Levantei sem pestanejar. Queria muito vê-la. Queria rir do que o universo fez comigo. Eu “conheci” alguém que eu já conhecia. Fui andando ouvindo música nos fones e sussurrando a letra. Entrei e fui direto pra cantina, pedi um café e sentei no lado de dentro. Peguei o meu livro na bolsa e fiquei lendo. Eu precisava ler pra me conter um pouco, algo em mim não conseguia se manter quieto. E pra acabar com meus planos mentais, ela não apareceu lá naquela naquela manhã.
Tocou o sinal e xinguei mentalmente. Peguei minha mochila e fui saindo. Três horários seguidos de física, realmente não consegui prestar mais atenção no professor depois de 1h de aula. Fiquei escrevendo poemas aleatórios em cima das aulas com uma caneta de cor diferente. Quando o sinal bateu peguei minha bolsa e saí antes do professor, eu não aguentaria mais ficar presa naquele cubículo com ar-condicionado nem um minuto. Fiquei sem saber o que fazer, minha cabeça doía tanto que eu não conseguia ler nem ouvir música. Fiquei andando perdida até encontrar a ala médica. Bati duas vezes antes de ouvir uma voz. Uma loira muito, muito bonita abriu com sorriso nos lábios. O branco lhe caía bem, como se tivesse sido feito só pra ela.
“Posso ajudá-la?” - ela perguntou, olhando pra mim, que ainda estava parada. Fez menção para eu entrar - “sente-se”.
“Eu não estou me sentindo bem”
“Qual o teu nome, mocinha?”
“É Maria Eduarda. E sou nova aqui” ela levantou os olhos que antes encaravam a prancheta.
“Sim, aposto que não deixaria a tua presença passar despercebida” - e riu. Fiquei sem graça. Como uma mulher daquela elogiaria indiretamente uma guria? - “o que você está sentindo, Duda?” dessa vez eu que ri, gostei da intimidade na voz dela.
“Minha cabeça dói tanto, queria uma pílula, não quero ter que ir pra casa”
Ela continuava escrevendo, possivelmente informações que eu desconhecia, já que ela escrevia muito e o que eu disse foi tão pouco.
“Vou te dar um analgésico, e você permanecerá aqui, em repouso” comecei a corar, ela estava falando sério?!
“Não posso sair? Só queria mesmo a pílula...”
“Shiiii….” eu arrepiei com ela me mandando calar “lá fora está muito barulho, prometo não falar nada, vai passar mais rápido”
Balancei a cabeça concordando, tomei o tal analgésico e por lá fiquei, deitada numa poltrona reclinada. Às vezes pegava ela olhando pra mim, e então ria tão silenciosamente… Isso foi tudo que lembro antes de acordar com um barulho meio que atrás da poltrona que estava. Era do armário logo atrás, levantei meu pulso instantaneamente para ver as horas mas tinha esquecido que deixei o relógio no banheiro de casa. Esfreguei os olhos, tinha realmente dormido, pelo menos a dor de cabeça tinha passado.
Outro som veio atrás da poltrona e lembrei do som anterior, não tinha passado nem 5 segundos. Suspirei no susto, era a garota. A Flávia, ela estava roubando remédio do armário.
“Oi” falei, tirando ela da perfeição em tentar não fazer ruídos, que falhou totalmente.
“Não queria te acordar” - finalmente pude ouvir sua voz - “foi mal”
“Tudo bem” - parei, não sabia mais conversar - “você viu a doutora?”
Ela colocou as chaves que abriam o armário de volta na primeira gaveta, onde antes estava ocupada pela doutora que eu realmente esqueci de perguntar o nome.
“A DOU-TO-RA já volta” - eu juro que ela deu pausas, quase como sarcasmo - “é bom você estar deitadinha quando ela voltar”
E saiu.
Aposto que minha cara estava “ahn? quê? onde?”
Eu fiquei lá, não pelo conselho irônico dela, mas porque queria perguntar o nome da doutora e agradecer por sua simpatia. Olhei as horas no celular e dormir por quase 5 horas, já tinha passado os dois horários chatos, o almoço e umas duas aulas do preparatório. Aproveitei pra ligar pra Bianca, disse que passaria na casa dela depois da escola, já pela noite, para conversarmos. Antes de eu desligar a doutora entrou pela porta já tirando o jaleco e trancando na chave a porta. Ela riu pra mim, não com tanta simpatia como antes, mas já com certa… Astúcia.
