Desfecho de uma paixão adolescente
Aquela sensação angustiante, que vinha me acompanhando nesses últimos dias que antecederam a minha mudança, se transformou numa espécie de dor que eu imaginava sepultada nos confins da alma, assim que o chiado dos pneus do avião, tocando a pista, marcava o fim da viagem e a chegada a Denver. Uma década havia se passado desde a última vez em que eu me encontrava numa aeronave correndo ao longo desta pista. Naquela ocasião eu me perguntava se algum dia seria capaz de juntar os fragmentos de um coração estilhaçado. E hoje, decorrido todo esse tempo, eu não saberia dizer se tinha conseguido. As chagas estavam ocluídas, mas as cicatrizes permaneciam como emblemas de um sentimento ingênuo. Ninguém me aguardava no desembarque. Propositalmente não especifiquei a data de minha chegada. Primeiro, por que não queria dar esse trabalho ao meu avô, que de uns tempos para cá vinha sofrendo de uma angina só controlada por medicações, e segundo, por que eu não sabia como eu mesmo estaria me sentindo ao voltar ao lugar onde me foi inculcado o maior sofrimento da minha vida. Surpreendentemente cheguei com o espírito mais controlado do que eu imaginava. O nó oprimindo minha garganta estava lá, mas, contanto que eu não precisasse me expressar verbalmente, não lhe daria a chance de se transformar em algo mais embaraçoso.
O outono tinha a propriedade de ser pródigo aqui no Colorado. Em nenhum outro lugar a vegetação adquiria tantas cores que contrastavam tão admiravelmente com o céu azul.
Embora não soubessem da data exata da minha chegada, notei que estavam me aguardando com ansiedade, sabe-se lá há quantos dias. Isso ficou evidente quando o taxi estacionou na rampa de acesso à garagem, e minha avó se atirou, apressada, para fora pela porta da frente, seguida de perto pelos passos mais lentos do meu avô. Um sorriso marejado em suas faces encanecidas fez brotar aquelas lágrimas que eu vinha tentando conter a custo. Desde a mais tenra idade eu havia aprendido a reconhecer em seus rostos a incondicionalidade de seu amor por mim. E era desse amor que eu precisava agora. Havia algo tão familiar naquela cena, como se fosse a reprise de um filme. Minha memória fez um retrocesso de dez anos, e lá estavam sentimentos semelhantes aos que eu vivenciava agora, uma enorme incerteza quanto ao futuro, e a lembrança de algo dolorido no fundo da alma.
- Como você está lindo, querido! – disse minha avó, se lançando em meus braços. Acho que aos seus olhos eu sempre fui lindo, o único neto de um filho único, por isso nunca acreditei muito em seu juízo nesse aspecto.
- Que saudades vovó! – estava difícil articular as palavras diante daquele reencontro. Embora nós nos tivéssemos visto, pela última vez, há quatro anos, quando eles estiveram em minha formatura.
- Benvindo ao lar filho! – disse meu avô, me apertando num abraço comovido. Subitamente me lembrei de que foi graças a esse homem, perspicaz e amoroso, que eu soube o que era ter um lar.
Não me surpreendi por encontrar a casa toda redecorada. Era graças a essas mudanças que ela fazia pela casa que minha avó se mantinha viva e sintonizada com o tempo. Foi a maneira que encontrou para dar sentido a sua existência. Meu quarto no primeiro andar continuava a disposição, mais jovial e mais austero, mas ainda sofisticadamente aconchegante. Não quis quebrar o encanto nem diminuir a satisfação que eles experimentavam com o meu regresso, nesses primeiros dias, mas eu não ocuparia aquele espaço por muito tempo.
- Foi uma surpresa quando você ligou dizendo que estava vindo trabalhar em Denver. Pensei que aceitaria aquele posto, que seu orientador lhe ofereceu, junto à sua equipe em Boston. Você não estava tendo uma carreira esplendida com ele? – questionou meu avô.
- Sem dúvida! Eu aprendi muito com ele. – respondi. – Mas, ele mesmo colaborou com minha decisão de aceitar o cargo de chefe do setor de emergências do Presbyterian-Saint Luke’s Medical Center aqui em Denver. – continuei. – Segundo ele, os desafios seriam ainda maiores do que aqueles que ele podia me oferecer, e a chance de me tornar chefe de uma equipe, com uma idade tão nova, deveria ser aproveitada. Além do salário que ele não tinha como cobrir. – concluí.
- O maravilhoso disso tudo é que temos você de volta! – disse minha avó, feliz com esse arranjo do destino.
Em poucas semanas eu os fiz ver que morar em Denver seria mais vantajoso e menos desgastante para mim, do que continuar em Boulder, e que cogitava essa possibilidade.
- Poderei vir passar os finais de semana que estiver de folga com vocês, assim não se sentirão abandonados. – argumentei, quando expus alguns anúncios de locação de apartamentos nas cercanias do hospital.
A relutância inicial se converteu em apoio na ajuda para localizar algo que estivesse a minha altura, como se expressou minha avó, sem que eu pudesse esconder meu riso com sua observação hilária. Também deixei manifestada minha intenção de alugar um imóvel em meia dúzia de imobiliárias, e foi justamente de uma delas que recebi um telefonema numa manhã gelada de novembro enquanto trafegava na US-36 rumo ao trabalho.
- Luke Henderson. – minha voz ainda estava sonolenta àquela hora. Passava um pouco das seis e quinze da manhã.
- Doutor Henderson! Aqui é John Berger da imobiliária, bom dia! – disse a voz grave que saia pelo sistema de som do carro.
- Bom dia, senhor Berger! – respondi, enquanto me mudava para a faixa mais a direita da rodovia.
- Chame-me de John. Acho que encontrei o que o senhor procura. Podemos vê-lo na hora do almoço? – havia uma certa euforia em seu tom jovial, talvez pela perspectiva da comissão que lhe cabia.
- OK! Doze e trinta está bem para você? – retruquei animado
- Perfeito! Passo no hospital para busca-lo. Até mais.
- Até lá! – Fui tomado por um estado de ansiedade que permeou todos os meus atendimentos daquela manhã.
Os apartamentos se pareciam mais com um conjunto de casas geminadas, que iam galgando um aclive numa rua arborizada de West Park City, pois se distribuíam por uma construção térrea cheia de arestas, o que impedia a visão direta das unidades vizinhas e dava privacidade entre um jardim bem cuidado e exuberante. A distribuição interna, espalhada pelos cento e vinte metros quadrados do apartamento dava glamour a um projeto simplista. Uma ampla sala, lavabo e uma cozinha com lavanderia aberta para um corredor lateral ficavam num patamar cinco degraus abaixo do corredor com duas suítes e um pequeno escritório. Quase todas as janelas davam para o oeste o que permitia ver a silhueta das Rochosas, um cartão postal permanente. O cheiro de tinta fresca ainda imperava no ambiente, quando John destrancou a porta e me deu passagem.
- Então, o que achou? Ele foi reformado recentemente, as instalações elétricas, hidráulicas e toda a calefação são novos. – disse, me encarando com um olhar de expectativa.
- Seu trabalho foi fantástico John! Era como eu imaginava. – respondi, depois de já estar me vendo morando entre aquelas paredes. – Agora só dependemos do valor. Está dentro dos limites que lhe passei? – indaguei.
- Estava! – disse, abrindo um sorriso enigmático e um tanto intimo.
- Como assim? – perguntei
- O proprietário está deixando os Estados Unidos por uns anos por conta de seu trabalho. E, na pressa para fechar o negócio concedeu um belo desconto, que eu ainda fiz crescer um pouco mais. – ele continuava com aquele riso triunfante, e fez questão de enfatizar as palavras quando mencionou sua participação no negócio. Estou enganado ou ele está tentando me impressionar?
- Que bom para mim, mas com isso sua comissão será menor. – brinquei.
- O importante é que tenha gostado! Quanto ao que perdi da minha comissão, vou te cobrar um jantar um dia destes. – revidou, ousado. De uns tempos para cá meus sentidos não me enganavam mais como antigamente. Ele estava dando em cima de mim.
- Feito! – disse, num sorriso tímido, depois de ele me passar o valor do aluguel, usando um tom profissional, e acrescentando a cobrança do jantar, num tom que me soou como se ele estivesse me fazendo uma proposta indecorosa.
