O COMEÇO DE TUDO ‘PARTE 1’
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Quem nunca ouviu dizer aquela frase: "Encontrei minha alma gêmea!". Você já parou para pensar no que realmente significa essa frase? Teremos nós alguém compatível vivendo no planeta? O que nos teria feito compartilhar nossa alma com outro ser? Significa que nasceram juntos? Nessa vida ou em outra? O mito da alma gêmea foi criado e perpetuado por Platão.
Em seu livro Platão explicou sua teoria dizendo que no início dos tempos os homens eram seres completos de quatro cabeças, duas faces, quatro pernas, quatro braços, o que permitia a eles um movimento circular muito rápido para se deslocarem. Porém, considerando-se seres tão bem desenvolvidos, os homens resolveram subir aos céus e lutar contra os deuses, destronando-os e ocupando seus lugares. Os deuses por sua vez venceram a batalha. Com intuito de vingança, Zeus resolveu castigar os homens por sua rebeldia. Tomou na mão uma espada e atingiu todos os homens, dividindo-os ao meio. Zeus ainda pediu ao deus Apolo que cicatrizasse o ferimento, o umbigo, e virasse a face dos homens para o lado da fenda para que observassem o poder de Zeus.
Sendo assim o ser que antes era completo homem-homem gerou o casal homossexual masculino; o ser mulher-mulher, o casal homossexual feminino. E o andrógino gerou o casal heterossexual. Dessa forma, os homens caíram na terra novamente e, desesperados, cada um saiu à procura da sua outra metade, sem a qual não viveriam. Tendo assumido a forma que nós temos hoje, os homens procuram sua outra metade, pois a saudade nada mais é do que o sentimento de que algo nos falta, algo que era nosso antes.
Isso explicaria o que sinto por Adam. Não são as coisas que temos em comum nos completa, são as coisas em que nos tornam diferentes. Que graça teria se nós dois combinássemos em tudo? A vida seria chata e monótona. Porque ainda amo adam depois dele ter feito tudo o que fez? Porque ainda me bato com esse martelo mesmo com toda a dor? Porque quando eu paro eu me sinto bem.
Não são os problemas que definem o nosso relacionamento. O que define nossa paixão é a forma que nós passamos pelos problemas e mesmo assim o que sentimos um pelo outro continua intacto.
Ficou claro no dia em que beijei Adam que ele seria o homem da minha vida. Nada é o que parece ser. Vocês tem a minha versão do que aconteceu entre Adam e eu. A nossa primeira vez não é nada mais nada menos do que sexo sem resquícios de paixão. Tudo não passou de uma proposta, certo? Não foi uma aposta. Não foi uma proposta. O que aconteceu entre Adam e eu via mais além de algo que aconteceu por acaso. Adam era apaixonado por mim quando ficamos. Ele me fez acreditar que apenas eu estava apaixonado e eu assim o fiz, mas a verdadeira história de como ficamos pela primeira vez vai surpreender vocês.
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MAIO DE 2018
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Levantei o rosto devagar sentindo a chuva gelada cair em meu rosto como milhões alfinetes sendo jogados em minha pele. Ela estava realmente gelada deixando além de um frio insuportável todo o meu corpo molhado. Apesar de ser tão cedo e eu estar todo encharcado á caminho do trabalho eu não podia negar que adorava esse clima. Era mais pela sensação de nostalgia que ela deixava em minha pele. Tenho boas lembranças de estar na chuva, como meu primeiro beijo ou de estar em um passeio com meus amigos do colegial. São infinitas as lembranças e mesmo que quase não chuva em San Diego, ás vezes em que a chuva caiu conseguiu deixar boas lembranças em minha mente. Não que o sol que brilha forte quase todo o ano não tenha seu charme.
Corri rapidamente passando a mão em meu rosto tentando deixa-lo o mais sexo o possível, mas era meio que impossível de se conseguir. Estava encharcado e com muito frio. Meus lábios triam e quanto mais eu pedia para a chuva parar mais forte e mais gelada ela caia.
Para minha sorte não havia nenhum lugar em que eu pudesse descansar ou esperar pelo fim dessa tempestade. Depois de mais alguns passos molhados senti que coração bater forte e decidi que era hora de parar, nem que fosse por alguns poucos segundos. Senti-a o bater forte em meu peito como um tambor. Tum, Tum, Tum. Olhando em volta percebi que eu era o único otário no meio da tempestade tentando não chegar atrasado. Bom, o único otário sem um guarda-chuva.
