Romeu e Julius - 01x07 - A HISTÓRIA DE CEN

Um conto erótico de Escritor Sincero
Categoria: Homossexual
Contém 6038 palavras
Data: 06/02/2015 06:13:03
Última revisão: 11/05/2025 06:18:45

O som dos grilos ecoava tênue pela masmorra de pedra, misturado ao tilintar metálico das correntes presas às grades da janela. A luz da lua atravessava os barrotes finos, projetando feixes prateados sobre o chão áspero. Malody despertou devagar, os olhos pesados como se carregassem o peso de mil sonhos. A cabeça latejava. Ela piscou várias vezes antes de reconhecer o teto de pedras frias sobre si.

Celdo se aproximou com um cantil de barro, seguido pelo imponente Rei Nilo. Juntos, ajudaram a feiticeira a se sentar. O contato da água fresca em seus lábios foi como um sopro de vida, embora a confusão permanecesse.

— O que... aconteceu? — Questionou ela, franzindo o cenho ao encarar os dois homens.

— Você... não lembra? — Celdo hesitou, trocando um olhar sombrio com o rei.

Melody negou com a cabeça, ainda zonza. Uma névoa espessa parecia ter se instalado em sua mente, obscurecendo os últimos acontecimentos.

— Cen acessou seus poderes. Invadiu seu espírito. — Explicou Nilo, com a voz grave, mas serena. — Era como se toda a energia branca que carrega tivesse sido corrompida, drenada para alimentar a escuridão.

O silêncio caiu por um instante. O rei se afastou, até a janela, onde repousou as mãos nas barras de ferro enferrujadas. Observou a lua alta, pálida, quase espectral.

— Espero que os nossos jovens estejam vindo. Que Deus nos ajude... — Desejou, com pesar.

Na clareira ao lado do antigo celeiro, onde o grupo improvisava uma base de operações, Romeu bocejava discretamente. A noite anterior fora longa, e o sono o perseguia como uma sombra. Em meio à reunião que definia os passos rumo à montanha de Kinopla, ele mal prestava atenção ao que Bartolomeu explicava com seus bonequinhos esculpidos por Catherine.

Então, Julius surgiu. Seu andar firme e o olhar direto cortaram o ar. Sem hesitação, aproximou-se de Romeu, inclinou-se e o beijou diante de todos. Nenhum dos presentes reagiu — talvez por respeito, talvez por surpresa.

Romeu sentiu o chão sumir sob seus pés. Um arrepio percorreu-lhe a espinha.

— Oh, Romeu. Acho que estou pronto. — Ponderou Julius, sentando-se em seu colo, os olhos fixos nos dele.

— Está? Agora? Aqui?

— Sim. — Respondeu o jovem, tirando o colete de couro e a camiseta como se nada mais importasse. — É assim que você gosta?

Romeu gaguejou, dominado pelo momento.

— Sim... sim... vou explodir...

Mas, de repente, o olhar de Julius endureceu.

— Devemos pegar aquele monstro desgraçado e dar uma lição nele!

Romeu arregalou os olhos, confuso.

— O quê?!

— Romeu, acorda. — Julius estalou os dedos diante de seu rosto. — Você dormiu de novo na reunião.

Romeu piscou, constrangido. Fora tudo um devaneio.

Bartolomeu voltou a falar, com paciência e autoridade. Os bonecos representavam a estratégia: Mitty e Clarissa seriam a distração, Catherine ficaria na retaguarda protegendo os civis, enquanto ele, Julius e Romeu avançariam como ponta de lança.

Depois, o assunto voltou para Cen. A origem do feiticeiro era um mistério perigoso. Talvez ali estivesse a chave para sua derrota. Sugeriram invocar a Mãe Natureza, a única entidade capaz de revelar verdades antigas.

Seu Virgílio, um dos líderes locais, apareceu com o rosto preocupado e as mãos calejadas do trabalho na terra.

— Os ataques aumentaram. Os monstros vieram de novo essa semana... E tem mais — Contou o homem, tirando o chapéu em sinal de respeito. — Existem outras comunidades no caminho para Kinopla. Umas três, se as trilhas não tiverem sido cobertas pela vegetação. Espero que estejam todos bem.

***

Longe dali, nas profundezas de um covil envolto em névoa púrpura, Cen movimentava-se em silêncio. Os olhos cerrados e as mãos erguidas sobre o caldeirão em ebulição. Restos de lobo, uma flor azulada, lágrimas de fada e um frasco com a essência mágica de Malody reluziam nas bordas do líquido negro.

O feiticeiro entoou palavras em uma língua esquecida.

— Levanta-se! Levante-se, Lin! A minha nova guerreira! — Ordenou, com um sorriso maníaco, batendo palmas.

Do caldeirão emergiu uma figura feminina, nua da cintura para cima, a pele reluzente como âmbar. Roupas de couro surgiram magicamente, moldando-se ao corpo atlético. Nas costas, um par de asas negras se abriu como pétalas de uma flor noturna.

A mulher ajoelhou-se, ainda atordoada.

— Em que posso servi-lo, mestre das trevas? — Perguntou Lin, sua voz carregada de reverência.

