Romeu e Julius - Amor em Framon - 01x02 - O PRIMEIRO ATAQUE

Um conto erótico de Escritor Sincero
Categoria: Homossexual
Contém 3693 palavras
Data: 25/01/2015 13:24:27
Última revisão: 09/05/2025 01:46:51

FRAMON ANOS ATRÁS

Três pessoas fugiram desesperadas por um labirinto de pedras. Eram Melody, Celdo e o príncipe Nilo, todos adolescentes. O trio tentava escapar das garras de Cen, uma ameaça para o reino de Framon e um feiticeiro mortal. Depois de muito caminhar, eles desceram em uma espécie de tumba.

De repente, algumas caveiras surgiram e os atacaram. Apesar do cheiro de carne podre, o trio lutou com bravura. Celdo e Nilo usaram suas habilidades de combate, enquanto Melody tentou decifrar as palavras escritas na parede da tumba.

— Sit lux viam ostenderet nobis! — Gritou Melody, falando em latim e fazendo a tumba se abrir.

Aos poucos, Celdo e Nilo conseguiram destruir as caveiras. Para ajudar os amigos, Melody usou seus poderes, e as raízes das árvores que cercavam a tumba amarraram os mortos-vivos. Não houve tempo para comemoração, pois uma forte explosão lançou os três contra a parede.

— Seus malditos! Vocês vão me pagar! — Ameaçou Cen, que apareceu quando a poeira baixou.

— Vocês dois. — Disse Melody, com dificuldade para se manter em pé. — Fujam. Eu consigo lidar com ele.

— Não fale bobagem. — Falou Celdo, limpando o sangue que escorreu de sua boca e ficando na frente de Melody. — Essa luta é nossa.

FRAMON ATUALMENTE

Quem conheceu Lady Melody jamais imaginou que ela enfrentaria um feiticeiro de igual para igual. Dona de belos cachos loiros, pele branca como o primeiro floco de neve do inverno e olhos castanhos claros, a mãe de Julius certamente foi uma referência para as mulheres da alta sociedade de Framon.

É muito difícil para uma mãe escolher um filho favorito, mas, no fundo, Melody tratou Julius de forma especial, ainda mais por conta de sua personalidade hiperativa. Naquela tarde, durante o chá, os dois tomaram juntos a bebida, mas ela percebeu que o caçula estava perdido em seus pensamentos.

— Meu filho, você está bem? — Perguntou Melody, servindo chá em uma xícara azul.

— Estou ótimo. — Respondeu Julius, tendo um espasmo e derrubando sua xícara. — Desculpe.

— Julius, olhe para mim. — Pediu Melody, já percebendo que havia algo errado com o filho caçula.

— Estou bem, mãe. Com licença. — Desconversou o rapaz, levantando-se e indo em direção às escadas.

— O que deu nesse menino?

Beijo. Beijinho. Beijão. Tudo na cabeça de Julius o lembrava do beijo em Romeu. Para espairecer, ele decidiu sair com suas melhores amigas, Clarissa e Cássia, vizinhas e confidentes do jovem.

Durante o passeio pelo Vale das Nuvens, Julius evitava pensar no beijo e nas suas dúvidas internas. Em seguida, os três seguiram para o Centro de Framon para visitar algumas lojas de tecido. Ele distraiu as amigas com seu principal talento: fazer imitações de pessoas conhecidas.

— Imita a Dona Ivone, por favor. — Pediu Clarissa, batendo palmas e arrumando o vestido antes de sentar-se na cadeira da praça.

— Meninas. — Falou Julius, tossindo e mudando a voz. — Eu vou bater em vocês — Imitou ele, encarnando Dona Ivone, a modista mais famosa da cidade. — Eu vou bater em vocês! — Gritou, levantando as mãos e esbarrando em um homem.

— Cuidado, garoto! — Advertiu o homem em tom áspero.

— Perdão, senhor. — Desculpou-se Julius, dando pequenos tapas no ombro do homem.

— Por isso as pessoas fazem comentários a seu respeito. — Reclamou o homem.

— Razão de quê? — Perguntou Celdo, surpreendendo a todos.

— Nada.

— Razão de quê? — Insistiu Celdo, dessa vez segurando o ombro do homem e apertando.

