode passar o telefone para o Marcelo, por favor?

– Ele não está comigo, ainda estava dormindo quando eu sai. Eu to num táxi.

– E você vai embora mesmo? Você vai deixa-lo para trás.

– O quê?

– Sem tempo para explicar. Vamos cara, acorda, você tem que ficar. Vocês dois tem que ficar juntos, óbvio isso.

– Ele te contou, desde quando você sabe?

– Ah, desde o colégio né guri. Você não é muito em disfarçar. Passa o celular pro taxista, vou mandar ele dar meia volta.

– Não, Lucas. Eu vou embora. Ele não quer o mesmo que eu quero.

– Quer saber, eu vou ligar para ele, eu vou acordar aquele covarde de merda. – desligou na minha cara, o filho da mãe.

Da janela a paisagem urbana que eu deixaria para trás quando entrasse naquele avião. Tanta coisa eu deixaria para trás, não por vontade própria, mas porque não podia agarrar quem não queria aceitar que estar comigo seria o único jeito de sermos felizes. Duvidava muito que Marcelo fosse fazer alguma coisa para impedir minha partida. Foi bom, foi ótimo enquanto durou, mas agora era hora da verdade, eu sou gay, ele não é, jura que não é.

Trânsito, trânsito, trânsito.

Eu não podia perder o vôo, faltavam menos de vinte minutos agora. quando cheguei no aeroporto tive a estranha sensação de que estavm me olhando já na porta de entrada. Paguei o motorista pensando que a minha estava suja ou alguma coisa assim. Carros da polícia na porta, como sempre. Do lado de dentro igualmente rostos virando-se na minha direção. Caminhava desconfortavelmente. Ao encontrar os meus amigos me aproximei deles que olhavam sorrindo para mim e só percebi o motivo dos risos quando já estava muito próximo e de algum lugar surgiu Marcelo, com um buquê de flores na mão. Me esperando.

Puta merda – meu coração gritou.

– O que que você está fazendo aqui? – perguntei, quando ele me dava o buquê.

– Você ainda não entendeu? Eu vim pedir pra você ficar. Ficar comigo.

– Eu não quero que a minha vida seja

– IGOR! – ele gritou, me assustando, todo mundo virou na nossa direção. – EU NÃO QUERO VOCCE AS ESCONDIDAS, EU QUERO VIVER COM VOCÊ, CASAR COM VOCÊ! TODO MUNDO CONSEGUE ME OUVIR? MEU NOME É MARCELO, SOU POLICIAL A QUATRO ANOS E A NOVE ANOS FILHADAPUTAMENTE APAIXONADO POR ESSE CARA AQUI NA MINHA FRENTE, QUE AGORA TÁ QUERENDO IR EMBORA E ME DEIXAR AQUI. VOCESA TÃO OUVINDO BEM, EU AMO ESSE CARA, EU AMO VOCÊ, IGOR. SE ISSO FAZ DE MIM GAY, EU SOU GAY, PORQUE EU QUERO QUE VOCÊ FIQUE COMIGO. – seus olhos voltaram para junto de mim, éramos o centro daquele aeroporto. – Fica?

Lucas, Luisa e Miriam nos olhando, ansiosos, os policiais num outro canto, esperando minha resposta. Os passageiros, funcionários, todo mundo.

– Você... você quer dizer que... eu peguei um transito do caramba e você conseguiu chegar aqui antes de mim?

Ele sorriu.

– Não fuja da pergunta.

– Posso te responder com outra pergunta?

– Vai.

– Me beija? Me beija na frente de todo mundo.

– Diz tudo.

– Eu te desafio a me beijar aqui e agora.

Ele sorriu com aquele seu maldito sorriso e me agarrou num beijo apaixonado, e ouvíamos lá fora do beijo aplausos e gritos e algazarra mas não víamos, de olhos fechados, mergulhados um no outro.

Quando nos afastamos, sorrindo, eu falei:

– Bem que esse buquê podia vir com um jogo de x-box, não acha?

– Como é difícil te agradar, guri – respondeu, rindo, gargalhando enlaçando seus braços na minha cintura.

– Não é não. Você consegue me agradar. Sempre.

– Absolutamente – ele falou e me deu mais um selinho.

– Absolutamente – respondi, para o meu Marcelo.

FIM...

***

ACABOU, BOM MAIS UM CONTO POSTADO PESSOAL, GOSTARIA DE AGRADECER A TODO MUNDO PELA LEITURA E COMENTÁRIOS CARINHOSO NOS CONTOS ANTERIORES. VOU TENTAR AO MÁXIMO POSTAR COM MAIS FREQUÊNCIA, MAS GERALMENTE EU DEIXO O TEXTO ESFRIANDO POR ALGUM TEMPO ANTES DE REESCREVER, E AÍ ACABA DEMORANDO MAIS DE UM MÊS, MAS MESMO ASSIM VOU ME ESFORÇAR.

DESDE JÁ MUITO OBRIGADO E ATÉ A PRÓXIMA!

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Comentários

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Já passou mt tempo mas espero que ainda acesse aqui... É intrínseco à sua alma, não deve existir orgulho maior para um escritor, saber que faz do nosso coração tresloucado... Que loucura, preciso de morar na sua mente!

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Ja reli essa história sabe lá Deus quantas vezes. Parece que todas elas eu sinto a mesma emoção como se eu nunca tivesse lido. Parabéns mesmo, eu nem sei mais o que dizer se não um 'obrigado'.

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Puxa vida, que conto! MARAVILHOSO! Espero que não se importe, mas vou copiá-lo no meu pc para reler sempre que sentir vontade. Um abraço carinhoso,

Plutão

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Só eu choro com os teus contos!? Parecem que você sempre conta um pedacinho de mim.

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Cara*** esse conto foi 10 ! Parabéns

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Cara, que conto foi esse??? Perfeito! Nossa, a descrição das cenas eróticas foi demais. Vc soube unir romantismo e erotismo na medida certa e o final resultou em algo extremamente excitante e ótimo de se ler. Vc escreve muito bem. Parabéns! Vou ler todos os seus outros contos. Abraço!

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Esse seu conto esta em 1* lugar dos meus contos favoritos seguidos por *MEU HOMEM VOLTOU DE VIAGEM e *SIM, SENHOR! entre muitos outros contos. Você o escreveu com tamanha perfeição que fica difícil achar palavras para descrever tamanha obra prima que é esse seu conto, o tamanho esta perfeito continue a escrever tão maravilhosamente bem. Um grande abraço de quem te admira muito!!!

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Desculpa, bom não, ótimo, na verdade perfeito. Te acompanho desde o primeiro conto, e cada um é melhor que o outro. É envolvente, emocionante e completo, não deixa nada a desejar. Quanto ao tamanho não precisa se preocupar para mim esta ótimo. Agora aguardando, ansiosament, o próximo. Abraços!

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Cara, os seus contos poderiam ter 3 mil paginas e eu o leria com todo o prazer. Perfeito como sempre, parabéns!

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Uhuuuu!!! Amei! Vou procurar outros contos seus! Beijos mil!

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Amei esse conto muito bom.

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