Dia das Bruxas

Um conto erótico de bia
Categoria: Heterossexual
Contém 4292 palavras
Data: 07/01/2015 07:12:43

1- O baile

Muitas coisas me incomodavam naquela noite: o baile chatíssimo, a música alta demais, o salão de festas abafado e uma prima intrometida que queria saber sobre o meu namoro, que não ia bem. "Não entendo, Su! Você diz que o Fê é chato e não usa mais a aliança de compromisso que ele te deu... mas vem pro baile de Dia das Bruxas com ele a tiracolo?" Devia mandá-la cuidar da própria vida, mas ela era branquinha, baixinha, loirinha, olhos verdes amendoados e tinha uma voz infantil... e é difícil ser grosseira com alguém de aparência tão frágil. "O Fernando não é chato, Aninha; só é muito... certinho. E ficou arrasado quando eu quis um tempo. Até a mãe dele me ligou, pedindo pra reatarmos, acredita?"

Estávamos sentadas em um sofá disposto em um dos cantos do salão que ocupava o último andar do clube. Ao nosso redor e nas galerias, vampiros, zumbis, múmias e diabinhos, iluminados por luzes coloridas, andavam para lá e para cá ou se mexiam com as ensurdecedoras batidas eletrônicas. "Sua fantasia não é muito original.", provoquei-a, referindo-me à sua roupa de bruxinha: chapelão pontudo, vestido preto decotado e, em vez da tradicional vassoura, um graveto pintado de preto que, ela insistia, era a varinha mágica ("Mais eficiente que uma vassoura, e mais fácil de carregar!", nas palavras dela).

"Bom, pelo menos eu tô no tema da festa, né? Você veio de elfa! Achou que era convenção de Senhor dos Anéis?", retrucou. "Não é elfa! É duende! E duende tem a ver com bruxas... não tem?" Procurei pelo gorro verde que compunha o conjuntinho e o achei às minhas costas, enfiado nas dobras do sofá; meti-o na cabeça. "Pronto. Tô mais parecida com duende agora?" Ela reparou no vestidinho verde e justo, na meia-calça semitransparente que cobria as minhas pernas e nas botinhas verdes, de bicos pontudos e torcidos para cima, e concluiu: "Tá mais pra garota de programa de Valfenda. E pra sua informação, fantasia de duende a gente usa é no Natal." "Tanto faz.", suspirei, desanimada. "Por mim, eu estaria em casa dormindo. Só vim porque o Fernando insistiu."

Ela apoiou o queixinho no indicador, olhou para cima e mordeu o lábio inferior, como se desenvolvesse um profundo pensamento. "Hmmm... quer que eu descole um lugar irado pra gente ir?" "Não tem 'lugar irado' nesta cidade." "Talvez tenha, ora essa!... Olha! O Fê tá vindo!", ela apontou para o meu namorado que, vestido de Jason (máscara de hóquei puxada para cima, roupa puída, faca plástica na cintura), nos trazia bebidas.

Ele nos entregou os copos e se sentou conosco, recostando-se no sofá macio e passando o braço sobre os meus ombros. "Estão falando do quê?" "A Su não tá gostando daqui. Quer ir prum lugar irado.", falou a minha prima, após beber meio copo de uma só vez. "Eu não disse isso!" "Mas também não disse que não queria!" "Pra onde você quer ir, amor?", Fernando quis saber, atencioso, mesmo depois das brigas. "Ah, sei lá... Aqui todo ano é igual. Queria algo difer--", antes de eu completar a frase, Aninha me cortou: "Acabei de ter uma ideia fabulosa! Me esperem aqui!" Virou o restante da bebida, largou o copo vazio sobre o sofá e saiu em disparada para a escadaria que conduzia às galerias, segurando o chapéu à cabeça, evitando que caísse na correria. "Vê se não bebe demais pra não começar a tagarelar!", avisei, mas ela já estava longe.

Eu e Fernando nos entreolhamos. "Vamos pra sacada? Você parece com calor e, com sorte, despistamos a maluca da sua prima." Livrar-me de uma só vez da Aninha, do calor e da música irritante era uma proposta irrecusável.

