Nem preciso falar o quanto eu fico puto com as pessoas me segurando pelo braço. Cara, qual o problema delas? Sério, agora escrevendo é que me dei conta. Mas vai ver é como o Bruno já falou uma vez, sim eu já perguntei, hehehe, até porque eu queria entender toda aquela insistência, bom, no caso dele (Bruno) é porque queria “domar a fera”. Ainda hoje tenho no Whatapp ele falando que me deixava com raiva de propósito, porque isso excitava ele. De qualquer modo, até esse momento eu ainda não tinha sacado qual era a dessa cara, ou melhor do André.
G: Velho! Tu não pode me deixar em paz não? O que foi que eu te fiz? Ein? Me fala daí a gente resolve agora.
A: Calma, só quero levar um papo contigo.
Respirei fundo.
G: Beleza, beleza. Vê só, tô com pressa. É sério mesmo, tenho aula daqui a pouco então tenho que correr em casa tomar banho e tudo mais.
Ele me fitava ainda inexpressivo.
G: Pode me soltar? Ou vai querer revistar também? – Dei um sorriso, não aguentei minha própria piada, hehehe.
A: Ah, foi mal. – Soltou meu braço. Deu pra notar que ele ficou um pouco constrangido com o que falei porque ele baixou o olhar.
G: Bom, então é isso. Você já sabe onde malho, né? Depois a gente se esbarra.
Ele estendeu a mão mais uma vez.
A: Fechou.
G: Até mais, apertei a sua mão.
A: André.
G: Ah, me chamo Gabriel.
Fui pra casa tomei um banho e parti pra universidade. Só à noite, quando cheguei da faculdade, depois de ter jantado, que fui pensar sobre ocorrido. Beleza que sou meio lento, até um pouco retardado, mas sei lá, tipo, eu não sou de paquerar em academia nem em ambientes que não sejam baladas. Além disso, já sofri muito com a velha síndrome do sou legal mas não tô te dando mole, dái então não importa o quão gente boa seja a pessoa, pra mim ela só está sendo gentil mesmo. Mas de qualquer modo eu fiquei com a pulga atrás da orelha em relação ao André. Ah, outro problema comigo, meu Gaydar veio com problema de fábrica, não sei se com mais alguém rola isso também, mas eu nunca saco nada. A prova viva disso é a Lari, que como vocês bem sabem, tava ali em baixo do meu nariz eu nunca suspeitei de nada.
A semana transcorreu normalmente e quando digo isso quero dizer que foi muito corrida. Tipo, sempre que dá vou malhar no horário da tarde e tal, pra evitar movimento, enfim. Mas com provas e trabalhos, ou falto ou acabo indo as 23h. Acabou que na quarta e na quinta eu não fui no horário da tarde. Na sexta consegui me organizar pra ir no período da tarde, isso pra poder sair à noite. Não sei também se é só na academia que malho, mas geralmente nas sextas o movimento no período da tarde é maior, acho que todo mundo vai mais cedo pra poder sair à noite. Bom, cheguei na academia, fiz meu aquecimento na esteira e depois fui beber um pouco de água. Quando estava saindo da área do bebedouro vi o André no supino reto. Resolvi então que ia lá puxar um papo pra ver qual que era a dele, o foda foi que eu não lembrava do nome dele. Sério, não sei se foram só alguns segundos ou se chegou a dar um minuto, mas fiquei lá parado tentando buscar o nome dele na mente. Ah foda-se, vou lá.
G: E aí, tudo blz? – Dei um sorriso.
A: Opa, tudo certo.
G: Hum.
Alguns segundos de silencio constrangedor.
G: Ah, a gente pode revezar?
A: Pensei que você curtisse malhar sozinho.
Fiquei com cara de paisagem. Sério, fiquei mudo, apenas fitando ele.
A: Hahahaha, qual foi? Perdeu a marra? Tô zoando. Foi só pra te deixar sem graça.
G: Ah, legal. – Falei seco.
A: Deixa de marra, hahaha, você devia ver a cara que você fez, hahaha.
A gente revezou no supino e trocamos algumas palavras, mas nada de muito relevante. Quer dizer, a verdade é que não lembro muito bem o que mais a gente conversou. Só sei que terminei minha série de exercícios e já estava de saída, na verdade praticamente entrando no carro quando escuto alguém me chamando.
A: Ow Gabriel!
Eu já tinha aberto a porta do carro então coloquei a mochila no banco e me virei pra ele.
G: Oi, esqueci alguma coisa na academia? – Dei um de doido mesmo, hehehe.
