Pietro

Um conto erótico de Piet
Categoria: Homossexual
Contém 2699 palavras
Data: 19/04/2015 20:00:09

Sou Pietro, um Pietro dentre os milhares do mundo, eu sei, mas tenho uma história que me faz único. Narrarei-a aqui, com todo os detalhes sórdidos, não pouparei a mim nem mesmo a você, caro interlocutor. Tenha apenas paciência, sensibilidade e que se dispa (pelo menos durante a leitura) de qualquer referenciação do que é correto ou incorreto, pra que você tire algo novo da minha história e, quem sabe assim, crie novos pontos de vista, derrubando seus preconceitos.

Sou branco, magro, tenho 18 anos, olhos negros impenetráveis, uma boca avermelhada que lembra a imagem fantasiosa que temos de um coração; rejeito qualquer classificação que me tire a masculinidade, pois, apesar dos traços, tenho em meus comportamentos invasivos uma essência masculina. Minha boca não é carnuda, mas isso não atrapalha seu desenho, são duas linhas postas em cima da outra, dentro desse contorno há o mínimo de carne, ela é preenchida por COR, pelo vermelho que a dá um volume óptico, um volume sutil, que a carne faria parecer grosseiro. Gosto da minha boca, ela é uma metáfora pra minha personalidade, exuberante e agressiva, porém sutil.

Meu corpo é de um branco fantasmagórico e, embora com poucas definições de músculos ou ossos, é um corpo magro saudável, de quem não malha por pura opção de não pertencer a categoria de "pedaço de carne"; minha barriga não é grande, não há um volume de gordura no baixo-ventre, há um preenchimento de carne firme, um preenchimento tão sutil que é marcado por uma leve saliência, percebida apenas quando estou de perfil. A carne é bem dividida, concentrada principalmente na parte inferior, por analogia a um triângulo; o meu corpo vai se tornando esguio a medida que o olhar se eleva.

Observando minha infância, tenho imagens do meu próprio presente, só que com outro corpo. Eu insisto nos mesmos error infantis, na mesma mania de possessividade, na insistência de ter, no medo de perder, e foi baseado nesses erros que vivi tudo que vivi.

Quando fiz 18 anos arrumei um belo emprego, um belo lixo de emprego, ele consistia em perguntar "o senhor tem cartão? gostaria de fazer um cartão, senhor?", as pessoas cagavam pra essas perguntas, apenas os mais pobres aceitava fazer a droga do cartão, reclamo, pois ao tentar fazer o cartão pra eles, o processo todo era em vão, uma vez que sequer tinham renda para que a solicitação do cartão fosse aprovada. Não os culpo por isso, parece que tudo para pobre é mais difícil, independente da boa vontade que ele venha a ter.

Certo dia, fui ao banheiro do shopping onde trabalhava, notei que ao adentrar no local, os homens fitavam a porta. Eles não estavam mijando, vi que se tratava de putaria, era evidente, mas às 9h da manhã? Fui no mictório mais distante, até que um cara branco, alto e encorpado vei até o mictório próximo ao meu; ele ficou ali, fingindo mijar, olhando pra mim de soslaio, não de forma ininterrupta, claro. Não pude segurar a excitação, fiquei ali de pau duro. O homem entrou numa cabine, deixou a porta entreaberta, e ficou por lá por uns 10min, eu esperei o banheiro esvaziar e quase entrei na cabine, mas não tive essa coragem; voltei para o trabalho. Eu não conseguia me concentrar na hora de solicitar os cartões e resolvi sair do shopping; sentei na sarjeta do shopping e acendi um cigarro. Tentei me forçar a pensar em coisas boas, para que me relaxasse, mas invariavelmente eu voltava a pensar nele, dei o último trago e voltei ao trabalho.

Já marcava 9h40min no relógio, estava abordando quem passasse pra fazer o cartão, de forma tão mecânica que nem olhava na cara de quem eu perguntasse, eu estava resignado a ouvir o som do descaso, que pode ser definido como o silêncio. Numa das minhas perguntas decoradas, eis que recebo uma resposta, olho para o dono da voz e pro meu espanto era ele, O Homem do banheiro.