2- Uma ideia inusitada

Um vento refrescante vinha a nós enquanto observávamos a cidade e a lua cheia. Fernando abraçava-me por trás, os seus braços cruzavam-se sob os meus seios, a sua virilha roçava o meu bumbum; ele respirava perto dos meus cabelos negros e sedosos, sentindo o perfume; às vezes, os lábios tocavam gentilmente a minha nuca, e eu sentia um arrepio. Ficamos assim, em silêncio, por algum tempo, até que: "Eu ainda uso a aliança, Susana. Não quero te pressionar, mas... queria que você também usasse a sua. Ela está aqui comigo." "É que eu... eu..." "Você quer mesmo jogar fora três anos de namoro e recomeçar com outra pessoa?" "Não me arrependo do nosso namoro, mas, às vezes, me sinto... estagnada... com vontade de... de coisas novas.", eu tentava expressar os meus sentimentos, mas dessa vez pesando as palavras que, eu sabia, o feriam.

Há três semanas, eu me abrira para ele, mas raivosamente: atirara a aliança no chão e jurara que não a usaria de novo até estar certa sobre continuar a nossa relação. Foi uma cena terrível, cuja lembrança ainda nos machucava. Mas o tempo age sobre tudo e, com o correr dos dias, a cólera passou, o arrependimento acalmou o coração e nos reaproximamos. Contudo, não me esquecia da mesmice na qual o namoro caíra no último ano.

Mas ali, juntinhos na sacada, longe da perturbação do salão de festas, ele colocou a mão sobre a minha, deslizou o dedo sobre o meu anular, onde a aliança deveria estar, e apertou um pouquinho os braços em torno de mim, demonstrando que não me deixaria escapar facilmente. "E você acha que se nos afastarmos, iss--" "Eu não disse pra esperarem perto do sofá? Que droga! Tô procurando há um tempão!", a vozinha esganiçada da minha prima doía aos ouvidos. Ela puxava pela mão um rapaz de terno roxo, rosto pintado de branco, cabelos pintados de verde e boca borrada de batom. "Gente, esse é o Borges!" Acostumados com a sua falta de educação - e vendo que trazia consigo outro copo -, não ficamos (muito) bravos com a interrupção, e cumprimentamos o moço.

"Su, comentei com o Borges que a gente tá achando a festa um saco e... bom... pensei na gente ir prum lugar sinistro de verdade neste Dia das Bruxas! Que tal?" Nada respondi, confusa. Ela continuou: "O Borges conhece uns locais de arrepiar os cabelos! Ele é macumbeiro, sabe?", a última frase foi dita baixinho, apesar de o rapaz estar bem ao nosso lado. "Sou umbandista, não macumbeiro.", explicou, mas duvido que ela diferenciasse entre uma e outra coisa. "E onde seria isso, Aninha?", perguntei, curiosa sobre o que a piradinha planejava. "Um cemitério, claro! Querem coisa mais 'Dia das Bruxas' que isso? O Borges faz 'trabalhos' lá e conhece os vigias!" Eu e Fernando rimos. "Você perdeu completamente o juízo, prima! Melhor parar de beber.", e tirei o copo da sua mão.

"Bem, eu disse que seus amigos não iam topar... melhor eu voltar pra galeria, então. Foi um prazer!", o rapaz ia saindo, mas Fernando o reteve. "Espera. A gente só achou a ideia meio... inusitada. Mas podemos considerar, né, Susana?" "Considerar? Desde quando consideramos algo que essa doidinha diz?" "Ei! Não fala assim! Me respeita, viu?", protestou, tentando reaver o copo. Fernando deu de ombros. "Podemos tentar. Você não diz que estamos estagnados? Que nos faltam coisas novas?" "Quer dizer que isso é uma reação ao que falávamos? Invadir cemitério é realmente do que nosso namoro precisa?", questionei, agora sem achar graça.