“Fui até a coordenação e justifiquei tuas faltas, Duda...” - ela colocou o jaleco em um suporte para colocar casacos, me apressei em desligar, coloquei o celular de lado, confusa - “namorado?”
“Uma amiga” - ela tirou o celular do bolso e as chaves do carro, passou a mão no cabelo - “eu acho que preciso ir assistir o restante das aulas do preparatório...”
Eu ainda estava na poltrona e ela veio na minha direção, a sala não era muito grande, o ar-condicionado era mal distribuído por ser muito grande pra uma sala pequena, e estava bem frio. O toque da pele quente dela me fez arrepiar.
“Eu justifiquei todas as tuas faltas” - ela falou e se aproximou ainda mais - “eu ouvi falar de você: linda e problemática. É uma inconsequente gostosa, os alunos falam sobre você, você é a novidade desse ano” - eu comecei a entender o joguinho dela, mordi a mandíbula e sorri - “não pensei que você andaria pra trás tão rápido”
Ela se abaixou um pouco pra falar perto demais dos meus lábios “mas você pode ir, se quiser” e o decote me deu a visão de inspiração. Ela recuou e foi em direção à porta, antes de ela se aproximar demais eu a virei no susto. A beijei com ternura. “Ainda tenho algumas horas” passei a mão pelo pescoço dela e a empurrei contra a porta, num beijo mais rápido. Tirei minha blusa e o tênis. Ela tiraria sua própria blusa mas eu mesma quis tirar, mordi o lábio ao ver o que não deveria ser escondido por um pedaço de pano. Ela veio pra mais um beijo e passei as unhas por sua barriga, ela gemeu baixo. Desabotoei sua calça branca apertada, ela no beijo bateu na minha mão.
“Eu que comando, Eduarda” e me levou segurando minha mão até um mármore depois de duas camas, primeiro pensei o por quê de não irmos pra um das camas, mas realmente não era uma boa ideia. No começo foi desconfortável, mas é como uma transa no banheiro de uma boate, quem liga?
Ela me fez gozar duas vezes e chupava meu corpo inteiro, ela falou antes de eu dizer qualquer coisa que as marcas não ficariam, que ela sabia fazer. Eu ri, mulheres experientes… Eu cheguei a tocá-la e saborear um de seus seios, mas o celular dela tocou e ela se afastou para pegá-lo. Atendeu e veio caminhando de volta, não pediu pra eu ficar em silêncio, eu não era uma criança. Ela falava, séria, ainda mais sexy. Beijei seu pescoço, e fui descendo, estávamos nuas, o toque de minhas mãos acariciavam seu corpo, ela mordeu o lábio e riu. “Gostosa” sussurrou. Ajoelhei e olhei pra ela, que balançou a cabeça, negando. Ela ainda estava molhadinha e minha língua escorregou fácil entre suas pernas, cravei as unhas em suas cochas, e mordi na virilha, passei a língua ao redor e podia ouvir seus suspiros, a essa hora respondendo só “sim, “anham” e “hum”. Mordisquei seu clitóris, e suguei forte. Foi o ponto final pra ela, desligou o celular e me jogou no chão. Estava frio demais, arrepiei.
“Se eu soubesse teria te mandado calar” - ela falou fingindo raiva.
“Mas não falei nada”
Ela passou a mão no cabelo, deixando todo de lado e caído sobre mim, seus lábios eram rosados e o nariz arrebitadinho, me desconcentrei olhando pra ela e só senti a dor quando ela penetrou dois dedos em mim. Gritei baixo, e a outra mão dela cobriu minha boca, de leve. Ela fazia movimentos rápidos sem esforço, ela mordeu meu lábio e foi descendo. Mordeu de leve meu seio, enquanto o sugava com apetite. Desceu mais um pouco e colocou sua língua entre minhas pernas, já não aguentava mais, mas não queria gozar pela terceira vez, enquanto não tinha feito ela gozar nenhuma. Meu corpo se contorcia inteiro. Gozei nos lábios dela. Ela fez parecer que nada tinha acontecido, ela engoliu tudo, minha respiração era acelerada. Ela me beijou, dessa vez, com calma e uma mordiscada no final. Ela levantou e me deu a mão. Nos vestimos e continuei pensando que só eu tinha sentido prazer ali.
