A cidade do céu amarelo - Capitulo 4 (penultimo)

Um conto erótico de Jader Scrind
Categoria: Homossexual
Contém 3874 palavras
Data: 26/02/2015 00:22:48
Última revisão: 26/02/2015 00:26:17
Assuntos: Gay, Homossexual

OI PESSOAL, EU FIQUEI MUITO FELIZ COM OS COMENTARIOS QUE ESTOU RECEBENDO NA HISTORIA, AGRADEÇO DEMAIS POR ISSO GENTE, OBRIGADO MESMO. NA VERDADE TODOS OS CAPITULOS JA ESTAVAM ESCRITOS QUANDO EU PUS O PRIMEIRO CAPITULO PORQUE TAVA COM MEDO DE COMEÇAR A POSTAR E NAO CONSEGUIR TERMINAR A HISTORIA AI IA FICAR PELA METADE, MAS MESMO ASSIM ACHO QUE NINGUEM VAI FICAR DECEPCIONADO COM O CAMINHO QUE A SERIE VAI SEGUIR... ENFIM, BOA LEITURA A TODOS!

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Daquela vez André não conseguiu resistir, não teria nem como, suas forças não iam tão longe, e no banho, ele não pensou duas vezes, não pensou sequer uma vez, enquanto segurava seu pau pela base, a mão direita massageando lentamente, a mesma mão que há pouco estava no corpo de Júlio, subindo pela coxa de Júlio, acariciando a bunda de Júlio, e a cabeça do seu pau duro brilhava embaixo da água gelada enquanto André de olhos fechados imaginava-se metendo naquela bunda, naquela bunda linda. Droga, era um rapaz encantador, aquele skatista, era um rapaz para muito mais que uma foda e a sua mão esquerda André fingiu que era a mão de Júlio, como ele reagiria se transassem, passando pela sua barriga, seu peito, seus braços, vira que Júlio havia olhado pro seu corpo, havia gostado do que viu. Gostava de pensar que ele estava pensando em André agora, talvez batendo uma pensando nele também, mas sabia que isso não estava acontecendo, ele e Daniel estavam matando a saudade, e André gostaria naquele momento de ser o irmão, de ter sido ele quem foi embora primeiro daquela cidade, quem não teve medo de puxar assunto com o skatista mais lindo da cidade, e estaria sendo ele agora quem mataria a saudade de Júlio, beijaria sem fim a boca de Júlio, morderia a carne macia de Júlio, devoraria a bunda de Júlio, fera, que apertado que deve ser aquele cuzinho, seu pau babava ao pensar, que lindo que deve ser aquele moleque todo suado de tanto trepar, será que ele conseguia duas seguidas? Três? Será que ele também imploraria gritando para André comê-lo? Ah, ele comeria, se Júlio gritasse daquele jeito ele comeria, com toda a força, com toda a violência, esfolaria aquele cuzinho, faria com que Júlio nunca mais se esquecesse dele... ah... e gozaria, gozaria lá no fundo dele, até o último traço de porra iria para dentro dele, e não como agora a porra estava indo toda contra a parede do banheiro, farta, grossa, branca, gozou por aquele rapaz mas não queria ficar só na imaginação, queria gozar nele de verdade, e faria, se ele não fosse namorado do seu irmão.

Já nem pensava se isso fazia de André gay ou não, preferiu aceitar que era homem, que era macho, mas estava sentindo tesão num outro homem, sem rótulos fáceis, sem definições. Apenas tesão.

Enquanto seu corpo se recuperava do orgasmo, levantou a cabeça e se deixou lavar pela água morna.

