Me deitei para dormir, mas demorei pegar no sono, fiquei pensando em mim, na minha desesperada tentativa de fazer nosso relacionamento voltar a funcionar, meu desejo de ressuscitar o que tínhamos no passado, eu me orgulhava do que estava fazendo, estava tentando me tornar alguém melhor e mais interessante para meu companheiro voltar a gostar de mim, mas, ao mesmo tempo, eu sentia vergonha, a impressão que eu tinha era a de que eu estava me humilhando por migalhas de afeto, são pensamentos totalmente oposto, mas que me faziam chegar a um mesmo resultado, eu queria sim o JP de volta, no sábado ele acordou primeiro que eu, na verdade eu fui despertado por ele, dormi tão bem, e tão profundamente que iria provavelmente perder a hora se ele não estivesse em casa, levante, tomei um banho, me vesti e fui pra cozinha, tomamos nosso café da manhã, ele foi pra sala jogar videogame, não muito depois o pessoal chegou na minha casa, vieram todos juntos.
Os apresentei ao JP que graças a Deus e as forças do universo foi cordial e simpático com todo mundo, eu temia que ele fosse um pouco hostil com o Joe, ele não gosta muito de afeminados, e apesar de o Joe não ser bem um afeminado, ele tem um comportamento todo particular, que pode acabar sendo mal interpretado, mas não ele foi bem legal, as meninas também tiveram uma ótima impressão, nunca deixei transparecer a realidade do relacionamento, então elas tinham uma ideia de pessoa completamente diferente do JP, fomos a sala de jantar pra fazer o que tínhamos pra fazer, e ficamos por ali a algumas horas, já se aproximava de meio dia, quando o JP vem dizendo que estava com fome, e se senta do meu lado, uma das meninas vendo a cena comentou…
–Que coisa mais fofa gente, eu sempre gostei de casais gays, é difícil ver um casal que esta a muito tempo junto, mas quando tem eles sempre são como vocês, fofos, dá pra sentir o quanto se gostam só pelo gestual não precisam dizer nada.
Dei um sorriso meio tímido, por que eu de fato fiquei envergonhado, e o JP deu uma risada, e brincou dizendo que aqueles cinco anos juntos, não tinham enfraquecido o que sentíamos um pelo outro, e que eu tinha conquistado ele pela barriga, o pessoal riu e continuamos a conversa e ele ali sentado do meu lado, a tatá perguntou ao Joe se ele não tinha vontade de namorar com alguém, ele fazendo uma pausa dramática falou…
–Viado (Sim ele chama todo mundo de viado, independente de se homem, mulher, cachorro ou parede) Eu sou casado, eu tenho um relacionamento com o mundo, e não posso privar ninguém de ter a chance de beijar esses lábios e conhecer a minha pélvis.
É um idiota mesmo, após alguns minutos de conversa, fomos todos comer, já tinha deixado tudo pronto mesmo, e enquanto papeavamos eu fui aquecendo tudo no micro-ondas, comemos juntos, tudo muito agradável e calmo, como eu havia rezado para que fosse o pessoal foi embora ficando apenas nós dois em casa, ele sentado no sofá todo jogado, o que não era pra menos, considerando a quantidade que ele havia comido, era provável que ate passaria mal, eu após terminar de organizar a cozinha sozinho, me sentei na sala e fui tomar uma taça de vinho pra relaxar, se tem uma coisa que me acalma é uma boa taça de vinho, nem tinha clima pra conversar com ele sobre a ótima encenação que ele tinha feito durante toda a manhã e principalmente no almoço, eu deixaria passar, mas se tem uma pessoa que eu conheço muito bem, até de olhos fechados é o JP, eu senti que ele queria falar alguma coisa, e fui deixando pra ver se ele conseguiria formular bem a fala dele, até que ele…
–Porque nós não somos aquele casal que fomos hoje de manhã, você não tem ideia da saudade que eu estava sentido disso, desse contato, dos sorrisos, da casa cheia de gente, de nós dois, juntos, sem briga, sem pressão e sem pressa. Mas você está se ocupando demais, tem muitas coisas pra fazer, não fica em casa, eu passo a maior parte do tempo sozinho, e quando to em casa tudo que quero e ter você aqui.
–JP. Existe um dito popular que afirma, que só damos valor naquilo que perdemos, pois bem, você não me perdeu, e nem vai, mas agora tem que me dividir, me dividir comigo. E isso não é algo que você está acostumado, eu fiquei quase cinco anos dentro desse apartamento, sempre que você chegava e não sei se você sabe, mas você já ficou seis dias sem trocar nenhum “oi” comigo dentro dessa casa. Mesmo me vendo todo dia, dormindo comigo e acordando ao meu lado.
–Não faça isso, não distorça o que eu quero falar, as vezes eu sou calado mesmo e você sabe muito bem disso, não é uma novidade, principalmente se estou envolvido em um caso do trabalho que me exija muita concentração, você tenta me transferir a culpa por tudo que dá errado com a gente, mas isso é um relacionamento os dois têm culpa.