Fernando me pegou pela mão e nos afastamos dos dois. "Você acha que vamos nos entender seguindo a cabeça da minha prima bêbada? Jura?", fui logo dizendo. "Quem sabe não seja dumas loucuras assim que a gente precisa? Quero que nosso namoro funcione, Susana. A gente passeia por lá, sente um friozinho na barriga... faz alguma safadeza.", discretamente, alisou o meu bumbum redondinho, bem delineado no tecido. Cruzei os braços, esfreguei a botinha no chão, indecisa. "Se não for gostoso, a gente vai embora... mas vamos tentar, por favor. Eu já não sei mais o que fazer.", e encostou a sua testa na minha. Três anos se passaram pela minha cabeça... eu nunca vira Fernando tão... humilde. E não queria ser acusada de não ter me esforçado o bastante para que desse certo entre nós. "Ai, ai... tudo bem. Vamos."

3- Mudança de planos

Eram duas horas da madrugada e íamos para o cemitério. Fernando dirigia, eu ao seu lado; no banco de trás, Borges estava calado e Aninha, que ultrapassara o limite no álcool, falava pelos cotovelos. "Vocês acham que a gente vai ver algum... como chama, mesmo? Um Exu? Ou uma alma penada? A lua tá cheia! Lobisomem mora em cemitério?" Paramos perto da entrada, Borges desceu do carro e foi à guarita; retornou pouco depois. "Deu merda. Os vigias trocaram os turnos. Não conheço esse daí." "Vamos pra outro, então, uê! Ou você só faz macumba aqui?", perguntou Aninha, inacreditavelmente indiscreta. "Então agora o plano é ir de cemitério em cemitério, procurando um vigia que o Coringa aí conheça? Que 'irado', hem, prima?"

Ela então cochichou para o amigo (imaginei que lhe prometia "algo" se conseguisse tornar a noite amedrontadora), que pensou um pouco e sugeriu: "Bem, posso levar vocês prum local assustador de verdade. Só que a energia lá é bastante negativa. Se preferirem, a gente vai amanhã, durante o dia." "Mas de dia não tem graça! Diz pro Fê onde é, que a gente vai agora!", animou-se Aninha. Borges orientou Fernando a ir para um bairro na periferia da cidade. "Não sabia que tinha cemitério lá.", comentou o meu namorado, ligando o carro. "Não é um cemitério. É uma casa." "Uma casa assombrada? Mas isso é ainda melhor!", Aninha bateu palminhas, empolgada.

Quarenta minutos depois, longe do centro, passávamos por ruazinhas esburacadas, mal iluminadas e praticamente desertas; as habitações eram precárias e muitas pareciam abandonadas. "Como se chama mesmo o bairro, Borges?", perguntou Fernando. "Rosário." "Hmmm... Rosário? Acho que sei que casa é essa pra onde a gente tá indo... foi lá que aquele pessoal sumiu?" "Lá, mesmo." "Que casa? Que pessoal?", perguntei.

Fernando então contou sobre o desaparecimento das duas últimas famílias que moraram na tal casa: deixaram para trás dinheiro, móveis, roupas... sumiram de um dia para o outro, nunca mais sendo vistas. Isso acontecera há décadas e, desde então, ninguém mais teve coragem de morar lá. Aninha arregalou os olhos, mas eu não me impressionei. "Esse povo inventa cada besteira. Estou surpresa por você acreditar nisso, Fernando." "Só repeti o que me contaram." "E se a gente entrar lá e sumir também, Su? Ai, meu Deus!", Aninha levava um dedinho à boca e mordia a pontinha da unha, tirando um pedacinho do esmalte negro. "Você não queria uma noite assustadora?" "Assustadora, sim; mas não perigosa!".

4- A casa assombrada

Descemos do carro: uma bruxinha, um duende, Coringa e Jason, que trocara a faca de plástico por uma lanterna que ficava no porta-luvas. À nossa frente, uma casa de dois andares, ladeada por terrenos baldios; as janelas estavam vedadas com tábuas pregadas pelo lado de dentro e a porta principal era bastante robusta. A lua irradiava uma luz fantasmagórica e deixava o cenário horripilante. "Vamos ser presos por invasão de propriedade.", comentei. "Deve ter mendigos aí dentro.", cogitou Fernando. "Tô nem aí pra mendigo. Olha esse lugar! Aí tem é fantasma, isso sim! Ou então um vampiro! Deve ter vampiro no porão! Ele que pegou quem morava aí antes!", falou Aninha, como se solucionasse o sumiço das famílias. Borges passou o braço em torno dela, fingindo acalmá-la, mas, na verdade, aproveitava para olhar dentro do seu decote enquanto íamos para a porta.