Ele fez o cartão daquela loja medíocre, me comeu com os olhos o tempo inteiro e depois me deixou seu número de celular, pois segundo ele eu tinha feito um atendimento excelente e merecia um cargo melhor numa empresa que me valorizasse; fiquei feliz mais pela possibilidade de um novo emprego, do que pela possibilidade disso ser um pretexto para uma foda. Ficava lembrando dele, um cara bonito, seguro, poderoso, educado e sabia ser autoconfiante sem soar expansividade em suas ações, eu o admirava, mas não gostava disso, passei então a elencar possíveis defeitos, mas não achava algum com consistência. E caso eu achasse nele algo ruim, acho que não sobrepujaria suas qualidades, ele tinha seus brios.

Cheguei em casa, digitava os número de Alberto (o nome dele) e apagava, repeti três vezes a operação, repetiria mais duas, fazendo essa contagem eu me desviava do objetivo principal que era ligar. Acendi outro cigarro, fiquei na varanda vendo entre a fumaça toda aquela gente do alto do prédio, pareciam formigas indo se refugiar em algum buraco, representado na ocasião por seus prédios; as formigas carregavam sacolas imensas nas costas vindas de lojas de grife, essas sacolas eram o "doce" dessas formigas insignificantes. A vida nos grandes centros urbanos se resumia a transformar pessoas em formigas, elas só acumulavam, viviam para isso. Eu me arrependia amargamente de ter pedido à minha família pra ir morar sozinho na cidade, no fim das contas o que adianta vencer na vida para no fim virar uma formiga consumista?

Passei a noite num enorme tédio, mas o prelúdio estava em minhas mãos, sob a forma de papel e com nome e números; bastava esperar uns dias e ligar como quem não quer nada. Três tediosos dias se passaram, resolvi ligar no meu horário de almoço. Depois de uma conversa quase solene, resolvemos marcar um almoço para o dia seguinte, por sorte, sexta-feira, um bom dia pra tirar folga e passar 3 dias seguidos longe da agitação de um shopping lotado.

Eu estava sem roupa alguma pra sair, todas estavam desgastadas, sem cor, e de tanto que as usava, elas me davam um ar monótono e apagado. Comecei então a entender as formigas, o porquê delas viverem para o consumo, a culpa não era delas, tive um rápido sentimento de pena, pois eram obrigadas a se impor pelos bens, para não se sentirem apagadas. Mas logo meu ódio pelas formigas voltaram, pois se elas se rebelassem contra esse modo de vida e dessem valor ao que é essencial, talvez fizessem uma revolução e ninguém precisaria se preocupar com a nova coleção de uma grife qualquer. O valor poderia passar das roupas para outras coisas, bastaria que elegessem a coletividade como o bem maior e deixassem de lado as aparências. No fundo o que eu odiava era ter que me vestir "bem" só porque a sociedade convencionou isso como regra, queria pôr a primeira camisa da gaveta, mas seria olhado torto na minha pseudoentrevista de emprego. Se as formigas não fazem a revolução, então começarei eu, pensei. Coloquei um jeans, um tênis surrado, um moletom de algodão cinza e fui com esse uniforme de garoto do interior.

Liguei para Alberto, ele definiu que me buscaria no estacionamento do shopping e de lá ele escolheria o local; no carro falamos de música (ele queria saber o gosto dos jovens), filmes e de dinheiro, ele me contou que nunca fora pobre, mas que triplicou seu dinheiro investindo em imóveis e comprando empresas falidas. Ele era extremamente econômico, odiava ostentar e comprar o que não precisasse, o que não excluía o fato dele prezar por coisas de boa qualidade, ele realmente sabia investir seu dinheiro. Era um homem admirável, esqueci completamente que estava diante do mesmo sacana que me secara no banheiro.

Fomos a uma cantina italiana, nunca tinha ido, senti uma importância até então desconhecida; apesar de minhas roupas, ao lado dele não me senti diminuído, me senti grande, como se eu fosse dele e, sendo dele, ninguém poderia me atingir. Ele me fazia beber vinho cada vez mais, como se quisesse me embebedar, eu aceitava de bom grado, eu era ali, naquele momento, grato por tudo. Sentia uma empatia misturada com afeto puro.