— Ele é diferente do seu outro filho, não é? Esse é mais desastrado. Bem, preciso ir. Boa tarde, Sr. Mazzaro. — Cumprimentou o homem, saindo apressado.

— Vocês estão bem? — Questionou Celdo aos três.

— Sim. — Responderam em uníssono.

Em casa, Julius parecia um fantasma, andando de um lado para o outro. À noite, não conseguiu pregar o olho e fez de tudo para evitar Romeu, principalmente em seus pensamentos. Até mesmo na missa, onde sempre sentavam juntos, os dois ficaram em lados opostos.

Após o sermão do padre, algumas pessoas e o próprio Rei Nilo, governante de Framon, foram convidados para um café da manhã na casa dos Mazzaro. Serviram pães com ervas finas, bolos variados, geleias feitas com pétalas de rosas e chá de canela. Todos se reuniram em torno da mesa para celebrar as graças conquistadas pelo reino.

— Você tem sorte, Celdo. Seus filhos são focados em suas atividades. Soube do que aconteceu com Julius no Centro de Batalha.

— Sim. Esses meninos pensaram que podiam tudo.

— Eu sei que o jovem Romeu pode. — Disse o Rei, quando Romeu passou ao seu lado. — Bartolomeu e ele são imbatíveis juntos. Queria que Mitty fosse como eles, mas, infelizmente, meu filho só dá dor de cabeça.

— Entendo, meu rei. Entretanto, se me permite mudar de assunto, ontem vi mensageiros trazendo novidades do Monte Kinopla. — Comentou Celdo, tomando uma taça de suco.

— Bem, não queria te dar essa notícia agora, mas fontes fidedignas garantiram que Cen está vivo. — Afirmou o Rei Nilo, com expressão séria.

— Impossível. — A taça escorregou das mãos de Celdo, caiu no chão e chamou a atenção dos convidados. — Aquele desgraçado... Isso não pode acontecer de novo. — Murmurou o pai de Julius.

— Acho melhor averiguarmos essa história. — Sugeriu o Rei Nilo, mantendo a discrição apesar da preocupação.

A comida tem um poder mágico, sabia? Quer dizer, pelo menos, para Julius tem. No café da manhã, o caçula de Celdo pegou o maior prato e o encheu de guloseimas. Sentou-se afastado dos demais, querendo aproveitar o momento para refletir. Mas Romeu não era de desistir e surpreendeu o amigo, que se assustou e quase derrubou os alimentos.

— Desculpe. — Romeu tentou manter a seriedade, mas o jeito desastrado de Julius sempre arrancava um sorriso seu.

— Isso não é engraçado. Você deveria ter mais cuidado e prestar atenção no que as pessoas estão fazendo. E se fosse uma arma? — Repreendeu Julius, olhando ao redor, receoso de que alguém se aproximasse.

— Relaxa, Julius. Eu não vou fazer nada.

— Como posso relaxar? Depois do que fizemos? Oh, céus. Se o meu pai descobrir, ele vai nos matar. Vai me matar. Isso é errado, muito errado. A gente não pode contar para ninguém. Se o Bartolomeu desconfiar, ele vai... vai cortar a tua cabeça fora. Oh, não. — Falou Julius tão rápido que Romeu mal conseguiu entender.

— Então isso é algo bom. — Disse Romeu, sentando-se ao lado de Julius e cruzando as pernas, com um ar convencido no rosto.

— Isso é grave. É pecado.

— Não, isso. — Romeu colocou o dedo sobre a boca de Julius. — Você está preocupado comigo. Está com medo de que cortem a minha cabeça. Isso é algo bom. — Julius tentou dizer algo, mas Romeu o impediu.

— Me encontre hoje, por favor. Meia-noite, no celeiro. — Pediu, levantando-se e deixando Julius sozinho.

— Mas...

Longe dali, Cen tramava sua primeira investida contra Framon. Ele recuperou um esqueleto que havia descartado e iniciou um ritual de ressurreição. Klaudo observava tudo escondido, assustado; não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas não gostava do que via.

— Ressurja das cinzas, volte para a terra. Você tem uma missão, meu amiguinho! — Gritou Cen, lançando uma poeira vermelha dentro de um caldeirão.