- Quem sabe aqui mesmo, quando você terminar de mobiliá-lo? – sua proposta era evidente. Acabei aderindo ao seu sorriso franco e malicioso, afinal ele se enquadrava perfeitamente naquele tipo de homem que vinha poluindo minha mente de uns tempos para cá.
Tive a ajuda da minha avó, que decorou o apartamento, praticamente sozinha; vindo eventualmente perguntar minha opinião em questões menores, só para não me deixar alheio ao seu projeto ousado, e um tanto acima das minhas posses.
- Mas vovó, isso é mesmo tão vital? Lembre-se de que sou um assalariado, e que este apartamento não é meu, é apenas alugado! – exclamava, quando ficava sabendo do valor de algumas de suas ideias.
- Deixe de bobagem! Considere como um presente meu e de seu avô! – retorquia, não abrindo mão de executar seu projeto conforme havia planejado. – Só posso ficar tranquila sabendo que você vai ficar bem. – apelava, sentimental.
- Com a quantidade de dólares que você já gastou aqui, não há como não ficar bem. – devolvi, com um abraço e um beijo.
Não pude deixar de reconhecer que seu empenho deixou o apartamento com um ar sofisticado e, mesmo assim, muito aconchegante. Sei que por dentro ela se derretia com os meus elogios, e isso a deixava feliz.
A primeira semana de janeiro estava sendo particularmente fria, embora os invernos não fossem rigorosos pelo fato da cidade estar aos pés das Rochosas num vale semiárido. Na véspera do final de semana eu retornava para casa depois de um plantão exaustivo, a neve caía acompanhada de rajadas de vento não muito intensas, mas suficientes para que a gente sentisse os ossos enregelados. Meu celular começou a tocar assim que a porta da garagem se fechou atrás de mim.
- Luke! – suspirei, sentindo o peso daquela semana repleta de plantões.
- Oi Luke! É John, como vai? – a voz rouca e grave carregava um sorriso embutido.
- John? – titubeei, tentando associar o nome a alguém conhecido do hospital.
- John Berger da Century21. – pude sentir a decepção em seu tom de voz quando não o reconheci imediatamente.
- Ah, John! Como vai? Desculpe, mas tive uma semana horrível. O que anda fazendo? – perguntei, tentando justificar meu esquecimento.
- Estou atrás de um doutor muito ocupado, tentando descolar um jantar! – retorquiu irônico.
- Pois é, estou em débito com você. Primeiro foram as obras e a mudança, agora o excesso de trabalho com as comemorações de final de ano. – tentei justificar. – Mas você precisa vir conhecer meu apartamento, acho que não vai reconhecê-lo! – emendei.
- Foi por isso que eu liguei! Estou com um Syrah Marc Sorrel Hermitage nas mãos e me ocorreu de degustá-lo em sua companhia! – exclamou com entusiasmo, seguido de um silêncio inquisitivo, torcendo para o golpe dar certo.
- Ainda nem me livrei das roupas de trabalho. Acabo de chegar em casa nesse instante, e exausto! – retorqui, ressaltando as palavras ‘roupas de trabalho’ e ‘exausto’ com um tom de cansaço na voz, na esperança de adiar esse encontro. Eu não estava com a melhor das minhas caras para encarar um encontro com aquele quase quarentão lindo e sedutor, que eu sabia havia se preparado para esse encontro, em tudo o que se referia a exaltar seu porte físico. E, eu estava um lixo. – Nem tenho como preparar um jantar tão às pressas! – acrescentei.
- Há um tailandês a caminho de sua casa com uns pratos ótimos. Tenho certeza de que você vai adorar! Você gosta de comida tailandesa? ... Passo lá e pego algo que vai te surpreender! – ele nem me dava tempo de responder, tamanha a determinação. Tive que rir.
- Que eu me lembre, quem estava devendo o jantar era eu! – minha voz saiu leve e provocante. Onde estava querendo chegar com aquilo?
- Não se preocupe! Vou encontrar outro meio de conseguir a minha comissão! – exclamou risonho. Isso, indubitavelmente, foi uma cantada.
- Então só me dê um tempo para tomar um banho. – respondi, me perguntando que loucura eu estava fazendo.
- Estarei aí em uma hora! – a sonoridade alegre de sua voz me deu a certeza de que ele estava com o punho, do braço desocupado, cerrado, dando um golpe no ar em sinal de vitória.
Eu mal terminara de me vestir quando o interfone tocou. Abri o portão da portaria e, segundos depois, John estacionava diante da entrada emparelhando seu Volvo S80 ao lado do meu carro. Me perturbou um pouco aquele homem alto e vigoroso, trajando um jeans preto, camiseta branca, por baixo de uma camisa xadrez branco e preto, cabelo curto displicentemente desalinhado, e barba por fazer; me cumprimentando com um abraço pujante e um sorriso tipo ‘predador à solta’, ao mesmo tempo em que aspirava o cheiro da pele do meu pescoço.
- Oi! Você está muito bem para quem diz estar terminando uma semana exaustiva! – a voz áspera e sedutora. Esse tom de voz devia ser sua arma de conquista, pois o efeito era devastador.
- Garanto que foi. O que você tem diante dos seus olhos são apenas resquícios de um ser esgotado. – brinquei corando, e apanhando de suas mãos os pacotes exalando um convidativo cheiro de comida.
- Então felizardo daquele que pode contemplá-lo quando você está inteiro! – exclamou, divertindo-se com minha timidez.
- Venha até a cozinha. Vamos ver o que você trouxe que está com esse perfume delicioso. – disse, tentando interromper aqueles galanteios.
- Espero que goste de comida tailandesa! É um pouco picante, mas pedi para pegarem leve na pimenta. Não sabia seu gosto. – seu olhar acompanhava atento eu desembrulhar e colocar a comida em travessas.
- Gosto bastante, mas também sempre peço para aliviarem na pimenta. – revidei com um sorriso.
- Onde está o abridor de garrafas? Vou abrir o vinho enquanto você ajeita isso aí. – prontificou-se.
Dispus as taças sobre o balcão da cozinha, e levei a comida até a mesa que deixara pronta antes de entrar no banho, e ficava junto ao janelão que dava para uma pequena área aberta nos fundos do apartamento. Quando voltei à cozinha ele já havia servido o vinho e me esticava a taça com o líquido de um vermelho intenso reluzindo através do cristal. A mão livre cobriu a minha, assim que peguei na taça, num toque propositalmente insinuante e fortuito. Senti meu rosto corando, e a ledice tomando conta do John, indicando-lhe que estava no caminho certo. Meu corpo foi inundado por uma sensação de calor que brotava dentro de mim e vinha se espalhar na minha pele. Era uma sensação que eu não conseguia esconder, e que denunciava minha inquietude diante de uma investida. Eu me martirizava por ser incapaz de ser menos devassável. Puxei a mão com um movimento abrupto, como se tivesse tomado um choque, quase entornando o vinho. Ele abriu um sorriso triunfante, e brindou, tocando sua taça na minha, enquanto um olhar penetrante tentava decifrar as profundezas do meu ser através dos meus olhos.
- Ao seu novo apartamento! Que por sinal ficou maravilhoso. Muito bom gosto, doutor Luke! – sorriu, carregado de intenções obscenas.
- Ao seu bom trabalho! – retruquei, desconcertado.
Foi uma noite tensa e árdua. Enquanto saboreávamos a comida que estava estupendamente saborosa, eu me sentia como se estivesse numa praça de touros, me esquivando de suas frases dúbias, das investidas sub-reptícias, e de seu olhar guloso. Eu conhecia esses ardis. Ao longo dessa década, após meu primeiro, e único, relacionamento sexual amoroso, eu os senti sendo usados por cerca de meia dúzia de carinhas que tentaram algo comigo. No entanto, eu estava tão focado nos meus estudos e, traumatizado com a minha primeira experiência nesse campo, que nunca deixei as coisas evoluírem. Eu sabia que estava na hora de deixar meus temores guardados a sete chaves nalguma reentrância da minha alma, e o John tinha tudo para vencer essas barreiras que eu me auto-impus. Mas, por algum motivo, eu estava cansado demais para assimilar essa novidade, e não queria que extrapolássemos os limites de uma amizade. Quanto mais que adentrássemos em uma intimidade carnal. Precisava estar com a mente mais arejada e revigorada, do que nesse momento, para deixa-lo avançar. John era dono de um autocontrole fantástico, a despeito de seu olhar ardente, da cobiça estampada em seus lábios sensuais, e do volume priápico que se manifestava entre suas coxas, ele continuava investindo de forma sútil, um gentleman. Passava das duas da madrugada quando ele se despediu de mim, um pouco frustrado, mas não vencido. Para ele aquilo foi como uma batalha, não saia derrotado, apenas recuava estrategicamente.
