Estávamos no intervalo da faculdade.
Leticia e eu fazíamos o curso de Direito.
- Acalme-se Gabriel. - pediu ela.
Sorri.
- Eu estou calmo Leticia. - Falei.
Eu estava calmo. Não estava ...?
Aquele ridículo me tirava do sério.
- Mateus é ridículo - conclui.
Ela assentiu.
Nos odiavamos desde o primeiro dia em que nos vimos, isso a uns 6 meses atrás.
- Acho que ele ainda não percebeu que essas brincadeiras não tem graça - disse ela.
Desde quando descobriu que eu era gay, meses atrás, tem feito piadas de mal gosto.
Eu nao ligo. Sério. Mas ele era insuportavel.
- Ele deveria ter medo de você - disse ela.
Ela sempre dizia isso.
Ela achava que meu sobrenome causava medo nas pessoas. Menos no Mateus, claro.
Gabriel Goddoi, meu nome.
Meus pais eram donos de uma empresa de remédios farmaceuticos, que tinha o nosso sobrenome como nome.
- Esquece ele - Falei.
O intervalo acabou rapidamente e fomos em a sala.
Estudavamos em uma Universidade particular muito prestigiada.
A aula correu tranquilamente até que finalmente acabou.
Eu havia ido de carro para a faculdade, e daria uma carona para a Leticia, até que descobri que ela não iria embora comigo.
- Preciso conversar com o Felipe. - disse ela - Acho que vamos nos acertar.
Fiz cara de desdém.
- Espero.
Nos despedimos e fui em direção ao estacionamento.
No caminho, encontrei com o Mateus.
Respirei fundo e continuei andando normalmente.
- A senhora já está indo embora? - perguntou.
Eu ia continuar andando até que ele correu e colocou-se na minha frente.
O Mateus era maior que eu. Meus olhos foram na direção dos seus.
- Sai da minha frente. - Falei.
- Não.
Ele era moreno e tinha cabelos pretos cortados a maquina.
Ele era forte, malhava e praticava alguma luta que eu não fazia idéia.
Tinha uma barba por fazer.
- Mateus eu não estou brincando.
Ele sorriu sinicamente.
- Está com medo de mim? - riu.
Tentei passar, mas ele me interrompeu.
Eu poderia tentar brigar com ele. Meu pai havia me colocado nessas aulas de defesa corporal.
O problema era que eu era pequeno demais.
Provavelmente perderia a briga.
- Vai fazer o que Goddoi?
- Ele nada, mas eu vou! - ouvi uma voz atrás de mim.
Olhei para trás e o vi.
Ele era alto e estava todo de branco, devia fazer medicina ou odontologia.
- Qual foi cara? - perguntou Mateus.
- Deixa ele passar. - ele se aproximou.
Ele era branco, quase da minha cor. Era forte, como o Mateus e também tinha uma barba por fazer.
- Nós estamos conversando. - disse o Mateus sinicamente.
Ri sarcasticamente para ele.
- Conversando?
- Vai deixar ele passar ou não?
Diferente de mim, esse garoto era do tamanho do Mateus. Poderia brigar com ele.
Mas eu não queria briga. Não agora.
Mateus abriu passagem para mim.
Depois saiu, visivelmente nervoso.
Me virei para o garoto.
- Obrigado - Falei.
- Nao foi nada - Falou - Qual o problema dele?
- Nao sei - pausa - Qual seu nome?
- Victor .. - ele sorriu - Gabriel não é?
- Isso - sorri - Mas uma vez obrigado, nem sei como agradecer.
- Uma bebida talvez.
- Que? - eu nao havia entendido.
Ele sorriu. Sorriso lindo, por sinal.
- Cerveja, refrigerante, aceita tomar alguma coisa ..?
Eu mal o conhecia. Mas ele havia me ajudado e eu devia isso a ele.
- Ok. - Falei - Estou de carro ... - Falei apontando para ele.
Ele assentiu.
- Eu também estou de carro. - Falou - Que tal você ir na frente e eu vou atrás.
Juro que senti duplo sentido nessa frase.
- E onde vamos?
Ele sugeriu um bar que eu conhecia.
Nos despedimos e fui, com ele atrás de mim.
Ele, estranhamente, chegou primeiro que eu.
Victor estava sentado e se levantou ao me ver.
Nos sentamos e o garçom veio fazer o pedido.
Pedi uma água mesmo. Não queira beber.
Ele pediu uma cerveja.
- Você faz medicina?
Ele assentiu
- Você Direito né?
- Sim ... - pausa - Como sabe?
Ele deu de ombros.
- Todo mundo te conhece naquela faculdade.
Sorri.
- HVocê namora? - perguntou, logo depois tomou um pouco da sua cerveja.
- Nao, e vc? - perguntei curioso.
Ele fez que não com a cabeça.
- Está gostando do curso? - perguntou ele.
- Estou - Falei - Meu pai insistiu para que eu fizesse. Mas não me arrependo.
- Seu pai ..?