Do lado de fora do covil, observando pela fresta de uma janela alta, Klaudo cerrava os punhos. O monstrengo verde, criado anteriormente por Cen, sentia algo que jamais experimentara: ciúmes. Havia sido substituído. No reflexo de seus olhos úmidos, a chama da lealdade começava a vacilar.

***

Em Framon, um antigo ditado ecoava nas memórias dos mais velhos: "O vento pode contar histórias." Diziam que, quando soprava com suavidade, era possível ouvir vozes do passado ou mensagens do coração. E, naquela noite úmida e silenciosa, mesmo no fundo escuro da masmorra, o vento encontrou um caminho.

As pedras frias da cela refletiam a penumbra das tochas, que ardiam fracamente nos corredores. Havia cheiro de ferrugem, umidade e lembranças tristes. No canto da cela, sentada no chão de terra batida, Melody estremeceu. Uma brisa leve lhe tocou o rosto — e, com ela, veio algo mais. Um sussurro suave. Um sopro de emoção que a fez apertar os olhos e deixar que as lágrimas caíssem sem resistência.

Celdo, que até então permanecia calado, vigiando a escuridão pela estreita abertura da janela gradeada, se virou imediatamente ao ver a esposa soluçar.

— Você está bem? — Perguntou com suavidade, ajoelhando-se ao seu lado.

Melody não conseguiu conter um sorriso entre lágrimas. Seus olhos brilhavam, refletindo uma esperança rara naquele lugar sombrio.

— Estou ótima, Celdo — Sussurrou, com a voz embargada. — A minha mãe mandou uma mensagem. Ela está conversando com o Julius.

Celdo se endireitou, seu coração acelerando ao ouvir o nome do filho. Um turbilhão de sentimentos — culpa, medo, amor — girava dentro dele como um furacão contido.

— Julius, meu filho? O que ela está falando? — Quis saber, colocando uma das mãos trêmulas sobre o ombro da esposa.

— Espere, Celdo — pediu Melody, fechando os olhos com força, como se isso a ajudasse a ouvir melhor. — Está vindo... O vento ainda está falando.

Do outro lado de Framon, na clareira sagrada da vila, a noite era estrelada. Um círculo de árvores antigas cercava os jovens que buscavam respostas. O ar ali era morno e perfumado, e no centro da roda de pedras surgiu Mãe Natureza, manifestada na forma de uma flor vermelha intensa, pulsando como um coração vivo. Sua presença enchia os corações com reverência e paz.

Julius, de olhos fixos na flor, apertava as mãos nervosamente. Estava prestes a confiar seus sentimentos mais profundos ao vento.

— Mãe... mãe... espero que estejam bem. — começou, sua voz suave e insegura. — Olha, aconteceu algo muito diferente... — sorriu com nervosismo, tentando encontrar as palavras certas. — Diferente mesmo. Nós conhecemos a sua mãe... ou seja, nossa avó. E ela nos deu poderes para enfrentar Cen.

Houve um silêncio reverente entre os que o acompanhavam. Julius respirou fundo antes de continuar.

— Mãe, quero pedir desculpa se eu fiz, ou disse, algo errado. E lembrar que eu amo você. E o papai também. A gente vai tirar vocês daí. Prometo. — Fez uma pausa longa, com a garganta apertada, e depois olhou para a flor que representava Mãe Natureza. — Já.

Na masmorra, Melody chorava com mais intensidade. Suas mãos cobriam a boca, como se tentasse conter uma emoção forte demais para se expressar em palavras. Ela olhou para Celdo, os olhos marejados, mas cheios de luz.

— Ele pediu desculpa se fez algo errado para nós.

Celdo, tomado pelo peso do arrependimento, se afastou lentamente, como se as palavras da esposa o empurrassem para dentro de si mesmo. Aproximou-se da pequena janela da cela e, pela primeira vez em muito tempo, olhou para o céu com humildade.

— Fui um tolo, Melody. Um tolo. — A voz dele saiu rouca e quebrada. — Deus... Faça eles vencerem. Por favor. Eu preciso abraçar meus filhos... todos eles!

Enquanto isso, no círculo da clareira, Mãe Natureza ainda brilhava suavemente. Sua voz, agora, era um murmúrio envolvente nas folhas e no ar. Ela entregou a Julius uma carta selada com um símbolo antigo — um sol cortado por uma sombra. O jovem a segurou com cuidado, sentindo o peso da verdade que ali residia.

— Bem... quem vai ler? — Perguntou Bartolomeu, os olhos arregalados de curiosidade. — Catherine, pode ser?

A garota assentiu, limpando a garganta com um pigarro antes de abrir a carta.

— Claro.

A leitura começou sob a luz pálida da lua:

“Essa é uma história que iniciou em um momento de mudança para Framon.

Em uma pequena aldeia, viviam várias pessoas de uma mesma família.

Klino, o pai, Noely, a mãe, e seus nove filhos.

O mais novo era Cen.

Ele era um jovem alegre e bastante brincalhão.

Porém, escondia um segredo.