"Vamos arrombar?", ele perguntou. "Não acredito que estamos fazendo isso.", confessei. Fernando mexeu na maçaneta e, para a nossa surpresa, a porta se abriu. Lá dentro, escuridão. Depois de nos certificarmos de que ninguém nos observava, Fernando ligou a lanterna e entramos na casa, fechando a porta atrás de nós para não levantarmos suspeitas, apesar de não termos visto vivalma no bairro. Estávamos em uma sala enorme e silenciosa, e o feixe de luz revelava papéis de parede parcialmente despregados, pichações, móveis e quadros quebrados, sofás rasgados e muitas, muitas teias de aranha.

Exploramos alguns cômodos. Por mais que tentássemos ser silenciosos, os saltinhos que eu e a minha prima usávamos faziam um ploc-ploc-ploc que, naquela quietude, incomodavam. Eventualmente, algo se arrastava pelo chão e escapava da lanterna; segundo o Borges, eram ratazanas. "Isso não é assustador; é nojento.", e qualquer pessoa sã concordaria comigo, se ali estivesse.

Na cozinha, a única coisa intacta era um crucifixo de latão pregado na parede; até a antiga pia de mármore fora despedaçada. "Você faz 'trabalhos' aqui, cara?", Fernando indagou. "Aqui dentro, não. Deixamos oferendas no quintal dos fundos ou na encruzilhada, no fim da rua." Um vento frio, vindo de Deus-sabe-onde, fez um papel ir de um lado para o outro no piso, nos dando um susto. "O que é aquilo?", a voz da Aninha era tão tênue quanto a corrente de ar. "Receita de bolo é que não é.", e peguei a folha, amarelada e envelhecida. Sob a luz da lanterna, vimos um estranho desenho: uma coruja, de olhos esbugalhados e garras afiadas, aos pés de um homem com chifres e feições caprinas; ambos nos encaravam. "Que porra é essa?", Fernando perturbou-se; também experimentei um mal-estar.

De repente, Aninha segurou o meu braço. "Ouviu isso, Su? Ai, meu Jesus!" "Não ouvi nada. O que foi?" "Tem voz vind--", ela começou a falar, mas foi interrompida pelo Fernando: "Tem alguém no andar de cima. Também ouvi. Vou ver quem é. Fica aqui com as meninas, Borges." "Você não vai lá, Fernando! A gente vai é embora!", mas ele, querendo se mostrar corajoso, não me deu ouvidos e, levando consigo a lanterna, nos deixou na cozinha.

De onde estávamos, não enxergávamos Fernando, mas ouvíamos os seus passos pela sala, subindo os degraus de madeira, que rangiam, e finalmente, sobre as nossas cabeças, quando alcançou o segundo andar. "Sobe também, Borges!", pedi, olhando para o teto escuro como breu. Aninha se agarrou ao amigo. "Não! Fica aqui! Não sai de perto de mim!" Pensar que o meu namorado poderia enfrentar alguém hostil, sem ajuda, me afligia. "Se o Fernando se machucar, eu te mato!" "Vir aqui foi ideia do Borges, não minha, Su!" "Quê? Foi você que me cham--" Um baque no andar de cima nos emudeceu. Pela primeira vez na noite, me apavorei.

5- Terror

"Fernando! Fernando, o que houve aí em cima? Fernando!", gritei, a voz perturbando as paredes acostumadas ao silêncio. "Vambora agora!", berrou Aninha, puxando Borges pelo braço, apesar de, sem a lanterna, estarmos praticamente cegos. "Não! Ninguém sai daqui sem o Fernando! Vamos subir os três atrás dele!", determinei. "Eu não vou, Su!" "Vai sim, sua tonta! Isso é culpa sua e você vai!" "Não vou! Não quero ir!" "Prestem atenção, as duas! Eu vou, mas se eu demorar mais de dez minutos, peçam ajuda nalguma casa próxima." Usando a iluminação do celular, Borges fez o mesmo trajeto que Fernando, com a lanterna, percorrera há pouco, e subiu a escada, pé-ante-pé.