Ao contrário de mim, ele não tocou em álcool, disse-me que não ousaria dirigir alcoolizado pondo em risco alguém da minha idade. Em seguida, passou seu dedo indicador no meu rosto, sorriu de leve e olhou pra mim com um ar complacente. Esqueci que aquele mesmo olhar me olhara com fome dentro de um banheiro público.

No carro conversávamos muito, ele perguntou se eu tinha namorada, que eu era um rapaz muito bonito e inteligente, que deveria ter várias querendo ficar comigo. Até falou que se tivesse uma filha, queria que ela me namorasse. Ele olhou minha boca e começou a descrevê-la, de um modo que nunca notei antes, falou do desenho, da cor que preenchia o contorno de forma sutil. Guardo até hoje essa descrição! Passei a ver minha boca como nunca vi antes, passei a vê-la como parte mais importante do meu corpo, pois foi ele que foi notada, que foi descrita por ele.

Em dado momento, percebi sua mão esbarrando sorrateiramente na minha coxa, indo às vezes de encontro ao meu pau; nesse instante ele já começava a endurecer, eu estava solto pelo álcool e queria que aquilo fosse adiante, por tudo que falamos, pelo cara que ele se mostrou ser, eu queria transar com ele para completar o momento que passamos. Ele perguntou se eu queria ir com ele pra um um lugar incrível, sim, eu respondi.

Andamos horas de carro, nos afastamos da paisagem urbana e entramos numa estrada de terra, repleta de cerejeiras, oitizeiros, mangueiras, limoeiros, e outras árvores. Estávamos entrando em sua chácara, suponho que ele tenha me feito essa surpresa graças aos meus relatos sobre o interior. Ele não poderia ter acertado tão bem!

Dentro da propriedade, ele colheu uns limões para fazer suco, me deu uma maçã recém-colhida, falou que tinha comprado a chácara para passar as férias, mas não conhecia ninguém que o acompanhasse, que as pessoas da cidade não davam valor a coisas assim. Ele parecia ler meus pensamentos, pois reproduzia o que eu achava, e o que eu sempre quis escutar. Na hora em que sua camisa estava cheia de limões, numa espécie de bolsa que ele formara, fomos para dentro da casa. Lá dentro era fantástico, nada de móveis de departamento, era tudo peça antiquíssimas, com excelente qualidade, cuja madeira maçiça mantinha o bom que aspecto. Não havia televisão, havia um rádio e um vinil com discos dos Mutantes ao lado. Perguntou se eu queria que ele colocasse algum, eu consenti. Depois ele acendeu um cigarro, pegou outro, acendeu no dele e me deu: fumamos juntos enquanto conversávamos.

Não demorou pra que me beijasse, não poderia oferecer resistência, ele foi me tocando por toda a parte, me apertava com a mão, e eu imitava o que ele fazia, ele abriu meu zíper e tirou minha calça, depois tirou meu moletom, fiquei só com uma cueca boxer preta. Ele fez o mesmo em si, mas diferente de mim, ficou completamente nu. Fomos para um quarto, lá, ele acendeu velas; fizemos um 69, tentava chupar como podia, ele me chupava e me punhetava ao mesmo tempo. Ele foi até o guarda-roupa, pegou um pacote com gel e passou em si, enquato deitava de bruços e levantava a bunda. Seu cu era depilado, diferente do restante do corpo que abrigava poucos pelos; não me ofereceu camisinha, nem pensei nisso na hora, tamanha era minha confiança nele, tamanho era o meu afeto. Comecei a bombar, depois o vaivém se tornou intermitente e cadenciado; ele gritava muito, dizia que ele próprio era uma puta, e comecei a dizê-lo também, no ápice do tesão, gozei vários jatos em seu cu.

