Tem como um beijo ser tão normal? Foi o meu primeiro beijo gay, mas eu sentia como se tivesse beijado Leo a vida inteira, como se na verdade aquilo fosse o lógico a se fazer. Lembro de ter ficado somente levemente assustado com a urgência dele, com a força com que ele pegou na minha cintura, ainda sentados. Era forte, afinal eu estava beijando outro macho. Mas não durou muito, ele foi o primeiro a distanciar. Não tinha como, não conseguimos nos olhar depois disso. Eu não parava de sorrir, estava num misto de muitos sentimentos. A mão dele, no entanto, continuou em mim, eu acho.
Acabei tenho que ir embora, vi que não ia rolar mais nada e já era meio tarde, talvez ele quisesse ir dormir. Fomos em silêncio até o portão. Quando ele abriu eu saí bem rápido mas virei para olhar para ele e mais uma vez pedir desculpas. Ele me deu um selinho, mas não me disse nem uma só palavra. Chegando em casa eu não sabia o que fazer. Fui direto para o quarto, meu irmão não tinha deitado ainda. Aproveitei para ficar sozinho, pensar no que tinha acontecido. É lógico que eu não ia dormir fácil naquela noite, eu não conseguia parar de passar na minha mente tudo o que tinha acontecido, só para sofrer mais um pouco. Eu devia estar feliz.
No dia seguinte eu não iria conseguir esperar ele me ligar ou mandar mensagem, por isso dei bom dia (apesar de que não gosto disso de “correr atrás da pessoa”). Ele respondeu cedo, antes de ir para a academia. Mas o assunto parou nisso, depois do “tudo bem?”. Eu fiquei o dia quase todo pensando no que seria de mim depois daquilo. Eu sou meio paranoico, não consigo relaxar. Já estava pensando em como contaria para meus pais que eu estava namorando um cara. O estranho é que eu me considerei namorado de Leonardo bem antes de isso de fato acontecer.
À tarde ele me ligou e me chamou para dar uma volta com ele, não precisávamos ir a algum barzinho ou coisa do tipo, seria só para conversar mesmo. Eu decidi que ia. Me arrumei, fiquei cheiroso para ele, e assim que anoiteceu fui à casa dele. Quando ele abriu o portão me senti um idiota: ele estava só de bermuda e camiseta, enquanto eu estava todo arrumado. Ele riu de mim e mandou eu entrar. Sentei na sala, perto do pai dele, minhas mãos suavam e eu, que sou extrovertido, mal conseguia falar. Leonardo teve a decência de se arrumar só para eu não ficar como o idiota e decidiu de última hora sairíamos de verdade.
Quando saio normalmente é de taxi porque os lugares que eu vou ficam perto da minha casa, mas Leonardo tinha outros planos. Ele me passou um capacete e me guiou até a garagem. Eu sabia que ele usava a moto de vez em quando, mas não para sair. Achei legal. Saímos assim, ele meio calado e eu na garupa. Não posso dizer que nos divertimos naquela noite porque não me lembro direito, mas eu tenho certeza que a sensação de frio na barriga estava comigo o tempo todo, era só olhar para o lado e descobrir que eu estava saindo com alguém que eu gostava. Leo me deixou na porta da minha casa e começamos a conversar ali mesmo no passeio. Ele me disse que eu sou bobo, que a gente ia só dar umas voltas de moto e eu apareci lá todo lindo e cheiroso. Eu sempre soube flertar, é natural, então que pedi ele para ver se eu ainda estava cheiroso.
Leonardo relutou muito a fazer isso, estávamos na rua, mas acabou fazendo. O que eu queria mesmo era um beijo, mas isso não aconteceu. O que veio em seguida foi uma coisa que eu ainda não tinha pensado: ele ficou de pau duro. Duro mesmo, de fazer muito volume na calça. Eu não soube como agir e ele também não esperou reação. Entrei em casa, ele foi embora e quase imediatamente mandei mensagem para ele. Fomos dormir às 3 da manhã, ou mais, conversando. Agora conversávamos livremente sobre o que estávamos sentindo. Deve ter sido nessa conversa, ou em outra qualquer, que ele me contou que ele sempre tivera uma quedinha por mim.
Ele também me contou, ou melhor, jurou que nosso beijo foi o primeiro homossexual dele também. Segundo Leo, o Grindr não o ajudou muito porque não tinha ninguém interessante. Mas também porque ele estava vidrado em mim. Resultado: fomos os primeiros um do outro no romance e no sexo (eu ainda não tinha começado aquela outra história dos contos anteriores) gay. Por uma semana ou menos, nós dois saímos todo dia, nem que fosse para comer um sanduíche e jogar conversa fora. Rolava uns beijos desconfiados, mas não estava tão forte assim, eu comecei até a desanimar. Até que um dia ele foi direto e me perguntou por que a gente não transava. Foi aí que começou mais um dilema no nosso relacionamento.
Continua...
Observações: Eu tenho mania de não explicar as coisas em meus contos, mas aqui vão algumas que apareceram nos comentários.
• Meus contos são verídicos na medida que minha memória funciona. Não posso dizer que tudo é verdade, porque quando escrevemos acabamos alterando algumas coisas;
• Leonardo desses contos é o mesmo dos outros, meu primeiro, único e atual namorado. Ele é mais baixo que eu um pouco (eu tenho 1,85m), faz academia, é definido, é moreno, cabelos e olhos castanhos, lábio finos cor-de-rosa e uma expressão natural que diz tipo “cuida de mim?”;
• Pode parecer meio romântico (eu acho) isso tudo, mas na verdade nos somos um casal super safado. Vou chegar nesse ponto ainda e explicar o porquê do título ser esse.
Se alguém tiver alguma pergunta dúvida, só deixar nos comentários.