Eu e Aninha nos abraçamos, na cozinha. "A gente vai morrer aqui, não vai, prima? Olha, se a gente morrer... eu não fiz por mal, tá? Cê sabe disso, né?" "Calaboca, pelo amor de Deus!" As suas mãozinhas pálidas tremiam e o seu hálito de quem bebera além da conta me alcançava. Havia sido um tremendo engano termos aceitado as sugestões de uma garota tão desajuizada. "Se eles não voltarem logo, ligamos pra polícia.", afirmei. "Meu celular tá quebrado. O seu taí, Su?" "Ai, droga! Ficou no carro, na bolsa." Borges, no andar superior, chamou pelo meu namorado: uma, duas, três vezes. E então... um novo barulho, tão forte quanto o primeiro.

Aninha se descontrolou: gritando e esbarrando em tudo que é coisa, correu da cozinha e atravessou a sala como uma flecha, batendo de encontro à porta de entrada, girando a maçaneta e esmurrando a madeira. "Essa droga não abre! A gente tá presa aqui!" Receosa de correr no escuro, segui lentamente até ela, abracei-a e implorei que se acalmasse. "O que a gente vai fazer, Su?" "Vamos subir e ver o que houve com os dois. Vem!", peguei-a pelo braço e fui puxando-a até onde eu me lembrava que ficava a escada, porque não víamos nada. "Me solta! Me solta! Não vou subir!" "Claro que vai! Não tem saída pela porta nem pelas janelas, os celulares não estão aqui e, por mais que grite, ninguém vai ouvir. Então a gente sobe e ponto final!", falei firmemente, criando coragem, sem largá-la. Ao se ver nos degraus, em completas trevas, a coitadinha perdeu a voz.

No segundo andar, estiquei lateralmente os braços e toquei em paredes: estávamos em um corredor estreito. Chamei pelos rapazes e não obtive resposta; Aninha seguia caladinha atrás de mim. Adiante, encontrei portas, mas não consegui abri-las. "Su, a gente vai sumir igual o povo que morou aqui." Assim que completou a frase, uma porta se abriu atrás de nós. Aos gritos, Aninha foi puxada para o cômodo e a porta se fechou com um estrondo... e então foi a minha vez de entrar em desespero, sem saber se fugia ou se tentava resgatar a minha prima... mas, no instante seguinte, eu mesma fui segura por trás e puxada para outro quarto.

Eu me debatia inutilmente. Posta de frente para a parede, alguém me imobilizava, pressionando as minhas costas e bumbum de tal forma que o vestidinho se erguia. Lancei os braços para trás, tentando atingir quem me dominava, mas fui contida, e ouvi: "Viu como tento deixar as coisas diferentes?" Antes que eu pudesse raciocinar, uma lanterna se acendeu junto à porta: Borges e Aninha direcionavam a luz para si próprios: ele sorria, ela gargalhava. Fernando, atrás de mim, afastou-se, rindo também. "Que susto te demos, hem, prima?"

6- Bons amigos

"Susto? Vocês querem é me matar do coração!", empurrei Fernando e arrumei o vestidinho, porque um pedacinho da calcinha aparecia - ainda que coberta pela meia-calça -, e Borges, safado, olhou na mesma hora. "Foi ideia minha! O que você achou? Bem inteligente, né?", Aninha se vangloriava, risonha, mexendo a lanterna a esmo e criando sombras pelo quarto. "Só podia ter vindo dessa cabeça perturbada, mesmo! E você aceitou participar, Fernando?", brava. "Queria te mostrar que não sou 'certinho', que podemos fazer coisas malucas juntos.", em tom de desculpas. Eu não sabia se ficava nervosa, aliviada ou se ria da troça... fiquei com a segunda opção. "Nossa, vocês são uns doidos! E você, sua baixinha, devia ganhar um Oscar de melhor atriz!"