- O senhor ainda me deve um jantar, doutor! – disse ao se despedir, e ousadamente, me roubar um beijo sonegado, tocando levemente o canto da minha boca com seus lábios libidinosamente úmidos.
- Agora já são dois! – revidei corajoso. – Obrigado pela bela noite! – pronunciei com doçura. Ele voltou a me abraçar, e desta vez apertou seus lábios contra os meus de modo incisivo. Eu e minha boca grande, pensei. Não dava para ficar calado?
Algumas semanas depois, eu me preparava para deixar o hospital no final da tarde, quando o grupamento de paramédicos emitiu um alerta aos hospitais das redondezas sobre um grave acidente na interestadual 25, envolvendo um ônibus com crianças de uma escola de Puebla, a cerca de 180 quilômetros ao sul de Denver, que estavam participando de uma excursão ao zoológico local. A neve na estrada produzira um engavetamento envolvendo diversos caminhões e veículos, entre eles o ônibus escolar.
A emergência começou a lotar, e eu vi minha noite, envolvido num edredom, com o livro que adquiria no último sábado, se perdendo num alvoroço de atendimentos. Como nosso centro é referência no atendimento pediátrico, a maioria das crianças deu entrada num contínuo ir e vir de ambulâncias. Enquanto os plantonistas faziam os atendimentos das vitimas, um garotinho em especial chamou a minha atenção. Devia ter entre quatro e cinco anos. Estava tremendamente assustado, mas se mostrava bastante solícito, se aproximando de outras crianças que berravam implorando pela presença dos pais, e tentava acalmá-las. Ele próprio apresentava algumas escoriações, e um braço fraturado que já havia sido reduzido e engessado. Os analgésicos e sedativos que lhe foram injetados não foram suficientes para prendê-lo no leito.
- Você precisa voltar para a cama e esperar por seus pais lá. Não pode ficar circulando por aí! – advertiam-lhe constantemente os enfermeiros. Ele fingia voltar, mas ao chegar próximo ao leito, aguardava um momento de distração deles para empreender seu intento.
Aproximei-me dele, pois temia que saísse do setor e se encaminhasse para fora do hospital. E tudo o que não precisávamos eram mais problemas no meio daquele caos. Seus olhos tinham um tom castanho escuro e muito brilhante, os cabelos loiros, levemente cacheados e um rosto angelical, mas inquisitivo, não me eram estranhos. Podia jurar que já tinha visto um garotinho com essas feições. Mas onde?
- Como você se chama? – perguntei, sob seu olhar atento e desconfiado.
- Luke! – sua resposta soou firme, e ele me encarou com um sorriso, talvez por que eu não representava mais nenhum perigo, agora que ele já havia sido atendido.
- Eu também me chamo Luke. – revidei, com um sorriso doce. – E o que temos aqui? – perguntei, dando pequenos golpes com os nós dos dedos sobre o gesso, até com o intuito de verificar se já havia se solidificado.
- Eu quebrei o braço quando o caminhão bateu no nosso carro. – sua eloquência era ligeira e sincera. – Tem umas fotografias aqui, quer ver? – indagou, me pegando pela mão e me levando até o leito no qual fora atendido. Acompanhei-o tentando segurar o riso.
- Vejamos. Humm... Sim, aqui e aqui. – disse, apontando os locais das fraturas. – E quem estava com você no carro? – perguntei, procurando identificar seu responsável.
- Só o Andrew estava comigo, ele foi me buscar na escola. – respondeu prontamente.
- E você sabe onde está o Andrew? – perguntei
- Os bombeiros o tiraram do carro e colocaram numa ambulância, ele não conseguia falar com eles, acho que estava dormindo. – disse, ingenuamente.
Enquanto eu supervisionava o atendimento dos plantonistas e, eu mesmo fazia alguns atendimentos, ele se prendera ao meu jaleco quase como um carrapato. Arregalava os olhos, que mantinha fixos no movimento das minhas mãos, e depois de eu ter terminado, ele asseverava à criança, sob atendimento, que tudo iria ficar bem. - Viu, eu já fiquei bom. E não está doendo! – dizia, com uma expressão genuína e dócil.
Em pouco tempo conseguiu cativar a todos e deixar o ambiente menos tenso.
- Alguém já acionou a assistente social para encaminhar esse garotinho para os pais? – perguntei a enfermeira chefe.
- Sim, doutor! Estão aguardando a chegada do pai. Mas estamos no horário do rush e parece que o acidente espalhou o caos lá fora. – respondeu.
Passava das nove e trinta da noite quando finalmente o ritmo da emergência começava a voltar ao normal. O garotinho continuava elétrico bisbilhotando todo e qualquer canto, e enchendo os enfermeiros de perguntas.
- Doutor Henderson! – Este é Jeff Richmond, o pai do garoto Luke. – disse a assistente social ao se aproximar das minhas costas, enquanto eu preenchia um formulário sobre o balcão da enfermagem.
Minhas pernas viraram gelatina, senti a boca seca, e procurava forças para me virar e encarar o passado. Uma mão pequena e quente se encaixou na minha antes de eu ter reunido todas as minhas forças.
- Papai, este é o doutor Luke! Não é engraçado? ... Eu me chamo Luke, quem cuidou de mim foi o doutor Luke no hospital Saint Luke! – exclamou, dando uma gargalhada sonora e divertida, alheio ao olhar penetrante que o pai e eu trocávamos num silêncio sofrido.
- Senhor Richmond. – balbuciei, minha voz se interiorizou, inaudível. Senti meu coração batendo num descompasso, e uma vertigem que por alguns segundos deixou tudo rodando à minha volta.
- Luke! – a voz dele saiu rouca, como que vencendo um grande obstáculo para chegar à boca.
Nenhum de nós conseguiu se mover, apenas nos encarávamos como duas estátuas. As pessoas a nossa volta nos fitavam surpresas, sem entender o que estava acontecendo. O garotinho desviava seu olhar espantado do rosto do pai para o meu, tentando decifrar aqueles olhares petrificados. Por fim, vendo que ninguém se movia, ele me puxou pela mão até estagnar em frente ao pai. O Jeff pegou a minha mão entre as suas e me apertou como se fosse me esmagar, como que procurando segurar aquilo que lhe havia escapado há dez anos. Foi como tocar um fio elétrico desencapado. Uma eletricidade que eu julgava sepultada, e que eu conhecia muito bem, percorreu meu corpo, agitando-o e provocando um calafrio que desceu pela minha espinha. Identifiquei a mesma sensação percorrendo o corpo dele. Uma década não fora capaz de dissolver aquela sintonia que nossos corpos experimentaram tão a fundo e intimamente.
- Doutor Henderson ... doutor Henderson! – um eco reverberava pela sala, quebrando aquele momento tão secreto. – Há mais alguma coisa que o senhor precise prescrever antes de liberarmos esse super-herói? – inquiriu a voz insistente da enfermeira chefe.
Expliquei ao Jeff tudo o que havia acontecido com o filho, o procedimento a que foi submetido e os cuidados que deveriam ser dispensados a ele nas próximas semanas. O Luke me encarava sorridente do colo do pai, ignorando o esforço que eu fazia para não desmontar na frente daquele homem que tantos sentimentos me fez experimentar. E, que agora me encarava com um olhar pesado e taciturno. Continuava tão lindo como sempre o achei. Havia mais massa muscular por baixo daquele terno elegante que ressaltava seu corpo atlético e parrudo. Mas, seu rosto tinha uma expressão triste, a jovialidade daquele garotão bem-nascido e inconsequente, deu lugar a uma seriedade austera. Ele me escutava, embora eu soubesse que ele não estava ouvindo uma palavra sequer daquilo que eu dizia. Um novo silêncio se instalou entre nós quando terminei meu discurso. O Luke o sacudiu para tirá-lo daquele estupor.
- Meu Luke! Você está de volta. – sussurrou, o tom de sua voz era pasmado. – Meu Luke! – continuou, como para se convencer da realidade.