Dentre todas as garotas da ilha, ele se apaixonou por outro homem.

Cen fazia de tudo para se aproximar dele. Utilizou até mesmo seus amigos próximos para ter contato com seu amor.

O problema era que a paixão não era correspondida.

E isso... lhe trouxe dor e desespero.”

O silêncio que se seguiu foi pesado. Todos ali compreendiam, de alguma forma, a dor de um amor não correspondido. Mas também sabiam que o desespero, quando alimentado por mágoas antigas, podia transformar até o coração mais puro em algo sombrio.

E foi assim que o vento, naquela noite, contou mais do que uma história. Ele costurou corações partidos, revelou verdades escondidas e acendeu, no mais profundo da escuridão, a esperança.

ALGUNS ANOS ATRÁS

Antes que Nilo ascendesse ao trono de Framon, o mundo cambaleava sob o peso da desordem. A harmonia outrora sagrada entre humanos e criaturas mágicas se desfazia como névoa ao sol. As ruas antes repletas de vida se tornaram campos de batalha silenciosos, onde o medo e a desconfiança passeavam de mãos dadas. Nesse caos crescente, Celdo, um jovem guerreiro de alma pura, lutava com fervor — até que a guerra o alcançou de forma cruel.

Ferido no peito por um grifo enfurecido, Celdo caiu na relva ensanguentada de um bosque sagrado. Seu corpo tremia, o sangue escorria entre os dedos, e os olhos começavam a se fechar. Porém, o destino, em sua dança imprevisível, entrelaçou sua vida à de Melody, uma ninfa de cabelos dourados e olhos cor de musgo, que se aproximou sem hesitar.

Ela colocou as mãos sobre a ferida aberta, e um brilho prateado envolveu o tórax de Celdo. Em segundos, a carne se recompôs como se jamais tivesse sido tocada pela lâmina da guerra.

— Não se preocupe, não vou contar a ninguém, mas será que eu posso te ver novamente? — Perguntou Celdo, segurando com firmeza e doçura a mão da ninfa.

— É perigoso demais. — Afirmou Melody, recuando. Mas antes que pudesse se afastar, sentiu a mão dele apertar a sua com urgência.

— Por favor, eu te imploro. Venha ao meu encontro.

Houve um momento de silêncio entre eles. A brisa agitou os galhos acima, como se a floresta escutasse em segredo.

— Tudo bem. Vamos nos encontrar perto da cachoeira, amanhã de tarde — Disse ela, antes de correr em direção às sombras da mata.

O coração de Celdo, antes dominado pela guerra, agora batia em outro ritmo — o da esperança.

A vila de Tsunai, com suas ruas de pedra e casas de madeira rústica, funcionava como um abrigo precário para os combatentes de Framon. No centro da vila, um estábulo improvisado recebia os cavalos exaustos da guerra. Ali, entre fardos de feno e cheiro de terra molhada, Cen trabalhava. Jovem, de rosto sereno e olhos tristes, ele nutria por Celdo um amor calado.

Mesmo não sendo um guerreiro, Cen se alistara apenas para estar por perto do homem por quem suspirava. Mas fora relegado às sombras do estábulo, longe do brilho das espadas.

— Você já vai treinar? — Perguntou ele, com um sorriso tímido, ao receber o cavalo de Celdo.

— Sim, jovem Cen. O Nilo me aguarda. — Respondeu o guerreiro, limpando o suor da testa.

— Por favor, tome cuidado, Celdo. Te vejo mais tarde?

A pergunta ficou suspensa no ar como uma nota fora de tom. Celdo hesitou, confuso, mas respondeu com educação:

— Claro.

E partiu, sem perceber o olhar carregado de melancolia que Cen lançou em suas costas.

No Centro de Treinamento, pedras esculpidas em runas antigas cercavam uma arena de terra batida. Lá, Celdo e Nilo treinavam como irmãos. O príncipe, mesmo em sua posição de poder, dividia com Celdo uma amizade verdadeira, alicerçada em confiança e respeito. Enquanto afiava sua espada, Nilo ouvia o relato do amigo sobre Melody com um misto de preocupação e admiração.

— E se ela tentar alguma coisa? — Perguntou, observando o fio reluzente da lâmina sob a luz do fim da tarde.

— Ela é linda! — Disse Celdo, girando em falso com um passo de dança ridículo. O riso de Nilo ecoou alto, aliviando por um instante o peso das responsabilidades que carregava.

— Vou te dar cobertura, mas tome cuidado. Eu simpatizo com as criaturas mágicas, você sabe... Mas os reis estão perdendo a razão.

— Quando você for rei... — Soltou Celdo, apertando com força o ombro do amigo. — Vai mudar tudo isso. E vou poder me casar com Melody.

Nilo não respondeu. Apenas assentiu, com os olhos fixos no céu que escurecia.

Enquanto isso, Cen mergulhava em outra jornada. Em suas mãos, um livro antigo, de capa desbotada e cheirando a poeira e tempo. Nele, encontrou feitiços que jamais imaginou compreender. Magia — algo proibido para os humanos comuns — começou a se revelar em pequenos gestos, em faíscas de poder. Mas era a profecia sobre um artefato escondido nas Montanhas de Kinopla que acendeu sua obsessão.