Borges se manteve a alguns passos de distância; Aninha e Fernando se acercaram de mim. "Esse Dia das Bruxas foi ou não inesquecível?", ela me cutucava. O meu namorado, reparando que eu reagira bem à brincadeira, me deu um beijo no rosto e afagou os meus cabelos. "Certo, certo... mas, agora que já se divertiram às minhas custas, podemos ir?" Aninha me puxou para o cantinho. "Você e o Fê não querem passear pela casa, hem?" "É claro que não! O que tem pra se ver aqui?", sem entender. "É que... hmmm... aqui é discreto e... hmmm... eu queria namorar um tiquinho antes de ir embora. Você não liga, né? É rapidinho! É que o Borges é bonitinho, hehehe!" Ainda que aborrecida, concordei - porque Aninha nunca mudava de ideia sobre nada - e, deixando a lanterna com o meu namorado, ela e o rapaz foram para o escurinho do outro quarto.

A sós, Fernando me disse, embaraçado: "Espero que não rompa de vez comigo depois dessa." Apesar de não ter achado a armação particularmente engraçada, não podia negar que as intenções do trio foram boas: queriam animar o meu Dia das Bruxas, e Fernando aproveitara a chance para provar que podia me surpreender. A maioria dos amigos e namorados não se daria a esse trabalho.

Iluminada pela lanterna que ele segurava, estendi a mão. "Me dá aqui." "O quê?" "Minha aliança. Você disse que estava com ela." O seu sorriso foi tão bonito e sincero que evaporou qualquer sensação ruim que restasse. Ele colocou a aliança em mim, nos beijamos, e naquele momento eu sabia responder à pergunta que me fizera na sacada do clube: "Não. Eu não jogaria fora três anos de namoro." Estendi a mão novamente. "Me dá aqui." "Acabei de entregar!" Apontei para o zíper da sua calça. "Não se faça de bobo."

7- A união dos sentidos

Ele riu, mas percebendo que eu realmente queria "fazer as pazes", mostrou-se para mim. Eu o envolvi com os dedos delicados e comecei a massageá-lo. Fernando me encostou na parede e me beijou longamente: lábios se tocaram, línguas se envolveram e eu sentia o seu prazer à medida que ele crescia, inchava, endurecia na minha mão. A lanterna caiu no chão empoeirado. Ele abaixou o meu decote e abocanhou um dos seios; com a outra mão, subiu o vestidinho e apertou o meu bumbum, abrindo-o e fazendo a calcinha entrar mais. No quarto ao lado, Borges gemia, mas não ouvimos a Aninha: ela provavelmente tinha a boca ocupada.

Com os meus carinhos, ele logo ficou duro, e Fernando esfregou-se nas minhas coxas, ainda cobertas pela meia-calça. "Tira.", pediu, afobado, afastando a boca do mamilo. Tirei a meia-calça e a calcinha. "Não podemos demorar. Daqui a pouco, voltam." "Vou ser rápido." Segurou a minha cintura, posicionou-se entre as minhas pernas e me apoiei nos seus ombros. Ele forçou o corpo contra o meu e penetrou. Gememos juntos: eu, confiante que ainda tínhamos histórias para contar; ele, tomando posse do que não admitia perder.

Sentindo-se totalmente dentro, Fernando apertou a minha cintura. Cravei as unhas nos seus ombros cobertos pela camisa e ele começou a enfiar com firmeza e rapidez, flexionando os joelhos, fazendo os meus pezinhos se erguerem do chão e as minhas costas e bumbum se esfregarem na parede. Pressionei as coxas contra o seu corpo, a sua boca mergulhou no meu pescoço e os chupões quentes e úmidos me deliciavam. Os movimentos se intensificaram, vigorosos, o som do sexo preencheu o quarto, as minhas unhas compridas rasgaram o tecido da sua camisa. Entranhado, o seu corpo ia de encontro ao meu como se pudéssemos nos fundir. Entre gemidos, ele me pediu para abrir mais as pernas, e eu atendi: queria recebê-lo todo.