O poder das trevas tomou conta da sala. De repente, os ossos da caveira começaram a se unir e ganhar vida. Os olhos de Cen ficaram vermelhos e cintilaram em uma frequência constante. Aquele foi o sinal de que seus poderes voltaram a ganhar força. O feiticeiro caminhou até a bola de cristal e viu a pacata rotina de Framon.

— Tolos. Em breve vocês receberão notícias minhas. — Declarou, rindo alto e olhando para a caveira.

***

À meia-noite em ponto, Julius desceu pela janela de seu quarto. Por pouco, o filho de Celdo não estatelou-se no chão — afinal, desastre e Julius sempre andaram juntos. O vento frio soprou, então o jovem apressou os passos para não congelar.

O celeiro estava escuro, apenas a luz do luar clareou o caminho. Receoso, Julius pensou em voltar, porém criou coragem e abriu a porta principal. Além dos seus passos, que quebraram o feno no chão, a única coisa que ele escutou foram as batidas de seu coração.

— Ro... Romeu? — Cochichou Julius, com dificuldade de enxergar no breu. — Estava um pouco escuro aqui, né? — Tropeçou, mas manteve o equilíbrio. — Ai. Acho que você já... já pôde aparecer.

— Oi. — Cumprimentou Romeu, aparecendo atrás de Julius, que, no susto, acabou dando um tapa no amigo.

— Aí, essa doeu. — Reclamou Romeu, pegando no rosto e rindo.

— Desculpe, mas você apareceu assim do nada. — Lamentou Julius. — Foi um reflexo. Machucou? Ficou feio? Na verdade, eu nem sei onde você está direito. — Tateou no ar até encontrar Romeu. — Porque estava escuro e, quando está assim, a gente não consegue ver nada mesmo e... — A voz de Julius foi silenciada por um beijo.

Dessa vez, Romeu não teve pressa e caprichou na pegada. Ele segurou a cabeça de Julius com a mão direita e acariciou seu rosto com a esquerda. Por um momento, o filho de Celdo ficou inerte, não reagiu e seguiu o fluxo da situação. Seu coração bateu forte e seus pés começaram a tremer.

De repente, o peito de Julius foi inundado por uma vontade de ter mais de Romeu. Eles foram andando até que caíram no feno. Entre carícias e beijos, os dois começaram a se despir, mas, no fundo, Julius ainda não estava preparado para ultrapassar qualquer tipo de linha.

— Não. — Soltou Julius, tentando sair daquela situação.

— Por que não? — Questionou Romeu, tentando tirar a camisa de Julius.

— Você está me machucando. — Avisou Julius, dessa vez, usando a força para que Romeu saísse de cima dele.

— Desculpe. — soltou Romeu, percebendo a besteira que estava fazendo e deitou-se ao lado de Julius.

— Isso foi muito rápido. Eu não sei o que quero. — Garantiu Julius, nervoso e ofegante.

Confuso, Julius tentou sair do celeiro, porém Romeu, de um jeito carinhoso, pediu para que ele ficasse mais um pouco. Eles ficaram deitados no feno, em completo silêncio. Mais uma vez, o único som foi de seus corações acelerados. Um espirro de Julius quebrou todo o gelo existente entre os dois.

— Saúde. — Disse Romeu, colocando a mão direita como apoio para sua cabeça.

— Obrigado. — Agradeceu. — Romeu?

— Oi?

— Quando... quando... você...

— Não sei. Desde sempre. Mas, até agora, só tive olhos para você. — Garantiu Romeu, que conseguiu tirar uma confissão de Julius.

— O primeiro de quem eu gostei foi você.

— Sempre gostei muito de você. — Romeu virou-se e acariciou o rosto de Julius. — Fico com ciúmes quando você dá atenção para outra pessoa.

— Sério? — Questionou Julius com dúvidas. — Romeu, estou com medo. — Confessou.

— Eu também.

Infelizmente, um forte estrondo atrapalhou a conversa do casal. Eles saíram correndo para fora do celeiro e viram um clarão vindo do Centro de Framon. Sem pensar duas vezes, Romeu pegou um cavalo e deu a mão para Julius subir.

Eles correram em disparada até o local da explosão. Muitas pessoas saíram desesperadas de suas casas; algumas foram pisoteadas. O cenário era de caos total. Romeu e Julius levaram menos de 10 minutos para chegar ao Centro.

— Eu vou ajudar essas pessoas. Descubra o que está acontecendo. — Avisou Julius, pulando do cavalo e auxiliando alguns moradores.