As pessoas passavam por mim em seus carros confortáveis e com seus gigantes guarda-chuvas e me olhavam com pena. Tentei não me importar com o que elas estivessem pensando de mim. A única opinião á qual importava era a do meu chefe.
- Puta merda – falei olhando para o relógio que marcava quase trinta minutos de atraso.
Olhei para os lados e atravessei a rua correndo. Ao chegar do outro lado olhei para trás e ao longe vi a praia de La Jolla. O oceano em toda sua imensidão se esticavam até onde a vista alcançava e um pouco mais.
O tempo que levei para atravessar a rua e parar para apreciar a vista foi tempo suficiente para que a tempestade se transformasse em uma leve garoa. Foi desconcertante pensar que eu estava tão molhado e quando chegasse talvez nem chovendo estivesse.
Deixei a bela paisagem de lado e segui meu caminho até o trabalho.
Já que não chovia decidi apenas andar. Estava atrasado de qualquer forma, maldito acidente que me fez descer do ônibus no meio do caminho e correr até o trabalho, nem assim consegui chegar a tempo. Depois de um longo tempo caminhando avistei de longe, tão grande quanto o céu e tão brilhante quanto um diamante. Caminhando decidi conferir minha mochila uma última vez. Os papéis e minha roupa reserva lá dentro estavam tão seco quanto eu estava molhado. Tinha valido a pena pagar um pouco a mais por um material impermeável.
Continuei caminhando e me aproximando cada vez mais do prédio da WCSK Advocacy/Law Firm, a advocacia em que eu trabalho á três anos. Depois de alguns passos, tudo o que me restou foi atravessar a rua para chegar á calçada do prédio. Quando coloquei o primeiro pé na rua um carro passou em alta velocidade jogando lama gosmenta e marrom em mim. Admito que até provei o gosto.
Por alguns instante não acreditei que aquilo tinha acontecido comigo. Era uma obra maldosa do destino. Meus braços estava sujos incluindo a roupa que eu usava. Estava envergonhado e totalmente fudido. Atraso e agora todo sujo. O carro mal educado deu ré e abriu o vidro pela metade. Steven King, o dono da letra K no logo da empresa era o motorista apressadinho que me encheu de lama.
- Me desculpe por isso, não imaginei que tivesse uma poça de lama tão suja – falou Steve tentando se desculpar.
- Não tem problema – falei balançando os braços tentando tirar um pouco da sujeira.
- Tem certeza? Estou me sentindo mal agora que percebo que além de atrasado você está sujo – ele conferiu a hora no relógio antes de olhar novamente para mim através dos óculos escuros que estava em seu rosto cobrindo seus olhos azuis.
- Te vejo no trabalho Michael – falou Steve malandro tentando esconder seu sorriso.
- Meu nome é Mickey.
- Quem liga? – foi a última coisa que ele disse antes de acelerar rapidamente me deixando todo sujo e por incrivelmente que parece, mais puto.
Depois de limpo estava finalmente pronto para o trabalho. As horas passaram devagar naquela manhã. Todos os sócios estavam em reunião á algumas horas e enquanto eu fazia meu serviço rotineiro foi atrapalhado.
- Mike você pode vir aqui por favor? - Dr. Steve King abriu a porta da sala de Adam e me tirou do transe.
Peguei minha agenda eletrônica e fui até á sala. Ao entrar todos levaram seus olhares até mim.
- Mike, para quando está marcada nossa viagem á Detroit?
- Inicialmente eu tinha marcado a viagem para o dia sete junho, mas esse é o dia do aniversário de sua filha e sua esposa disse que a presença do pai é obrigatória então remarquei para o dia oito no voo dás sete e trinta da manhã.
- Você comprou passagens de primeira classe para todos nós?
- Sim senhor, passagem para os cinco e hospedagem de quatro dias e três noite no Aphrodite Inn. A hospedagem se inicia ás seis da manhã do dia oito de junho na sexta-feira e vai até o meio-dia de onze, segunda-feira.
- Ótimo – falou Dr. White – vou precisar de você em Detroit então você pode comprar outra passagem para você e outra hospedagem no mesmo hotel de preferência no mesmo andar.
- Vou ter que viajar?
- Sim, é sua primeira vez em viagem de negócios? – perguntou ele com um sorriso no rosto malandro no rosto.