Depois da foda, fomos tomar banho, depois nos vestimos com umas roupas que estavam no armário e ele foi pra cozinha, fazer a limonada e o jantar; jantamos macarrão ao molho branco com suco de limão, eu não quis mais beber vinho. Depois ficamos ouvindo um som no vinil, conversamos um pouco, até que ele foi no quarto pegar algo, voltou com um saquinho na mão, despejou um pó branco no centro e começou a separar em fileiras, depois ele fez um canudo com um pedaço de papel e começou a aspirar, eu sabia o que era aquilo, mas não estava nem aí, ele perguntou se eu queria experimentar, disse que sim. Ele me deu o papel e comecei a aspirar também. Nós cheiramos um tempão, a sensação era incrível, era um misto de total felicidade e sentimento de desinibição, nós não dormimos, ficávamos atentos a cada batida da música, ao barulho dos grilos lá fora, uma vontade imensa de falar e de dançar começava a tomar conta de mim, acabamos não dormindo passando a noite acordados, mas como era sábado, poderíamos ficar em casa descansando.

Na tarde de sábado fiquei bem mal, com um tipo de ressaca do pó, mas fiquei bem com um comprimido que ele disse que cortava esse efeito do dia seguinte. Durante a tarde, transamos de novo, tomamos banho de piscina e ficamos jogando conversa fora. Ele me falou que quando nós voltássemos outra vez, ele me levaria num rio que tinha ali próximo, para pescar uns peixes pro jantar, que iria comprar linhas novas de pesca para a próxima vez. Falou também que eu deveria pedir demissão, pois trabalharia pra sua empresa, eu trabalharia na parte administrativa, como auxiliar, até que eu começasse a minha faculdade e tivesse um bom cargo. Faculdade era uma coisa que eu nunca tinha pensado, agora eu tinha horizontes, planos, um futuro que ele traçava pelas palavras e que minha mente transformava em imagens bonitas.

O domingo foi seguido de sexo, palavras e sensações. Voltamos pra cidade já de noite, ele me deixou em frente ao meu prédio, já não ligava pras formigas, elas já não significavam mais nada em minha vida, eu tinha acesso a um mundo onde elas não existiam, era o mundo do Alberto.

Como combinado, pedi demissão, era um começo de uma vida nova, digitei o numero do Alberto, mas pro meu desgosto, o número "não estava recebendo ligações", tentei durante a segunda-feira, durante a terça-feira, durante todos os dias da semana, eu fiquei em casa, com o celular ao meu lado, eu o olhava o tempo todo na esperança que tocasse, mesmo não desgrudando dele, eu acendia seu display para me certificar de que não havia uma chamada não atendida, fiquei semanas assim. Eu não comia, só fazia beber água, que descia com um gosto metálico insuportável; tinha muito ódio, sabia que não poderia fazer nada, que não teria acesso a ele outra vez e que ele saiu impune, pensava que outros meninos poderiam ser suas novas vítimas e me dividia entre odiá-lo e ter ciúmes da relação que ele possa ter com outros meninos.

Eu estava financeiramente na miséria, pois tinha me demitido e não receberia aviso prévio, também não conhecia o sindicato da cidade porque tinha chegado há menos de um ano. Minha sorte era ter pago o aluguel adiantando, mas até quando? o mês passaria e eu teria de pagar. Mesmo que eu arranjasse logo o emprego, não teria como eu pagar sem atraso, uma vez que perdi tempo demais em casa esperando uma ligação que nunca veio. Voltei ao banheiro do shopping todos os dias, ficava horas lá, esperando ele chegar, era constrangedor passar o tempo todo no mictório, as pessoas da limpeza ficavam me olhando perplexas, eu não passaria incólume, e logo, logo, a segurança iria me inquerir sobre o que eu tanto fazia por horas naquele banheiro.

Foi aí que vi que o que o mundo me der, eu haveria de devolver, na mesma proporção, com os mesmos requintes de crueldade, sem pena, pois de mim ninguém se importou, nem mesmo as formigas, as ditas pessoas de bem, elas sequer viam o meu sofrimento, caso visse, "não era problema delas", deviam pensar. Não me importaria mais em ferrar as pessoas, agora era o começo de um novo mundo, dessa vez, o mundo real.

CONTINUA...

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Comentários

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Obrigado! É sempre bom ter um feedback, continuarei sim.

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Otimo seu conto! Tem um enredo incomum, profundo, um texto cuidadoso, como tanto admiro. Parabens e nao pare nem desanime, ok?

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