***

No quarto do fim do corredor, Daniel observava atento e prestativo enquanto Júlio retirava a atadura sobre sua coxa, feita da bermuda de André, e enquanto isso explicava que ontem a tarde estava tirando algumas fotos da cidade, principalmente dos pássaros sobre os fios de energia, que ficavam muito mais bonitos sobre o fundo amarelo do céu daquela cidade, e também tirava fotos de alguns moradores que passavam, de alguns lugares e paisagens imaginando que não podia ser perigoso estar assim no meio do dia, não iriam ataca-lo na frente dos moradores no centro da cidade, mas estava enganado, por incrível que pareça, no entardecer, Maicon chegou tocando-lhe o braço e estragando um enquadramento que ele estava tentando armar, e Júlio lembrava dele, havia pedido informação a ele quando chegara na cidade, por isso não estranhou que tivesse vindo dizer alguma coisa, mas Maicon só disse – Tu vai pagar cara, seu viadinho – e lhe acertou um soco na cara que o derrubou na hora, e as pessoas que passaram viram, claro que viram a cena, mas continuavam andando enquanto Maicon o empurrava para a direção da mata, espantando os pássaros das árvores, e em algum momento, não conseguia precisar quando, uma pedra bateu na cabeça de Júlio e ele desmaiou, acordando só bem depois, a noite já, sem roupa nenhuma, sem a câmera nem a carteira, enquanto eles terminavam de amarra-lo a uma árvore e Daniel não podia acreditar que chegava a esse ponto a fúria do pessoal dessa cidade, já podia imaginar o que eles planejavam para aquela noite, como Júlio também imaginava, ou melhor, Júlio sabia, sabia o que aconteceria se André não aparecesse, e que foi graças a ele que conseguiu sair dali ileso, mas ainda estava sem roupas, por isso vestia apenas a camisa de André, que ele lhe cedeu, e Daniel não tinha motivos para duvidar, mais do que ninguém ele sabia da heterossexualidade do irmão e que não havia sequer uma razão para sentir ciúmes disso, por isso deixou que Júlio terminasse a história e explicasse que passaram a noite toda escondidos porque sabiam que Maicon estaria a espera deles.

– E falando em Maicon, eu preciso ir na delegacia prestar queixa contra ele e aqueles seus amigos.

– A delegacia em que o pai do Hugo não é um bom lugar para esse tipo de queixa. Todo mundo por aqui sabe que foi dentro de casa que ele aprendeu a ser tão intolerante.

– Cara, mas eu não vou deixar isso passar em branco. Você concorda comigo, não é?

Daniel se aproximou mais dele, sentados lado a lado na cama, pegou sua mão. – Claro que eu entendo, assim que chegarmos em Florianópolis você presta queixa lá. Eu estava pensando em irmos depois do almoço, se você ainda não estiver bem eu posso pilotar a moto.

– Mas... nós vamos embora hoje? Pensei que ficaríamos uma semana – Júlio sibilou essa frase, se Daniel tivesse dito tudo aquilo antes não titubearia em concordar, mas depois daquele beijo de André alguma coisa perdeu o leme dentro da sua cabeça, ele tinha que concordar que era melhor mesmo ir embora, se afastar daquela cidade, daquele surfista, não suportaria por em cheque seu amor por Daniel, e precisavam sumir dali antes que isso acontecesse. – Não, você tem razão, vamos sim.

– Mas agora eu vou te deixar descansar um pouco Júlio, vou aproveitar e fazer a barba, já volto. Se você quiser tomar um banho, é só ir lá vou estar te esperando, tudo bem? – aquela malicia de Daniel era tão inocente, tão saborosa, que Júlio realmente pensou em ir sim até o banheiro depois que o seu namorado entrasse lá para fazer a barba, e os dois tomariam banho juntos e se divertiriam muito naquela manhã para esquecer o pesadelo do dia anterior, mas Júlio não conseguiu as forças necessárias para se levantar daquela cama e ir, alguma coisa mudou, só não saberia precisar o que.

Ajeitou-se melhor na cama, se respirasse profundamente, podia sentir o cheiro de André exalando daquela camisa que ele vestia.

