(Victor)
É claro que eu não o culpava pelo término do nosso relacionamento. Se havia alguém culpado nessa história, esse alguém era eu. Deixei as coisas chegarem a um ponto em que ninguém mais aguentaria. Estava atarefado com um novo projeto que comecei a desenvolver e acabei me esquecendo da coisa mais importante da minha vida. Bernardo. Só de pensar seu nome meu corpo já tremia em expectativa. Passamos cerca de quatro anos juntos, os anos mais felizes da minha vida, e isso me fez acreditar que era pra sempre. Apesar de já se passarem seis meses desde nosso rompimento, todas as noites eu ainda chorava sentindo saudades dele. Meu travesseiro que por muito tempo abrigou seu cheiro, hoje estava vazio e estranhamente me parecia sem vida. A melancolia fazia parte de mim agora. Cheguei em casa com seu cheio e sua imagem de cueca ainda em minha mente, seria mais uma noite de insônia e pensamentos impuros. Seu corpo junto ao meu me fazia tanta falta.
Meu celular começou a tocar tirando-me dos pensamentos que começavam a ser libidinosos, mesmo sem esperança nenhuma, rezei pra ser ele me pedindo pra voltar lá e fodê-lo com toda a força. Até não agüentar mais, e depois começaríamos tudo de novo. Saudades do meu pau esfolado.
-Oi, amor.
Era a Karina, minha noiva. Um arrepio percorreu minha coluna. Não era justo o que eu estava fazendo com ela. Não era justo o que eu estava fazendo comigo mesmo. Ás vezes a vida é tão injusta com todos, só existia para favorecer a ela mesma.
-Oi Karina, o que aconteceu?
-Nossa, Victor, quanto desanimo. Ás vezes eu gostaria que você fosse um pouco mais carinhoso e atencioso comigo. Só liguei pra falar que já estou com saudades... Porque você não quis que a gente dormisse juntos hoje? Assim a gente matava a saudades um do outro, se é que você me entende.
Porque eu preferia mil vezes estar dormindo com a delícia do meu ex-namorado que á minutos atrás eu tinha visto só de cueca, pensei. Bernardo de cueca, deveria ser terminantemente proibido que ele ficasse assim, tudo pelo bem das pessoas, e é claro pra proteger-me de um ataque. Lembrei que minha noiva estava esperando uma resposta minha enquanto eu fantasiava com o corpo nu de outra pessoa.
-Sei lá Káh, tenho que trabalhar amanhã. Não é porque meu chefe é também meu sogro que eu posso chegar atrasado, tenho horários a cumprir.
-Se você quiser, eu posso falar com ele...
-Não... Olha só, eu não quero me prevalecer só porque namoro a filha dele. Quero que tudo que eu consiga seja pelo esforço do meu trabalho. E também não pega bem isso, né. Outro dia a gente se vê.
- Você não acha que por estarmos noivos a gente deveria se ver mais? Você sempre tá trabalhando ou com a cabeça nas nuvens... Quando vamos começar a planejar nosso casamento?
-Karina, por favor, agora não. Prometo que em breve a gente resolve toda essa história. Eu realmente preciso dormir, acordo cedo amanhã. Se eu não trabalhar quem vai bancar o casamento dos sonhos que você tanto quer?
Minhas desculpas pra adiar aquilo estavam acabando, acho que não conseguia manter por mais tanto tempo, o que era terrível pra mim dado as circunstâncias de que eu não a amava.
-Meu pai... Acho que ele não se oporia. Ele é louco pra que a gente se case logo, ele é louco por você. E eu também, só que de um jeito diferente. Mas já vi que você não esta a fim de falar sobre esse assunto, tchau. Eu te amo.
- Tá, tchau.
-Victor... – Ela me chamou com uma voz repressora.
-Eu também te amo, amor.
Desliguei o telefone antes que ela arrumasse mais um jeito de me colocar na parede. Ultimamente ela e seu pai vinham tocando muito nesse assunto de casamento, apesar de esperar isso de duas pessoas noivas, eu tentava fugir ao máximo. Arranquei a roupa e me deitei sem forças nenhuma pra tomar um banho, o que eu menos queria era mais lembranças dos momentos pré- rompimento.
Estranhamente nessa noite meus costumeiros sonhos com o Bernardo foram diferentes, viajei para a primeira vez em que a gente se viu, nossa primeira conversa. O modo como ele gesticulava enquanto estava contando da sua vida. Como sorria quando eu tentava contar uma piada e quase sempre fracassava. Acho que desde aquele momento ele jogava seu charme pra mim. O jeito único que tinha de ver a vida. Como falava com amor da sua família. Quem poderia dizer que tanto tempo depois estaríamos nessa situação?
Aqueles olhos da mesma cor e doçura de um mel não saiam da minha cabeça nem em sonhos. As primeiras vezes em que ele me olhava e eu ficava imaginando o que ele queria com aquilo também se fizeram presentes. Quando eu me vi com aquele mesmo olhar dos olhos dele, e descobri que aquilo era desejo fiquei totalmente apavorado. Nunca tinha visto nenhum homem com outros olhos, mas acho que de alguma forma o desejo já existia e eu só precisava encontrar a pessoa certa. Essa pessoa apareceu trazendo consigo uma luz própria difícil de ignorar. Me pegava pensando nele o dia todo, e não via isso com bons olhos. Não dava mais pra negar, mesmo que eu tentasse, e eu tentei muito. Ele teve muita paciência comigo e minhas tentativas de fugir dele, foram muitas e ele sempre tava lá pra correr atrás de mim. Lembro-me que depois da nossa primeira vez, eu praticamente o expulsei da minha vida, não atendia as ligações e o evitava na faculdade, tudo por vergonha do que tínhamos feito. Vergonha, não arrependimento. Naqueles dias, sempre que me lembrava disso batia uma punheta frenética pra aliviar a tensão. Se eu parasse pra pensar, veria que minha dependência dele tinha começado já naquela época. Aos poucos e com carinho, ele foi ganhando minha confiança e se aproximando de novo. Eu deveria saber que uma hora isso ia cansar e ele ia desistir de tudo, confiei demais no nosso amor e parece que não foi a bastante pra fazê-lo ficar.
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