“Quer carona pra casa?” - ela quebrou o silêncio.
“Não, ainda vou passar em um lugar antes” - coloquei o sutiã e virei pra ela abotoar.
“A tal amiga”
“Você não deixou nada a desejar, não teria como uma outra ainda hoje”
Ela passou o braço pela minha cintura.
“Você sempre sabe o que falar?” - um beijo - “posso te levar na casa dessa amiga, está tarde”
“Tudo bem” - amarrei o cabelo num rabo-de-cavalo e peguei a bolsa no chão.
Ela também já tinha terminado de se vestir.
Fui por trás dela e beijei seu pescoço.
“Vamos, doutora...” - esperei que ela completasse com o nome dela.
“Você é realmente o que dizem… Quem transa com alguém sem nem saber o nome?” - ela beijou rapidamente meus lábios, quer dizer, ela os mordeu de leve, puxou e soltou, aquilo não foi beijo. - “Karol Santiago”
Ela pegou meu queixo entre uma mão e me deu um selinho - “Vamos”.
Estava escuro lá fora e metade dos alunos já tinham ido embora. Não olhei ninguém conhecido, pra minha sorte. Karol me levou até a casa de Bianca. Quando mostrei a casa, ela dobrou a rua e parou um pouco à frente. Desligou o motor do carro e veio pra mais um beijo. Esquentou rápido lá dentro, e eu já queria tudo e novo. Me forcei a parar.
“Tenho mesmo que ir” - falei, acabando com qualquer tentativa de convite - “tchau, doutora”
“Aparece quando estiver doente” - ela me olhou com ar safado.
“Na segunda, na segunda estarei doente”
Ela sorriu e mandou beijo. Fechei a porta e ela arrancou com o carro.
Tive que tocar a campainha 1879 vezes. Bianca abriu, com o cabelo todo bagunçado. Entrei.
“Você tá surda é?” - falei entrando - “diz que não tem um garoto no teu quarto”
“Não tem um garoto no meu quarto. Você que não sabe esperar. Quem era no carro?”
“Anda espiando a vizinhança agora é? Cadê o pessoal daqui?”
Fui andando até a cozinha, conhecia Bianca e família dela desde guria, nossas mães eram amigas de ensino médio. Lavei as mãos e abri a geladeira. Bebi dois copos de água enquanto ela falava onde cada pessoa estava e fui tirando coisas pra comer, tirei biscoitos, suco, requeijão, cereal e o que tinha sobrado de um pudim.
“Você estava presa?”
Eu sorri de boca cheia. Coloquei as coisas que pude na mão e fui indo pro quarto dela. Ela foi indo atrás. Tirei o tênis na porta e fui de meias pra cama, joguei as coisas que não quebravam e coloquei o restante ao lado do abajur.
Deitei e fiquei comendo deitada. Bianca sentou em um puf e pegou o violão, começou a dedilhar.
“Eu estava transando desde umas 3 horas da tarde” - eu olhava ela de cabeça pra baixo, minha cabeça em uma das laterais da cama box - “nem almocei”.
“Não vai me dizer que foi com a guria que você me perguntou… A Flávia”.
“Não… Não. Quem dera. Mas hoje eu falei com ela… Indireta e esquisitamente” - bebi suco - “me conta o que você sabe dela”
“Sei muita coisa, idade, onde mora, que tipo de música ela gosta… Mas você não precisa saber de nada disso. Você mesmo descobre. Só tenho um conselho pra ti: não te apaixona”.
Eu sorri, e virei, ficando apoiada nos cotovelos.
“Por que?” - quis saber.
“Ela é uma destruidora de corações”
Fiquei calada, pensando na porcentagem de chances que tinha de isso acontecer.
“Ela é gay” - continuou Bianca, ainda dedilhando o violão - “ponto pra você”
“Eu quero ela, mas eu não sei me apaixonar…” - pensei alto - “mas, como ficaria o dom de quebrar corações que ela tem, se ela se apaixonasse por mim?”
Bianca balançou a cabeça negativamente com um sorriso e eu já queria que chegasse a manhã seguinte.