***

As primeiras quinze batidas na porta Maicon ignorou, na décima sexta seu pai gritou do lado de fora do quarto – eu sei que você está acordado, Maicon. Abra essa porta – mas ele somente abriu os olhos na cama, não fez de se levantar. Lá pela vigésima, seu pai, o prefeito da cidade, soltou um palavrão e disse que estava cansado de acobertas as merdas do filho inconseqüente, mas que ainda podia encobri-lo se ele tivesse batido num viado ou qualquer coisa assim, essa raça merece mesmo apanhar, ele falava, mas agora já era demais, Maicon estava em sérios apuros porque os seus amigos, Hugo o filho do policial e Giovani filho de um senhor muito rico e importante da região, estavam agora na delegacia dizendo que estavam machucados daquele jeito por culpa de Maicon, que ele que os havia aliciado para amarrar o visitante da cidade e que coisas muito piores aconteceriam.

Maicon abriu a porta furioso quando ouviu aquelas palavras.

– O que que aqueles otários estão falando de mim? Eles apanharam foi do André, eu não tenho nada a ver com isso.

– Agora eles só vão querer livrar o deles, Maicon – seu pai respondeu seco. – Você acha que esse cara vai deixar tudo isso passar em branco? Com certeza ele vai fazer BO quando voltar pra terra dele, e a notícia vai se espalhar, lá eles não agem bem quando viados apanham. Vai voar merda pra todo lado, e aqueles dois trataram de abrir o guarda-chuva. Vai sobrar tudo pra você, seu otário. Muito burro de deixar ele sair vivo de lá, não aprendeu nada do teu tempo preso, jumento?

O prefeito era um homem grande e austero, do jeito que os eleitores de pequenas cidades gostam, podia ser a pessoa mais detestável do mundo, ninguém se importava, contanto que soubesse fazer um bom comício, que tivesse um bom plano odontológico e uma gravata que combinasse com o sapato. Há anos dominava aquela cidade a mão de ferro, assim como dominava sua própria casa. Deixava que Maicon se divertisse por aí porque lembrava na hora da época em que ele mesmo se divertia quando era mais novo, mas não chegava a tanto, nunca se deixou ser preso como o filho foi, e agora pior, agora estava a beira de um escândalo que podia destruir sua carreira política. O único jeito de se safar, seria ajudar nas investigações, entregar o filho outra vez nas mãos da justiça e depois fazer mais um dos seus inflamados discursos sobre como ele era justo e não pouparia ninguém que estivesse fazendo algo errado, nem que fosse sangue do seu sangue. Tudo por mais quatro anos na cadeira de prefeito.

– Se arruma, você vai vir comigo pra delegacia – cuspiu as palavras antes de sair da porta do quarto, indo em direção da sala de estar da casa.

Maicon voltou para dentro, pôsteres de bandas de heavy metal espalhadas pela parede, fotos de armas, revistas pornográficas estrangeiras. Não. Não. Não. Não se deixaria ser preso outra vez. Não. Não agüentaria aquele inferno outra vez. Um homem como ele nunca deveria ser mandado para um lugar como a cadeia. Por pouco não o estupraram da primeira vez que foi mandado pra lá, felizmente conseguiu se safar, mas dessa vez não o perdoariam, sabia disso. Não podia voltar.

Da gaveta da cômoda tirou o revólver que havia levado para a floresta na noite anterior, o pos sobre a calça, abriu a janela. Lá embaixo do sobrado em que vivia, a calçada da frente fachada da casa não era um convite muito amigável para que pulasse, mas ele precisava, tinha que sair dali, correr, fugir, não podia ser pego outra vez. E quando ele se jogou deu a sorte de cair rolando no chão, machucou a costela mas não muito, levantou-se depressa; seu pai ouviu o barulho lá de dentro e veio até o portao ver o que havia acontecido, já não encontrou ninguém. quando voltou até o quarto do filho para levá-lo, foi que percebeu que ele já não estava lá.

– Eu vou acabar com eles – Maicon repetia para si mesmo enquanto corria embrenhado entre as árvores da floresta em volta da cidade. – eu vou acabar com todos eles. Mas primeiro vou acabar com aquele viado. Ele quer me denunciar? Eu apago ele antes, e aí? Como é que vai me denunciar embaixo da terra? Hãn? Como? – sorria com o plano que vinha nascendo na sua cabeça.

