A volta do lobinho desgarrado

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Homossexual
Contém 7373 palavras
Data: 05/06/2015 17:26:26

A volta do lobinho desgarrado

Ele movia a pélvis de maneira estranha. E, ao mesmo tempo em que eu sentia uma dor aguda se espalhando entre as minhas coxas, percebia nitidamente que algo quente e extremamente rijo entrava em mim, me preenchendo num espaço que eu, até então, desconhecia ser capaz de distinguir uma sensação tão inesperada quanto prazerosa. Aquela dor lancinante que fizera meu anelzinho anal de contrair violentamente apertando aquele intruso num espasmo involuntário, começava a dar lugar a um tênue sabor de satisfação. Depois do grito que a pungência percebida pelo meu cuzinho fez assomar à minha garganta, eu agora apenas tentava controlar minha respiração acelerada e os gemidos que a acompanhavam.

- Está doendo? – perguntou ele, também arfando como se tivesse acabado de correr uma longa distância.

- Um pouco. – murmurei entre os gemidos, procurando não demonstrar fraqueza.

- Não quero te machucar. Se estiver doendo muito eu tiro. Você quer que eu tire? – continuou ele, enquanto seus braços puxavam meu tronco para mais junto do dele, e o ar morno de sua respiração resvalava de mansinho na minha nuca.

- Não. – respondi balbuciando, sem saber exatamente qual das situações eu estava respondendo, e a que tirar ele se referia.

Eu estava mais curioso do que propriamente assustado com aquilo, e gostava da maneira pela qual ele me abraçava. O calor do corpo dele, aliado ao cheiro que sua pele morna exalava, me dava uma sensação de proteção, embora eu soubesse que não estava correndo nenhum perigo.

Estávamos um pouco distantes dos três galpões que se enfileiravam sob a proteção das copas das árvores, naquele aclive suave do morro que margeava o riacho, perto do qual nos encontrávamos protegidos por alguns arbustos e umas rochas firmemente incrustadas no solo. Mesmo assim eu notei que ele espreitava para ver se alguém se aproximava; o que não o impedia de continuar se movimentando frenética e ritmicamente sobre o meu corpo. O peso dele me comprimia contra a grama, e eu sentia minha pele pinicando. Mas, isso não tirava minha atenção daquela ardência que começava a se intensificar dentro do meu cuzinho. Envolto nesse turbilhão de sensações, eu mal notei que ele me agarrava com mais força, como se eu lhe fosse escapar, enquanto enfiava o rosto no meu cangote e me lambia fazendo cócegas. Os movimentos dele também se intensificaram, e eu conseguia distinguir umas estocadas rápidas que atingiram o cerne das minhas entranhas para, em seguida, dar lugar a uma calmaria desconcertante, na qual ele arquejava pesadamente e uma fluidez tépida escorria pelo interior das minhas coxas. Ficamos imóveis por algum tempo. Eu tentava compreender o que tinha acontecido, e ele procurava fazer sua respiração ofegante voltar ao normal. Quando ele se pôs de pé, não pude deixar de notar, com certo interesse, aquele tufo denso de pelos escuros que envolviam o pinto dele, do qual ainda pingava uma substância esbranquiçada, e que estava posicionado de forma estranha. Cheguei a achar aquilo engraçado, pois meu pinto era muito menor do que o dele e não tinha aquela profusão de pelos ao seu redor. Enquanto ele colocava aquilo para dentro da bermuda, esticou o braço na minha direção e me achou a levantar. Minha cueca e bermuda estavam ao redor dos meus pés, e quando eu me abaixei para erguê-las, senti uma pontada no cuzinho. Ele me olhou de um jeito esquisito, tinha uma expressão abobalhada e satisfeita. Estava visivelmente contente, e abriu um sorriso caloroso em minha direção.

- Você está bem? Ficou zangado comigo? – inquiriu curioso.

- Estou. Por que eu estaria zangado com você? – retruquei, na inocência dos meus dez anos de idade.

- Então vamos voltar para o alojamento, já deve estar quase na hora do jantar. – continuou, me conduzindo aos edifícios de mãos dadas.

A cada passo eu percebia que algo pegajoso se espalhava dentro de mim, e aquela dorzinha interna se acentuava ligeiramente. Quando chegamos aos degraus em frente do longo galpão avarandado, a algazarra dos garotos se preparando para o jantar se espalhava pelo ar. Ninguém notara nossa ausência, e nem o nosso regresso.

Aquele era o terceiro dia de acantonamento do nosso grupo de escoteiros. Estávamos em visita a outro grupo escoteiro local numa reserva municipal na serra da Bocaina. Eu havia completado dez anos naquela semana, e comemorado com os colegas da escola numa festa organizada pelos meus pais num buffet infantil de São Paulo. A vinda para esse acantonamento fazia parte da programação do grupo escoteiro ao qual eu havia ingressado há quase dois anos, e ao qual Caio também pertencia, só que na tropa sênior, pois ele já completara quinze anos. Como filho único, meus pais me achavam um pouco introvertido e, realmente, após o convívio com os outros lobinhos, eu logo passei a ser muito mais sociável e enturmado. A tal ponto que, em pouco tempo, me tornei líder da minha matilha, composta por outros cinco garotos com idades entre sete e dez anos, e colecionara uma boa quantidade de insígnias.

Caio também liderava sua patrulha, que tinha o nome de Kaiowah, seguindo as regras de nomeação de patrulhas entre os escoteiros. Era um garoto bastante desenvolto para sua idade. Sempre alerta, o lema escoteiro, parecia a forma mais apropriada de descrevê-lo. O olhar aquilino e perspicaz não perdia nada do que acontecia a seu redor. O caráter destemido e o físico avantajado foram preponderantes na liderança que ele exercia dentro da sua patrulha. Como a tropa sênior era encarregada de acompanhar o desenvolvimento dos lobinhos, ele logo reconheceu nas minhas características, uma fonte de inspiração e dedicação. Me chamavam de alemãozinho, devido aos cabelos cor de mel, quase loiros, os olhos muito azuis, e a pele clara e lisa; embora eu fosse sueco, e trouxesse na fisionomia todas as características dos nórdicos escandinavos. Eu não tinha nenhuma lembrança da minha terra natal, viera com dois anos para o Brasil, quando meu pai assumiu a presidência de uma filial da multinacional onde trabalhava.