A praça de Framon estava destruída, com destroços para todos os lados, e a fumaça dificultava a visão. Romeu era um escudeiro experiente, mas congelou ao avistar um esqueleto trajando uma armadura diferenciada. Ele não acreditava em coisas sobrenaturais; entretanto, ali na sua frente estava um esqueleto portando armas.

A caveira não falou nada, apenas riu e fez várias investidas contra Romeu. Devido ao peso da armadura que cobria os ossos do esqueleto, Romeu teve dificuldade em encontrar um ponto fraco. Então, aos poucos, ele recuou para uma área cheia de escombros.

— É forte para quem está morto. — Comentou Romeu, enquanto desviava dos ataques da caveira.

Com um único ataque, o esqueleto jogou Romeu contra uma parede de pedras. Julius chegou no momento certo e ajudou o amigo a se levantar. Ao ver o inimigo de perto, Julius quase soltou um palavrão, mas precisou manter a concentração para não ser atingido pela caveira.

— Que diabos é isso? — Perguntou Julius para Romeu, ainda confuso por causa do monstro.

— Sei tão pouco quanto você.

Não demorou muito e os cavaleiros reais chegaram para batalhar contra o esqueleto. Ao ver a quantidade de pessoas, a caveira triplicou de tamanho e, com apenas um golpe, derrubou todos no chão. Alguns soldados caíram inconscientes, então Romeu pensou em um plano de ação mais efetivo.

— Ei, magricela! — Gritou Julius, chamando a atenção da caveira. — Você mesmo. — Disse, mostrando a língua para o monstro. — Que dieta é essa?

A caveira andou em direção a Julius e desferiu vários golpes com sua espada. A lâmina chegou perto do filho de Celdo, porém ele deu um jeito de desviar; usou até mesmo frutas que estavam em uma feira.

Já Romeu aproveitou a distração do monstro, pegou um arco e algumas flechas que estavam jogadas no chão.

— Para alguém em estado de decomposição, você foi bem fortinha. — Disse, ao acertar o elmo da caveira com a espada.

— Eu falei quase a mesma coisa. Que sintonia! — Soltou Romeu, aparecendo de surpresa ao lado de Julius, que soltou um riso abafado.

O Rei Nilo viu a cena horrorizado; um flash de lembranças ruins apareceu em sua mente. Ele lembrou-se da adolescência, quando precisou enfrentar o exército de Cen. Apesar de temeroso, o Rei de Framon orientou seus cavaleiros da melhor forma possível.

— Senhor, o que está acontecendo? — Perguntou Celdo, chegando ofegante e usando um pijama.

— Seu filho está mostrando ser um grande guerreiro. — Comentou o Rei Nilo, apontando para a Praça de Framon.

— O Bartolomeu?

— O Julius. — Garantiu o Rei Nilo, prestando atenção nos jovens que lutavam contra o monstro.

— Esse menino é...

— Espere. — Rei Nilo o impediu, segurando no ombro de Celdo, que ficou desesperado ao ver o caçula lutando contra um monstro.

O Parque de Framon virou um caos, pessoas ficaram feridas e soldados desmaiaram. Então Bartolomeu encontrou Romeu e Julius para batalharem juntos. De forma rápida, os dois passaram o plano para Bartolomeu, que aprovou.

Romeu correu para um prédio destruído durante a explosão. Algumas pedras caíram e quase atingiram o jovem. Em um ato rápido, ele segurou uma corda e evitou que uma pedra despencasse.

Nesse momento, Julius e Bartolomeu atacaram o esqueleto, que apresentou sinais de cansaço. Aos poucos, o monstro recuou e chegou perto de Romeu.

— Eu não vou aguentar por muito tempo! — Gritou Romeu, com as mãos doloridas por causa do peso da pedra. — Rápido!

— Julius, sabe que o papai vai te matar, né? — Perguntou Bartolomeu, desviando de um ataque do esqueleto.

— Eu sei. Por isso eu precisei fazer bonito. — Correu em direção a uma parede pequena, subiu e pulou em cima do esqueleto, chutando-o para o local onde estava Romeu. — Olha só!

No auge da dor, Romeu soltou a corda e a pedra gigante esmagou o esqueleto. Uma intensa névoa cobriu o local, e apenas o grito dos soldados feridos foi ouvido. Ainda com medo, os moradores saíram de suas casas e, quando viram o esqueleto morto, iniciaram uma celebração.

