“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o ‘pra sempre’ sempre acaba” Por Enquanto, Legião Urbana
Desliguei o celular na hora. Coloquei o celular em cima da mesa, levantei e sai puto da vida. Eu não queria mais estar ali.
- Samuel, espera! Calma ai! – Eu parei e olhei para Marco.
- Pra que? Pra você me enganar de novo? É isso?
- Não! Samuel, o papai está mal de verdade. Ele largou o emprego, não sai de casa mais. Ele não está vivendo. Ele não come, não dorme. A mamãe não está melhor. Por favor Samuel. Fale com eles.
- Eles estão assim por culpa deles. Por culpa do dia em que o papai jogou na minha cara que eu não era filho dele. No dia em que mamãe protegeu o papai. Eu só estou agindo da forma que eles queriam.
- Mas eles se arrependeram Samuel. Eles estão mal por conta disso...
- Bom, eles sabem onde eu estou. Se eles quiserem, eles podem vir falar comigo.
- Você não entende Samuel...
- Quem não entende é você, Marco. Você é o filho perfeito que o papai sempre quis. Um engenheiro de sucesso! Hétero, macho comedor. Tem uma família linda. E eu? Sou apenas um viado que ele deixou bem claro não ser filho dele. Você sabe o que é isso? Sabe, Marco? Sempre que você levava suas namoradinhas para casa eu via orgulho nos olhos do papai. Enquanto eu... – Eu chorava muito nessa hora. Lagrimas queimavam o meu rosto. As pessoas olhavam para mim e para Marco.
- Samuel...
- Você sabe como é, Marco? O homem que você se inspirou a vida inteira, o homem que você tinha como herói olhar nos seus olhos e falar que você não é filho dele? Falar que você é um bosta? Sabe? Tudo poderia ser diferente se ele tivesse agido diferente – Eu chorava muito.
Marco me abraçou. Fiquei um tempo no abraço dele e depois eu sai.
- Eu tenho que ir, se eu pegar o ônibus das 8 eu ainda chego a tempo da aula – Eu disse, virando e saindo andando. Marco veio atrás de mim.
- Samuel, deixa eu pelo menos te levar lá...
- Não Marco, volte para sua vida e me deixa em paz que eu aprendi muito bem a levar minha vida sem ajuda de ninguém – Depois de falar isso, eu fui embora chorando. Marco não veio atrás de mim.
A aula foi terrível. Eu não conseguia parar de chorar um momento se quer. O professor até perguntou se eu estava bem. Essa foi a minha deixa para ir embora para casa. Se eu tivesse alguma duvida, eu iria na sala dele, explicaria a situação. Esse professor era firmeza, ele entenderia.
Em casa, me tranquei no quarto. No outro dia fui trabalhar mal. Durante a semana, por mais que eu me esforçasse, meu rendimento, tanto no serviço quanto na faculdade.
A prova de alta potência? Um desastre. Não gosto nem de falar sobre isso.
Seu Marcos conversou comigo sobre meu irmão. Me aconselhou a procurar meus pais, mas eu não queria isso. É claro, eu ficava triste, afinal, eles eram meus pais.
Marcelo também percebeu que eu estava meio abatido. Eu ia para casa dele, a gente fodia, mas acabava nisso. Era gostoso, mas essa rotina já estava me cansando. Eu comecei a me sentir sozinho. Eu comecei a precisar de alguém.
Lembrei da minha antiga vida em Varginha. Rodeado de amigos, lembrei de Raul. Lembrei do Matheus. Chorei quando lembrei do Matheus. No meu quarto, achei jogado em algum canto a foto que tinha eu, Gabriel e Matheus fantasiados de três mosqueteiros com a legenda “Um por todos, todos por um”.
Fiquei pensando onde estaria Gabriel nesse momento. Onde estaria Gean. Onde estaria Raul. Dei um chega pra lá nessas lembranças, limpei minhas lagrimas e me aprontei para ir para a faculdade.
A vida seguiu lentamente. Durante seis meses eu me foquei fortemente nos estudos. Era meu último semestre com aulas propriamente ditas, depois seria só fazer o estágio e receber meu diploma. Finalmente engenheiro.
Comecei também a me distanciar de Marcelo. Aquilo já estava perdendo o sentido para mim. Era muito gostoso, não nego, mas ele deixava muito claro que não passaria daquilo. Nesse momento da minha vida, com 22 anos, o que eu procurava era estabilidade, tanto financeira quanto amorosa. E continuar fudendo por prazer com Marcelo não era um jeito de eu conseguir isso.
No dia que eu terminei minha última prova da faculdade, eu senti duas toneladas saírem das minhas costas. Eu tinha ido muito bem, e só faltava essa matéria para eu terminar todas as matérias.
Depois que eu sai da Unicamp, resolvi ir no shopping me dar um presente. Nesses 5 anos de faculdade, eu consegui juntar um bom dinheiro. Consegui pagar minha festa de formatura e ainda sobrou dinheiro.
Enquanto eu andava no shopping, eu recebi uma ligação do Seu Marcos. Sentei no McDonalds, pedi um BigMac.
- Fala Seu Marcos, está tudo bem? Aconteceu algo para você me ligar agora?
- Aconteceu sim, Samuel. Você pode vir aqui, na oficina agora?
- Seu Marcos, posso sim. Mas eu to aqui no D. Pedro, vou demorar um pouco.
- Então faz o seguinte, espera aí. Eu vou até aí. Na hora que eu chegar eu te ligo, pode ser?
- Pode sim. Mas o que é tão sério a ponto de você querer me ver essa hora da noite?
- Bom, você verá. Mas eu garanto, é coisa boa!
Depois dessa conversa nós desligamos e eu voltei para o meu lanche. Entrei em algumas lojas, dei mais uma volta atoa. Comprei uma camiseta que eu achei bonita, fui até um playground jogar alguma coisa, para passar o tempo.
Enquanto eu matava tudo naqueles jogos de tirinho, Seu Marcos me ligou. A gente combinou de encontrar na praça de alimentação. Com os tickets que eu ganhei eu peguei uma pequena lembrancinha.
Cheguei na praça, sentei em uma mesa e fiquei esperando o Seu Marcos chegar. Enquanto isso, estava prestando atenção e rindo disfarçadamente de um casal brigando na mesa do lado.
Seu Marcos chegou alguns minutos após. Ele estava animado, ansioso com alguma coisa. Ele me cumprimentou e sentou na minha frente.
- Você fez sua última prova hoje, certo?
- Sim, agora para eu formar só falta o estágio. Eu estava pensando se o senhor poderia assinar o estágio para mim e tals... Afinal, motor elétrico é uma das áreas de engenharia...
- Não Samuel. Tenho uma coisa muito melhor para você. O motivo que eu queria muito falar com você hoje é que um empresário muito amigo meu vai chegar a qualquer momento aqui. E ele tem uma empresa e eu tomei a liberdade de falar com ele sobre você. Ele me pediu para encontrar com você para te arranjar um emprego. Fiz mal?
- Claro que não! Mas... Quem é esse empresário? – Perguntei curioso e ansioso ao mesmo tempo.
- Olha lá, ele está chegando aí – Seu Marco apontou para alguém nas minhas costas. Quando eu virei e vi quem era, levei um susto.
Era Alan, pai do Gean.
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Bom pessoal, eu sei que estou demorando muito para postar meus contos. Peço desculpas por isso, mas tem muita coisa acontecendo na minha vida nesse período (pode virar um conto, dependendo de como acabar).
Bom, espero que gostem! Um beijão...