Nossos encontros se limitavam às reuniões do grupo escoteiro, que acontecia geralmente aos sábados pela manhã, ou a acantonamentos como o que estávamos participando. Apesar do nosso convívio se resumir a algumas habilidades que os sêniores ensinavam aos lobinhos, eu percebi desde logo que Caio tinha um interesse especial por mim, e fazia questão que eu assimilasse a nova habilidade o mais breve possível; o que acontecia indubitavelmente e nos aproximava cada vez mais. Com o tempo eu passei a admirá-lo, e confiava em sua conduta como confiava nos ensinamentos que ele nos passava. Por isso, não relutei em acompanha-lo, quando ele me chamou de lado e me propôs irmos até o riacho no final daquela tarde para ver se ainda conseguíamos pescar alguma truta naquelas águas geladas que corriam ligeiras por entre as pedras; murmurando uma sonata que distinguíamos de nossas camas depois do toque de recolher, quando todo acampamento caia no silêncio.

Ao chegarmos ao riacho eu percebi que ele pouco se interessou em preparar as varas de pesca. Seu interesse estava em mim, e quando ele se inclinou sobre mim, prendendo-me com seu corpo pesado, eu achei que fosse uma brincadeira, e deixei que ele fosse me apertando e me palpando com uma voracidade crescente. Quando dei por mim estava com a cueca e a bermuda do uniforme arriadas, minha bunda estava exposta, e suas mãos me acariciavam. Ríamos enquanto eu tentava me desvencilhar, e só me dei conta da esquisitice da brincadeira quando aquela dor aguda, como se uma faca estivesse cortando a minha carne, colocou meu cuzinho em agonia, e o fez travar ao redor de algo grosso e pulsátil. Mas, como em seguida, o Caio me abraçou carinhosamente, meus temores se dissiparam, e eu passei a participar daquele jogo desconhecido, sem oferecer resistência.

Naquele dia, depois de havermos ajeitado nossos sacos de dormir e cada um se preparar para o banho, nosso Akelá me perguntou onde eu havia me machucado, pois havia uma mancha de sangue na minha bermuda. Perplexo e introvertido, me fechei numa das cabines dos chuveiros, e constatei que havia sangue na minha cueca que chegara a manchar a bermuda. Vinha do meu cuzinho, que ainda doía um pouco quando eu passei a mão sobre as pregas tentando lavar aquele sangue. Enquanto eu me banhava o Caio bateu na porta da cabine e me perguntou se estava tudo bem comigo. Disse que tinha sangue no meu cuzinho e ele mandou que eu abrisse a porta para ele ver. Deixei que ele passasse os dedos no meu reguinho, e como não estava sangrando mais, ele me disse que estava tudo bem. E eu não duvidei dele. Como eu havia jurado guardar segredo sobre a nossa ida até o riacho, e a cumpri; em outras duas situações, voltamos a repetir a brincadeira, da qual eu saía com uma estranha sensação de prazer.

Um ano mais tarde, quando o Brasil começou a se tornar desinteressante para os altos executivos das empresas, tanto do ponto de vista financeiro, quanto dos desafios profissionais, meu pai regressou para a Suécia, e eu deixei os amigos que fizera aqui.

Assim que retomei as aulas no novo colégio, durante uma aula de biologia, todos os meus sentidos se aguçaram quando o professor começou a falar sobre reprodução e, na tela que um projetor lançava num feixe luminoso que atravessava a sala mergulhada na penumbra, surgiu a imagem de uma pica flácida emergindo de uma densa floresta de pentelhos. A fotografia me remeteu imediatamente para aquele final de tarde no acampamento, e para a pica do Caio. Enquanto as explicações que o professor dava iam avançando, minha concentração se aprofundava, e uma saudade dolorida se instalou em mim. Então era assim que se dava a geração de uma criança, o aparelho reprodutor do macho penetrava no da fêmea e depositava ali os espermatozoides. Nunca saí duma aula tão confuso quanto naquele dia. Zilhões de dúvidas começaram a pulular na minha mente. O que teria feito aquela pica no meu cuzinho, se eu não era uma fêmea, e nem tinha uma vagina? Naquele mesmo semestre as dúvidas foram se dissipando à medida que as conversas da molecada ficavam mais picantes e ousadas, sempre com o mesmo tema, sexo. Os anos passaram, mas aquela lembrança ficou marcada em mim como uma cicatriz, que não dói; no entanto, te faz vir à mente os acontecimentos que a produziram.

Quando estava cursando a faculdade, voltei a sentir sobre meu corpo, agora desenvolvido e amplamente desejado pelas garotas, aquele mesmo olhar insaciado que o Caio me dirigia. Vinha de um carinha que cursava algumas disciplinas comigo, e com o qual eu simpatizara desde nosso primeiro encontro. Havia algo nele que despertava desejo no meu corpo, me fazia sentir uma comichão no cuzinho, e uma vontade de senti-lo dentro de mim, como daquela vez. Só que agora eu tinha plena consciência do meu tesão, que nunca fora tão intenso e desejado com as mulheres, como estava sendo em relação a ele. Por três anos após termos nos formado, eu vivi as delícias e as dores desse sentimento, que foi mútuo por quase todo o tempo, à exceção dos últimos meses quando ele subitamente descobriu que se apaixonara por uma colega no trabalho, e estava disposto a viver essa paixão. Superei essa perda com certa dificuldade e ceticismo em relação aos sentimentos das pessoas.

Fazia mais do que seis meses que uma vaga para o cargo de diretor de pesquisas clínicas, na filial brasileira, se encontrava em aberto na intranet da multinacional farmacêutica onde eu trabalhava. Apesar do excelente pacote de benefícios oferecido pela empresa, nenhum dos meus colegas, apto a se candidatar à função, mostrou interesse pela vaga. Uma última circular foi postada, deixando em aberto e, à escolha do candidato, um pacote mais amplo de benefícios, antes que a posição fosse aberta para o mercado. Nas minhas recordações de infância, a bela vista que se descortinava sobre o azul esverdeado do mar de nossa casa debruçada sobre um costão em Ubatuba, e o cálido pôr-do-sol que banhava as varandas, me animou a pensar numa carreira no Brasil. Um pouco reticente quanto ao meu interesse em aceitar a vaga, meu pai me encheu de conselhos e recomendações, tentando me fazer declinar nessa ideia, que ele chamou de inconsequente, uma vez que eu vinha progredindo extraordinariamente na minha carreira.