–Isso é verdade, e a minha culpa é ter sido muito permissivo, mas não brigaremos e nem discutir, acho mesmo que em vista dos últimos meses e anos, nós melhoramos muito nesses dois dias, e espero sinceramente que continue assim.
Continuamos a conversa mas dessa vez com tom menos agressivo, ele me perguntou se eu estava feliz morando com ele, pois odiaria me manter como prisioneiro naquela casa, se eu quisesse ele poderia alugar um apartamento menor para eu morar ainda seriamos casal, mas eu teria meu espaço, ele disse ainda que sentia que as vezes eu tinha raiva dele, meu olhar não era sempre o olhar que ele conhecia, e isso assustava, ele temia que por medo de perder, pudesse acabar me perdendo. Confesso que ver ele admitir a culpa dele no declínio do nosso relacionamento era ótimo, mas eu não queria que ele se sentisse um vilão, porque não era mesmo, mas também eu não queria admitir que tudo que estava fazendo, todas as mudanças, era por ele, não todas elas claro, mas a grande maioria.
Uns anos antes, nós tínhamos a vontade de nos casar mesmo, um contrato de união estável com direito a festa,
uma comemoração; mas tudo se esvairia e deu lugar a hostilidade, e novamente eu via essa possibilidade tomar forma, claro que ainda só na minha cabeça e era uma forma meio embaçada, mas poderia se tornar algo concreto, apesar de uma pequena melhora, ainda tinha uma rigidez no JP, era algo estranho e que eu não poderia romper, saímos pra comer a noite, e um restaurante do shopping, deixei ele na mesa e fui comprar um chopp pra ele, não me recordo bem por qual motivo que eu voltei a mesa mas no caminho ele nem notou minha aproximação estava vidrado em uma mulher que passava pela nossa mesa, estranho eu sentir ciúmes de uma mulher, mas pelo histórico dele eu deveria, ele já havia sido casado com uma mulher no passado, e não escondia de mim que ainda sentia tesão por mulher, fiquei com uma raiva dele, mas engoli seco, pra não demonstrar meu ciúmes, peguei o chopp e me sentei, continuamos comendo, mas vez ou outra ele olhava para a mulher e o pior é que ela também parecia flertar com ele.
Eu não sabia mais se ele estava sendo burro, e pensando que eu nada via, ou se simplesmente não estava nem ai com o fato de eu estar ao seu lado na mesa, whatsapp ainda era meio que uma novidade na época, o pessoal conversava muito pelo aplicativo e enquanto ele flertava com uma desconhecida eu fui conversar com meus amigos pelo telefone, eu não estava nem ai, ou melhor eu queria que ele pensasse isso, fiquei na minha entre algumas conversas e risinhos disfarçados ele voltou a atenção pra nossa mesa…
–O que de tão interessante esta falando, ou lendo ai nesse telefone para estar até rindo, e esquecendo que estamos em um restaurante.
–Antes de responder deixa eu te fazer uma pergunta, o que o senhor esta falando ou vendo na mulher da mesa ao lado, para esquecer que estamos em um restaurante, esquecer que é casado e esquecer que eu estou ao seu lado e preciso ser respeitado.
–Para com paranoia, ela é mesmo muito bonita, mas eu olhava pra confirmar se eu a conhecia, acho que ela trabalha em uma empresa que tem negócios com a empresa que eu trabalho, queria confirmar se era realmente a pessoa para poder ir lá e cumprimentá-la.
–Acredite naquilo que quiser JP, eu te conheço e sei muito bem quando esta flertando com alguém, mas saiba você que fazendo isso você me dá o direito de fazer a mesma coisa, a única diferença é que se for pra eu flertar com alguém não será com uma mulher.
–Você não é nem louco de flertar com um cara na minha frente, eu nunca perdi a cabeça com você mas não me desafie Felipe e não queria me ver nervoso. Ta bom, acho que você entendeu errado o que aconteceu aqui, me desculpa. Podemos comer em paz e continuar com a noite que estava agradável.
Ele realmente parou de dar atenção para os terceiros do ambiente e se concentrou em mim, a impressão que eu tinha era a de que ele só funcionava sobre pressão eu precisava assustar ele ou fazer alguma ameaça para ele ver que eu sou real e capaz de fazer as mesmas coisas que ele, saindo do shopping fomos para nossa casa, mas antes passamos na porta de algumas casas noturnas, para ver o movimento e o que acontecia na cidade, já estavamos indo embora, quando o Joe me mandou uma mensagem dizendo que iriam a uma boate de música eletrônica e queria que fossemos também, como ele mesmo gosta de dizer –Vem pra boate ficar com a gente, mas já aviso, deixem a dignidade em casa, porque vamos fazer check-in na pista de dança. Falei com o JP e ele prontamente aceitou, sem nenhuma reclamação, as coisas pareciam começar a melhorar, porque ele queria corrigir a burrada que tinha feito, mas com ele nada parece o que realmente é, então o jeito era esperar pra ver.
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Obrigado pelo feedback pessoal