A: Não não, quer dizer, esqueceu sim. Mas não foi uma coisa. Aliás você tinha dito...
G: An? Para, organiza o pensamento e fala, porque não tô entendendo nada. – Falei entre sorrisos.
A: Ah, é que semana passada a gente ia trocar uma ideia e você tava atrasado...
O jeito atrapalhado dele é muito fofo. O André é um cara meio tímido, mas isso não quer dizer que ele não tenha atitude, tipo ele chega mas não consegue falar o que ele quer. Isso tudo em cara do tamanho dele é muito engraçado, hehehe. Claro que nessa segunda abordagem dele eu já tinha uma infestação por pulgas, mas mesmo assim resolvi me divertir um pouco com a situação.
G: Sim... – Fiz gesto com a mão indicando que ele continuasse.
A: Então e você está?
G: O quê?
A: Atrasado hoje.
G: Não, tô não.
Alguns segundos de silêncio.
G: Mas e aí? Sim o que eu esqueci na academia?
A: Não você não esqueceu nada na academia, na verdade você tinha falado que depois a gente trocava uma ideia e hoje você ta de bobeira então...
É, hehehe, as vezes o trem andava.
G: Ah, saquei. Fala ai então.
A: Pow, tô varado de fome, ta afim de tomar um açaí não?
G: Pode ser, se não for demorar muito, tô bastante cansado. Ta afim de ir onde?
A: O açaí do NaTigela é muito bom.
G: Nunca fui nesse, onde fica?
A: Ah, é meio complicado de chegar lá, segue meu carro, blz?
G: Ok.
Segui o carro dele até o NaTigela, fizemos o pedido e sentamos em uma das mesas de madeira que ficam na parte externa da lanchonete, o ambiente lá é bastante legal, todo temático e meio rústico, fora o açaí que é delicioso.
G: Então, é nessa hora que você diz que é um espião da CIA e que eu corro perigo de vida? Porque tu tá enrolando tanto com essa “ideia” que tu quer trocar que tô começando a ficar preocupado. – Dei um sorriso.
A: Hahahahaha, não tô enrolando não, só queria conversar a gente não já está fazendo isso não?
O tiro saiu pela culatra, tentei deixar ele constrangido, mas quem acabou ficando sem graça fui eu. Ele parecia já estar ficando mais à vontade. Ficamos lá batendo papo por cerca de quase uma hora. Falei sobre mim pra ele, o curso que fazia, música, livros, séries, etc. Não sei se é só comigo que acontece essas coisas, mas a princípio foi só uma conversa tranquila. Tipo, não me apaixonei perdidamente por ele nem corri pra casa pra escrever no meu diário os nossos nomes ou fui rezar uma novena pra me precaver que ele não viajasse pra o exterior, enfim. O André pareceu ser um cara bacana. Agora, frente a frente com ele pude observa-lo melhor. Ele faz o tipo de cara grandão, meio troncudo, braços fortes e barriguinha de chopp, que agora estava evidente por estar sentado, se fosse pra apostar diria que era peludinho também, hehehe.
No mais, ele era um cara bacana e tal, mas eu ainda não tava aberto para relacionamentos, digamos que o término da Era Bruno ainda estava um pouco recente. Obvio que, definitivamente, o André me dava um puta tesão, isso pelo porte grandão e jeito meio de macho caboclo, rsrs. Mas, de qualquer forma o tesão não superou a razão, então, depois me dei conta que isso poderia ser uma grande roubada. Tipo, o André pareceu ser muito gente boa e não ser um cara que dá em cima de alguém na academia pra ter só uma noite de sexo; ou era isso ou ele era ator nas horas vagas, porque ele tinha a maior pinta de bom moço. Enfim, já pensou ter que esbarra com ele na academia vez ou outra depois que não desse certo? Fora que entrei recentemente nessa academia e não queria ter que mudar novamente. Além disso, eu tava naquela vibe curtição pós termino e eu não ia chegar pro cara e dizer: “ó, vai ser só hoje, depois, tchau!”, isso é muito coisa de novela, daí quem não queria se apaixona e corre atrás e blá,blá. Certas coisas não devem ser ditas, uma delas é dizer que quer só sexo, até porque nunca se sabe não é mesmo? Enfim, pra me precaver de um futuro desconforto resolvi ir com calma, afinal sempre é bom ter um amigo não é mesmo?
G: Bom, então é isso, acho que vou indo nessa, tô mó cansado. – Falei dando a última colherada na tigela de açaí.
A: É, também vou descansar, se bem que hoje é sexta, né? Descansar pra mais tarde?
