Eu fiz o download do tal aplicativo que Leonardo sugeriu, segundo ele era bem mais rápido para conversarmos. Descobri logo de início que não era um simples aplicativo para conversar com seus amigos, mas também era possível conectar-se com todos os outros usuários. Viciei no kik e ele passou a ser meu app favorito. Leonardo era um dos motivos. Eu não admitia para mim mesmo, mas eu comecei a gostar dele. Não foi tão natural quanto eu quero acreditar, pois eu sempre tive um pé atrás com as coisas que ele me falava. Acho que nós dois no fundo sabíamos que ia rolar alguma coisa algum dia; ou pelo menos queríamos.
Só que eu não chegaria nele pelo mesmo motivo que ele não chegou em mim: medo. Não é como se estivesse estampado na nossa cara GAY. Quando não está na cara, é bom ter pelo menos um pouco de intimidade para dar certo. E foi o que fizemos, ficamos bem íntimos. Mesmo sendo vizinhos não nos víamos, embora eu soubesse quando ele saía para a faculdade, quando voltava, o que comia no almoço, que filmes ele assistia etc. Após um mês ou mais, Leonardo era meu melhor amigo, daqueles com o qual você conta e quer contar sempre.
Não havia um só assunto que eu não pedisse a opinião dele, ele é ótimo conselheiro além de ter sido bem atencioso comigo nessa época. Lembro que eu estava brigado com minha irmã mais velha e ele sempre tentava contornar, me fazer pensar nas minhas atitudes, entre outras coisas. Ele ficava feliz em me ajudar. Ao mesmo tempo em que eu achava isso ótimo, também tentava buscar em algum momento da minha vida alguém que tivesse sido meu amigo daquela forma. Não consegui, por isso o estranhamento. A dúvida de que ele quisesse mais do que amizade me consumia, e era terrível. Por causa dessa dúvida recusei todo convite dele para sair.
Ele ficava insistindo para sairmos, nem que fosse para o Mcdonalds perto da nossa casa. Eu nunca aceitei, apesar de querer. Toda vez que eu dava desculpas ele mandava uma carinha triste. Emojis se tornaram nossa marca, sempre havia alguma expressão que ele queria deixar clara para mim. Quando não era possível, ele mandava foto do próprio rosto. O incrível nisso tudo é que eu amava, gostava pra caramba, de quando ele mandava uma foto. Eu ficava um tempão olhando para a foto, e depois de várias fotos dele ele começou a pedir para eu mandar também. Eu achei um pouco demais e falei brincando que era viadagem. Ele ficou com raiva de mim por causa disso e só voltou ao normal depois de eu mandar minha primeira foto: eu sorrindo, deitado na cama.
Mas não foi nenhuma foto que me fez apaixonar. Eu descobri que estava gostando dele quando, numa de nossas conversas pelo telefone, ele disse: vou ter que sair, beijos. E desligou. Ele nem deve ter percebido, mas aquele “beijos” mudou a forma como conversávamos. Eu me perguntei que tipo de hétero diz aquilo para outro homem, então decidi que não importava. Eu fiquei muito tempo pensando se ele queria mesmo me beijar, ou se fora só um reflexo, algo trivial que ele falou sem perceber. Mas na conversa seguinte no kik, eu fiz um teste: eu mandei beijos. Ele respondeu algo do tipo: haha beijos. A risadinha disse tudo, a gente tinha avançado um passo, mas eu ainda achava que era coisa da minha cabeça. Após toda conversa era natural nos despedirmos com “beijos”, “boa noite”, “durma bem”, essas coisas.
Mas nem tudo foi só flores e romance, nossas conversas também se tornaram bem sexuais. Todo mundo sabe aqueles dias que vamos para a cama com tesão e vontade de aliviar, e Leonardo tornava essas noites mais safadas. Quando fico de pau duro, qualquer coisa é motivo para eu falar bobagem. E eu lembro de uma conversa nossa que eu não aguentei e dei várias indiretas para ele. Ele dizia alguma coisa normal, mas eu consegui virar o assunto e guiar aquela conversa para o sexo. Contei que estava com tesão, que havia muito não transava. Começamos a falar de sexo bem naturalmente, apesar de eu ter achado ele bem tímido nessa parte. O incrível foi que não usamos palavras que definissem o sexo das nossas experiências. Era sempre ‘pessoa’, isso ajudou e muito na minha teoria de que ele estava afim de mim.
Essas conversas safadas se tornaram recorrentes. Eu passei a saber exatamente as vezes em que ele se masturbava, e eu também fazia questão de contar os meus momentos. Passei a não ter vergonha de nada, ficamos tão cúmplices, mesmo que virtualmente, que quando ele me pediu, no meio de uma brincadeira, para ver meu pau, eu enviei a foto sem pensar. Ele pediu e eu enviei. Depois que enviou, claro, eu fique tipo PUTA QUE PARIU, ele com certeza iria me xingar, mas não foi isso que ele fez. No lugar ele mandou um emoji envergonhado. Aquilo podia significar muita coisa, por isso perguntei se ele tinha gostado. Só que enquanto eu digitava, ele mandou uma foto do pau dele. Esse momento eu fiquei perdido.
Eu nunca tinha visto um pênis daquele jeito, era tão... perfeito. Eu sabia que estava apaixonado por ele, não tinha mais volta, eu gostei até do membro. Depois da troca de fotos ficou um assunto meio estranho, mas nós dois logo contornamos aquilo. Pelo contrário, passamos a enviar esse tipo de foto sempre. Não havia elogios em resposta, mas passamos a enviar fotos sensuais (ou tentativas). Eu enviava fotos antes do banho, ele também, pouca roupa ou mesmo pelados. Foram tantas fotos que eu tinha uma pasta no celular só para Leonardo (ainda tenho). Porém essas fotos foram o motivo do nosso primeiro desentendimento.
Continua...