- Quem sabe um tempo na filial, administrando um setor que eu conhecia tão bem, não alavancasse ainda mais a minha carreira? – argumentei, ante o rol de inconvenientes que ele enumerava.

- Bobagem! As pesquisas para o desenvolvimento de novos fármacos não se dá por lá. O máximo que você vai fazer é conduzir alguns testes clínicos multicêntricos, enquanto a vanguarda das pesquisas continua sendo feita por aqui. – afirmou categórico.

No entanto, todos aqueles argumentos muito bem fundamentados se mostravam insuficientes para controlar aquela vontade incoercível que me impelia a aceitar o cargo. Assim, um dia antes do prazo se esgotar, eu procurei meu chefe e expus meu desejo.

- Você é a última pessoa que eu gostaria de perder no meu staff! Pense bem, o pacote de benefícios pode ser bastante atraente, mas o mais é um total despropósito. – sentenciou, contrariado com minha decisão.

O avião da KLM começou a correr pela pista do aeroporto de Arlanda as 06:30 horas, pontualmente, sob um sol que surgira no horizonte pouco depois das três e meia da madrugada, um dia depois do solstício de verão, naquele mês de junho que iria mudar meus projetos de vida. Acho que intuitivamente eu previa isso, mesmo não sabendo como isso se daria. Depois de pouco mais de uma hora de espera no aeroporto de Amsterdã, onde fizemos escala, uma nova decolagem prometia mais doze horas de voo até São Paulo. Eu ensaiava mentalmente algumas frases em português, tentando me lembrar do idioma que foi se perdendo ao longo dos anos e, só foi reforçado rapidamente, com aulas particulares, poucas semanas antes do meu embarque, quando o sono apertou e eu adormeci com o zumbido monótono dos motores.

Eu pouco recordava do país que deixara há vinte e cinco anos atrás. O caos que se estendia pela marginal do Tietê, no trânsito do final da tarde nublada, me fez sentir o impacto de estar num país subdesenvolvido. Sob a ótica adulta, tudo me pareceu mais pobre do que naquela época. E, a vista que se abria pela janela do carro do funcionário encarregado de me apanhar no aeroporto, não desmentia essa impressão. Bernardo tinha mais ou menos a mesma idade que eu. Trabalhava no setor que eu ia gerir, e se mostrou muito solícito e amigável no trajeto até o hotel, onde eu permaneceria até que minha mudança fosse instalada no apartamento onde iria morar. Ele respondeu as minhas perguntas sobre o setor com muita propriedade de causa, demonstrando conhecer muito bem o seu trabalho e as diretrizes da empresa. Fiquei impressionado com ele e, no meu íntimo, torci para que todos os demais funcionários fossem assim.

Durante a primeira semana dependi de um motorista para me buscar e me levar de volta ao hotel no final do expediente. Na profusão de ruas abarrotadas eu aprendi rapidamente como me deslocar até o trabalho e vice versa. Também constatei que meu desejo de ter uma equipe competente e compromissada se realizou. Um grupo de catorze médicos conduzia as pesquisas, suportados por uma equipe de mais de quarenta pessoas que os auxiliavam diretamente, e compunham o setor que eu administrava. A primeira semana também foi dedicada a estabelecer contato com os demais setores da filial, e meu cicerone foi me apresentando cada um dos diretores e gerentes de área. Isso acontecia quase sempre pouco antes do horário do almoço e, na maioria das vezes, seguíamos com os recém-apresentados para um restaurante nas redondezas da empresa, onde rolava um papo mais solto e animado, muito embora meu sotaque ainda criasse algumas situações hilárias.

Numa dessas manhãs; aliás, logo a terceira, fui apresentado ao diretor de marketing de novos produtos, Caio Voltolini. A princípio, o nome Caio me fez estremecer, lembrei-me, imediatamente, de como eu conhecia esse nome, que nunca mais ouvi sendo pronunciado nos últimos vinte e cinco anos. O homem que me estendeu a mão num cumprimento amigável e vigoroso fazia o tenro, onde estava enfiado, parecer uma armadura. Sobre os ombros largos, de onde saíam braços muito musculosos, uma cabeça coberta por uma densa cabeleira castanho-escuro emoldurava um rosto quadrangular e másculo, cuja pele era levemente bronzeada e coberta por uma barba hirsuta. Um sorriso amplo se abriu assim que entrei em sua sala, mas foi nos olhos dele que vi estampada uma surpresa que o fez congelar. Assim que seu olhar fitou meus olhos azuis turquesa, uma transformação aconteceu em seu semblante. Mas, foi quando meu cicerone pronunciou meu nome, que ele me reconheceu, a despeito de toda a transformação pela qual meu corpo de menino havia passado.

- Esse é Erik Hansson, o novo diretor de pesquisas clínicas, que veio transferido da matriz. – disse o cicerone, enquanto Caio tentava disfarçar sua perplexidade com o reencontro.

- Muito prazer. – cumprimentei, sem associar a figura daquele homem ao escoteiro do passado. Embora algo naquele olhar produzisse um frenesi que percorreu toda minha espinha.

- É bom tê-lo conosco. – revidou, apertando minha mão entre as suas; quando senti um fluxo parecendo uma descarga elétrica subindo pelo braço. Não, eu custava a acreditar. Mas eu já senti essa pele e essa sensação uma vez. Não podia ser a mesma pessoa. Eu certamente estava fantasiando, e recolhi abruptamente a minha mão.

Aquilo o desconcertou e, de certa forma, frustrou toda a expectativa que ele esperava com aquele encontro. Pois ele se lembrava muito bem daquele Erik de bundinha bem desenvolvida, cuja pele clara e imaculada ele segurara em seus braços, enquanto deslizava cautelosamente sua rola para dentro do cuzinho apertado que o agasalhava. Repentinamente, ele procurou disfarçar o tesão que o acometeu com aquelas lembranças, desculpando-se por não poder nos acompanhar no almoço, pois tinha compromissos pendentes. Ele não saiu dos meus pensamentos pelo restante do dia e, à noite, já com a cabeça no travesseiro, eu revivi cada sensação que experimentei naquele acampamento escoteiro. Será que esse macho varonil, cujo olhar predador me analisou despudoradamente, é o garoto que me tirou a virgindade?

