Nas três semanas que antecederam o casamento dos nossos pais, praticamente não nos desgrudamos mais. O novo apartamento estava praticamente pronto e fomos numa bela manhã de sábado conhecer o lugar. O novo Ap ficava a duas quadras da famosa Avenida Beira Mar e do alto de nossa cobertura dava pra ver o grande verde mar de Fortaleza...
_ Izabel que vista espetacular... Disse Ric assim que se juntou a nós na varanda.
_ Pelo seu entusiasmo rapaz, só posso crer que fizemos bem em escolher esse lugar pra morar.
Num impulso eu a abracei e beijei no rosto. Jardel me olhou com cara de poucos amigos mas logo logo a bira acabou e ele me chamou pra ver seu quarto.
Ficaríamos lado a lado no imenso corredor do segundo andar. Ele abriu a porta e me deu passagem. Em nada a sua suíte diferenciava da minha. Cama, armário, banheiro, escrivaninha, eletro eletrônicos e mais um monte de outras coisas que teríamos que arrumar.
_ Que tal o quarto?
_ Igualzinho ao meu, Jardel.
_ Aposto que mamãe se esmerou mais no meu, afinal sou seu filho...
_ O que você pretende com isso, cara? Já ouviu algo tipo assim...Estamos no mesmo barco?...
Depois que ele me repreendeu é que fui notar a burrada que tinha feito. Fui até onde ele estava, na janela que dava pra Avenida e disse tocando em seu ombro fazendo com que ele se voltasse pra me olhar...
_ Só faço burrada né Ric? Eu não tô acostumado...
_ Na verdade você é muito mal acostumado, rapaz. Sabe o bom disso tudo? Você ainda tem jeito... E sorriu bem na minha frente amolecendo um pouco a minha tensão... Era bom demais participar de momentos assim com o meu futuro irmãozinho...
_ E será que você pode me ajudar a tomar jeito? E meus olhos prenderam os seus uma terceira vez... Dessa vez eu não desviei os meus.
Suas pupilas eram escuras e brilhavam com uma grande intensidade. Sua respiração era regular e pude notar uma leve alteração quando me aproximei dele. Ele não recuou e de repente alguém bateu na porta e o momento se foi...
_ Posso entrar rapazes? Perguntou Felipe já entrando em meu quarto.
_ Claro Felipe, chega aí...
_ Gostou do seu novo espaço, Jardel?
_ Claro, é um pouco maior que o anterior... Vocês devem ter gasto uma bolada nessa apartamento, né mesmo? Perguntei ao pai enquanto seu filho continuava a me olhar sem nada dizer.
_ Até que foi barato. Há pouco mais de dois anos quando eu e sua mãe notamos que nossa relação era séria e pra valer compramos esse lugar na planta. Custou menos que o valor que estão pedindo por um terceiro andar atualmente.
_ Pai, dois anos e eu nunca desconfiei de nada...
_ Filhão você me conhece e acho que o Jardel também conhece a mãe que tem... Reserva e cautela rapazes nunca farão mal a ninguém, aprendam isso com a gente. Agora vim lhes chamar porque estamos com uma fome de leão e um jantarzinho como da outra vez não será muito bem vindo, que tal?
_ Tava muito afim de uma pizza e você Ric? Já perguntei porque queria seu apoio na minha dica.
_ Desde que seja só muçarela eu tô dentro.
_ Então formou novo irmão... É o sabor que mais gosto também. Enquanto deixávamos o meu quarto, Felipe sorriu surpreso com minha fala.
Os dias transcorreram na mais perfeita paz. No cursinho apesar das gente não ficar juntos todo o tempo, voltávamos juntos pra casa. Eu tinha virado o motorista da minha nova " TURMA " pois Jota Mendes, Marcelo, Tânia e Silvia quase sempre voltavam comigo pra casa.
