Naquele horario, Paolo jà deveria estar em casa. Meu coraçao se congelou na expectativa do pior e, sem pensar noutra coisa, disparei ate là.
- Ai esta voce! _ exclamou o Quin assim que me viu _ Entre agora!
Dizendo isso segurou no meu braço com força, empurrando-me para dentro da casa. A cena que presenciei foi uma imagem do pesadelo que eu mais temia: o meu Paolo com o rosto todo ferido, sentado à uma cadeira em frente a Rodolfo que o encarava com odio, girando nos dedos habeis o revolver de seu capanga.
- Paolo! _ exclamei tentando me aproximar dele, no que fui impedido por Quin _ O que fizeram com voce...
- Ele esta bem, nao esta vendo? _ disse meu irmao com desdem, voltando-se e me encarando longamente _ Achou que ia ficar se escondendo por quanto tempo, Luciano?
Nao conseguia atinar em como ele tinha me encontrado ali em Itu. Talvez tivesse colocado espioes, detetives pelas redondezas, ou o proprio Quin se encarregara disso, o que era bastante provavel.
Paolo fitava-o diretamente nos olhos, com uma ira que lhe obscurecia o belo olhar limpido. Parecia ter levado coronhadas na cabeça e murros na cara, pois escorria sangue pelo lado de seu pescoço, partindo dos cabelos, e na boca e ao redor de um dos olhos haviam marcas avermelhadas e arroxeadas; certamente foi o Quin quem fizera aquilo, pegando-o de surpresa assim que ele chegou em casa. Senti um odio visceral de meu irmao e seu capanga, por fazerem aquela crueldade com ele.
- Malditos! _ gritei, possesso.
- Fique quietinho, Luciano, quer que nos ouçam? _ sussurrou Rodolfo se erguendo e entregando a arma ao Quin; nesse momento Paolo fez um movimento, como se fosse saltar às costas de meu irmao, porem o capanga o deteve com uma coronhada que o fez cambalear segurando a cabeça,e afinal deixando-se cair meio entontecido no sofazinho da sala; Rodolfo ficou irritado _ Da proxima vez atire, Quin! Nao vai esperar que esse cachorro me morda, vai?
Aproximou-se de mim, deslizante como uma cobra, segurando meu pulso e fixando-me com seus olhos inquietos. Tentei me afastar, enojado, num desespero que me asfixiava, olhando preocupado para Paolo ameaçado com o revolver pelo capanga.
- Nao vim aqui necessariamente para matar ou ferir ninguem _ sussurrou Rodolfo afagando meu braço devagarinho _ O seu italiano, porem, veio todo cheio de valentia para cima do Quin e ele, claro, nao podia recuar... Voce nao tinha que me deixar como deixou, nao tinha que ir embora... Cheguei a ficar tres dias doente por sua causa, Luciano.
- Me deixe em paz, por favor... _ sussurrei de olhos marejados, afastando o rosto do olhar hipnotizado dele.
- Mas como, se apenas seremos felizes um ao lado do outro? _ disse ele alisando meu rosto _ Eu nao quero estar longe de voce... Eu te amo como nenhum outro vai amar.
- Tire as maos de cima dele! _ exclamou Paolo numa exasperaçao feroz.
- Calado! _ ordenou o Quin encostando a arma na testa do rapaz.
Rodolfo nao parecia ter ouvido nada disso, continuava a me fitar numa expressao compenetrada, totalmente imerso em seus devaneios absurdos. Chegou ainda mais perto, tentando me beijar, mas virei o rosto.
- Onde esta aquele afeto que voce tinha, Luciano? Onde? _ murmurou ele parecendo decepcionado _ Eu era tudo para voce... Voce me adorava, lembra?
- Pois se foi voce mesmo quem destruiu com tudo _ encarei-o com odio _ Voce! Nao sobrou nada alem de asco, desprezo e um negro rancor. Eu te odeio profundamente. Vou te odiar a minha vida inteira!
Por um comprido minuto, Rodolfo pareceu intensamente perplexo e confuso.
- Nao esta falando a verdade _ balbuciou ele, atonito, como quem desperta de um longo sonho _ Sei que nao.
- Nunca disse nada tao verdadeiro, Rodolfo.
- Voce mente! _ exclamou ele, alucinado _ Me ama desde pequeno, deixava que eu... Que eu o amasse. Isso nao acabou de repente! Nao acabou, Luciano!
- Mas voce me exige um amor que guardo apenas para um, que jamais serà para voce _ sussurrei, firme _ Nunca vou amà-lo, nunca mais terei aquele afeto de antes, nunca perdoarei todo o mal que me fez! Odeio tanto voce que tenho desejado sua morte todos os dias, desde que voltei da capital.
A impressao que tive foi a de que ele desmoronava por dentro. Um espasmo nervoso repuxou-lhe um lado do rosto, algo caracteristico de sua doença, mas seus olhos escuros perderam de subito o brilho como se aniquilados, me observando. Suas maos me soltaram devagar, tremulas, e seus ombros se curvaram sob o peso de um fardo gigantesco e inesperado. Ele abaixou o olhar, suspirou quase que imperceptivelmente e secou num gesto rude umas lagrimas que ameaçaram cair. Voltou-se para o capanga:
- Vamos embora, Quin.
O sujeito olhou-o como quem nao cre no que ouve. Parecia, alias, espantado ao ouvir as "declaraçoes amorosas" de meu irmao para mim. Entretanto, por respeito, nao altercou com o patrao. Guardou devagar a arma no coldre enquanto Paolo e eu nos olhavamos perplexos e intrigados.
Rodolfo me fitou uma ultima vez com um ar sombrio, apertou o meio do peito como se sentisse ali qualquer dor e me lançou um sorriso profundamente desamparado e infeliz.
- Adeus, Luciano _ falou baixinho, me encarando por um momento e afinal saindo num rompante porta afora, seguido pelo segurança.
Eu ainda estava imerso em espanto, duvidando de que ele desistisse assim tao facilmente e Paolo, me observando, parecia pensar o mesmo. Lembrei-me entao de que o italiano estava ferido e me adiantei, tocando-o com cuidado, indagando se o machucado doia muito. Sangrava bastante num corte no alto da cabeça.
Nesse momento, ouvimos o tiro. Praticamente no mesmo instante, o Quin invadiu nossa casa outra vez, transtornado.
- Seu irmao acabou de se suicidar _ disparou ele.
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Abraçao, gente :)
Opinem, e quem quiser me escrever :
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