No dia seguinte, quando o expediente já havia se encerrado há mais de duas horas, eu vi o Caio entrando na minha sala, após um discreto toque na porta. Ele trazia consigo o mesmo sorriso amistoso da véspera, e tomou acento numa das cadeiras que estavam em frente a minha mesa.

- Como está a adaptação ao novo trabalho? – perguntou, enquanto percorria a sala com um olhar farejador.

- Muitas novidades, mas acho que tudo conforme eu esperava. – respondi, sem conseguir tirar os olhos dele.

- Está encerrando por hoje? Quer uma carona? – continuou, agora me encarando, como se quisesse dizer ‘não está me reconhecendo?’

- Claro, seria ótimo! – exclamei. – Ainda estou aprendendo o caminho, e acho que o motorista vai ficar contente de sair mais cedo. – emendei, enfiando uma papelada que ia destrinchar em casa, na minha valise.

- Perfeito. Então podemos ir. – disse, visivelmente satisfeito.

O trânsito estava mais infernal do que de costume, ficamos um longo período parados dentro do carro, enquanto o semáforo a nossa frente abria e fechava seguidas vezes, sem que pudéssemos avançar um único milímetro. Ele dirigiu a conversa propositalmente para as nossas infâncias, tentando com isso me fazer reconhece-lo.

- Em vez de ficarmos entalados nesse caos, o que você acha de jantarmos naquele restaurante? Ali servem um salmão com molho de maracujá que eu tenho certeza você vai gostar. – disse, apontando para uma construção de tijolos à vista, recuada da calçada e precedida de um jardinzinho discreto, onde algumas mesas cobertas por um toldo estavam ocupadas por uma galera jovem e agitada.

- Certamente, é mais gostoso do que ficarmos aqui parados. – respondi.

Fomos encaminhados pelo garçom até uma mesa, junto à janela, nos fundos do salão principal que dava para outro jardim interno. As conversas ali aconteciam menos acaloradas do que na parte externa e, ao terminarmos de fazer o nosso pedido, ele me encarou e disparou direto e objetivamente.

- Você não me reconheceu, não é? Ou procurou apagar de sua lembrança um momento de destempero de minha parte que deve ter te traumatizado? – sua voz vinha carregada de angustia.

- Me lembro de poucas coisas da minha infância no Brasil. – respondi, abaixando o olhar e sentindo meu rosto ruborizar. Seria ele mesmo? Não dava para expor aquilo a uma pessoa que eu fantasiava ser o mesmo Caio da minha infância.

- O acantonamento do grupo escoteiro na serra da Bocaina, lembra? – disse, encorajado pelo meu constrangimento.

- Então é você mesmo? O meu Caio? – balbuciei, sentindo uma onda querendo escapar do meu corpo, enquanto um doce sentimento invadia meu coração.

- Sou eu mesmo. – sussurrou, pousando discretamente a mão sobre a minha apoiada na mesa. – Eu quase desmontei quando vi você entrando na minha sala ontem. Senti um misto e alegria e arrependimento que me deixou sem ação. – emendou, num tom confidencial.

- Por que você se sentiu arrependido? – perguntei.

- Pelo que fiz com você naquele acampamento, e nas outras duas vezes. Eu gostava demais de você e, sabe como é adolescente com os hormônios percorrendo as veias, pouco juízo e muito atrevimento. – respondeu, encabulado.

- Eu só descobri alguns meses depois o que foi aquilo. Como eu era bobo! Mas, essa é uma das poucas lembranças que eu guardava do Brasil. – confidenciei.

- Você tinha apenas dez anos, não era bobo. Se muito, poderíamos dizer que era ingênuo. No entanto, quantos meninos na pré-puberdade sabem algo a respeito de sexo? – disse, como se estivesse se autocensurando. – Eu é que deveria ter segurando a minha onda. – emendou.

- Então eu não teria procurado entender, com tanto empenho, o que aquela sensação gostosa significava. E talvez tivesse descoberto nos braços de outro menos carinhoso, como é ser desvirginado. – sentenciei, acariciando aquela mão tão saudosa.

- Você é demais! – exclamou, abrindo um sorriso. – E, ficou ainda mais gostoso com o tempo. Que corpão é esse? Não dá para se concentrar admirando essa produção toda! – exclamou, num sussurro baixinho.

- Tonto! Esse é o meu velho Caio zoador. – revidei, encarando-o com um sorriso quente.

- Você não imagina como é bom ouvir você dizendo ‘meu Caio’. É música para os meus ouvidos, e brasa para o meu fogo. – falou, tomado de uma felicidade transbordante. Enquanto seu orgulho de macho fodedor fazia sua jeba dar uma guinada debaixo da mesa.

Nesse entremeio, percebo que um homem, bastante jovem, talvez na faixa dos vinte e cinco anos, um pouco afetado ao caminhar, vem se aproximando de nossa mesa com o olhar fixo no Caio, embora ele estivesse de costas e não notasse a aproximação. Tão logo ele parou atrás da cadeira do Caio, fez questão de passar sensualmente seus braços ao redor dos ombros e do pescoço dele, encarando-me com um olhar desafiador. No momento em que se sentiu sendo tocado, Caio virou-se abruptamente e afastou com certa brutalidade os braços que o envolviam. O jovem soltou um ‘ai’ esganiçado e, sem ter sido convidado, sentou-se na única cadeira livre da mesa. Acompanhei perplexo toda a performance e interrompi a frase que estava dizendo, esquecendo-me até do assunto que estávamos falando, distraído com aquela interrupção singular.

- Pelo visto você não é de perder tempo, não é? – disparou o jovem, dirigindo-se ao Caio e me fuzilando com seu olhar imaturo. – Deu para caçar gringos? – emendou, antes que o Caio se recuperasse da abordagem.