Determinado, Cen deixou a vila em silêncio, vestindo um manto puído e carregando consigo mais do que desejo: levava o peso de um coração partido.

Na cachoeira, Celdo e Melody se reencontraram. A água caía com força, espalhando névoa e frescor. Eles se despiram das dúvidas e se banharam lado a lado, rindo, tocando-se com ternura e reverência. A conexão era antiga, como se suas almas se reconhecessem de outra vida.

Naquela noite, entre as raízes de uma árvore sagrada, Melody chorou aos pés da Mãe Natureza. A deusa, envolta em folhas e luz, acariciou a filha com compaixão.

— Mãe, o fardo é muito grande. Não quero dar adeus para o meu mundo. — Afirmou Melody, com a voz embargada.

— Oh, doce criança. Você não pode lutar contra seus sentimentos. — Aconselhou a Mãe, com sabedoria ancestral. — Eu sinto sua aflição.

— Eu devo escolher ficar com o Celdo?

— Isso não cabe a mim decidir.

As palavras da deusa ficaram pairando como o orvalho da manhã. Melody sabia que a escolha não seria fácil — mas o amor já a havia escolhido.

Na fria solidão das Montanhas de Kinopla, Cen chegou ao castelo abandonado. A neblina envolvia tudo, e o vento assobiava entre as pedras rachadas. As paredes, cobertas por trepadeiras secas, deixavam visíveis vestígios de tinta verde oliva — cor da esperança esquecida. Ele entrou.

O cheiro de mofo e madeira podre era sufocante. Móveis desfeitos pelo tempo se empilhavam em cantos escuros, e o som de seus passos ecoava de maneira fantasmagórica. Cada rangido fazia seu coração disparar, mas Cen não parava. Ali, entre escombros e sombras, ele procuraria o artefato. E, com ele, quem sabe, o poder de ser visto. Por Celdo.

A escuridão do subterrâneo se estendia como um véu espesso, abafando qualquer som que não fosse o tilintar ocasional da água pingando das pedras do teto. O cheiro era fétido, uma mistura de mofo antigo, ferrugem e carne podre em decomposição. Cen andava há horas por passagens mal iluminadas, os pés cobertos de lama fria e escorregadia. O silêncio ali dentro era quase sólido, interrompido apenas pela sua própria respiração ofegante.

Quando finalmente chegou ao fim do túnel, o cenário que se apresentou diante dele era o de um antigo calabouço esquecido. Paredes de pedra cobertas por raízes grossas, celas quebradas e uma montanha disforme de lixo acumulado no canto da sala. A luz fraca de sua tocha vacilava, revelando formas grotescas entre os entulhos. Foi então que seus olhos encontraram algo peculiar: uma caixa de madeira, enegrecida pelo tempo, marcada com o mesmo símbolo que havia visto no livro antigo da tenda dos anciões.

Com as mãos trêmulas, ele subiu a pilha de restos e segurou a caixa com cuidado reverente.

— É isso? — Questionou para si mesmo, o eco de sua voz dançando nas paredes úmidas.

Ao abrir a tampa, seus olhos se arregalaram diante do colar de prata opaca com um quartzo azulado no centro. A energia da pedra pulsava suavemente, como se estivesse viva. No momento em que seus dedos tocaram o amuleto, uma onda de calor atravessou seu corpo. Seu coração disparou e seus pensamentos ficaram turvos — então, subitamente, ele desejou estar com Celdo.

O mundo girou.

Em um piscar de olhos, ele estava de volta à vila, em meio à praça central, próximo à tenda dos guardas. O choque do teletransporte o deixou sem fôlego, mas também maravilhado. Um riso nervoso escapou de seus lábios ao perceber o poder que agora carregava.

— Eu posso... — Balbuciou, olhando para o colar. Seus olhos brilharam. — Celdo...

Fechou os olhos e desejou ser amado. O quartzo brilhou com intensidade.

Celdo, o guerreiro de olhar firme e cicatrizes de batalha, caminhava despreocupado pela vila quando uma sensação estranha tomou conta de si. Seus olhos se vidraram, a vontade própria esvaindo-se como areia entre os dedos. Ele se virou lentamente e viu Cen à sua frente. O olhar do guerreiro, antes cheio de determinação, agora era de adoração cega.

Naquela mesma hora, Melody, movida por um pressentimento que lhe apertava o peito, correu pelas ruas empoeiradas em busca do homem que amava. Seu vestido esvoaçava, e seus pés mal tocavam o chão. Ao ser informada por um dos soldados sobre a localização de Celdo, seu coração acelerou. A esperança brilhava em seus olhos.

Ela entrou na tenda e, para seu horror, viu Celdo e Cen se beijando. Ficou paralisada. A vontade de fugir gritou dentro dela, mas algo a fez ficar. Seu olhar caiu sobre o colar no pescoço de Cen — um amuleto de quartzo.