- Eu sou o seu Luke! – disse o garotinho, em tom de repreensão.
- Sim, filhão. O papai sabe que você é o meu Luke. – garantiu, apertando o filho contra o peito, num instinto protetor, como muitas vezes fizera comigo. Aquilo foi demais para minha alma solitária. Os olhos úmidos deixaram rolar duas grossas lágrimas pelo meu rosto, que eu quis afoitamente secar com as costas da mão, mas ele foi mais rápido, e as amparou com o polegar, enquanto parte da mão se encaixava suavemente nas curvas do meu rosto. Quem circulava ao redor se perguntava o que significava aquela cena. No entanto, o mundo desaparecera para nós dois.
- Por que o doutor Luke está chorando, papai? – perguntou, incrédulo, o garotinho que não desviava seu olhar atento e curioso de mim.
- Acho que ele ficou feliz por eu vir buscar você. – retrucou Jeff, com uma criatividade que me espantou. De alguma forma a resposta do pai deixou o garoto mais confuso.
- É muito bom saber que você está de volta. Você não imagina quantas vezes eu sonhei com isso. – disse emocionado, encarando meu olhar perdido.
- Foi bom revê-lo, e saber que está tudo bem com você. – revidei. Embora soubesse que esse reencontro estava reabrindo as chagas do meu coração.
Embora muito cansado, dirigi até Boulder. Não conseguiria dormir sozinho no meu apartamento, e a casa dos meus avós me pareceu ser o abrigo ideal para digerir aquele reencontro. Era quase meia noite quando encontrei meus avós, ainda acordados, vendo TV.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntaram espantados com a minha chegada.
- Não! Eu só quis vir dar um beijo em vocês. – balbuciei, numa mentira branca que eles não engoliram, muito embora não insistissem para saber o real motivo da minha visita inesperada.
- Você deve estar exausto. Vimos a reportagem do acidente e a menção de que os feridos foram levados para o Saint Luke’s. Como estão as crianças? – perguntaram curiosos.
- Três estão em estado muito grave, e temo pelo prognóstico. Algumas ainda permanecem internadas, mas a maioria teve ferimentos leves e foram liberadas. – respondi.
- Está com fome? Quer que eu prepare alguma coisa? Você já jantou? – inquiriu minha avó.
- Não se preocupe vovó, comi algo no hospital, está tudo bem comigo.
- Está tudo bem mesmo? Você me parece muito cansado. – disse meu avô, com aquela perspicácia que lhe era peculiar.
- Sim, está tudo bem. – retorqui, sem convencê-lo. – O filho de Jeff Richmond e o motorista que o trazia da escola também se envolveram no acidente. O garoto teve uma fratura num dos braços e está bem, o motorista foi levado inconsciente para o pronto socorro adulto e, pelo que eu soube, precisou passar por uma cirurgia para remoção do baço. Eu não sabia que o Jeff havia se casado. – acrescentei, tentando dar às minhas palavras um tom displicente.
- O noticiário explorou bastante o envolvimento do filho dele no acidente. Aliás, a família Richmond continua sendo alvo dos repórteres. – disse meu avô.
- Como assim? – indaguei
- Eles fizeram uma espécie de balanço da vida do Jeff. Mencionaram desde a morte do avô e do pai dele naquele acidente há muitos anos, até a perda da esposa, dois anos após o casamento. Ao mesmo tempo, ressaltaram o sucesso na vida profissional. Desde que ele assumiu os negócios da família as empresas vêm prosperando e a fortuna dos Richmond se consolidando como uma das mais sólidas do país. – revelou minha avó.
- Então ele perdeu a esposa? – perguntei incrédulo.
- Sim. Ela teve um diagnóstico de glioblastoma multiforme poucos meses após o parto, e o tratamento não deu resultado. Cerca de dois anos depois ela faleceu. – comentou meu avô. – A vida desse rapaz não tem sido nada fácil. Desde a infância ele vem acumulando perdas familiares e deve ter experimentado uma vida muito solitária. Vocês foram colegas de escola, não foram? – emendou.
- Sim, fomos amigos no colégio. – consegui sussurrar, entristecido pela sina que a vida do Jeff representava.
Duas semanas depois, num sábado de manhã gelado e com nuvens baixas prenunciando uma chuva para breve, eu me dispus a dar umas pedaladas. Eu passava ao longo da east 17th avenue margeando o lado sul do City Park quando meu celular tocou. O número era desconhecido.
- Luke Henderson. – atendi, encostando a bicicleta, próximo a um quiosque de sucos.
- Luke, é Jeff. Tudo bem? Está podendo falar? – a voz dele ainda produzia um reboliço no meu corpo. Eu não lhe havia me passado o número do meu celular, mas esse era Jeff Richmond, a quem, ao que parece, não existe dificuldade para descobrir as coisas.
- Oi Jeff! Sim. Está tudo bem com o Luke? – respondi.
- Ele está ótimo, foi passar o final de semana com a Corine e o Albert em Boulder. Eles o estão paparicando ainda mais depois do acidente.
- Fico feliz, ele é um bom garoto. Mostrou uma coragem surpreendente para sua idade, diante do que aconteceu. – disse aliviado.
- O que está fazendo? – perguntou, dando novo, e certamente, o rumo que ele queria à conversa.
- Estou dando uma volta de bicicleta pelo parque. – respondi titubeando.
- Quero vê-lo! – a determinação e a ordem embutidas no tom de voz do Jeff. Incrível como esses aspectos de sua personalidade me eram familiares. – Vou passar no seu apartamento dentro de trinta minutos. – emendou.
- Jeff, espere....não sei se é uma boa ideia! – exclamei, tomado de um pavor repentino ao me sentir prestes a encarar o passado.
- Você não quer me ver, é isso? – retrucou, sua voz perdera aquele tom autoritário.
- Não, não é isso. É que eu precisava ir a Boulder ver meus avós. – justifiquei.
- Ótimo! Eu passo no seu apartamento e vamos juntos até lá, assim aproveito para cumprimentá-los. – a eloquência das suas palavras corroborava a decisão já tomada.
- Está bem, dentro de uma hora então. – concordei. Isso, mais cedo ou mais tarde, acabaria acontecendo morando na mesma cidade. Chegara a hora de eu enfrentar meus fantasmas.
Quarenta e cinco minutos depois o interfone toca. Sem que eu lhe desse o endereço, lá estava ele diante da minha porta. Nos cumprimentamos, e ele me toma em seus braços. É um abraço desajeitado, meio tímido, de ambas as partes, ou talvez fosse a falta de costume, perdida ao longo desses anos. Antes que seus lábios se aproximassem demasiadamente dos meus eu me desvencilhei dele.
- Oi! – ele me encara como se tivesse encontrado algo que havia perdido.
- Oi! – retribuí tímido, o coração palpitando desesperadamente no peito.
- Lindo seu apartamento! – exclamou, percorrendo o aposento com os olhos.
- Mais uma obra de minha avó. – disse, anuindo.
- Como estão eles? Há anos que não os vejo. – perguntou, tentando vencer aquele estranho constrangimento que estava experimentando, pela primeira vez, ao meu lado.
- Estão ótimos para a idade deles. – retorqui, aliviado pelo foco na conversa não girar em torno de nós dois.
Uma chuva fina caia lá fora, enquanto ‘safe and sound’ do Capital Cities preenchia a cabine aquecida do SUV da Mercedes Benz GL550. Por uns instantes ele desviou o olhar da estrada, encarando-me exatamente quando a frase ‘eu poderia lhe mostrar o amor numa onda da maré de mistério, você ainda estará em pé ao meu lado’ era vocalizada entre os acordes da música, como se quisesse fazer dele as palavras que cantavam. Meu corpo se inundou de um calor relaxante, e eu lhe devolvi um sorriso doce e cúmplice. Uma década não conseguira tirar de nossos corações aquele amor plantado tão desastradamente em nós.
Meus avós o acolheram com simpatia, e eu percebi que ele ficou feliz com aquela generosidade descompromissada. Fiquei imaginando como deviam ter sido raros esses momentos na vida dele, e tive que me esforçar para não deixar aquele nó subindo pela minha garganta, denunciar meus sentimentos. Depois de uma conversa ligeira e um café com bolo de chocolate, ele me levou até a casa de Corine e Albert. Lá foi a minha vez de ser recepcionado com uma alegria saudosa e cheia de afeto.