- O que faz aqui? E, quem te deu a liberdade de falar assim comigo? Pelo que eu saiba ficou claro que terminamos. – disse Caio, sua voz tinha censura e indignação na entonação.

- Foi pura coincidência te encontrar aqui. Não pense que continuo correndo atrás de você. E, depois de quatro anos juntos eu acho que posso vir dar um ‘olá’ para o meu ex, não acha? – proclamou o jovem, dando às palavras uma estridência pouco discreta.

- Bem Caio, eu já estava de saída mesmo. Nos encontramos amanhã no trabalho. Tenham uma boa noite! – disse, me levantando após ter depositado reservadamente uma cédula suficiente para pagar a minha parte nas despesas do restaurante.

- Espere Erik. Você está de carona comigo, vou deixa-lo no hotel. – embaraçou-se Caio, sem, contudo, conseguir que o intruso se manifestasse.

- Não se preocupe, eu pego um táxi. Boa noite! – disparei, já me afastando da mesa rumo à saída.

Quando cheguei à calçada, lancei um último olhar para dentro do restaurante e vi que os dois estavam numa discussão acirrada. O jovem ouvia encolhido o discurso furioso que o Caio derramava sobre ele. Pela posição submissa que adquiriu, percebi que se tratava de mais uma presa do Caio. E, me questionei, intimamente, quantos teriam sido depois de mim, ao longo desses anos todos.

Demorei a pegar no sono naquela noite. A imagem de alguém tão mais jovem, me fez pensar sobre o gosto do Caio por rapazes, quando não meninos como eu aos dez anos, que ele podia manipular e assediar segundo sua tara. Um amargo gosto de decepção me invadiu, e eu fiquei me cogitando quanto ao sentimento que nutria por esse homem. Na manhã seguinte ele me procurou logo cedo em minha sala, mas como eu estava numa pequena reunião, desculpou-se e gesticulou sinalizando para nos encontrarmos depois. Evitei-o durante todo aquele dia. Não estava disposto a ouvir suas justificativas.

Durante o expediente da sexta-feira à tarde, olhando pela ampla janela que se estendia do teto ao chão da minha sala, admirava absorto o sol banhando o extenso gramado e os canteiros bem desenhados do jardim que cercava o edifício da companhia, quando fui tomado de um saudosismo pela antiga casa de praia da minha infância. Todos os cômodos dela se iluminavam fartamente quando um sol assim generoso banhava a encosta onde estava implantada. Decidi que iria à Ubatuba no sábado pela manhã.

Fui um dos primeiros a chegar ao salão onde era servido o café da manhã, no ensolarado e fresco sábado. O concierge do hotel havia se encarregado do aluguel do carro, da reserva num hotel da cidade, de um mapa rabiscado rapidamente sobre uma folha de papel com o timbre do hotel, que se mostrou muito útil, apesar do GPS instalado no painel do carro. Demorei pouco mais de três horas para percorrer os duzentos e poucos quilômetros até Ubatuba. Embora eu tivesse feito esse trajeto quase todos os finais-de-semana na minha infância, tudo me pareceu diferente. Nenhuma imagem daquela época se encaixava no que eu via. Passava um pouco das dez horas quando cheguei ao hotel e, imediatamente, liguei para o meu pai, pois não me lembrava do nome do condomínio e da rua onde ficava a casa. Ele apenas se lembrava do condomínio, e teve dificuldade de pronunciar seu nome ‘Domingas Dias’. O acesso ao condomínio ainda continuava difícil, pelo menos disso eu me lembrava, e senti um nó se avolumando na minha garganta quando reconheci a casa incrustada na mata que a cercava. Um setter veio correndo ao meu encontro assim que desci do carro na rampa de acesso ao imóvel, um garoto de mais ou menos dez anos veio no encalço do cão, berrando seu nome e chamando-o de volta. Mas, ele ignorou os chamados do dono, e veio contente, sacudindo a cauda, se enroscar nas minhas pernas. Uma senhora que acompanhava a cena da varanda com o olhar curioso veio atrás do garoto.

- Quem é você? – disparou o menino, postando-se ao meu lado.

- Pois não. Posso ajuda-lo? – perguntou a mulher.

- Desculpe a intromissão. Voltei recentemente ao Brasil e resolvi verificar se a casa que um dia foi dos meus pais ainda existia. Não quero incomodá-los. – disse, com meu sotaque dando credibilidade às minhas palavras.

- Ah, sim. O antigo dono nos disse mesmo que a casa havia sido construída por um sueco, se não me engano? – disse ela num sorriso cauteloso.

- Sim, isso mesmo. Meu pai a construiu, e passei muitos finais-de-semana e verões aqui, até que voltamos para a Suécia quando eu estava mais ou menos com a mesma idade dele. – esclareci, desalinhando os cabelos do garoto que havia se encostado ao carro bem ao meu lado.

- Meu marido e um casal de amigos estão no terraço da piscina, não gostaria de rever a casa? – inquiriu prestativa.

- Seria um prazer, mas não quero invadir sua privacidade. – respondi, procurando controlar a vontade de caminhar por aqueles cômodos mais uma vez.

Passei duas boas horas conversando com o casal e os proprietários da casa, revivendo algumas reminiscências da infância. Declinei do convite para almoçar na companhia deles, achando que já havia abusado demais de sua gentileza. Depois de comer um saboroso linguine ao molho de limão siciliano, num restaurante a beira mar, continuei perambulando pelas praias sem um rumo definido. Queria apenas usufruir daquele sol e daquela tranquilidade fora de temporada. Cheguei a cogitar a possibilidade de voltar a ter um refugio numa dessas praias, e fui me deixando seduzir por essa ideia enquanto avistava da sacada da suíte do hotel, a lua em quarto crescente iluminando a nesga de céu estrelado que pairava acima das folhagens dos coqueiros. Voltei para São Paulo ao anoitecer, e só cheguei ao hotel tarde da noite, onde cinco recados do Caio me aguardavam no balcão da portaria. Só então identifiquei o número que ligara três vezes no meu celular durante o final de semana e, ao qual não dei retorno.

Eu tinha acabado de tomar meu café da manhã, e me preparava para subir até a suíte, escovar os dentes e pegar minhas coisas para seguir para o trabalho quando cruzei com o Caio no saguão do hotel. Ele veio ao meu encontro com o rosto sério, abriu um tímido sorriso ao me cumprimentar com um abraço desajeitado.