Sem hesitar, Melody sussurrou palavras antigas na língua das ninfas, canalizando o poder da floresta. Um vento leve soprou dentro da tenda, agitando os panos pendurados. Celdo piscou várias vezes, despertando do transe como se saísse de um pesadelo.

— O que significa isso, Cen? Você está louco?! — Gritou Celdo, empurrando o feiticeiro, que caiu no chão, lágrimas escorrendo pelo rosto pálido.

— Ele te enfeitiçou. Tire o colar dele! — Ordenou Melody com firmeza, os olhos cheios de fúria e dor.

Celdo se lançou sobre Cen e arrancou o colar com brutalidade. Com um grito de raiva, quebrou a pedra com as próprias mãos.

— Maldito! — Esbravejou, socando o rapaz no rosto com violência. — Eu vou te matar!

— Não! Pare, por favor! — Melody gritou, segurando Celdo pelos ombros, tentando impedir o pior.

O vilarejo virou um caos. Vozes se erguiam em protesto, medo e escândalo. A família de Cen foi notificada e, horrorizada, levou o jovem para um ritual de “purificação espiritual”. Na casa de pedra de Klino, seu pai, os gritos de Cen se misturavam às orações tortas dos curandeiros.

— Esse demônio vai sair de você! — Berrava Klino, enquanto amarrava o filho com cordas encharcadas em água benta e ervas amargas.

Dias depois, Cen foi levado diante do trono de pedra do Rei Thales. O julgamento foi breve. Poucos se atreveram a defender o rapaz. O veredito foi uma condenação disfarçada de “cura”: poções amargas e banhos espirituais, conduzidos por curandeiros impiedosos.

Cen, antes belo e ágil, de cabelos dourados e olhos cheios de esperança, definhava. Jogaram-no na masmorra de Franon — um buraco frio, úmido e escuro como o próprio esquecimento. O tempo passou ali como uma tortura constante. Seus pensamentos se tornaram mais escuros que as paredes ao redor.

Foi então que, certa noite, passos leves ecoaram no corredor. Melody apareceu na entrada da cela, iluminada por uma tocha trêmula.

— Cen, posso falar com você?

Ele ergueu o rosto coberto de hematomas. Os olhos, agora sombrios, a encararam sem emoção.

— O que deseja?

— Eu posso te ajudar a fugir. Você não precisa passar por tudo isso... por favor. — A voz dela carregava um pesar verdadeiro, os olhos marejados pela culpa.

Cen riu, mas o som era rouco, doloroso. Levantou-se com dificuldade, revelando marcas profundas em sua pele, feridas abertas e ossos salientes.

— Sabe de uma coisa, ninfa? — Sua voz ganhou um tom venenoso. — Eu... eu odeio você.

Avançou alguns passos, mas foi detido pelas correntes que o prendiam à parede. Seus olhos, subitamente, brilharam com uma luz vermelha intensa.

— Eu quero que você viva uma vida infeliz. Desejo que você veja todas as coisas que ama morrer!

— Cen... — Melody recuou, assustada. — O que você fez? Cadê o quartzo que o Celdo quebrou?

Cen inclinou a cabeça, sorrindo com uma expressão distorcida.

— Se eu te contar, você não vai acreditar. — Seus olhos cintilaram com loucura. — Está dentro de mim. Eu comi.

Ele gargalhou, tossindo em seguida, o som áspero e gutural ecoando pelas paredes da cela.

— Agora, me faça um favor, ninfa... vá para o inferno.

Com isso, voltou para a sombra da cela, sentando-se no canto mais escuro, como se já não fizesse parte deste mundo.

O tempo não foi gentil com Cen.

Antes um homem de coração puro, moldado pelas dores que o mundo cruel lhe infligira, ele agora jazia sobre um leito áspero em uma cabana esquecida pelos deuses. As paredes de madeira rangiam com o sopro cortante do vento, e a lareira, quase apagada, lançava sombras tremeluzentes sobre seu rosto pálido. A febre queimava seu corpo, mas era o frio da alma que mais lhe pesava.

— Eles vão pagar... todos... — Sussurrou ele, com a voz fraca como um fio de fumaça. — A vingança será meu principal trunfo...

Ninguém respondeu. Apenas o som distante das corujas e do vento cruzando as planícies geladas de Kinopla testemunhou sua promessa final. Na manhã seguinte, Cen estava morto.

Seu corpo foi enterrado sob a neve, em uma colina onde o gelo nunca derretia. As pessoas se despediram em silêncio, aliviadas — ou assim pensavam.

Mas o descanso eterno não foi o destino de Cen.

Meses depois, em uma noite onde a aurora boreal riscou o céu com tons escarlates, algo perturbador aconteceu. A terra congelada estalou, o solo tremeu levemente, e um braço pálido rompeu a superfície. De alguma forma, Cen havia retornado. Mas não era o mesmo homem.

Sua pele agora tinha a cor do chumbo, seus cabelos eram brancos como a neve eterna de Kinopla, e os olhos... oh, os olhos brilhavam como brasas acesas no fundo de um inferno particular. Um novo poder corria por suas veias — sombrio, impiedoso, voraz.