- Vovó, esse é o doutor Luke que cuidou de mim lá no hospital. – disse Luke, ao correr em minha direção e se enlaçar nas minhas pernas com um largo sorriso preenchendo seu rosto.
- Como vai querido? Ele nos contou detalhadamente a maneira como você atendia os pacientes naquele dia. Chegava a imitar seus gestos para dar realce às palavras. – disse Corine, abraçando-me calorosamente.
- Disse que quer ser médico quando crescer! – disse Albert ao me dar um abraço efusivo. – É bom tê-lo de volta. E, muito obrigado por ter cuidado do nosso tesouro. – acrescentou, demonstrando o amor que sentia pelo garoto.
Tive que fazer um relato dos meus anos de ausência e, mesmo diante do semblante contrariado do Jeff, eles me contaram abertamente todos os lances do breve casamento e dos momentos sofridos que se seguiram nesse capítulo da vida do enteado.
- Mas aqui está o nosso maior presente! – exclamou Corine, abraçando Luke que se sentara em seu colo para me encarar extasiado. – Jante conosco esta noite. – acrescentou, procurando a anuência do olhar do Jeff.
- Acho que esta noite vai ser impossível. – apressou-se Jeff. – Temos um compromisso, talvez amanhã, o que me diz? E seus avós também são nossos convidados. – emendou, me encarando com aquela determinação de decisão tomada. Temos um compromisso? Eu não sabia, que compromisso é esse?
Pouco depois ele fez um meneio com a cabeça para que eu o seguisse. Fomos até a garagem e ele me mandou entrar no carro. Outro gesto que eu conhecia, e que me era tão familiar. Ah, Jeff, você continua tão mandão como sempre. Eu o conhecera assim, aprendera a gostar dele assim, e o fato dele ser tão autoritário não me assustava mais. Será que eu estava me conformando com a ideia de ser seu submisso? Afastei essa ideia dos meus pensamentos com o maior empenho possível. Não, definitivamente não. Eu o amava acima de tudo, mas esse amor só seria viável numa relação equilibrada, de igualdade, de reciprocidade.
Logo percebi que ele tomava a estrada para o haras. Meu corpo começou a se retesar. Algo no meu íntimo clamava como fogo ardendo sobre as brasas. Aquele desejo de senti-lo dentro de mim voltou com a força de um vulcão, e meu cuzinho se contorcia de tesão. Ele pousou uma das mãos sobre a minha coxa e me encarou com os olhos brilhando obscenamente, carregados de luxúria.
O velho celeiro e a casa imponente continuavam lá, aparentemente reformados ou recém- pintados, mas ao lado do celeiro fora erguida outra construção que se harmonizava com todo aquele clima equestre. Era uma nova cocheira para abrigar um plantel maior de cavalos. Os bordos que circundavam a casa estavam mais frondosos, e agora permitiam apenas visualizar o jogo de inclinações do telhado. Senti um friozinho na barriga, algo estranho, mas não desconfortável, e essa sensação estava acompanhada de um tesão pelos músculos do Jeff, que se moviam sedutoramente enquanto ele descia do carro, pululando meus pensamentos com reminiscências libidinosas. Ele esperou até que eu estivesse ao seu lado para empreender a curta caminhada até o celeiro. A porta estava aberta, e ao nos aproximarmos dela senti o cheiro peculiar invadir minhas narinas, ao qual me acostumei quando adentramos na penumbra. Assim que meus olhos se adaptaram a pouca luminosidade consegui distinguir a silhueta musculosa e maçuda do Rodriguez. Pela primeira vez eu vi aquele tórax musculoso coberto por uma camiseta, que justa e colada ao tronco não escondia a impressionante virilidade daquele homem.
- Boa tarde Luke! – cumprimentou, dando alguns passos em nossa direção. Seu sorriso estava mais desinibido e bastante efusivo, e ele continuava sendo um belo exemplar de macho.
- Como vai Rodriguez? Estou contente por vê-lo tão bem! – devolvi, abraçando-o num impulso espontâneo, com uma alegria genuína por resgatar mais um elo do meu passado. Um olhar reprovador se instalou no rosto do Jeff, quando voltei a encará-lo. Como esse homem consegue ser tão dominador e ciumento?
- É um prazer tê-lo de volta! – exclamou, ignorando o semblante contrariado do patrão.
- Venha! – disse Jeff, pegando-me pelo braço e me levando em direção à escada que levava até a parte de cima do celeiro.
Lá muita coisa havia mudado. Além de uma nova disposição do mobiliário, as antigas portas fechadas da estante, que encerravam aqueles instrumentos de tortura sexual, deram lugar a prateleiras repletas de troféus e fotografias. Nalgumas havia um garotinho montando um pônei, que logo reconheci como sendo o Luke. A semelhança dele com o pai, naquela mesma idade, era impressionante. Enquanto minha vista percorre o ambiente e se concentra em algumas fotografias de premiações de torneios dos quais Jeff havia participado, ele me abraça pela cintura e me puxa para junto de si. Sinto meu corpo se retesando e o desejo fazendo meu cuzinho se contorcer sofregamente. Eu me sinto seguro, valorizado e amado tudo a um só tempo, naqueles braços quentes que me apertam contra seu peito firme. É tudo com o que eu sempre sonhei. Fecho os olhos e desfruto da sensação de estar novamente em seus braços. Amo o cheiro desse homem, sua força, seu jeito inconstante. Eu me viro e deslizo minha mão pelo rosto dele, a barba cerrada e áspera roça a palma da minha mão e me excita. Nossas bocas vão se aproximando lentamente até que um toque suave une nossos lábios. Ele me aperta com mais força e minha boca se rende deixando que a língua dele me invada e se entrelace com a minha numa dança carregada de desejo.
- A consequência de você ter me abandonado mudou radicalmente minha visão geral da vida. Toda minha atitude mudou depois daquilo. – disse, encarando-me com um olhar cauteloso.
Ele me parece tão arrependido, sinto um arrepio dolorido trespassando meu corpo, e eu me questiono sobre o que eu fiz com ele. Será que eu contribuí para aumentar a tristeza que esse homem já experimentou na vida? Até onde vai a minha responsabilidade por ele ter se tornado esse homem sofrido e taciturno? Não suporto a ideia de tê-lo machucado, e sinto uma lágrima brotando no canto do olho e rolando pelo meu rosto. Ele a interrompe com o polegar que acaricia meu rosto e me dá um beijo por onde ela rolou. Como eu te amo Jeff. Será que um dia vou conseguir fazer você sentir todo esse amor que eu trago no peito?
O couro do sofá range debaixo do meu corpo quando ele se inclina sobre mim e enfia sua mão por baixo da minha camiseta, e percorre ávida, o caminho da cintura até meu mamilo que está com o biquinho intumescido. Eu o envolvo com meus braços e acaricio sua nuca com a ponta dos dedos, algo que eu sei o deixa fervendo de tesão. Ele aperta sua boca contra a minha e eu sinto seu sabor, meu cuzinho pisca alucinadamente. Ele desafivela meu cinto, abre minhas calças e as puxa com um só golpe até os joelhos. Seu olhar ganha uma expressão voluptuosa e indecente quando a pele lisa das minhas coxas e nádegas está despudoradamente exposta. Enquanto uma de suas mãos desliza pela minha bunda e se insinua no meu reguinho, eu solto um gemido e sinto seu cacete duro se esfregando em mim. Todas as minhas energias descem para minha pélvis, a musculatura do meu baixo ventre se contrai, e eu o quero. Eu o quero dentro de mim. Desabotoo sua calça e abro o zíper, enfiando minha mão na sua virilha e agarrando aquele caralhão latejante, que os poucos vou trazendo para a liberdade, deixando clara a minha intensão. Ele emite um som grave que sobe por sua garganta, um arquejo rouco, enquanto tenta se firmar ajoelhado no sofá. Assim que ele consegue o equilíbrio e fica mais imóvel, eu o beijo abaixo do umbigo sobre os pelos macios e enrolados. Ergo o olhar para ele, e o vejo me observando com satisfação e espanto. Jeff pega minha camiseta pela cintura e a puxa para cima até que ela saia pela minha cabeça. Em seguida, enfia as mãos nos meus cabelos e puxa minha cabeça para trás, afundando seu rosto no meu pescoço e aspirando a cheiro da minha pele. Um gemido escapa dos meus lábios. Eu quero esse homem. Vejo seu caralhão, firme e duro, crescendo contra meu rosto. Enfio-o na boca e o sugo com força, deleitando-me com seu prazer. Ele me analisa embasbacado, acompanhando cada movimento meu, os olhos brilhando repletos de êxtase. Eu engulo a cabeçorra e a massageio com a língua, enquanto ele se entrega a esse prazer carnal cheio de tesão. Sei que estou provocando seus instintos mais másculos, é inebriante e me sinto poderoso e onisciente.