- Vim busca-lo para irmos juntos ao trabalho. – disse, analisando a expressão do meu rosto com uma cautela exagerada.

- Agradeço a gentileza, mas não precisava ter esse trabalho. O motorista deve estar chegando. – disse, meio sem jeito. Não entendi bem o porquê de eu ter perdido a espontaneidade naquele momento.

- Pois é, ele não vem. Eu o desincumbi dessa tarefa esta manhã. – disse, ao caminhar ao meu lado até o hall dos elevadores. – Eu queria ficar a sós com você por algum tempo. Onde andou esse fim de semana todo? Eu te procurei. – acrescentou.

- Saí um pouco da cidade. Voltei tarde e não identifiquei o número das chamadas no celular como sendo o seu. – respondi.

- Pois agora você tem o meu número privado. Com quem você saiu? – sua voz subitamente se tornara mais contundente.

- Fui rever minha antiga casa de praia. – falei simplesmente.

- Quem foi com você? E, reviu? Onde fica essa casa? – as sobrancelhas dele se arquearam.

- Em Ubatuba. Passei o fim de semana lá. – respondi, enquanto enfiava o cartão na fechadura da porta da suíte.

- É bastante longe. Como chegou até lá? Quem te levou? – havia impaciência em sua voz.

- Pouco mais de três horas. Foi muito legal. – balbuciei, enquanto escovava os dentes.

- Quem estava com você? – sussurrou, aproximando-se de mim pelas costas e enroscando seus braços ao redor do meu tronco. O rosto dele refletido no espelho suplicava por uma resposta.

- Você não acha descabida essa sua pergunta? Que importância tem se eu fui com alguém e com quem eu fui? – questionei, impassível.

- Por que descabida? Você se encontrou com mais alguém do seu passado? – indagou.

- Descabida, sim. Depois do que eu presenciei na sexta-feira no restaurante acho, no mínimo, inoportuno esse seu interrogatório. – respondi placidamente.

- Você não pode ter tomado aquela encenação a sério?

- E como você queria que eu encarasse aquilo? Um garotão se pendura em você e começa a exigir explicações, fazendo questão de frisar os quatro anos de convívio. Como devo interpretar isso? - retruquei.

- Eu nunca me casei. Digo, com uma mulher, conforme o habitual. Mas, vivi com algumas e, também, com dois caras, pois elas não conseguiam me dar o que eu procurava. Nem eles. O carinha da sexta-feira foi o último. Faz quase um ano que terminamos. – disse ele, sentando-se na cama enquanto eu vestia o paletó.

- Me parece que ele ainda não se convenceu disso. E, você não me deve explicações da sua vida.

- Não procure aumentar a distância que, felizmente, se tornou menor entre nós. – sentenciou, me encarando. - Eu estou sozinho. E, quero você! Quero meu lobinho de volta. Nunca mais encontrei tanta satisfação e tanto prazer como com você. – ele fazia uma carinha de desamparado que me inquietava.

- Quer o meu cu, você quer dizer. Me foder como fez no passado. – minhas palavras soavam duras como crítica, embora eu nunca o tenha censurado por aquelas fodas.

- Também. Mas, o que eu quero mesmo, é aquele parceiro, líder de sua matilha, aquele menino doce que se entregou para mim com toda a coragem e cumplicidade. Aquele garoto que soube entender os meus desejos, e não me dedurou quando eu os obtive à custa da ingenuidade dele.

- Sou um homem feito. Agora entendo a encenação daquele garoto. – disse, abrandando o tom das palavras.

- Talvez eu tenha sido imaturo procurando pessoas mais jovens do que eu para reencontrar você nelas. Contudo, fico feliz ao saber que você sentiu ciúmes. – seus lábios se arquearam num sorriso contido.

- Ciúmes? Por que eu haveria de sentir ciúmes? – questionei, perturbado. – Vamos, estamos atrasados. Não quero chegar ao trabalho como o último da equipe. – sentenciei. A ideia de ele ter um relacionamento, ou mesmo ter tido, e esse fantasma voltar a requisitá-lo me aborrecia. Não era fácil admitir, mas, eu estava com ciúmes sim. Ponderei o quão ridículo eu estava sendo. Sentir ciúmes de alguém com quem eu nunca tive nada. Exceto alguns encontros fugazes nas reuniões do grupo escoteiro, e três fodas rápidas. Tudo num passado tão longínquo que não passavam de imagens desbotadas pelo tempo. Quem sabe essas imagens não estivessem apenas, e tão somente, na minha memória.

- Eu queria pegar você em cima desta cama, e ouvir você me chamado de ‘meu Caio’. – disse, lançando um olhar obsceno.

- Cuidado para não cair da cama durante o sonho. – revidei, maldoso.

Poucas semanas depois, não sei como, ele descobrira que o apartamento que a companhia me disponibilizara, ficou pronto e foi entregue. Por isso, foi uma surpresa quando o porteiro interfonou anunciando que eu tinha uma visita. Eu havia entrado no apartamento no dia anterior, e boa parte da minha mudança que viera da Suécia num container, e minhas malas trazidas do hotel e, ainda não desfeitas, estavam espalhadas pelos ambientes.

- O que faz aqui? – perguntei ao abrir a porta, e dar de cara com o Caio numa bermuda que cobria parcialmente suas coxas enormes e peludas, e uma camiseta polo revestindo a musculatura do tórax.

- Achei que fosse precisar de ajuda para se instalar. – disse, adentrando a sala sem esperar pelo meu convite.

- O zelador e um ajudante que ele arranjou ficaram de me auxiliar. Devem estar chegando, combinamos para as nove horas. – sentenciei.

- É um belo apartamento. Você soube negociar muito bem o seu pacote de benefícios. – falou, enquanto andava pelos cômodos, inspecionando cada detalhe.

- Também gostei, tanto da localização quanto da vista que se tem da varanda. Essa foi, aliás, a minha única exigência. Que o apartamento tivesse uma boa varanda e uma vista tranquila. Não queria me sentir como um passarinho numa gaiola. – esclareci.