***

No almoço em família, um clima dos mais estranhos se estendeu sobre a mesa de jantar. Claro, não podia ser diferente, considerando tudo que havia acontecido. Mas nem foi só isso de estranho que aconteceu, os pais dos dois irmãos ficaram embasbacados quando viram que André se sentou na mesa junto aos demais, ele que saíra de casa batendo a porta quando Daniel havia dito que seu namorado estava vindo para cá, agora comia junto e até puxava assunto com Júlio, e eles viam isso como um bom sinal, seu filho estava amadurecendo, aprendendo a lidar com as diferenças, até Daniel encara como algo bom a conversa e chegou a agradecer a André ali na mesa por ter ido até aquela floresta e salvado o Júlio.

– Só tem uma coisa que eu não entendi – Daniel complementou, realmente curioso. – Como você sabia do lugar exato onde eles estariam?

André não havia comentado sobre isso com André, ninguém sabia naquela cidade que ele estivera envolvido no escândalo que levou Maicon a cadeia hás algum tempo atrás, nem seus pais, nem Mariana, nem Júlio, os seus amigos juraram que não abririam a boca e realmente não abriram.

– Eu realmente prefiro não falar disso – Júlio disse, percebendo que André estava desconfortável e não responderia a pergunta. Os olhos do surfista foram rasantes em sua direção, agradecidos.

– Claro, claro, entendo, desculpa cara – Daniel falou.

A esse ponto da conversa eles já haviam dito que iriam embora dali no inicio da tarde, depois do almoço, já haviam preparado as malas e talvez voltassem um dia, Daniel disse, embora soubesse que aquilo era muito pouco provável, e André comentou que estaria em Florianópolis na semana seguinte, e que moraria por lá para ver se conseguia assim apressar os pedreiros que construíam sua casa, e que talvez se vissem quando estivessem todos lá. Claro, era possível, quem sabe.

Mas isso não rompeu aquela sensação de despedida que rondava aquele almoço. André, hora ou outra olhava para Júlio ali do outro lado da mesa, ao lado do namorado. Assim, de banho tomado, roupas trocadas, prestes a ir embora, ele parecia ser o mesmo rapaz de quando veio para cá, as experiências terríveis desse lugar não deixariam cicatrizes nem no corpo nem na mente do moleque, mas deixariam uma marca indelével no coração do próprio André. E ele sabia disso enquanto almoçavam, ele sabia que nada voltaria a ser como era antes, nada nunca volta ao que era, e por isso mesmo depois do almoço se despediu dos dois mas disse que não ficaria em casa no momento em que partiriam, usou a desculpa de que iria falar com Mariana quando na verdade não queria nem olhar mais na cara dela, nunca mais, só queria sair, só queria fugir da cena dos dois indo embora, seu irmão que por tanto esteve brigado com ele e agora não estavam mais, mas também não tiveram sequer uma conversa daquelas longas de antigamente, e Júlio, Júlio, Júlio partindo, Júlio sumindo no horizonte, não sabia se conseguiria fingir que ainda não sentia nada por ele se estivesse presente diante da cena.