- Caralho! Que boca tesuda! – sussurra, segurando minha cabeça enquanto acaricia meus cabelos, e flexiona o quadril para entrar mais fundo na minha boca.
Quero instigá-lo, deixá-lo tão excitado a ponto de só querer me devorar, por isso brinco com a língua em torno daquela pica suculenta, arfando enquanto dou mordiscadas leves e suaves naquele membro potente e irrequieto.
- Tesão do caralho! O que é que você faz comigo Luke? – ele geme entre os dentes, tentando dar um passo para trás.
Sei que ele está chegando ao ponto em que eu queria. Meu rosto o encarando com olhar carinhoso desde sua virilha peluda e quente, somado aos esforços do meu empenho crescente o fazem sentir mais macho.
- Ah! ... Eu vou gozar, Luke. – diz, gemendo.
Eu não o solto e chupo apertando meus lábios com mais força ao redor da pica. Ele goza na minha boca, liberando um urro, e deixando os jatos fluírem sem controle, para se perderem entre meus lábios sedentos. Quando ele reabre os olhos eu estou sorrindo para ele e lambendo os lábios. Ele retribui com um sorriso picante e perverso, revelando o prazer que meu ato lhe deu.
- Você é muito saboroso, senhor Jeff Richmond! – murmuro submisso.
- Hummm ... vamos ver que gosto você tem, doutor Luke Henderson. Se bem me lembro, você é uma iguaria rara e deliciosa. – grune ele, sua voz é sensual e quente. Sinto meu corpo em brasa, inquieto e necessitado.
Minhas dúvidas se acabaram, ele me ama, e eu saboreio o gosto dessa descoberta, saboreio esse homem delicioso que pensei que havia perdido para sempre. A felicidade dele é evidente, e seu alívio quase palpável.
- Pensei que tivesse perdido você e nunca mais o veria. – disse, os olhos brilhando e o sorriso rejuvenescido.
- Fui e sempre serei apenas seu. Você nunca vai me perder. Eu amo você Jeff.
- Apenas meu? – um olhar incrédulo estampava seu rosto.
- Sim Jeff. Apenas seu. Nesses anos todos, não consegui deixar nenhum outro homem me tocar, acho que precisava da lembrança de você dentro de mim para me manter vivo. – confessei.
Ele está com tanto tesão que o pau nem chega a amolecer. Ele termina de tirar a minha calça e me faz sentar em seu colo com as pernas abertas ajoelhadas ao lado de suas coxas peludas. Suas mãos agarram minhas nádegas e ele as aperta com força entre os dedos. Envolvo sua cabeça e dou beijo leve e carinhoso em sua testa. Ele abocanha um dos meus mamilos e o morde, cravando os dentes na minha pele macia. Solto um grunido quando ele mastiga meu biquinho enrijecido, e aperto seu rosto contra o meu peito. Um dedo dele entra no meu cuzinho e começa e se mover em círculos entre as preguinhas. Libero um gritinho surdo quando o dedo dele me invade. Suspiro de tão tenso que estou.
- Calma. Fique calmo. Sussurra perto da minha orelha e beija meu pescoço, suas mãos alisando minha bunda e me provocando. – Quero fazer amor com você. – diz, me encarando com olhar lascivo ardendo de amor sincero e assumido.
Ele começa a guiar a glande babando pelo meu rego, retira o dedo e mete a cabeça do cacete entre as preguinhas, forçando-as até eu dar um grito mais consistente e dolorido. Meu corpo começa a tremer e ele me força a sentar sobre aquela verga de carne latejante. Eu deixo meu quadril cair aos poucos, temeroso, sobre as coxonas dele, até sentir que ele está completamente dentro de mim, e travo a musculatura anal em torno daquela jeba, apertando-a com todo meu carinho e amor. Começo a chorar enquanto cavalgo aquele pau grosso num frenesi descontrolado. Ele é todinho meu outra vez, e não consigo segurar a emoção e sentir meu amor dentro de mim. É aqui que eu te quero, para aninhá-lo e acariciá-lo com tesão e paixão. Ele puxa meu rosto para junto do dele e me beija, fazendo sua língua entrar em mim também, como se só o caralho não fosse o suficiente para mergulhar no meu ser. Depois de um tempo, no qual ele erguia o quadril ao mesmo tempo em que eu me sentava sobre a pica, fazendo com que ela estocasse profundamente as minhas entranhas, ele me deitou apoiando as costas sobre o sofá e abrindo minhas pernas até que elas se apoiassem sobre seus ombros. Meteu o pauzão novamente nas minhas preguinhas distendidas e o atolou em mim. Os movimentos de vaivém foram se intensificando junto com os meus gemidos, o cacetão parecia ter se tornado ainda mais grosso e ele me estocou numa sequência rápida e curta antes de encher meu cuzinho de porra, quase ao mesmo tempo em que eu gozava sobre a minha barriga. Ele estava suado e arfando quando eu comecei a beijar seu rosto ao longo da borda inferior da mandíbula, e o deitei sobre o meu peito, afagando a sua nuca na altura da implantação dos cabelos.
- Você seria capaz de voltar a me amar como no passado? – ele espera pela resposta com aquele sentimento de apreensão que se experimenta quando um fogo de artifício está prestes a explodir.
- Eu nunca deixei de te amar desde o dia em que você me fez compreender, mesmo que inconscientemente, o que significa a palavra amar. E hoje, agora, eu te amo tanto como sempre. – respondi.
- Eu me penitencio por todo o sofrimento que te causei, que causei a nós dois. Eu quase morri quando você foi embora. Quando você acenou para mim, no momento em que estava embarcando naquele avião, eu soube que te amava, e que estava dizendo adeus à minha chance de felicidade. – balbucia, com os olhos marejados pela lembrança daquele dia. – Amo você com toda a intensidade do meu ser, Luke Henderson. E, me sinto capaz de mover montanhas por esse amor. – completa.
Sei que é um passo enorme para ele confessar e assumir esse amor. Isso me toca profundamente, pressiono minha mão contra seu peito, o coração dele bate acelerado e firme. Então seu rosto me encara e se transforma. Um sorriso tímido aparece como se ele estivesse envergonhado por confessar suas emoções. Seguro aquele sorriso entre as mãos e o beijo, da forma mais doce e intensa que posso.
- Eu te amo mais do que tudo Jeff. – sussurrei, enquanto espasmos doloridos tentavam ocluir meu cuzinho arregaçado.
- Quero que você venha morar comigo. Preciso de você junto de mim sempre. Nunca mais quero ficar longe de você. – diz ele, me apertando com força junto de si.
Será que consigo aceitar esse convite? Esse homem é muita coisa para se assimilar, e eu já me senti uma vez incapaz de lidar com essa complexidade. Apesar disso, intimamente, sei que não quero abrir mão dele, a despeito de seus problemas. Sentindo sua respiração voltando ao ritmo normal, ali deitado sobre meu peito, chego à conclusão que não sou capaz de deixá-lo uma segunda vez. Amo Jeff demais para isso. Seria como amputar uma parte do meu próprio corpo. Enquanto aquele esperma morno e espesso se esparramava pelas minhas entranhas, voltei a me sentir vivo novamente. Desde que o conheci, experimentei todos os tipos de sentimentos profundos e assombrosos, prazerosos e vivazes, e tive experiências com as quais jamais sonhara. Com ele e, ao lado dele, eu me sinto vivo. Aprendi tanto com o Jeff. Aprendi sobre o meu corpo, meus limites, minha tolerância, minha paciência, minha compaixão, e minha capacidade de amar. Existo desde que o conheci.
Já estava escuro quando deixamos o celeiro e entramos na casa. Uma moça de olhar triste e cabisbaixo, também de origem latina, veio nos perguntar a que horas queríamos jantar.
- Está com fome? – perguntou Jeff, olhando para mim com um sorriso abobalhado de garoto travesso.