G: Uns amigos me chamaram pra sair, mas ainda não sei se vou – Não sei? Hehehe, já tava tudo esquematizado pra balada mais tarde, mas não se leva um peixe pra pescaria né?
A: Você falou que o seu prédio é o Jardim Imperial, né?
G: Uhum.
A: Blz, chego as 22h. – Deu sorriso largo.
G: Desde quando te convidei pra minha casa?
Agora pareceu que ele perdeu a confiança, ele voltou a não falar coisa com coisa.
A: Não, não é isso. Eu só ia passar lá. Quer dizer você não tá afim de sair? É sexta pow, pensei que...
G: Onde eu aperto a tecla SAP?
Ele agora pareceu visivelmente irritado.
A: Você é um babaca mesmo!
G: Como que é? Se manca, nem me conhece direito e fica ai me ofendendo! Qual é a sua ein?!
A: Primeiro você veio pra...então eu pensei que...daí você me dá patada...
Não sei porque mas eu já estava me irritando com ele meio que me cobrando alguma coisa. Me levantei e deixei ele lá criptografando a própria fala. Fui em direção ao carro soltando fumaça pelo nariz.
A: Ow, babacão! Vai me deixar falando sozinho de novo? Pensei que você fosse um homem e não um moleque...
Não acreditei que ouvi aquilo.
G: Como é?? – Parei de andar e me virei na direção do som, ele caminhava na minha direção – Tu perdeu o juízo foi? Babaca é você. Tá ouvindo ô seu idiota! Você é um BA-BA-CA!
Me virei novamente na direção do carro, mas ele já tinha me alcançado e segurava meu braço.
G: Me solta caralho, o que é agora vai me bater? – Falei empurrando o peito dele com o braço livre. Enquanto isso ele só observava a cena calmamente.
G: Se você não me soltar agora a gente vai resolver isso no braço!
Quando eu ia tirar a mão que estava no peito dele pra mirar um soco no meio da cara daquele babaca ele segurou meu outro braço puxou meu corpo, que se chocou contra o dele, e me beijou.
[Continua]
Fala galera, tudo blz com vcs? Queria deixar um grande abraço pra vocês que começaram a ler o conto agora e pra quem acompanhou o conto “Balada Errada!” também. Fico feliz que tenham gostado: [ WtF_Carlos, ale.blm, Tay Chris, Monster, gatinho02, Pequerrucha, Ivy SB, Irish, kadu, M/A, CintiaCenteno, Martines]
Explicação [Tay Chris]: Então, depois que o meu relacionamento com o Bruno acabou eu mudei de academia, isso porque enquanto a gente estava junto eu não pagava mensalidade, mesmo eu tendo insistido muito em pagar. Quando a gente terminou eu ia continuar lá e tal, mas ele continuava a não aceitar que eu pagasse, pra evitar esse contratempo resolvi sair logo de vez, eu não faço a linha de ficar com birra com ex-namorado pra criar situações, tipo é ele na dele e eu na minha. Tá bom, eu admito que sou birrento e um pouco marrento, mas enfim, o nosso término não foi muito amigável não e eu não estava me sentindo bem em malhar lá e ainda mais sem pagar. Fora que hoje a gente praticamente só fala o necessário (Bom dia, bo tarte, boa noite). Bom, como já tinha falado no conto anterior não quero relatar sobre o lado ruim de tudo, que teve sim, até porque foi um relacionamento de humanos, né? Claro que não foi só ele que errou, eu também. No mais, a última conversa que tivemos, conversa não, monólogo, porque só eu que falei, na verdade mandei um trecho de uma música no whatsapp pra ele. Ele visualizou e nunca respondeu. Bom é isso.
“Só tem um jeito de você me entender
Uma maneira que te faça enxergar
Eu já cansei de discutir com você
Não adianta mais falar por falar
Há muito tempo que eu venho pensando
Analisando nós dois
Perdi meu tempo com você só brigando
Não vou deixar pra depois
Você não vai mudar, é fácil presumir
A sua vida de aventura dura pouco tempo
Até se arrepender
Depois lá vem você
Pedindo pra voltar
Como já fez milhões de vezes vem se lamentando
Sofrendo, chorando, é digno de você...
Não sei se dá pra ver, mas acho que eu estou mudando
Houve um tempo em que eu não podia nem te ver
Agora posso estar de frente à você.
Que meu coração não sente mais nada
Me desculpa te falar, mas tenho que dizer
Que hoje mesmo acreditando em você
Você se apaixonou por mim na hora errada
Tarde demais
Tchau, tchau, amor
Não volto atrás”