O zelador era um sujeito de meia idade, estava em seu dia de folga e o aproveitava fazendo um bico. Ele veio acompanhado do auxiliar, um trintão. Uma montanha de músculos que mal cabiam no jeans e na camiseta sem mangas, ambos justíssimos, que estava vestindo. Ele me lançou um olhar tímido, mas voraz. Daqueles que o sujeito menos abastado lança para alguém muito acima de suas pretensões, mas, que habita seus sonhos mais secretos. Percebia-se nele aquele ar de conquistador. Aquela sagacidade pelo proibido. Aquele instinto de macho que não deixa passar um belo corpo feminino, ou uma irresistível bunda masculina, sem que se sinta instigado a devorá-los. Foi só então que eu me dei conta de que ainda estava usando o short de fendas laterais muito abertas. A peça mais facilmente alcançável na única mala que eu tinha aberto na noite anterior, e com o qual acabei dormindo. Ele não desviava o olhar impregnado de cobiça das minhas coxonas grossas, lisas e, para seus padrões, imaculadamente brancas. Nem das minhas nádegas, que preenchiam aquela veste, com sua forma roliça e avantajada. Era evidente que ele já havia provado dos prazeres e da liberalidade do sexo entre dois homens. E, agora que, diante dele surgira a figura de um homem cujas características se mostravam tão diversas do padrão brasileiro, seu tesão o impelia a me adular. Enquanto eu ia indicando o local onde gostaria de ver instalada essa ou aquela prateleira, a melhor posição para determinado quadro, ou onde com mais praticidade deveriam perfurar a laje para instalar o varal da lavanderia, ele se encarregava de atender meus pedidos, com presteza e um sorriso persuasivo e astuto. Não pude deixar de me divertir com a situação, pois me lembrava algumas cenas de um documentário que assisti sobre os pássaros-do-paraíso da Nova Guiné, que protagonizavam uma estranha e mirabolante dança de acasalamento na tentativa de seduzir o outro pássaro do qual estava a fim.

- Vamos deixar os dois instalando esse varal. Vou te ajudar com as outras coisas. – disse o Caio, cujo semblante se parecia com o de um bugio raivoso e, que me pegou pelo braço me levando até o quarto principal.

- Não há nada a fazer aqui, exceto ajeitar as roupas no closet. Mas, isso eu faço depois, aos poucos. – disse, ao chegarmos no quarto e ele fechar a porta.

- Que brincadeira é essa de ficar desfilando por aí com esse bundão de fora? – a voz grave não tinha nada de sutil.

- Quando dei por mim já era tarde, só me dei conta de que estava com o mesmo short, com o qual havia dormido, depois que os dois começaram a circular pelo apartamento. – respondi, sentindo a pontinha de ciúme que o motivara a me afastar dos dois.

- O carinha só falta pedir para você sentar no colo dele. – sentenciou zangado.

- Que ideia fixa! Apesar dele não ser de jogar fora! – exclamei rindo.

- Você vai ver o que é ideia fixa. – disse, derrubando-me sobre a cama e arrancando o short até quase meu joelho.

Ele me encarou a poucos centímetros do meu rosto e começou a passar a mão lentamente pelas minhas nádegas. Seus olhos brilhavam devassos. Passei a língua sobre os lábios para provoca-lo. Ele se esfregava em mim, lenta e sedutoramente. O roçar das nossas peles provocou uma descarga de testosterona em suas veias, e eu começava a sentir sua ereção se comprimindo contra as minhas coxas. Um calor inquietante se espalhava pelo meu corpo, produzindo espasmos nos meus músculos retesados, e contrações involuntárias no meu ânus.

- Teu macho sou eu. Não se esqueça disso! – sussurrou, deixando que o ar escapasse por entre os dentes quase cerrados.

- Eu gostaria de acreditar nisso. – balbuciei, cheio de tesão, sentindo um de seus dedos tateando minhas pregas.

Comecei a gemer baixinho, um quase ronronar, desejando despertar todo o instinto daquele macho. Embaixo dele não estava mais aquele garoto travado e tímido. Havia alguém que demonstrava seu desejo por ele, que implorava por sua virilidade. Ele começou a me beijar. Ia pousando aleatoriamente seus lábios úmidos pelo meu corpo. Lambeu meus mamilos sentindo eu me entregando. Eu gemia descompassadamente. Suas mãos deslizavam por toda a parte, me faziam carícias, e também judiavam, ora me apertando com força os mamilos, ora puxando minha cabeça para trás pelos cabelos. Ele me mordiscava o pescoço quando introduziu lentamente um dedo no meu cuzinho. Soltei um gemido mais longo e contundente. Quando meu esfíncter relaxou ao redor do primeiro, ele começou a enfiar lenta e torturantemente o segundo dedo, enquanto se deliciava com as minhas preguinhas pulsando ao redor deles. Eu podia desfalecer em seus braços.

Depois ele se ajoelhou ao lado da minha cabeça e tirou a pica para fora da calça. Grossa, pesada, com uma glande enorme e lustrosa babando um pré-gozo espesso, ela pendia de suas coxas peludas a menos de um palmo da minha boca. Tinha um cheiro almiscarado e penetrante. Eu a coloquei lentamente entre os lábios e a fiz penetrar na minha boca comprimindo-os com força ao seu redor. Ele soltou o ar entre os dentes. Encarei-o enquanto ele segurava minha cabeça entre as mãos e a forçava contra sua virilha pentelhuda. Eu lambia e mordiscava delicadamente aquela rola que ia se enrijecendo até que eu não a conseguisse mais mover. Afundei as pontas dos meus dedos suavemente naquele tufo de pentelhos e comecei a brincar com o sacão dele. Apertava suas bolonas com carinho, deleitando-me com sua consistência borrachóide. Ele se contraía e retirava a pica da minha boca.

- Não brinca assim. Vou acabar gozando na sua boca. Não quero gozar tão já, e quero colocar tudo no seu cuzinho. – murmurou, tomado de desejo.