Preocupado, Celdo correu na direção dos filhos e verificou se estavam todos bem. Claro que a corda da vida quebrou para o lado de Julius.

Romeu saltou a corda e a pedra gigante esmagou o esqueleto. O local ficou coberto de fumaça. Aos poucos, as pessoas saíram de suas casas e começaram a celebrar. O Rei Nilo e Celdo se aproximaram.

— O que vocês estavam pensando?

— Calma, Celdo. São apenas jovens. — Interveio o Rei Nilo, que voltou sua atenção para os soldados feridos.

— Desculpa, pai. Vimos a explosão e corremos para cá. — Julius tentou se justificar, mas o pai não conseguiu entender.

— Pai, o meu irmão fez um grande trabalho hoje. — Falou Bartolomeu, colocando a espada no chão.

— Eu sei disso. — Abraçou Julius e o beijou na testa. — Eu sei disso. Uma semana de castigo.

— Paiii!! — Reclamou Julius.

— Bartolomeu, leve o Julius para casa, por favor. Romeu, venha comigo. Precisamos resolver esse problema. — Ordenou Celdo, olhando para a pedra gigante e toda a destruição que a caveira causou.

— Vamos, mano.

— Isso é muito injusto! Eu derrotei a criatura das trevas e ainda levei castigo. Você saiu com suas roupas íntimas, todo desgrenhado, e foi considerado o herói da noite. Isso é muita injustiça! — Disse, indo embora com Bartolomeu.

Uma caveira causou uma confusão enorme em Framon. Imagine as outras "armas" que Cen enviaria para sua vingança. No castelo, o Rei e Celdo fizeram uma reunião para decidir qual seria a melhor abordagem para um mal tão poderoso quanto Cen.

— Ele está aqui, Celdo. Eu senti isso. — De forma triste, o Rei Nilo falou sobre a aparição de Cen.

— Eu sei. Agora precisamos contar com a ajuda dela. — Ressaltou Celdo, olhando pela janela para o sol que nasceu no horizonte.

— Tem certeza? Ela passou por maus bocados da última vez.

— Infelizmente, meu caro Rei, é a nossa única saída. Vou falar com ela. Com licença, meu rei. — Reverenciando Nilo e saindo da sala.

— Que Deus nos ajude. — Pensou o Rei Nilo, sendo surpreendido pelo príncipe Mitty, seu único herdeiro.

— Nossa! — Exclamou Nilo, quase tropeçando em um balde. — Quem colocou isso aqui?

— Voltou cedo hoje. — Disse o Rei, de forma irônica.

— Olá, papai. Como está o senhor?

— Melhor que você. Melhor que você.

Irado. Essa palavra definiu o estado de espírito do Feiticeiro Cen. Ele quase destruiu seu castelo após a derrota do esqueleto. Quem sofreu as consequências foi o pobre Klaudo. O ódio aumentou o poder de Cen, que a cada dia cresceu mais e mais.

— Malditos! — Gritou Cen, soltando fumaça pelo nariz. — Eu vou acabar com eles!

— Calma, mestre.

— Aaaah!!! — Usou os poderes e jogou Klaudo contra a parede. — Eu estou calmo!!! — Afirmou o feiticeiro, enquanto trovões caíam fora do castelo.

— Perdão... — Choramingou Klaudo, deitado no chão e cobrindo o rosto.

— Então quer dizer que esses pivetes derrotaram o meu esqueleto? — Perguntou Cen, andando até a bola de cristal e a ativando. — O que o orgulhoso papai faria se descobrisse o segredo de seu filho? Ah, Celdo... aqui se faz, aqui se paga. — Riu alto.

Mais uma noite se passou, mais uma noite sem dormir. Isso se tornou uma rotina na vida de Julius. Seu coração ficou dividido entre o amor por Romeu e a lealdade à sua família. Lágrimas escorreram de seus olhos, e sua única companhia foi a luz da lua que entrou pela janela.

No Centro de Treinamento, Romeu também pensou em Julius e, assim como o amado, soube que a situação poderia se complicar.

