Caímos no chuveiro, e sorrindo, ele cuidava de mim, me dava banho e me abraçava por trás, me envolvendo em seus braços.
- Nunca, ta ouvindo? Nunca vou deixar que arranque você de mim. Eu te amo Guilherme!
Nos abraçamos mais uma vez, e no fundo, ele tinha razão. Eu não era fraco! Eu não abandonava o jogo desta forma, abrindo mão dos meus sonhos e da minha felicidade. EU IA ENCARAR O MEU PAI!
Decidimos juntos, falar com ele, e ao entrar no portão da minha casa, Enzo segurou firma a minha mão. Eu fiz uma prece a Deus, para que tudo ocorresse bem.
- O que este maldito está fazendo aqui? – meu pai gritou assim que entramos. Apenas ele e a minha mãe estavam em casa.
- Eu trouxe o Enzo aqui, porque quero ter uma última conversa com o senhor! – eu falei calmo.
- Já conversamos. Você me desobedeceu. Quer dizer que esta história de ir à faculdade era mentira? Você foi se encontrar com este marginal?
- Eu não sou marginal! O senhor está me ofendendo!
- Ah, não? Então quem arma um seqüestro pra arrancar dinheiro dos outros, é o quê? Santo?
- Pai! O senhor sabe o motivo. O Enzo não teve escolha. Meus Deus, será possível que o senhor vai ser sempre assim? Duro, agressivo, egoísta? Não consegue enxergar a bondade nas pessoas? Quem nunca errou nessa vida? Vamos pai. Pegue uma pedra e jogue no Enzo. Pois ao que parece, o senhor não tem pecados.
- Eu quero que este rapaz saia da minha casa agora! Eu mando aqui dentro, e ele não é bem vindo. E você amanhã mesmo embarca para Londres. Essa história terá um basta!
- A senhora não fala nada mãe? Concorda com tudo que ele diz? – eu comecei a aumentar o meu tom de voz. – Que espécie de pais são vocês? A minha felicidade não é a felicidade de vocês. Eu fico pensando se realmente, eu sou filho de vocês...
- Não fale assim Guilherme! – minha mãe gritou chorando.
- Pois eu prefiro morar debaixo da ponte, a conviver ao lado de pessoas que não possuem um pingo de sentimento. Que não sabem ouvir e só impõe regras. E se o senhor quer saber, eu não vou a lugar algum!
- Então eu colocarei seu namoradinho na cadeia! Não ousa a me desafiar.
- Pode ir. Vai! E eu também vou preso. Porque faço questão de dizer, que planejei junto com o Enzo, o seqüestro do meu próprio irmão. Eu farei com que eles me prendam também, mas o senhor não me separa dele. – meus olhos não paravam de chorar.
- Guilherme! Para com isso. Meu filho, você está obcecado por este rapaz! Está perdendo a razão.
- Se a senhora diz isso, é porque não sabe o que é amor.
- Olha pra mim Guilherme. Eu vou pagar pelo meu erro. Chega! É muito duro ouvir certas coisas... Eu só quero que você tome conta do meu filho.
- Não! Você não vai preso Enzo!
- Isso é o que veremos. – meu pai pegou o telefone, e ligou para o seu amigo delegado, que cuidou do caso na época.
- Sai daqui Enzo. Vamos fugir daqui.- eu me desesperei.
- Desta vez não Guilherme. Eu vou ficar. Não precisa se sacrificar por mim.
Um ódio foi invadindo o meu corpo, que o meu olhar se dirigiu exclusivamente ao meu pai:
- Fique sabendo de uma coisa... Eu tenho nojo do senhor. De quem você é e do que e capaz. Neste exato momento, acabou de perder um filho, porque o meu pai, simplesmente morreu pra mim. Virou pó!
Dizer aquelas palavras, talvez fosse a pior coisa da minha vida, e eu percebi através do seu olhar, que atingir a alma dele. Minha mãe chorava feito louca e me mandava pedi desculpas.
- E tem mais. Hoje eu saio desta casa, da vida de vocês... E nunca mais! Eu disse NUNCA MAIS, ouvirão falar de mim. A minha família morreu.