_ Vou cobrar o valor da van por cada cabeça... Sempre dizia isso só de sarro. No começo eles ficaram de queixo no chão quando me viram ir embora com o Ric numa bela manhã de segunda-feira, depois começaram a ver que eu não mordia ou matava as pessoas sempre que queria e tudo ficou mais fácil. Eles eram garotos e garotas até legais só que eu estava mais acostumado a truculência, a debochar e pirraçar na cara do mané e pra minha surpresa essa mudança até que tava me fazendo bem... Só que Satanás sempre faz intriga, né não? E ela veio num belo dia no refeitório do cursinho.
Eu tinha terminado as provas finais antes das ferias do meio do ano e estava esperando o Ric e o Jota Mendes que iriam pra casa comigo. Braulio, Cabeção e Renatinha estavam sentados numa mesa um pouco afastados de mim. Eu os cumprimentava e não mais interagia tanto com eles como no passado.
Quando Ric apontou no final do corredor que dava acesso ao refeitório, Braulio levantou de cadeira e foi em sua direção. Até aí tudo bem... Só que ao passar por Ric este lhe deu um empurrão que o fez cair de cara no chão. Quando o garoto se virou já começando a sangrar pelo nariz, eu só ouvi quando o meu ex amigo disse...
_ Olha por ande anda filho da puta.
_ Filho da puta é você...
Uma coisa eu devo admitir, o garoto era alto? Era, o garoto era teimoso? Igual a uma mula, o garoto fugia da briga? Não... E isso fez com que o escroto do Braulio o levantasse do chão pegando-o pela camiseta... E meteu um murrão no Ric que graças a Deus se defendeu e devolveu a agressão levando mais vantagem... O garoto não só revidou como fez o Braulio cair de costas e montou sobre ele lhe aplicando vários golpes... Cabeção correu até os dois e quando se preparava pra atacar covardemente meu novo irmão o segurei pelo pescoço...
_ Que é isso chapa?
_ Nem pense em fazer nada com ele, entendeu, cabeção? O murro que dei em seu ombro com certeza o fez repensar suas decisões.
Ric levantou e Braulio ficou no chão meio atordoado. O curioso da cena era que o meu ex amigo era muito parecido comigo... Era um cara grande e forte. Tinha um bom molejo quando lutava e era perverso por vontade própria. meu inovo irmão era um tipo comum e não era chegado a brigas só que ao vir em minha direção com a mão direita esfolada ele disse com um meio sorriso que o deixou mais lindo quando o vi...
_ Sabe que ta valendo a pena os treinos na academia nova?
_ Que papo é esse de treino, Ric Melo?
_ Pois é Jardel, comecei a treinar há uns dois meses atrás. Ia deixar em segredo só que hoje não teve como. Vamos pra casa que tô morto de fome...
Por um tempo a turma deixou meu irmãozinho de lado e devo confessar que adorei tudo isso.
Nossos pais casaram no dia marcado e tanto eu como o Ric os levamos até a presença do juiz que os casou numa bonita cerimônia em nosso novo lar. Mamãe estava tal qual uma Princesa e Felipe meu novo " PAI " estava todo elegante com seu terno azul marinho, mesma roupa minha e do Ric. Muitos foram os convidados naquela ocasião e nas fotos de família todos foram unânimes em dizer que nossa família era realmente muito bonita. Os dois seguiriam para a lua de mel em Barbados, um pequeno País insular localizado nas Antilhas.
Uma coisa na festa me fez perder a noite. Eu tava com a cabeça cheia de expectativas e enquanto o jantar rolava souto vi Ric passando pra varanda com um cara que já tinha visto antes e não gostei da proximidade dos dois...
_ Não vai jantar irmãozinho? Perguntei sem tirar os lhos do seu amigo.
_ A fila ta um tanto quanto concorrida e resolvemos esperar uma melhor oportunidade.
_ E seu amigo, não vai comer também? E com uma leve pressão segurei firme no ombro do filho da puta que perdeu o sorriso na hora.
_ Você não ta lembrando do Edgar, irmão? Fazia alguns dias que ele só me chamava assim... Eu tava odiando isso.
_ Não... Deveria? Retruquei soltando o ombro do mané.