- Sim senhor – falei sinto um frio na barriga ao vê-lo sorrindo para mim.
- É um problema pra você? – falou ele se arrumando em sua cadeira.
- Não… não senhor. Eu posso comprar as passagens… eu po-posso agendar e eu…
- É só isso por enquanto – falou Adam me dispensando indiferente – quando terminarmos aqui, você pode vir á minha sala?
- Sim Dr. White.
Sai rapidamente da sala e ao fechar a porta sentei-me em minha cadeira e respirei fundo novamente. Uma viagem de negócios com meu chefe? Era sim a primeira vez que viajava, mas não estava intrigado com isso e sim com essa demonstração de afeto que Dr. White estava demonstrando desde que cheguei. Pensei que fosse paranoia ou apenas fruto de minha imaginação, mas era real. Todos os sorrisos fora de hora e as mudanças de humor que ele vinha tendo desde que cheguei. Não sei bem o que é, mas estava mexendo comigo.
Liguei para agência de viagens e pedi outra passagem, mas dessa vez na classe econômica. Não me atreveria a viajar ás custas da empresa na primeira classe. Seria muito abuso. Liguei para o hotel é pedi um quarto no mesmo andar que as outras reservas, mas infelizmente só tinham quartos três andares acima. Era isso ou não ter reserva. Depois de marcar tudo certinho voltei ao trabalho
Depois que a reunião acabou Vanessa, Gray, Xavier e Steve saíram da sala de Adam fui á sala dele como ele tinha pedido. Bati na porta tímido e nervoso esperando a ordem.
- Pode entrar Mike – falou Adam com sua voz rouca e macia.
- Com licença Dr. White.
- Mike por favor, sente-se. – falou Adam de costas olhando pela parede de vidro que tinha atrás dele. toda a lateral do prédio era de vidro dando uma privilegiada visão da praia de La Jolla e o oceano pacifico que se estendia ao longo.
- Você comprou sua passagem e confirmou sua hospedagem no hotel?
- Sim senhor, mas infelizmente o hotel só tinha vagas três andares acima do de vocês.
- Isso será um problema, vou precisar de você para me ajudar a ler o contrato antes da audiência. O cliente é perfeccionista e inseguro. Ele adiciona e retira clausulas todos os dias. Tenho certeza de que poucas horas antes da audiência ele via mudar de idéia, mas vamos resolver isso lá mesmo.
- Eu também marquei minha passagem na classe econômica.
- Classe econômica? – perguntou ele olhando para mim.
- Sim senhor.
- Você vai viajar ás custas da empresa e não vai se aproveitar dessa oportunidade? Não vai sentir falta dos serviços e da comodidade da primeira classe?
- Não senhor, nunca viajei de primeira classe, não vou sentir falta do que nunca tive.
- Nunca? Está decidido. Assim que sair da minha sala, ligue lá e compre uma passagem na primeira classe. Se não tiver no nosso voo, compre no voo disponível. Ida e volta, OK?
- Sim senhor – falei tentando esconder um sorriso.
- Mike, o cliente que estamos defendendo em Detroit está sendo acusado de homicidio culposo. Ele é acusado de matar uma criança de oito anos.
- Não ouve intenção de matar?
- Nosso cliente se chama Wallace Parker, ele é um farmacêutico e alega que o fabricante cometeu um erro na hora de empacotar as caixas de remédio vendendo remédio para dor de cabeça como aspirina. Ambos são remédios inofensivos, mas a criança que tomou tinha alergia á dipirona. A mãe que é solteira, deu ordens á babá que cuida da criança para dar o remédio antes da criança ir dormir. Quando ela chegou em casa a criança estava morta. A garganta se fechou durante a noite e ela desmaiou e depois morreu por asfixia.
- Meu deus – falei sentindo um mal estar, aquela história era horrível.
- Ao apegar o remédio que deu a criança ela leu o frasco e percebeu que o remédio dentro da caixa era diferente do remédio descrito na embalagem.
- Se o erro foi do fabricante, porque o farmacêutico é quem está sendo processado pela mãe?
- A corda arrebenta do lado mais fraco Mike. O fabricante conseguiu provar que o erro foi do fabricante alegando oque as caixas tinham sido violadas.
- E elas não foram?
- Não, mas como eu disse, a corda arrebenta do lado mais fraco. Nós sabemos que existe uma mãe com a dor de perder o filho, mas não se trata de mostrar que ela está errada, mas defender um homem inocente. Você sabe e eu sei que para um advogado não importa se meu cliente é inocente ou culpado. Desde que eu acredite que vale a pena defende-lo eu defendo.