O primeiro a vê-lo foi um velho curandeiro, que reconheceu de imediato a aura distorcida do morto renascido.

— O que... você é? — Balbuciou, ajoelhando-se.

— Aquilo que vocês criaram — Respondeu Cen, antes de estender a mão. Em segundos, o corpo do curandeiro foi consumido por uma sombra silenciosa.

Um a um, os sacerdotes que um dia tentaram exorcizar sua dor pagaram com a vida. Os santuários, antes sagrados, viraram túmulos em chamas. No início, Cen hesitou. Sentia um breve aperto ao ver o medo nos olhos dos inocentes. Mas era como um fio frágil, fácil de cortar. Sua sede de vingança devorava qualquer resquício de humanidade que ainda resistia.

Cen então seguiu sem direção, como uma tempestade errante. Por onde passava, sobravam apenas cinzas e gritos. Vilarejos foram destruídos, florestas queimadas, rios tingidos de vermelho. Sua magia era descontrolada, movida pelo ódio e pelo sofrimento acumulado.

E então, como um ciclo trágico, ele chegou à comunidade onde nasceu.

As casas humildes, as pessoas que um dia o chamaram de filho, amigo, vizinho — nada foi poupado. Os gritos de dor ecoaram pelas montanhas como lamentos de fantasmas. Crianças choravam, mães imploravam, e o céu parecia escurecer ainda mais com cada feitiço lançado.

Ali, Cen perdeu o que restava de si.

***

Nem mesmo a Mãe Natureza escapou da fúria crescente de Cen. Após conquistar um domínio mais profundo das artes arcanas, o feiticeiro das trevas — como passou a ser conhecido pela própria comunidade mágica — voltou seus olhos para uma nova presa: os seres encantados que antes haviam caminhado livremente sob a luz da lua.

Sua caçada começou em florestas antigas, onde o tempo parecia ter esquecido de passar. Um desses lugares era o Bosque dos Cantos, morada de duendes, fadas e criaturas que não ousavam atravessar os portais humanos. Mas nem ali estavam seguros.

— Por favor, poupe a vida dos meus filhos... — implorou uma criatura de pequena estatura, cuja voz tremia mais que suas pernas finas.

Ezrael era um duende típico segundo os antigos relatos: não mais alto que um coelho, com orelhas alongadas, olhos grandes e reluzentes como esmeraldas e uma barba espessa que mal escondia a ansiedade estampada em seu rosto enrugado. Vestia roupas feitas de musgo e raízes secas, com um pequeno gorro pontudo encurvado para trás — símbolo de sua linhagem guardiã.

Cen fitava-o com olhos gelados. Sua capa negra oscilava com o vento encantado do bosque, sugando a vitalidade das árvores ao seu redor. A terra parecia escurecer sob seus pés.

— Eu posso ser benevolente quando quero, Ezrael... — disse o feiticeiro, com a voz carregada de falsa suavidade. — Mas preciso de uma resposta sincera: onde fica o santuário das ninfas?

O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pelo farfalhar das folhas e o soluço de um dos filhotes de duende, escondido atrás de um tronco caído.

— Não conte, Ezrael! — disse com firmeza um duende mais velho, de pele acinzentada e olhos carregados de tempo. Seu nome era Aldrem, um ancião que carregava as marcas de séculos de proteção mágica.

Ezrael vacilou. Entre o medo e a honra, seu coração oscilava como um galho ao vento. Sabia o que significava revelar aquele segredo — mas também sabia o que Cen era capaz de fazer.

O céu começou a escurecer ainda mais, como se o próprio bosque prendesse a respiração.

***

As copas das árvores sussurravam um lamento antigo, como se a floresta inteira estivesse em luto. O santuário das ninfas, outrora um refúgio sagrado oculto entre colinas cobertas de névoa, jazia agora em ruínas. O ar estava impregnado de fumaça e cinzas, como se a própria respiração da terra tivesse sido sufocada. Nenhum pássaro ousava cantar. Nenhuma folha ousava se mover.

Cen havia passado por ali como uma tempestade cruel. Seu poder não respeitava pactos antigos, nem os vínculos entre a natureza e a magia. Ele atacara com fúria calculada, guiado por um prazer frio em destruir o que era puro. O santuário, construído à beira de um lago cristalino onde as ninfas costumavam dançar sob a luz da lua, agora era apenas um campo carbonizado, salpicado por restos calcinados de vida.

Entre as árvores chamuscadas, uma figura solitária caminhava em silêncio. Melody. Seus pés descalços pisavam em terra enegrecida, cada passo deixando uma marca de dor. Seus olhos, vermelhos de tanto chorar, não piscavam diante do horror. À sua frente, no centro da clareira onde antes se erguia uma fonte sagrada, jazia o corpo pequeno de Amir.

Ele estava irreconhecível. Os cabelos antes dourados, como raios de sol refletidos na água, haviam sido consumidos pelas chamas. A pele, marcada por queimaduras profundas, escondia o sorriso doce que Melody conhecia tão bem. E mesmo assim, ela o reconheceu. Pelo medalhão em forma de concha que ele sempre usava, presente que ela mesma lhe dera em um verão distante, quando tudo ainda era paz.