- Sim, ele também fez Direito. Na mesma faculdade. - bebi minha água - Disse que era um ótimo curso. Conversamos muito sobre isso.
Ele assentiu.
- Mas ele não trabalha com Direito, não é? Ele trabalha na empresa de vocês ...
Olhei curioso pra ele.
- Como você sa...
- Desculpa, eu leio muitos jornais ... - ele sorriu - Seu pai sempre sai em algum deles.
Assenti. Ele sabia muito sobre mim.
Decidi inverter a situação.
- E sua família?
Ele me olhou.
- O que tem? - sorriu.
Bebi minha água olhando para ele.
- Você mora com eles? Tem irmãos .. Tem alguma empresa? Você sabe tanto sobre mim, quero saber sobre você. - Falei.
Ele sorriu sem graça.
- Meus pais morreram.
Fiquei muito surpreso. Muito mesmo, tanto que ele continuou :
- Nao, não se preocupe ... - sorriu.
- Foi mal - Falei - Eu nao ..
- Tudo bem - Falou - Faz muito tempo. Foi em um acidente.
Assenti.
- Eu sinto muito.
Ele sorriu.
- Você vive com quem?
Ele hesitou.
- Sozinho.
Não quis insitir.
Conversamos por mais alguns minutos até que Falei que precisava ir.
Ele foi comigo até meu carro e nos despedimos.
Fui para casa pensando nele. Era tão misterioso ...
Na noite seguinte eu estava no banheiro da faculdade.
No meio da aula me senti meio mal e fui lavar meu rosto.
De repente a porta do banheiro se abre.
Sim. Era ele.
Antes que pudessemos começar a discussão Falei :
- Nao quero brigar hoje - Falei me apoiando na pia - Tô passando mal.
Ele me olhou.
- Eu também não quero brigar - Falou - O que você tem?
Demorei um pouco para responder.
- Estou meio tanto ...
- Ah, então você está normal .. - ele riu e depois viu que eu realmente não estava bem - Foi mal.
Revirei os olhos.
- Palhaço.
- Quer que te leve até a enfermaria?
Fiz que não com a cabeça.
- Acho que foi, porque eu não comi.
Me levantei.
- Vou até a cantina.
- Eu vou com você.
Parei e olhei para ele.
- Que foi? - ele perguntou.
- Não precisa - Falei.
- Eu quero ir.
- Mas não precisa Mateus.
Ele suspirou.
- Eu vou Gabriel Goddoi.
Dei as costas para ele e fui em direção a cantina. Não olhei para trás, mas senti que ele estava atrás de mim.
Cheguei na lanchonete e pedi um sanduíche e um suco.
Me sentei e o Mateus sentou-se, na mesma mesa que eu.
- Cadê seu segurança?
Eu sabia a quem ele se referia.
- Está de folga hoje. - Falei, logo depois mordi meu sanduíche.
Ele riu sarcasticamente.
- Pensei que ele ...
- Se foi pra me encher o saco porque veio? - perguntei - Nao quero brigar.
Ele assentiu.
Apoiou as mãos na mesa e me olhou.
- Qual é o nome dele?
Olhei-o surpreso.
- Porque quer saber? - sorri - Te interessou?
Ele voltou para trás. Apoiando as costas na cadeira.
- Sai fora! Sou homem. - Falou - Hetero! Só achei ele estranho ...
- Hum .. Sei - Falei rindo - Victor.
- Nao perguntou nem o sobrenome?
- Nao! Porque perguntaria?
- Pra saber de onde ele vem .. O que faz .. - ele fez uma pausa - Nunca se sabe.
- Nao sou eu que está interessado nele. - Falei.
Mateus bufou.
- Sai fora Gabriel.
- Já sai .. - Falei bebendo meu suco. Olhei para ele. - O que está acontecendo aqui?
- Que?
- O que está acontecendo aqui? Nós dois conversando, quase civilizadamente.
Ele ficou quieto e me olhou sem graça.
- Eu ia te pedir desculpa.
Eu engasguei com o suco que estava bebendo.
Tossi algumas vezes.
- Oi?
- Foi isso que você ouviu - Falou - Nao vou dizer de novo.
- Desculpa pelo o que?
Ele deu de ombros.
- Pelo o que eu disse ...
- Eu acho que quem está passando mal aqui é você. - Falei.
Ele suspirou.
Para provoca-lo Falei :
- Tem certeza que não quer o Victor.
Ele fechou os olhos.
- Cala essa bocadisse - Puta que pariu! Tô tentando conversar com você de boa.
- Tá bom - Falei - Mas e essa cisma com o Victor .. Tem fundamento?
Ele pensou.
- Só achei ele estranho .. Nao sei. Você não achou?
Pensei a respeito.
Antes que eu pudesse responder Victor apareceu ao nosso lado, como se estivesse ali a todo momento.
Ele olhava para mim.
- Você acha isso Gabriel? - perguntouEi gente, devo continuar?? Comentem por favor.