_ Sou o filho do dono do cursinho onde vocês estudam. Dou aulas de Biologia.
_ Então é por isso que não lembrei... Odeio Biologia.
Ric me fuzilou com seu olhar que era sempre tão brilhante.
O cara de pastel ficou todo sem graça e eu saí tal qual um pavão... Senhor de mim. Os segui com os olhos por todos os lugares. Eles não desgrudaram de jeito nenhum. Vai ter assunto assim na casa do caralho... Os convidados começaram a se retirar e antes das duas da manhã éramos apenas nós três em casa...
" Onde tava o Ric? " Pensei já puto da vida. Uns dez minutos depois ele entra pela porta da frente como se nada tivesse acontecido.
_ Que festa legal, hein? Foi tudo o que disse já tirando o blazer e abrindo a camisa de manga longa.
_ Tinha descido, filhão? Perguntou Felipe e eu olhei pra ele, queria ver sua cara durante a resposta.
_ Fui acompanhar meu professor de Biologia até lá embaixo e outros amigos também. O pessoal pediu pra agradecer pelo convite, mãe...
"MÃE? " , como assim... A coisa foi tão natural que nos pegou a todos de surpresa e ao olhar minha mãe, vi o quanto de emoção ela sentiu ao ouvir o enteado lhe chamar... Isso acabou de vez com minha noite. Esse cara que passei a considerar como uma pessoa legal e que seria meu amigo tinha acabado de me roubar... E isso não seria nada bom pra nenhum de nós. Me dirigi ao bar e enchi um copo com vodka pura... bebi de um só gole e quando preparei outro copo mamãe chegou junto a mim...
_ Tá tudo bem, meu amor?
Pousei as mãos no balcão e após respirar fundo me virei para fitá-la...
_ Você ainda me ama, mãe?
_ Mais do que a mim mesma, pode acreditar nisso... Ela me abraçou e tremi em seu braços. Eu tinha que arranjar um jeito de saber dividir o seu amor com os demais membros da nova família.
_ Te amo muito, gata... Seja feliz tá certo?...
_ Desde que te peguei no colo pela primeira vez, rapazinho, que me sinto a mulher mais feliz do mundo... E o tempo tem me mostrado que a felicidade pode ser bem duradoura.
Os dois passariam a noite numa suíte de hotel não muito longe da nossa casa e na manhã seguinte, ou melhor, em poucas horas embarcariam num voo fretado até o local da lua de mel, presente de alguns amigos deles...
Nos despedimos e Ricardo melo fechou a porta do apartamento. Ele me desejou boa noite e subiu. Fiquei lá embaixo um tempão e por volata das três e meia da manhã subi. Passei pela porta do meu quarto, por um console do corredor e cheguei em frente a porta do quarto dele. Minha mão tremeu quando toquei na maçaneta da porta e mesmo gelando o corpo todo, abriu sem bater. O quarto estava na penumbra. Ric devia estar dentro do banheiro porque ele não estava na cama. Tudo estava bem organizado e assim que entrei e fechei a porta ele saiu do banheiro e me viu sentado em sua cama...
_ Houve alguma coisa. Jardel?
_ Houve sim e faz tempo que não sei o que ta acontecendo comigo... Ric.
_ Você pode me explicar o que ta havendo? Eu posso te ajudar?
Eu não podia dizer nada, pelo menos por enquanto. Me levantei, andei até onde ele havia parado e pedi com a voz quase sumida...
_ Você pode me dar um abraço, cara?
Por mais estranho que ele tenha achado toda essa situação, senti ele se aproximar e o seu cheiro junto com o calor de seu corpo me encheram de coragem. Ele se encostou em mim e levantou a cabeça já me encarando. Fechei os olhos e...
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Meus queridos meninos e meninas, tô de saída pra uma reunião de final de semestre. Quando postar mais uma parte ainda hoje, prometo que escrevo, voc~es verão o que aconteceu entre esses dois. Uma grande abraço... Nando Mota.