O corpo havia sido deixado ali como um aviso. Um troféu. Uma ofensa.

Melody caiu de joelhos, o grito preso em sua garganta. Não havia mais voz — apenas um vazio pulsante em seu peito. O mundo girava ao redor da dor. Os ecos das risadas de Amir, os passos leves das ninfas dançando no lago, tudo aquilo parecia ter sido apagado de uma só vez, como uma vela extinta por dedos impiedosos.

O vento soprou, trazendo o cheiro de madeira queimada e flores mortas. Um lamento coletivo se ergueu das profundezas da floresta, como se os próprios espíritos da natureza chorassem com ela. Uma das últimas ninfas sobreviventes, coberta por fuligem e com os olhos opacos de terror, se aproximou e se ajoelhou ao lado de Melody. Tocou-lhe o ombro com mãos trêmulas, mas nenhuma palavra foi dita. O silêncio entre elas era mais eloquente que qualquer lamento.

Cen havia deixado sua marca. Não apenas no solo, mas na alma dos que ainda respiravam. E Melody, agora consumida por uma dor que rasgava como lâmina, compreendeu o que precisava ser feito.

Ali, ajoelhada diante do corpo do irmão, com as lágrimas escorrendo por um rosto endurecido pela perda, ela jurou. Não haveria perdão. Não haveria paz. A natureza exigiria justiça. E Melody, a ninfa da esperança, estava disposta a se tornar algo mais sombrio se isso significasse vingança.

***

Mas sua fúria chamou a atenção do reino. O Rei Thales, temendo pela queda de Framon, reuniu tropas e magos para confrontá-lo — todos falharam. Thales foi o último, enfrentando Cen com a bravura de um leão, mas mesmo ele tombou diante do poder sombrio do feiticeiro.

Porém, nem todo brilho havia sido apagado.

O príncipe Nilo, herdeiro do trono, aliou-se a dois improváveis aliados: Celdo, um guerreiro das terras do sul, e Melody, uma maga vinda das florestas encantadas. Os três, guiados por coragem e desespero, enfrentaram Cen numa batalha que durou dias.

O céu se rasgou em relâmpagos, o chão se abriu em fissuras, e a própria realidade parecia estremecer com o embate. No fim, com um último esforço conjunto, os três conseguiram selar Cen no limbo — um espaço entre mundos, onde nem vivos nem mortos podiam alcançá-lo.

A paz retornou a Framon, mas não sem mudanças.

No trono, o jovem Nilo decretou o fim da caçada aos seres mágicos, encerrando séculos de perseguição. Melody e Celdo, antes separados por preconceitos e origens, uniram seus destinos em casamento, tornando-se símbolo de uma nova era de esperança.

Mas nas noites mais frias, quando o vento sopra das colinas de Kinopla, alguns ainda dizem ouvir um sussurro vindo do gelo:

— A vingança será meu principal trunfo...

ATUALMENTE

O entardecer caiu como um véu cinzento sobre o acampamento improvisado. Um silêncio espesso e opressor pairava sobre o grupo, como se o próprio ar tivesse decidido não mais vibrar com sons. Os olhos se desviavam, os pensamentos se cruzavam, e a tensão crescia como raízes invisíveis debaixo da terra.

Escondido entre as sombras das árvores, olhos vermelhos e brilhantes observavam a cena. Cen, o feiticeiro rejeitado, sorria com prazer ao ver o caos emocional se instalando. Seus dedos magros estalaram no ar e, com um sussurro antigo, lançou uma magia que atravessou as mentes dos quatro jovens.

— Huuummmm... Descobrindo a minha história, não é mesmo? Que tal ver o show completo?

Num piscar de olhos, todos foram tragados por um transe. As pupilas dilataram, as bocas entreabriram e, diante deles, a história de Cen se desdobrou em imagens e sensações vívidas. Viram como fora ridicularizado, perseguido, e por fim desprezado por Celdo, quando este descobriu os sentimentos do jovem feiticeiro.

— Oh, Deus... — Balbuciou Bartolomeu, com os olhos marejados.

— Quanta dor... — Disse Clarissa, desabando no chão, sem forças.

— Coitado... — Murmurou Catherine, antes de ser interrompida.

— Não fale besteira. — Mitty a cortou com desprezo, os olhos ardendo em ódio. — Ele sempre esteve errado. O seu pai fez certo em destruir esse monstro. — Deu as costas, cambaleando, tonto. — Droga! — sentou-se ofegante, o rosto pálido.

A dor revelada pela visão afetou a todos, mas ninguém foi tão profundamente atingido quanto Julius. Ele sentiu, quase na pele, o desprezo do próprio pai diante do amor inocente de Cen. Aquilo era mais do que uma memória alheia — era um espelho distorcido de sua própria luta. E, como se algo dentro dele tivesse se rompido, tomou uma decisão silenciosa: se afastaria da família.

— Então, esse Cen é mariquinha também? — Mitty soltou a pergunta com um sorriso debochado nos lábios, sua voz cortando o silêncio como uma adaga. O efeito foi imediato: Julius se afastou do grupo, o rosto tomado por um misto de vergonha, dor e indignação.