Saiu de casa mas não foi para muito longe, do outro lado da rua, uma praça cheia de brinquedos e equipamentos de ginástica ao ar livre dividindo espaço com gigantescas jabuticabeiras e bancos de madeira, ficou por ali, atrás de um dos troncos, e menos de uma hora a família se dirigia para o portão, os pais dos irmãos abraçando a Daniel e a Júlio, gostaram muito dele, acharam um rapaz simpático e de bom caráter, ele transmitia aquela aura jovial e confiante que alegra a qualquer um, e mancava um pouco ainda mas nada preocupante, no entanto por isso Daniel tomou o guidão da moto e esperou que o outro sentasse na garupa, e André deixou de prestar atenção abruptamente quando viu no inicio da quadra da sua casa, Maicon se aproximando rapidamente da sua casa, sacou de debaixo da roupa o revolver e seguia para matar quem se pusesse no caminho, André sabia que ele não retrocederia agora, conhecia o seu ex-amigo, sabia quando ele não estava mais pensando direito, se tivesse pensando notaria os policiais que estavam de guarda na praça logo ao lado, mas estava louco, insano, e só teve tempo de correr naquela direção, não conseguiria chegar até Maicon e imobilizá-lo, somente o que pode foi atravessar a rua e ficar entre a sua família e Maicon, que disparou a arma, o tiro acertou em cheio o irmão mais velho de Daniel, na altura do ombro direito, e ele caiu imediatamente no chão, sangrando, e os policiais na mesma hora do disparo se prepararam para derrubar o filho do prefeito, e deram um tiro na perna de Maicon antes que ele mesmo cometesse uma tragédia, e caiu no chão despejando palavrões no asfalto sendo depois algemado e levado dali, mas na família dos dois irmãos ninguém deu atenção a ele, mas sim a André caído no chão, ainda consciente, de olhos abertos, vendo todos os seus familiares ao redor dele, chamando a ambulância, e Júlio, muito preocupado, muito assustado com o que acabara de acontecer. Esforçou-se ao máximo para continuar acordado, o céu amarelo sobre sua cabeça, o rosto de Júlio ali ao lado, a sirene da ambulância, foi levado, e dentro do veiculo foi que suas forças por fim cessaram e ele desmaiou.

***

Recebeu atendimento de emergência ali na sua cidade e depois foi mandado para Florianópolis onde os médicos poderiam cuidar melhor dele. Havia uma grande preocupação sobre a possibilidade de ele não poder voltar a surfar depois do acontecido, a notícia acabou sendo largamente noticiada, para desgraça do prefeito da cidade, e Maicon querendo ou não pegou mais um tempo na cadeia, dessa vez uma pena maior que a anterior. André recebia visitas no hospital quando já estava somente de recuperação e não corria perigo nenhum de vida, o tiro felizmente não atingira nenhum órgão ou artéria vital do corpo. Outros surfistas se solidarizaram com ele e foram até lá. Daniel foi também, e ia quase que diariamente visita-lo, finalmente tinham as longas conversas de antes, apagaram de vez o passado depois do ato heróico de André. E mais ou menos três semanas depois do ocorrido, a conversa que eles tiveram foi uma das que mais determinou a vida de ambos.

– Daniel, eu recebi hoje a notícia de que vou poder voltar a surfar – André disse, tão feliz que estava ao saber das boas novas que o seu fisioterapeuta lhe dera mais cedo naquele dia.

– Sério mesmo, André? Parabéns, cara! – Daniel foi até ele na cama, o abraçou. – Essa é a melhor noticia que você poderia me dar agora. E eu estava precisando mesmo de boas noticias.

– Por que diz isso?

– É que... eu e Júlio... terminamos.

Felizmente André não estava com o peito sendo monitorado por um daqueles sofisticados aparelhos médicos, caso contrário, Daniel descobriria a força com que o coração bateu por dentro do peito no momento em que ouviu aquela noticia. Mas não podia ser insensível com o irmão, como também sabia que não podia tentar alguma coisa com Júlio enquanto os dois estivessem juntos que isso seria uma traição contra Daniel. E ele estava sofrendo com a separação recente, visivelmente estava abatido, André jamais esqueceria do fato de que do mesmo jeito que ele amava Júlio, Daniel também amava.

– Mas o que foi que aconteceu, por que vocês terminaram?

– Eu não sei se consigo explicar direito, André... desde que a gente voltou para Florianópolis as coisas já não estavam sendo as mesmas. Claro, entendia que depois de tudo que aconteceu ele fosse ficar diferente por algum tempo, foi uma trauma, mas... mas não parecia que essa era a razão. Ele foi se afastando de mim aos poucos, como se já não sentisse a mesma coisa de antes... eu não conseguia entender, eu tentei, mas... ontem a noite ele disse que achava melhor que a gente terminasse, que não estava dando certo e que a sua cabeça não estava no lugar certo... eu não pude protestar, com o passar das semanas também comecei a sentir que o nosso relacionamento não voltaria a ser o mesmo. Talvez depois de algumas semanas afastados a gente reconsidere tudo e volte, não sei te dizer isso, mas por enquanto acho que tomamos a melhor decisão.

