Olá, galera do CDC. Já li muitas histórias e hoje quero compartilhar a minha. Por dois motivos: primeiro é uma forma de reviver tudo e segundo será uma maneira de extravasar meus sentimentos. Vou começar meu relato contando um pouco da minha vida pra que vocês entendam todo o contexto.
Nasci numa cidade do interior da Bahia, família simples, pai, mãe, e quatro filhos, sendo três homens e uma mulher. Sou o mais novo, o caçula como costumamos dizer por aqui. Desde cedo percebia que era diferente dos outros meninos da vizinhança. Não sou do tipo que tem muitos trejeitos, até porque sempre fui “forçado” pelas circunstâncias e pela família a manter uma postura o mais heterossexual possível. Deixando bem claro que não critico e nem tenho preconceitos com quem tem um comportamento diferente do meu. Respeito sempre!
Pois bem, minha infância passou sem nenhuma intercorrência. Uma criança normal.
Entrando na puberdade as coisas começaram a mudar. Lá pros 11 anos começaram aquelas brincadeiras entre amigos. Descobrindo para que servia o pinto além de fazer xixi. Nessa época eu cursava a 6ª série. Na escola eu dividia meus interesses entre meninos e meninas. Já tinha dado meu primeiro beijo que foi em uma menina. Foi nas férias do meio de ano. Viajei pra casa dos parentes de minha cunhada e ao lado moravam duas irmãs na mesma faixa de idade que eu. Fomos todos pra festa Junina no centro da cidadezinha e lá nos fugimos do pessoal e nos beijamos. Isso tudo foi em 2001.
No ano seguinte, lá pro meio do ano, foi ofertado na escola uma oficina de teatro. Alguns amigos meus e eu nos inscrevemos para participar da oficina. Nesse período da minha vida eu tinha um grande amigo, Antônio, a gente fazia tudo junto. Ele era um ano mais velho que eu. Minhas primeiras experiências homo foram com ele. Mas, voltando a oficina, Antônio e eu estávamos inscritos na oficina. As aulas começaram e nós tivemos contato com todos os participantes, muitos já conhecíamos, cidade pequena, mesma escola, enfim, todo mundo conhece todo mundo exceto duas meninas, novatas na escola, pois, moravam em um bairro diferente do nosso. Rebeca e Ludimila.
Nessa época eu o Antônio fazíamos nossas “brincadeiras”, mas não levamos aquilo como verdade. Na minha cabeça esse tipo de coisa só aconteceria com ele. Nós namoraríamos meninas e não meninos. E então, decidimos que a gente ficaria com as novatas da oficina. Essa oficina tinha duração de 6 meses começando logo após o recesso junino e duraria até o final do ano.
Eu, Junior, olhos castanhos, cabelos lisos e meio loiro, nessa época muito magro. Escolhi ficar com Rebeca, pois tinha quase o mesmo perfil fisionômico que eu. Já Antônio era moreno, cabelo sempre curto, sempre muito simpático. Ele resolveu que iria tentar ficar Ludmila, que tinha o perfil parecido com o dele, com exceção que ela era gordinha (mas muito charmosa). Vocês entenderão o porque dessa ressalva.
E lá fomos tentar conquistar as meninas. Mas o tiro saiu pela culatra. Elas eram amigas também. Moravam na mesma rua e já tinham decido com quem iriam ficar. Não me lembro muito bem como se deu esse acordo, mas acabou que os casais se inverteram, eu fiquei com Ludmila e Antônio com Rebeca. Esse namorinho, sempre escondido é claro se dava nas saídas da oficina duas vezes por semana no final da tarde, no Centro de Cultura do município. Até porque Ludmila era sobrinha do professor de teatro. No começo não passava de uma coisa boba.
A amizade do grupo de teatro era muito boa. Formamos um grupo muito legal, por volta de 30 adolescentes e pré-adolescentes na faixa do 12 aos 15 anos. Óbvio que não éramos os únicos que estavam com seus namorinhos.. Havia outros “casais” no grupo. Era tudo muito ingênuo, simples e sem propósito nenhum. No entanto, era muito bom! Ela era uma graça, com um jeito meigo.
Me lembro que levávamos flores que roubávamos no caminho do teatro para dar as namoradas assim como chocolates e bilhetes com versos de música. Era muito divertido.
Até esse momento não fazia ideia do que era amar, estar apaixonado, nem nada disso. Era bom estar com as meninas, mas não passava muito disso.
E meu namorinho com Ludimila continuava de vento em popa. Tentávamos fazer de tudo para que seu tio e nosso professor não desconfiasse da situação e contasse para sua família, (era nosso maior medo), o que poderia acabar com nosso caso.
Porém nosso esforço não foi suficiente. Não lembro como ele descobriu, mas lembro de chegar na oficina e quando olhei pra ela vi que seu rosto estava diferente. Preocupado. Ao final da oficina fui pra uma rua que ficava próximo ao teatro. Era nosso local de encontros. E ela me disse que não poderíamos mais ficar, que seu tio havia descoberto e que contaria pra sua mãe. Logo após o acontecido, Rebeca e Antônio pararam de se ver também. Não sei o motivo, mas acho que deve ter sido por influência da decisão de sua amiga.
Foi um momento muito difícil da minha vida. A partir daquele momento descobri o significado de ter sentimentos por uma pessoa. Foi quando descobri que não poderia ficar com ela que percebi que eu gostava dela. Que estava apaixonado. E ai começa minha saga de amores proibidos.
A oficina ia seguindo, mas não tinha mais a mesma importância. Foi chegando o final do ano de 2012 e aquele sentimento de que estava acabando surgia. Para mim era mais doloroso ainda, pois sabia que não estaria mais próximo dela. Como já havia dito, nosso grupo de teatro era bem unido e fazíamos eventos extras aos encontros da oficina. Piqueniques, pequenas viagens e etc. Em um desses piqueniques, não pude ir, meu irmão que morava em outra cidade tinha vindo passar o final de semana na minha casa e resolvi ficar para recebê-lo. Infelicidade a minha!
No outro dia, a noite, eu e Antônio fomos ao centro da cidade fazer alguma coisa e no caminho de volta para casa perguntei a ele como tinha sido o piquenique. Ele me contou que foi bom. Que se divertiram e que ele ficou com alguém. Perguntei quem era. Ela disse que era melhor não me contar. Achei estranho, como o meu melhor amigo, a pessoa que eu mais confiava, se negava a me contar uma bobagem dessa?! Insisti! E foi nesse dia que eu tive a pior sensação da minha vida. Traição!
Minha cabeça parecia que ia explodir. Meu coração tava a mil. Eu tinha vontade de matar ele. Como ele pode fazer isso comigo? Como o meu melhor amigo, que acompanhava minha história com Ludmila, que sabia dos meus sentimentos, foi capaz de ficar com ela? E o pior, nem pensou duas vezes. Simplesmente fez.
Sei que muitos de vocês vão pensar: que bobagem ele tinha apenas 12 anos, quase treze! Como ele podia sofrer assim? Uma criança! Porém, pessoal eu nunca fui uma criança muito bestinha. Já entendia das coisas desde muito cedo. E o meu sofrimento pela traição do meu amigo e da minha primeira paixão me fez crescer mais rápido ainda. Eu me lembro de chegar em casa e chorar muito, muito mesmo. Era uma dor! Que até hoje não sei explicar.
A partir daquele dia tomei duas resoluções das quais só consegui cumprir a primeira.
1ª: a partir daquele dia não confiaria em nenhum amigo. Principalmente amigos homens, e
2ª: não me apaixonaria nunca mais!Aguardo comentário para a próxima postagem.