- Porque é tão importante defender esse cliente?
- Esse é um trabalho gratuito. O Sr. Parker não tem dinheiro para pagar um advogado, mas as vezes fazer a coisa certa é mais importante do que o lucro. É por isso que esse trabalho é tão importante para mim. Eu disse á Xavier, Gray, Steve e Vanessa e vou dizer a você: Preciso de foco porque não podemos perder. Não quando um homem inocente está sendo julgado injustamente por um crime que não cometeu.
- Não se preocupe senhor, vou estar focado.
- Não se trata apenas de um crime Mike. O Sr. Wallace Parker é negro. Pense nesse caso como o caso O.J. Simpson. Não é apenas um homem, mas toda uma comunidade sendo julgada e discriminada. O cliente vai ao tribunal com “culpado” escrito em sua testa, não porque ele é culpado, mas porque ele um negro que matou uma criança branca. A cor da pele define sua culpa e é por isso que eu aceitei o caso. Gosto de desafios e eu sei que vamos ganhar. Nós temos a mídia em cima desse caso e temos ativistas de outro lado querendo justiça. A justiça será feita e eu já estou preparado para sair daquele tribunal com o veredito que inocente.
- O senhor tem tanta certeza de que vai ganhar?
- O que eu posso dizer? Eu sou foda! – falou Dr. White rindo quando disse aquilo.
Foi estranho ouvi-lo dizer um palavrão. Ele é sempre tão educado e cuidadoso com as palavras que diz. Senti vontade de rir, mas me segurei e mantive minha expressão de total compreensão.
- Senhor eu gostaria de aproveitar esse momento para pedir desculpas pelo o que eu falei mais cedo. Chamei o Dr. King de idiota.
- Não precisa se desculpar Mike, o Dr. King é um idiota. Lee é rico, ambicioso e talentoso, mas é um idiota.
- Mesmo assim prometo que não vai acontecer.
Ele ficou em silêncio e por alguns segundos e coçou a barba.
- Você vai ligar e me avisar quando se atrasar novamente?
- Sim senhor.
- Está perdoado – falou Dr. White sentando-se novamente.
Levantei-me e saí da sala dele voltando a recepção para comprar a passagem. Liguei novamente para a companhia aérea, depois de passar alguns dados fui transferido para outra atendente.
- No que posso ajuda-la? – perguntou a atendente.
- Gostaria de transferir minha passagem da classe econômica para a primeira classe.
- Qual o voo?
- JF079.
- Nós temos cinco lugares disponíveis. A1, B3, B5, E17 e E19.
De todos os lugares disponíveis apenas um deles me chamou a atenção. O assento de Adam é o E20. Se eu escolhesse o E19 ficaria ao seu lado. Seriamos nós dois durante duas horas e meia de voo. Não sei porque, mas essa idéia me excitou. Não me uma forte divertida, mas de uma forma quente que fez o meio de minhas calças palpitar.
Deus, eu estava sentindo algo por meu chefe. Não sei se é fruto da minha imaginação ou se é real. O meu chefe que é casado e que tem dois filhos estava dando em cima de mim. Seria loucura pensar que um advogado tão competente quando ele estaria interessado em um garoto da classe média como eu? Porque eu? Porque agora? Depois de um ano e meio de trabalho, porque ele estaria dando esses sinais agora?
- E19 – falei sentindo um frio que me cortou a barriga e subiu até meu pescoço.
- A troca foi confirmada, mais alguma coisa?
- Não. Apenas isso.
- A Golden Airlines agradece a preferência.
Essa foi a última coisa que ouvi antes de desligar o telefone. Eu tinha um sentimento em mim. um sentimento oque dizia que o que fiz era errado, mas como pode ser errado se me sinto tão bem? me sinto excitado e estranhamento contente por ter feito aquilo?
Finalmente havia chegado o dia da viagem. Acordei cedo e meu pai me levou ao aeroporto.
- é isso. meu voo sai em quarenta minutos – falei conferindo o relógio quando meu pai parou o carro em frente ao aeroporto.
- boa viagem meu filho e tome cuidado.
- vou sim pai e o senhor não esqueça do jantar com Charley. Eu marquei essa jantar para que vocês se conheçam mais.
- não se preocupe. Não vou esquecer.