Ele terminou de tirar as calças e me virou de bruços. O short continuava entalado na altura dos meus joelhos, o que me impedia de abrir muito as pernas. Ele mordeu meus glúteos e começou a abrir meu rego. Meu cuzinho rosado, se contraindo no fundo daquela greta estreita e apertada, o enlouquecia. Ele enfiou o rosto com aquela barba dura no meu rego e lambeu meu cuzinho de baixo para cima. Uma, duas, inúmeras e torturantes vezes, meus gemidos se sucediam num desvario incontrolado. A ponta da língua dele, úmida e áspera, se alojou entre as minhas preguinhas. Não consegui sufocar o grito voluptuoso e depravado que aflorou nos meus lábios. A empolgação dele se transformara em sanha animal. Ele se atirou sobre mim e começou a esfregar a pica no meu rego. Apontou a cabeçorra molhada contra as minhas preguinhas e começou a forçar. Eu arfava num misto de desejo e temor. Empurrando o caralho encaixado na portinha do meu cu lentamente para dentro, ele aplacou meus gemidos com um beijo, fazendo sua língua também penetrar minha boca. Alguns instantes de agonia se passaram até que eu conseguir relaxar o suficiente para que ele continuasse a meter aquela jeba grossa no meu cuzinho. Ele foi enfiando e me preenchendo até eu sentir o sacão dele batendo contra meu reguinho. Os pelos do peito do Caio roçavam minhas costas e eu me sentia incapaz de resistir à sua investida. Eu senti meu gozo escapando sem controle. Ele começou a bombar cadenciadamente, a pica entrava e saía, enquanto eu gemia alucinadamente, sentindo uma nova onda de tesão se apoderando de mim. Travei o cu, apertando aquele bruto entre meus glúteos, um urro emergindo da garganta dele ecoou pelo quarto. Ele me abraçava pelo tronco e me beijava a nuca num desespero e com uma urgência febril. Senti a pica dele se inchando nas minhas entranhas, o ardor se espalhava por todo meu baixo ventre, ele deu um urro e deixou que o gozo saísse desenfreadamente. Os jatos pegajosos me inundavam com a tepidez daquele néctar viril, a atmosfera do quarto se encheu do cheiro de sexo. Ele se deixou cair pesadamente sobre mim, e eu senti que estava arrombado.

- Não quero tirar o caralho desse cuzinho delicioso. Era disso que eu estava precisando, desse rabinho apertado e macio. – sussurrou no meu ouvido.

- Meu Caio! – balbuciei em êxtase.

Demoramos mais de hora e meia antes de reaparecermos. O zelador martelava uma bucha na parede e não notou nossa aproximação. Mas, seu auxiliar me lançou um olhar enigmático, como se soubesse a causa da nossa ausência por todo aquele tempo. Vi que o Caio o encarou com um ar triunfal, como um competidor que acabara de exercer a sua supremacia. Como um macho que acabara de delimitar seu território, e lança um desafio sobre o intruso.

Meses depois intimei o Caio a trazer suas coisas em definitivo para o apartamento, uma vez que ele passava quase todas as noites ocupando boa parte daquela cama enorme, onde vivenciávamos a plenitude do nosso amor. Quem começou a se encarregar de construir aquele meu tão sonhado refúgio na praia foi ele. Íamos quase que todo o fim de semana para Ubatuba, acompanhar a edificação do que planejamos ser o nosso acolhimento futuro.

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Comentários

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Mais um excelente conto que não tinha lido ainda. como é raro um macho como esses que vc idealiza em seus contos

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Raro??? Sei que impossível é Deus pecar, mas encontrar um cara desses é quase igual.

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Tem razão, é raro encontrar tanto uma pessoa quanto um amor assim. Mas, ser esperançoso talvez seja o primeiro passo para se deparar com um. Abração e obrigado pelo comentário.

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Recentemente conheci seus contos. Agora, estou "maratonando" desde o "Dando Carona Para Dois Polícias Lindos e Safados". Adeus, Netflix!!!

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Na minha humilde opinião seus contos são perfeitos, cheio de detalhes, com ênfase no romantismo, até consigo me ver no lugar do protagonista (tirando a parte da beleza rs). Realmente imploro para que você não pare de escrever, seus romances me fazem acreditar no amor. Abraços meu caro :)

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Seus contos são muito criativos,vc escreve mt bem, não leva a mau pois não é minha intenção mas se vc escrevesse um conto on se tenha a nossa de dois homens se amando amando no lugar de sempre ter um home macho e um homem fêmea seus contos passaria de nota 10 pra 100000000. Pf n leve a mau é só minha opinião eu n to criticando pf n pense assim, estou apenas dando o meu ponto de vista. Bj...

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Hahahah, posso dizer que foi um conto divertido, parabéns. Beijão 😘

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Sou apaixonado pelos teus contos leio todos ,mas me perdoe se as vezes não comento os ,perdão...abraço

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Rapaz vc não para de surpreender! Cada conto melhor q outro. Seus romances são tão bonitos sem perder a erotização. Ah e muito obrigado por responder minha dúvida no conto anterior. Abração

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Pouco contos aqui são tão bons. Não param de postar esses romances pé no saco. E vc posta um romance erótico. É disso q a casa devia ser feita.

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Nada como um amor correspondido, ainda mais se emerge de um passado quase mítico. Lindo o conto. Você é o máximo. Um abraço carinhoso,

Plutão

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Obrigadão a todos pelos elogios. Curto escrever, e acho que é essa empolgação que consigo transmitir ao leitor através dos meus textos. Obviamente não consigo agradar a todos, e seria pretensão minha achar que minhas escritas têm esse poder. Mas, se um único leitor conseguiu ter algum prazer com a leitura, já valeu. Quanto a minha idade, eu tenho 35 anos. Abração!!

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Que texto é esse?!?! Sua escrita é primorosa (adoro seu vocabulário) e a trama muito boa! Parabéns, chéri!

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Realmente fantástico mesmo! Já estou ficando repetitivo nos elogios, mas adoro seus contos. Cara, não sei como vc escreve seus contos, se vc faz uma pesquisa antes, de lugares, ambientes, profissões, essas coisas... Prq é tudo tão bem descrito, tão verdadeiro, que simplesmente enriquece o conto de maneira impressionante. Tmb estou curioso pra saber sua idade. Poderia nos dizer? Que bom que o intervalo entre o último conto e esse não foi grande e a qualidade é a mesma. Obg por postar aqui na cdc. Abraços! Esperando o próximo...

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