- Meu filho, não fala isso. Meu Deus... Chega Alberto. Deixa os dois namorar, ficar juntos. Eu não quero perder o meu filho... – ela chorava.
- Um dia ele ainda vai me agradecer. O ser humano faz a escolha e achar melhor. – ele era cruel.
Meia hora depois, a policia chegou. Eu presenciei o Enzo sendo levado, e as lágrimas que caíam em meu rosto, eram as minhas palavras de dor. Ele me olhou, meio perdido, com medo, assustado.
- A gente vai sair dessa. – era a única coisa que eu conseguia dizer, e apenas o observei sendo levado. Automaticamente, ignorei os meus pais, fui até o meu quarto e arrumei minhas coisas. Eles vieram atrás, e o Sr. Alberto era irredutível!
- Você não vai a lugar algum. Eu te sustento, banco suas regalias...
- Quero ver se vai me impedir. Sou maior de idade! E enquanto ao seu dinheiro, vá pro inferno junto com ele. – eu senti a bofetada em meu rosto. – Isso! Pode bater. Porque está a última vez que toca em mim.
- Não meu filho. Vamos conversar. Esta é a sua casa...
- A senhora foi tão pior quanto ele. Mal deixou que o Enzo se explicasse! Vamos, comemorem. O fardo pesado da vida de vocês, agora não vai mais perturbar. Terão tempo o suficiente para bajular e adorar o Arthur. E sempre não foi o filho exemplar? Pois bem, curta-o.
Eu saí com a alma pesada. Minha cabeça fervia, minhas pernas tremiam, meu coração batia forte. Tudo aquilo era um pesadelo. Eu não sabia para onde ir, e ainda tinha que contar a mãe do Enzo, que ele estava preso. Ai meu Deus, terremotos ainda iriam acontecer. Liguei para o Victor, e conseguir ficar hospedado em sua casa. Como na casa da Vivi, eram seis integrantes,ao menos, no Victor, era somente ele e a sua mãe.
- Eu não sei como te agradecer. Estou me sentindo tão sozinho, tão perdido. – me joguei nos braços dele e chorei muito.
- Ô amigo. Não fica assim. Eu estou aqui com você. Vamos pensar numa solução pra tudo isso. Chora que faz bem.
*****
UMA SEMANA DEPOIS...
Eu fui até a prisão visitar o Enzo. Quando a dona Maria soube, quase enfartou. Eu peguei todo o dinheiro que conseguir juntar na poupança, e dei nas mãos dela, para que o João não passasse necessidades. A única renda que eles tinham, era dos trabalhos que o Enzo fazia, e agora que ele estava preso, eu tomei a responsabilidade pra mim. Eu ia cuidar da sua família...
Quando ele entrou na pequena sala, estava irreconhecível. Os lindos cachos queimados do sol deram lugar à cabeça raspada. E ele estava mais magro. Eu senti que ele estava com vergonha...
- Oi meu amor. O que fizeram com você?
- Eu estava com tanta saudade de ouvir a sua voz, de olhar o teu rosto. E o meu filho? Como ta o meu João? Não trás ele neste lugar, por favor!
- Calma Enzo. Ele está bem. Mentimos... Eu disse a ele, que você precisou viajar para trabalhar, mas que logo voltava.
Ele não escondeu o choro...
- Ele está tomando os remédios para o coração? Tem que tomar no horário correto.
- Meu amor, eu mesmo estou cuidando do seu filho. O pouco dinheiro que eu tenho, está dando pra levar. O tio da Vivi aceitou defender a sua causa, sem me cobrar nada. Você vai sair daqui.
- Eu não sabia mais, o que era está neste lugar. Eu passei os piores dias da minha vida, quando fui preso pela primeira vez, e injustamente. Mas agora, eu to com medo de ficar aqui pra sempre!
- Você não vai! E ainda há a última esperança. O Arthur ainda não te reconheceu perante o delegado, como o seqüestrador. Eu só estou esperando ele voltar de viagem, para conversar com ele.
- Você acha que o sue pai já não fez isso? E o sue irmão é igualzinho a ele.
- Não custa tentar. Ei, olha pra mim. Eu amo você. E nunca vai está sozinho.
CONTINUA...