André estava boquiaberto, queria parecer mais triste pelo irmão, mas sua mente ficava repetindo as palavras que Daniel dissera, e se Júlio estivesse diferente por que também se sentia dividido? E se desde aqueles dias na cidade deles, ele também não tivesse conseguido tirar da cabeça o beijo dos dois, aquela noite que passaram abraçados, o jeito com que se deram tão bem, o tesão que sentiam um pelo outro, simpatia, carinho, desejo. E se estivessem aos poucos abrindo caminhos um para o outro?

Era muito cedo para que André tomasse qualquer decisão quanto a isso, ele sabia. Primeiro precisava sair daquele hospital, o que aconteceria na semana seguinte. Depois, treinar, treinar, treinar, voltar a forma, voltar ao surfe, recuperar tudo o que ele parecia ter perdido. E também era cedo para contar tudo que sentia para Daniel, um dia ele contaria, antes de tentar se aproximar de Júlio ele conversaria com o irmão, mas isso no futuro, se Daniel tivesse realmente esquecido Júlio, seguido sua vida, e torcia com todas as forças para que as coisas corressem nesse rumo.

Mentalmente, André fez uma promessa a si mesmo: dali a doze meses, falaria com Daniel, se ele estivesse num outro relacionamento ou pelo menos feliz sendo solteiro teriam a Conversa, e então sim tentaria encontrar Júlio outra vez. Um ano. Nesse tempo se dedicaria por completo a profissão, nem pensaria em tentar algo com mais alguém – como poderia se só pensava em Júlio! – e também só seguiria em frente se Júlio também estivesse solteiro no fim desse prazo.

Um ano.

Parecia uma eternidade.

E realmente foi.

***

Mas quando passou, foi com uma noticia que estampava jornais por todo canto, André havia vencido pela primeira vez um campeonato de surfe, ele que sempre se destacava com ótimas posições mas nunca havia sido campeão, agora mostrou que voltara ainda mais talentoso depois do incidente que quase o tirou das pranchas. E em todo lugar procuravam por fotos profissionais do surfista, revistas se estapeavam para ver quem conseguia primeiro uma exclusiva com ele, e ele não cedeu com facilidade, criou condições para isso. Na verdade apenas duas condições: queria escolher quem seria o fotógrafo e que esse fotógrafo não ficasse sabendo quem estava indo fotografar.

E claro que uma das revistas se dispôs a cumprir com isso, na mesma semana em que ele recebeu o troféu, e meia hora antes do jovem fotógrafo chegar André já estava no estúdio que prepararam para a ocasião, vestido de terno e gravata como gostaria que uma das fotografias saísse, mas não todas, claro que não todas. E quando um Júlio um tanto sem entender nada daquele emprego todo estranho e mal explicado que lhe ofereceram chegou, e viu quem seria o fotografado, André, ali sob o holofote, sorrindo, ainda mais bonito depois do ano que passaram sem se ver, ele havia juntado as peças compreendido por fim o que estava acontecendo.

– Que bom que você está aqui – André falou, simpático, sedutor.

De toda a variedade de câmeras que estavam disponíveis naquele lugar, Júlio pegou a que ele mais gostava, exatamente do mesmo modelo da que ele tinha antes e foi quebrada por Maicon. Com ela em mãos chegou bem próximo do outro, bem, bem próximo, apenas o rosto de André ficou no enquadramento, e a primeira foto saiu.

– Digo o mesmo. Que bom que estou aqui – e também abriu um belo sorriso quando viu o resultado da fotografia. André era um homem muito fotogênico.

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CONTINUA NO ÚLTIMO CAPÍTULO.

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Comentários

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Legal, mas era melhor o Daniel ter morrido.

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Poxa. Ja vai acabar? Eu estou tão envolvido nesta historia. Eu to admirando tanto o André. Ele é tão maduro, centrado e responsável. Pensou em tudo sem que machucasse ninguém . Quando vc terminar esse conto faça outros. Vc escreve muito bem e eu gostaria de te acompanhar.

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