- ótimo – falei saindo do carro.
Meu pai abriu o porta-malas e eu peguei minha mala e coloquei no chão segurando na alça. Estava pesada, mas tinha rodinhas.
- boa viagem meu filho – falou ele se aproximando de mim e beijando meu rosto.
- obrigado pai. Tenha juízo enquanto eu estiver fora.
Meu pai e se foi e eu fui para o aeroporto. Depois de fazer o check-in passei em uma lanchonete para comer algo antes da viagem. Comi pão de queijo com café e em seguida fui para a sala de embarque aguardar a chamada do voo.
Ao entrar na sala vi de longe Steve, Gray, Vanessa, Xavier e Adam. Eles estava todos sentados juntos e ao me verem Adam levantou a mão acenando para mim. Eu acenei de volta, mas não fui até eles. Eu escolhi senta-me sozinho.
Quando fiz isso adam ficou me observando. Por alguns segundos ele me encarou. Fiquei tão sem graça que desviei o olhar como se não tivesse percebido. Foi então que ele deixou o grupo de lado e veio até mim.
- bom dia – falou Adam com um meio sorriso em seus lábios sentando-se ao meu lado
- bom dia – falei nervoso.
- qual o seu assento?
- E19 – falei olhando para ele.
- sério? O meu é o E20. Vamos ficar duas horas e meia um do lado do outro.
- pois é – falei disfarçando.
- eu devo levar isso como pura coincidência?
- o senhor é que sabe, mas as chances de ser coincidência são grandes.
- sei – falou ele se levantando – venha cumprimentar os outros.
- acho melhor não. Eu fico nervoso antes de viajar. É melhor eu ficar aqui recitando o torá e minha mente pedindo a Deus que o avião não caia.
- vai me dizer que tem medo de voar?
- todo mundo tem medo de algo.
- eu não. Sou o homem mais macho que existe. Nada me assusta.
- você tem medo de ser vulnerável.
- o que? – perguntou Adam.
- você está dizendo que não tem medo de nada mesmo sabendo que tem. Você tem medo de parecer fraco e vulnerável. É fofo e triste ao mesmo tempo.
- OK, pelo visto você fica malvado quando está nervoso então vou pra lá e você fica aqui orando.
- me desculpa…
- sem problemas – falou Adam sorrindo – te vejo no avião.
- até lá.
Depois de alguns minutos foi anunciado que o embarque para nosso voo avisa sido anunciado. A fila foi formada e eu era quase o último. Ao entrar no avião procurei pelo meu assento o que não foi difícil já que Adam estava ao meu lado.
- olá outra vez – falei olhando para Adam.
- te conheço de algum lugar – falou ele brincando.
Sentei-me ao lado de Adam e respirei fundo quando fiz isso.
- você tem mesmo medo de voar?
- Muito – falei olhando pra ele.
- não precisa ficar com medo – falou ele me encarando – eu estou aqui.
Olhei para Adam e ele deu um sorriso quando fiz isso. Nós não dissemos nada um para o outro, mas por algum motivo eu realmente me senti mais seguro tendo ele ao meu lado.
A comissária de bordo mandou todos colocarem os cintos e foi o que nós fizemos. As luzes se apagaram e acenderam duas vezes antes do avião taxiar na pista. Eu tremia de frio com o ar condicionado. Isso fez com que eu ficasse muito mais nervoso do que eu estava.
- vai ficar tudo bem, não tenha medo – falou Adam pegando minha mão direita e segurando ela – vou segurar sua mão e se sentir medo é só apertar bem forte.
- OK – falei nervoso olhando para ele segurando minha mão.
Recostei a cabeça e respirei fundo antes de sentir o avião ir rapidamente para frente fazendo com que meu corpo fosse jogado levemente para trás. Depois de alguns segundos com essa sensação senti como se estivesse em um elevador e ele levantou voo. De olhos fechados me senti tonto com uma sensação estranha no ouvido.
- você está bem? – perguntou Adam.
- sim – falei de olhos fechados.
- pode abrir os olhos. Tudo está bem.
- OK – falei abrindo-os devagar. Foi quando percebi que ainda segurava a mão dele.
- viu só? Não tem do que ter medo – falou Adam olhando para mim. Ele segurava firme minha mão.