- Um pouco. – respondi, corando. Até onde os empregados sabiam o que estava acontecendo entre ele e eu? Que o Rodriguez tinha plena consciência dos fatos eu não tinha dúvida. Até por que, ele me vira descendo a escada do celeiro, há dez anos, enquanto eu travava o cuzinho temendo deixar escorrer o sêmen que o Jeff galara em mim.
- Então jantamos assim que estiver pronto! – disse, dirigindo-se à moça que saiu fazendo uma mesura apressada. – Eu estou faminto depois desse exercício todo! – acrescentou, com disfarçada satisfação.
Depois do jantar fomos ao mesmo quarto onde eu já havia vivido uma noite de sexo e luxúria com ele. Mas desta vez o sexo não foi menos intenso e caloroso, ao contrário, rolou denso e apaixonado. Ele não estava me fodendo, como costumava dizer naquela época, ele agora fazia amor comigo, e isso mudou tudo, criou valor, deu sentido ao nosso tesão e, pela primeira vez, o senti realmente ligado a mim, como eu sempre estive a ele. Então por que eu ainda sentia medo desse relacionamento?
Alguns dias depois meus avós se deslocaram até Denver com o pretexto de jantarem comigo, movidos pela saudade e pela minha ausência, cada vez mais frequente, nos rotineiros jantares de quartas-feiras quando eu os costumava visitar depois de um expediente mais curto que o normal no hospital. Ao chegarmos ao Palace Arms onde, segundo minha avó, se comia o melhor peito de pato com cogumelos lagosta e molho de cerejas que existe, e nos acomodarmos numa mesa ao lado da cômoda renascentista, encimada por um enorme espelho que refletia o glamour do ambiente através da luz aconchegante dos enormes lustres que pendiam do alto pé-direito; eu já desconfiava que aquele jantar tinha um propósito que ia além da falta que estavam sentindo da minha presença. Minha avó foi a primeira a abordar o assunto, assim que terminei de, literalmente, devorar o hors d’ouvre, pois não havia comido nada descente desde o café da manhã.
- Como está sua amizade com o Jeff Richmond? Vocês conseguiram resgatar aquele mesmo espirito de cumplicidade que mantiveram na juventude? – disse, displicentemente. Embora procurasse pelas palavras com um cuidado exagerado.
- Normal, eu acho. – respondi, tentando ler na expressão cautelosa dos dois, o motivo para aquela pergunta.
- Pelo que me lembro vocês eram bastante ligados na época do colégio. – continuou minha avó.
- Sim. Ele gostava de estudar comigo, principalmente as matérias em que tinha certa dificuldade. – disse, começando a me sentir um tanto quanto encurralado com esse assunto.
- Logo depois que você partiu ele apareceu lá em casa perguntando por você. – revelou em seguida.
- Anh .... E o que ele queria exatamente? – perguntei, incomodado com aquela revelação, que me pareceu ter mais conteúdo do que aquele que ela estava me contando.
- Ele queria nossa opinião se deveria ou não ir atrás de você. – disse, me encarando para não perder um detalhe da minha expressão.
- Como assim? – perguntei corando, e sentindo o desconforto se apoderando de mim. O que eles sabiam a respeito do nosso relacionamento? E até quanto sabiam?
- Ele nos disse que havia cometido um grande erro em relação a você. Que estava arrependido. Que você partiu por culpa dele. E, que estava apaixonado por você. – as palavras dela saíam de sua boca, entre uma garfada e outra, com uma naturalidade impressionante.
- Bem, .... Isto é, eu .... quero dizer, ele disse o que? – balbuciei, tentando me recompor, e fazendo força para encará-los.
- Que estava apaixonado por você. – repetiu meu avô. – Você também se sentia assim em relação a ele? – inquiriu, em seguida.
- Acho que ... Sim, sim, acho que sim. – como estava sendo difícil admitir isso perante os dois. Mas sempre fui sincero com eles, e não seria agora que eu ia começar a inventar mentiras. Era hora de encarar os fatos como eles realmente eram.
- E por que você nunca falou sobre isso conosco? Por que se martirizou tanto e se afastou de nós, da sua casa, desse sentimento? – perguntou minha avó.
- Eu não soube como lidar com isso. Achei que me afastando para longe, me dedicando só aos estudos tudo ficaria bem. – argumentei.
- E não foi isso o que aconteceu, não é? Bastou reencontrá-lo para que o passado aflorasse novamente. – disse meu avô.
- Foi. – sussurrei, envergonhado. – Ele inclusive quer que eu vá morar com ele. – acrescentei, determinado a abrir o jogo de uma vez.
- E você ... ? – indagou minha avó, querendo saber minha posição quanto a essa questão.
- Eu, bem ... não sei! – exclamei. – Há momentos em que tenho a certeza de que é o que eu quero, e em outros, estou cheio de receios. É muito confuso. – emendei.
- Às vezes as pessoas não conseguem encontrar sua cara metade, viver uma relação profunda e verdadeira porque estão, o tempo todo, tentando obter certezas. Nós sempre teremos dúvidas quanto ao futuro e o medo de se deparar com a dor sempre vai nos assombrar, mas não podemos deixar de enxergar outras possibilidades, tão plausíveis quanto a de sofrer. Pergunte a si mesmo, com toda a sinceridade, o que você quer? Se você souber responder, com respeito e responsabilidade, a esta simples perguntinha, terá previsto toda e qualquer possibilidade. Meu querido, o amor é uma chance, uma oportunidade, nunca uma garantia e, jamais, uma certeza. Você pode vivê-lo conforme a sua vontade e de acordo com o seu coração ou, passar a vida inteira tentando controlar o incontrolável, e garantir o incerto. E, algum dia, lá no futuro, você vai se dar conta de que perdeu algo que lhe era muito precioso e importante. Por isso, deixe as coisas caminharem nessa incerteza, mas viva a sua vida plenamente. – disse meu avô, me surpreendendo com sua lucidez e tranquilidade em conversar sobre esse assunto comigo, e me deixando profundamente emocionado ao mesmo tempo.
- Eu nem sei o que dizer .... amo vocês por tudo o que sempre fizeram por mim, e pelo que ainda estão fazendo.
- Tudo o que nos importa é que você seja feliz! A nossa vida só terá tido sentido se você encontrar seu caminho e a felicidade. – acrescentou minha avó, com os olhos marejados, enquanto depositava o garfo sobre o prato e pegava minha mão, que estava sobre a mesa, segurando-a firmemente na dela.
- Quando o Jeff apareceu lá em casa e nos disse como se sentia em relação a você, eu não tive dúvida, ele herdou o caráter do avô. Voluntarioso às vezes, é certo, mas corajoso e determinado, indubitavelmente. – disse meu avô.
Por que será que eu não me espantei com a ligação que recebi no sábado seguinte, logo pela manhã, como se alguém estivesse fazendo o papel de cupido, tentando enredar essa história, a fim de lhe dar um desfecho feliz?
- Oi Luke? É o Luke ... quer ir ao shopping com a gente, e me ajudar a escolher meu presente para o aniversário do papai? – sibilava a voz infantil e entusiasmada do outro lado.
- Oi Luke, como você está? Ir ao shopping com vocês ... ? – respondi.
- Eu estou bem. Você vem, não vem? – insistia, aguardando com ansiedade a minha resposta.
- E você já sabe o que vai dar de presente para o seu pai? – perguntei, enquanto ganhava tempo para tomar a minha decisão.
- É se...secreto! – titubeou a voz. – Mas eu vou te contar no ouvido, só para você, quando te encontrar. – emendou rapidamente.
- Segredo. – corrigi. – Está bem. Então você me conta depois.
- Luke! Oi ... Você não imagina a ansiedade em que ele está para que você o ajude com esse presente. – soava a voz grave e pausada do Jeff, misturada ao burburinho da voz infantil ao fundo. – Passamos aí para pegá-lo? Dentro de quarenta e cinco minutos, está bem? – acrescentou, quase tão ansioso quanto o filho.
- Oi Jeff! OK ... Estou esperando vocês. – eu me senti extremamente feliz depois de pronunciar estas palavras. Me dei conta de que gostava daqueles dois mais do que imaginava.