Ele me beijou uma última vez: devoramos os lábios um do outro, sentimo-nos um no outro; a cumplicidade era total: não havia pensamentos, preocupações e inseguranças; não havia Aninha, Borges, casa, nada: éramos apenas nós, sem máscaras, arrependimentos e decepções, e tão juntos que parecíamos um só. Os nossos olhares se encontravam, perfumes se confundiam, sentíamos e ouvíamos as mesmas coisas; uma boca saboreava a outra boca, e era o suficiente. E a longa madrugada - que se estendera de um baile até uma casa assombrada - terminou em um gozo que me preencheu totalmente, em vários sentidos.

8- Volta para casa

"E então? Como estou?", perguntei, ao terminar de me arrumar. "Definitivamente, é a mais linda das elfas.", Fernando apontava a lanterna para mim. "Vira isso pra lá! Hehehe! E não sou elfa. Sou duende!" "É elfa. Duendes são nanicos iguais sua prima." "Eu disse que era roupa de elfa! E nanica é a vovozinha!", Aninha entrou, os lábios avermelhados indicavam que tinha chupado Borges, que vinha logo atrás, com uma expressão relaxada e a maquiagem de Coringa borrada. Eu a avisei que o seu decote estava desalinhado, e ela o ajeitou. "Culpa desse macumbeiro tarado! Vamos, agora?" Depois de presenteado com um boquete, Borges não ligou de ser chamado de macumbeiro, e assim nós quatro descemos as escadas, atravessamos a sala - incomodando uma última vez as aranhas e ratazanas - e retornamos para o carro.

Não havia mais tensão: o "plano" da Aninha funcionara, os rapazes estavam "aliviados" (até o lacônico Borges estava mais conversador), e a aliança, que antes me exasperava, tornava-se agradável de se usar. "Reconheço que vocês ensaiaram direitinho e me enganaram, mas bem que poderiam ter caprichado mais na historinha da casa. Isso de famílias desaparecidas não colou." "Hmmm... na verdade, o pessoal sumiu, sim.", Borges disse. "É, isso a gente não inventou. Mas o Fê examinou a casa todinha antes de te levar lá, Su. Não tinha perigo. Pessoal deve ter ficado sem dinheiro pro aluguel e fugiu, hehehe!", Aninha supôs, e deu um empurrãozinho no Borges, que furtivamente escorregava a mão para as suas pernas, por baixo do vestido.

Deixamos Borges em casa. Aninha pediu para dormir comigo, porque a sua mãe não podia vê-la chegar tão tarde e, para piorar, bêbada. Como mantínhamos um quartinho reservado para ela - que costumeiramente aprontava e se refugiava conosco em seguida -, não fui pega desprevenida. Meia hora depois, Fernando, sonolento, me acarinhou o rosto e se despediu; o carro vagarosamente se distanciou. "Hmmm! Animei o Dia das Bruxas e, de quebra, consertei o namoro, hem? Tá de aliança e tudo!", alegrou-se a bruxinha, e jogou na calçada a sua varinha mágica. "Não preciso mais disso. Ano que vem, faço outra."

Abri a bolsa para pegar as chaves, mas encontrei algo mais. "Achei que tivesse deixado na cozinha esse desenho horroroso que fizeram. Você o colocou aqui?" "Não. E não foi a gente que fez isso." "Hmmm... Fernando deve ter posto aqui, então. Amanhã vejo com ele." Guardei o papel e entramos. Os meus pais dormiam e Kendra, a cachorrinha que, qualquer que fosse o horário, me recebia abanando o rabinho, permaneceu quieta na caminha. Aninha fez um carinho na cabeça dela, que mal se moveu. Não dei atenção: não tardaria a amanhecer e estávamos exaustas. Depois de um banho, vestimos roupas confortáveis e dormimos um sono pesado, sem imaginar que o surgimento daquele desenho na minha bolsa seria apenas o primeiro de muitos fatos insólitos que aconteceriam depois da nossa visita àquela casa...

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Comentários

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Adorei o conto. Apesar de ter lido ele apenas agora, quase 10 anos após ter sido escrito. Sempre me amarrei num terror, e vc conseguiu criar um bom suspense na casa...

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Estou esperando ansioso a continuação há mais de 3 anos, não não deixe curiosos e acabe as histórias

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