No dia seguinte, Julius recebeu a visita de suas melhores amigas: Cássia e Clarissa. Eles conversaram sobre vários assuntos e decidiram tomar banho no lago. Apesar do castigo, ele conseguiu convencer a mãe a deixá-lo ir.

Devido aos costumes de Framon, as meninas precisaram usar trajes masculinos para se banharem no rio. Para Julius, suas sensações pelas amigas não passaram de carinho e admiração. Ele não conseguiu se apaixonar por elas.

— Tua mãe foi a melhor de todas. — Comentou Cássia, entrando na água.

— E o teu irmão, o mais lindo. — Emendou Clarissa, mergulhando para esconder a vergonha.

— O mais lindo, o mais forte, o mais esperto, o mais habilidoso. Meu pai também exaltou essas qualidades do Bartolomeu. — Soltou Julius, aparentemente chateado com as qualidades do irmão.

— Credo, Julius. Deveria ser mais legal com o seu irmão. — Aconselhou Cássia. — Afinal, se Clarissa casar com ele, nós seremos família.

— Fui até demais. Acredita que ontem o vilarejo foi atacado por um esqueleto enorme e quem levou os louros por matá-lo foi o Bartolomeu? Acredita?

— Ele foi forte mesmo. — Suspirou Clarissa, da forma mais apaixonada que se possa imaginar, algo que tirou Julius do sério.

— Eu tive a ideia para matar o monstro, e no fim quem recebeu a recompensa foi ele. — Disse, mergulhando na água, ficando submerso por alguns segundos e depois emergindo.

— Deram ouro pra ele? — Perguntou Clarissa.

— Eu quis dizer reconhecimento. — Explicou Julius, tirando alguns tufos de cabelo que caíram sobre seus olhos.

Uma voz conhecida chamou a atenção do grupo. Era Romeu. Ele pegou uma folga do Centro de Batalha e resolveu visitar o grande amigo. Como ainda tinha trabalho para fazer, Romeu não quis entrar na água, mas ficou conversando com os amigos.

Chateado por causa de toda a confusão, Julius achou melhor encerrar a conversa com Romeu. Ele saiu do rio, vestiu as roupas e foi para casa. Clarissa e Cássia ficaram sem entender a atitude do amigo, mas pediram licença a Romeu e seguiram Julius.

Romeu ficou sozinho, ouvindo o balançar da água. A brisa da tarde bateu em seu rosto e, no coração, apenas a tristeza se fez presente. Ele passou dos limites com Julius e se arrependeu da atitude.

De repente, uma mulher idosa apareceu e assustou Romeu. Ele conheceu os moradores de Framon, mas nunca viu aquela senhora na vida. Com fala mansa, a mulher se apresentou como Elfânia. Ela vestia uma túnica preta, seu nariz era pontiagudo e seus cabelos, brancos.

— Coração partido? — Perguntou Elfânia para Romeu.

— Estou bem. Não se preocupe. — Desconversou Romeu, ainda nervoso e com os pensamentos voltados para Julius.

— Pode me dar um pouco da sua água?

— Claro. — Disse, pegando o cantil e oferecendo à mulher. — Pode ficar.

— Obrigada, meu jovem. Só tome cuidado. Às vezes, a gente precisa lutar mais do que espera, principalmente por um grande amor — Alertou a senhora. — Pegue. — Entregando a Romeu um amuleto feito com pedra de jade.

— O que é isso? — Questionou Romeu, analisando o objeto.

— O talismã do amor. Ele brilha se a gente entregar nas mãos da pessoa que está destinada a ser nosso verdadeiro amor.

— Verdade? — Olhou novamente para o objeto, ainda sem acreditar nas palavras da senhora. — Mas... — Romeu ficou sem palavras ao perceber que Elfânia não estava mais ali.

Atrás de um arbusto, Elfânia ria do jovem Romeu analisando o talismã do amor. Uma nuvem cinza começou a cobrir o corpo da mulher e Cen apareceu em seu lugar. O feiticeiro continuou rindo da inocência de Romeu — e isso foi apenas o primeiro passo de seu plano contra Framon.

— Essa foi fácil. Eu poderia te destruir por ter ajudado a matar minha caveira, entretanto, quero destruir a família do Celdo. — Ameaçou Cen, antes de desaparecer em uma nuvem de fumaça.

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Comentários

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Adorei mano vou acompanhar, lindo o jeito que vc escreve, nota 1000

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