Foi um dia cheio. Luke me puxava pela mão nos corredores do shopping querendo me mostrar o que despertava sua atenção nas vitrines, como se nos conhecêssemos desde sempre, e fossemos amigos íntimos, ou eu, uma continuidade de seu pai. Eu me perguntava, ao ver sua carinha risonha procurando por meu olhar carinhoso para com ele, o quanto ele compreendia, ou o quanto lhe fora revelado sobre os sentimentos que seu pai e eu nutríamos um pelo outro?
- O papai me disse que pediu para você vir morar com a gente, você vem, não é Luke? – disse, enquanto se deliciava num fast-food onde paramos depois de ele me segredar e pedir que eu o acompanhasse na loja onde comprou o presente do pai. – Foi a vó Corine que me deu o dinheiro! – confidenciou, enquanto a atendente da loja embrulhava meticulosamente o pacote.
O Jeff imediatamente levantou o olhar à espera da resposta. Seu olhar procurou o meu, e eu podia jurar que, no íntimo, ele estava fazendo uma figa para que a minha resposta fosse positiva.
- Você ia gostar se eu fosse morar com vocês para sempre? – retribuí, encarando-o.
- Puxa! Eu ia adorar. E se eu ficar doente não preciso mais ir até o hospital, você vai me curar em casa mesmo. – disse, simplificando a questão com sua inocência de criança, e aguardando minha resposta.
- Eu vou sim. Acho que vou gostar muito de ficar perto de vocês dois, o tempo todo. – respondi.
- Oba! Quando você vem ficar na nossa casa? Hoje? – explodiu numa euforia sincera.
- Esses dias, eu preciso resolver umas coisas antes disso. – asseverei, procurando o olhar do Jeff.
A expressão embasbacada em seu rosto e o brilho no seu olhar carregavam o alívio e a alegria que minha decisão causara nele. Ele colocou a mão sobre a minha coxa, por debaixo da mesa, e movimentou os lábios num EU TE AMO MUITO cheio de paixão, antes de sermos interrompidos abruptamente.
- Luke! Que surpresa encontrá-lo. Estava mesmo para ligar para você. – disse John, com um abraço efusivo que me sacudiu o corpo todo.
- Olá John! Como está? – retruquei constrangido. – Conhece Jeff Richmond? – inquiri, apontando para o rosto que acabara de assumir uma expressão carrancuda e ameaçadora.
- Ah, olá. Como vai? – disse, estendendo a mão em direção ao Jeff. Recebendo em retribuição um olhar desafiador e um aperto de mão abreviado.
- Ia te ligar para combinarmos aquele jantar. – continuou, ignorando o olhar intrigado do Jeff. – O que me diz desta semana, talvez na quinta, eu passo para te pegar, lá pelas nove? – emendou ligeiro.
- Estou bastante ocupado esta semana. Estou de mudança e talvez demore um pouco para ter um tempo livre. – salientei, me penitenciando por ter postergado tanto tempo esse compromisso.
- O que aconteceu? Você caprichou tanto na decoração do apartamento. Quer que eu o ajude a encontrar outra moradia? Espero que não esteja com intenção de deixar a cidade? – questionava ele.
- Ele está se mudando para a minha casa! – exclamou Jeff – Obrigado, mas não vamos precisar dos seus serviços. – sua voz era ameaçadoramente contundente. Ele chegara a se levantar da cadeira e, como um macho diante de um rival, assumira uma postura enfunada, tentando desestimular o concorrente a persistir em sua investida.
- Bem! Se precisar de alguma coisa, você tem meus telefones. E, quanto ao jantar, torno a te procurar dentro de umas semanas, OK? – disse, voltando-se exclusivamente na minha direção e me apertando em seus braços.
Senti um tremendo alívio quando o vi se afastando, e tomava coragem para encarar o Jeff, pois sabia que aquilo era mais do que ele estava acostumado a aturar em se tratando de outro homem se aproximar de mim. Especialmente quando esse homem também tinha todas as qualidades que o faziam atraente e desejável. E, ainda por cima, se mostrava um predador sexual tão destemido e capaz.
- Que babaca! Quer dizer que ele não se contentou em apenas prestar seus serviços como corretor, também resolveu dar vazão ao seu tesão. – grunhiu, procurando disfarçar sua ira diante do filho.
- Não houve nada entre nós. Apenas jantamos no meu apartamento, logo depois que ele ficou pronto. – assegurei.
- Aposto que a sobremesa seria você, ... ou foi? – arrematou, de mal humor.
- O que foi que eu te disse lá no haras há pouco tempo atrás? – indaguei, encurralando-o com o olhar. – Eu o amo. Fui apenas seu. Você foi o único homem que tocou em mim. Se você quer que tenhamos uma vida em comum, é primordial que você aceite isso. – disse, carinhosamente.
Já era tarde quando finalmente consegui que o Luke fosse dormir naquela noite. Ele quis me mostrar tudo o que estava em seu quarto, detalhando a história que estava por trás de cada coisa que ia tirando de gavetas, prateleiras e caixas. Depois que o convenci a entrar debaixo do edredom, e atendi seu pedido para contar uma história, ele finalmente capotou exausto.
- Vá se acostumando! Às vezes acho que a energia dele não vai acabar nunca. – sussurrou o Jeff ao meu ouvido, ao se aproximar de mim, por trás, e me enlaçar em seus braços.
- Ele teve a quem puxar! – exclamei, retribuindo o beijo que ele me dava, apertando lascivamente seus lábios úmidos contra os meus.
- E você vai dar conta de administrar a energia dos dois requisitando sua atenção? – perguntou, com aquele brilho malicioso no olhar.
- Eu vou tentar. Acho que dou conta sim. – balbuciei, enfiando a mão pela abertura de sua camisa e deslizando os dedos entre os pelos de seu peito.
- Então vamos fazer um teste para ver se consegue mesmo. – murmurou, o tesão estampado no rosto e provocando a ereção sob o jeans.
Minutos depois, eu já estava completamente sem roupa, deitado de costas sobre a cama dele, com as pernas abertas ao redor dos seus quadris, sentindo a jeba mergulhar no meu cuzinho, enquanto eu gemia e chupava a língua indócil dele na minha boca. Sinto o cheiro dele, aquele cheiro de Jeff, capaz de me deixar alucinado, de provocar ondas de calor que se concentram na minha pelve e fazem meu cuzinho experimentar um tesão incontrolável. Amo esse homem. Contraio toda a musculatura do meu ventre para acalentar aquela pica que pulsa dentro de mim. Me lambuzo no meu próprio gozo que eclode abundante. Gemo sentindo as estocadas profundas que esfolam meu cuzinho, até que um cheiro tão másculo, denso e almiscarado, próprio de demarcar seu território se espalha pelo ar o quarto, anunciando que ele se saciou em mim. O esperma dele escorre quente e pegajoso me umedecendo todo, e ele não se farta de despejá-lo em mim. Seguro seu rosto entre as mãos e começo a beijá-lo suavemente, desde a testa até o pescoço, antes de pousar definitivamente os lábios sobre sua boca, que arfa sob o efeito do esforço recente, e deposito ali um longo beijo entregando-lhe todo o meu amor.
Minha mudança aconteceu duas semanas depois. Os olhinhos do Luke brilhavam de contentamento quando minhas coisas iam sendo entregues pelos carregadores da empresa de mudanças. Ele queria ver tudo o que estava nas enormes caixas que iam sendo empilhadas na sala.
- Agora eu vou ter dois pais, não é Luke? – perguntou, quando o Jeff e eu o colocamos na cama naquela noite. – Como o meu amigo Tyler da escola, quem tem duas mães, não é assim? – seu olhar vagava do meu rosto estupefato ao do Jeff expressando surpresa.
- Sim, querido. Agora você tem dois pais que vão te amar muito. – respondeu Jeff, me puxando para junto dele e me dando um beijo.
Os olhos pesados piscavam para nos encarar, enquanto ele segurava uma de nossas mãos em cada uma das suas. Adormeceu com sorriso tranquilo moldando seu rostinho.
- Agora sou o homem mais feliz desse mundo. – sussurrou Jeff. – Amo você por estar me concedendo essa felicidade toda. – acrescentou, antes de selar minha boca com seus lábios gulosos. Depois ficou me olhando por um bom tempo sem dizer nada. Seu olhar terno me deu a certeza de que havia feito a escolha certa. Eu o amo e sei que ele sente o mesmo por mim, e é com esse amor que vamos construir o nosso futuro.