— Ridículo... — Balbuciou, engolindo o nó na garganta enquanto caminhava para longe.

— Espera. — Romeu o seguiu sem pensar, sentindo no peito a urgência de consolar quem amava.

Romeu encontrou o amado perto de uma árvore caída. Chamou por ele.

— Ei, Julius...

O rapaz virou-se bruscamente e os dois tropeçaram, caindo um sobre o outro na relva úmida.

— Você é tão lindo. Sabia? — Romeu disse num sussurro, com os olhos fixos nos de Julius, e tocou-lhe o rosto antes de beijá-lo.

O momento foi interrompido por uma tosse seca e constrangida.

— Julius. — chamou Bartolomeu, cruzando os braços.

Julius se ergueu rapidamente.

— Desculpa, isso nunca mais vai acontecer... Promessa de...

— Julius. — repetiu Bartolomeu, desviando o olhar..

— O que você deseja, irmão?

— Primeiro... sai de cima do Romeu.

Romeu também se apressou em levantar, tropeçando nos próprios pés.

— Nossa... lamento.

Bartolomeu retomou o tom sério.

— Com tudo isso que vimos, o melhor que podemos fazer é partir. Virgílio preparou provisões. Seguiremos para Kinopla.

A despedida foi breve, mas sentida. Catherine lançou um feitiço de proteção sobre a vila, envolvendo-a numa cúpula cintilante. As árvores se tornaram mais densas conforme caminhavam. O céu, mais opaco. A região parecia mergulhada num eterno crepúsculo.

Horas depois, o grupo montou acampamento numa clareira cercada de pinheiros retorcidos. Catherine ergueu uma barreira mágica enquanto os outros armavam as tendas.

— Ainda bem que o Virgílio nos deu todos esses materiais. — Comentou Clarissa, aliviada.

— Verdade. Pelo menos não vamos congelar. — Disse Bartolomeu, acendendo a fogueira.

— Você notou que está cada vez mais frio? Será que tem relação com o Cen? — Perguntou Clarissa, observando a lenha sendo consumida rapidamente.

— Não sei. Mas espero que não.

Catherine, exausta, entrou na tenda das meninas.

— A área está protegida. Mas fiquem alertas...

A noite caiu por completo, e os rapazes se sentaram em volta do fogo. Romeu cozinhou carne de cordeiro com temperos que preenchiam o ar com aromas reconfortantes. Mas nem mesmo a boa comida dissolveu a tensão.

Mitty, alheio a tudo, bebia sua água sem saber que estava envenenada. Um feitiço de Cen começava a corroer suas defesas mentais. Seus preconceitos, no entanto, eram genuínos — recusava-se a dividir uma barraca com Romeu ou Julius.

— Mitty, você está bem? — Perguntou Bartolomeu, notando o olhar perdido do príncipe.

— Estou ótimo. Quer me soltar? — Respondeu ele, ríspido.

— Vou dormir com você.

— Não sendo teu irmão ou o Romeu... — Murmurou ao entrar na tenda.

— Medíocre. — Pensou Bartolomeu, cerrando os punhos.

Enquanto isso, Julius, em busca de alívio, se atirou nas águas gélidas de um pequeno lago. O choque térmico o fez gritar, despertando o riso de Romeu, que não demorou a revidar sendo atingido por um jato de água fria. Logo depois, Julius mergulhou, buscando o silêncio do fundo do lago.

De repente, sentiu um toque em sua barriga. Romeu havia mergulhado também, desafiando o frio e as trevas.

— Eu te encontrei. — Sussurrou Romeu ao emergirem.

— Você sempre me encontra, né?

— E sempre vou te encontrar, Julius. Você é o amor da minha vida.

Beijaram-se sob o luar, as sombras dançando sobre a água. No entanto, uma névoa espessa começou a surgir, tornando o ar gelado. Decidiram sair antes que adoecessem.

Muito longe dali, nas colinas de Kinopla, o castelo de Cen erguia-se como uma cicatriz na paisagem. As paredes internas eram revestidas por restos de ossos, peles secas e frascos com líquidos turvos. O odor era nauseante.

Cen observava tudo da varanda mais alta, seus olhos vermelhos fixos no lago distante. Ao ver Romeu e Julius, seu rosto se contorceu em ódio.

— Mestre! — Lin surgiu das sombras, curvando-se.

— Como estão as coisas? — Perguntou Cen, jogando a carcaça de um lobo pela janela.

No centro do laboratório, a criatura “Morfeus” se erguia. Um monstro de pele negra e olhos de carvão, feito com materiais proibidos.

— Quero ver esses moleques derrotarem isso. — Vosciferou Cen, sorrindo. — E esse príncipe... logo a magia surtirá efeito. Ele matará os próprios amigos e trará os pombinhos até mim. E eu? Eu não precisarei mover um dedo.

Sua risada ecoou pelas colinas, sombria e triunfante, enquanto Lin o aplaudia com fervor.

A guerra silenciosa havia começado.

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