Não respondi nada e apenas aproximei o rosto do dele sem saber o que esperar. Adam olhou para mim por alguns poucos segundos antes de aproximar seu rosto do meu. Nossos lábios se tocaram em um tímido selo. Atrevi levar minha mãe esquerda até seu rosto e Adam não me impediu. Ele pressionou seu rosto ainda mais contra o meu dando outros dois selinhos antes de lentamente introduzir sua língua em minha boca. eu tive o prazer e a honra de chupá-la antes de Adam voltar a sua posição original ainda segurando minha mão.
- eu não devia ter feito isso – falei soltando a mão dele e puxando a mão bruscamente – sinto muito.
- sente pelo o que? – perguntou Adam.
Olhei para ele tentando decifrar seu rosto e em seguida olhei em volta. A sorte é que Steve, Vanessa e Gray e Xavier ficaram várias fileiras na nossa frente então eles não tinham visto o beijo.
- me desculpa por ter te beijado, eu não devia ter feito isso.
- não se desculpa por coisas que você não está arrependido – falou Adam.
- como sabe que eu não estou arrependido?
- porque eu sei que se eu me aproximar novamente você vai me beijar outra vez.
- você não é gay. Você me disse que não é gay.
- você quer mesmo discutir isso?
- não senhor.
- ótimo – falou ele com um sorriso voltando a olhar para frente.
Respirei fundo e fiz o mesmo. Nem acredito que tinha beijado sua boca. Seus lábios quente e húmidos. Tocar seu rosto enquanto ele enfiava a língua e minha boca. Será que estou sonhando? Fiquei pensando nisso quase todo o voo. Apesar do beijo nós conversamos sobre coisas aleatórias.
Quando chegamos em Detroit nós pegamos taxis até o hotel Aphrodite Inn. Depois de fazermos o Check in na recepção do hotel nós fomos para o elevador. Nós seis entramos e apertamos os botões sete e dez.
- você não está no mesmo andar que o nosso? – perguntou Steve.
- não senhor. Quando fiz as reservas só tinha quartos no décimo andar.
O elevador parou no sétimo andar e todos eles desceram. Quando as portas começaram a se fechar eu coloquei um pé de fora fazendo as portas se abrirem.
- Sr. Adam White – falei chamando a atenção de Adam que parou e veio até mim.
- o que foi Mike?
- Em que quarto o senhor está? O senhor disse que precisaria da minha ajuda antes da audiência para revisar os contrários e o depoimento odo Sr. Wallace Parker.
- na verdade eu fiz isso ontem a noite. Não vou mais precisar de sua ajuda para isso.
- não vai?
- não. Eu nunca precisei de ajuda. Eu só queria que você viesse a essa viagem comigo.
- o que vou fazer então?
- você que sabe. Pode visitar a cidade se quiser ou se preferir ficar deitado o dia todo assistindo TV pedindo serviço de quarto. De qualquer forma sou eu quem vai arcar com ás despesas e eu estou te dando permissão para fazer o que quiser até segunda.
- o senhor não vai me querer na audiência?
- só se você quiser assistir, mas é uma chatice. Como eu disse, você faz o que quiser
- acho então que vou ficar aqui no meu quarto.
- recebi uma mensagem dizendo que a audiência foi remarcada para ás três da tarde. Se mudar de idéia pode ir assistir se não tudo bem. Quando obtivermos a sentença dos jurados eu te ligo dizendo que ganhamos ou não.
- OK.
Entrei no elevador novamente e antes das portas se fecharem completamente vi Adam dar uma piscadela para mim com um meio sorriso sacana no rosto. Aquela descoberta tinha aberto meus olhos. O que Adam queria comigo é o mesmo que eu queria com ele. Ele tinha até me trago em uma viagem apenas para me ter por perto.
Ao abrir a porta do meu quarto vi que era enorme. Tinha um frigobar, uma sala e até um quarto. Era praticamente um apartamento.
Eu prometi o que disse á Adam. Fiquei o dia todo no quarto. Quando o relógio marcou três horas eu decidi que não iria á audiência. Adam disse que seria chato e levava muito tempo. Era pior do que assistir um filme de suspense com um final péssimo.
Quando o relógio marcou cinco da tarde recebi uma mensagem no celular. Pensei que talvez fosse Adam me dizendo o veredito, mas era Charley. Depois de uma breve conversa com Charley pelo celular voltei a assistir televisão. Nervoso com o veredito e com o beijo que aconteceu entre Adam e eu. Espero que aconteça de novo. tudo o que sempre quis foi ele para mim e parece que agora ele quero o mesmo.