Thyago e o objeto sexual em decomposição
Sempre me disseram que era um menino incomum (RETICÊNCIAS, PAUSA, REFLEXÃO); não sabem o mal que essa frase causa a uma criança, todas deveriam era ouvir o quanto são bonitas. Aos treze comecei a modificar o corpo, coloque um piercing na língua, depois outro, depois outro, depois outro... agora eu me sentia realmente incomum como me diziam, estava confortável por ser por fora tal como me sentia, mas algo faltava, então pra começar uma feminização foi questão de pouco tempo.
Paralelamente a questões de gênero, sempre me interessei por “gore”, cultura gótica e tudo que estava subjacente a Era Vitoriana. Criei meu estilo (que vinha à tona no meu lado B) baseado nessa época histórica, então era como se eu viesse de um tempo/espaço totalmente desconhecido dos que me cercavam; eu era um ser histórico que transpassou o tempo, essa era a minha fantasia, eu me via como uma aristocrata -nos meus vestidos apertados- em pleno prestígio social, mas era um sonho particular.
Eu ainda era virgem, acho que não teria razão de mentir sobre isso; SIM, fui virgem até os vinte e três. Minhas fantasia também eram incomuns, eu gostava imensamente de me imaginar fazendo sexo com cadáveres, animais, tudo que é lúgubre, capaz de criar uma conexão com o além-túmulo. É transcender, transcender a condição humana limitada, os costumes e o contraste entre a vida e a morte. Minha própria aparência é lívida e meu corpo esquelético, externamente a minha personalidade se mostra nas feições e no desenho do meu corpo.
Vivo em um ambiente que há pouco chegou a industrialização, aqui ainda se preserva idiossincrasias, coletividade, identidade social, sabemos que não somos uma réplica do mundo; temos nossas próprias características, como produzir grande parte do nosso alimento, indumentária, adereços, quem nessa cidade sabe o que é uma Louis Vuitton? Acho que só os poucos que possuem a porcaria de uma televisão, esse ópio “moderno”.
Meu mundo particular, tão louco de fantasias sexuais e de fantasias de condição de existência aristocrática deveria ser posto ao mundo, pois desse mundo me orgulho, é uma obra que criei hermeticamente, fazendo ajustes e incrementando fantasia à uma época glamourosa. Como não ando de mulher, mas sim como um headbanger andrógino, eu precisava mostrar ao mundo mais do meu “anima” e do paraíso que este vive. Estava esperando apenas a oportunidade chegar.
Certo dia (nunca o esquecerei) eu tomava banho de rio, era inverno e ele estava cheio. Nado desde criança, o fato dele estar cheio me deixava mais instigado a ir ao fundo, era uma manhã feliz; em uma das margens do rio, havia uma cabeça de boi. Curioso, fui até lá mexer no cadáver, este tinha uns vermes deixados por alguma mosca oportunista; o estado era de putrefação, algumas partes estavam cinzas, a textura era tão dura que parecia que ele estava empalhado. Levei a cabeça de boi para uma casa abandonada (cujo dono havia se mudado para a capital), deixei a carcaça apodrecer mais uns dias naquela casa, deixei-a dentro de uma caixa para que ratos não comessem a carne.
Quando o grande dia chegou, fui para a casa abandonada com uma câmera, liguei-a, fui para um cômodo me trocar: peruca platinada (de um branco azulado), vestido de renda branco, e voltei ao espaço filmado, cambaleante, tocando as paredes do corredor - como um gigante tocando edifícios enquanto anda pela cidade. Me abaixei e comecei a sugar a língua do boi, que parecia mais um enorme pênis mole, ele estava todo sujo de sangue; beijei a boca daquela carcaça sem pele, depois me esfreguei por completo na cabeça do boi, meu corpo ficou todo melado de sangue, daquela remanescência de vida que havia naquela carcaça. Tirei a calcinha e penetrei em mim aquela língua, que era mais que o triplo da língua do Mick jagger, fiquei por cima, me equilibrando sobre os saltos que pendiam às vezes, me fazendo involuntariamente descer mais fundo e ter mais daquela língua dentro de mim. Era como se eu estivesse transando com um bife mal passado, essa ideia me excitava, pois sendo a comida algo sagrado, eu estava cometendo uma profanação (isso é muito excitante, lo mejor). A escuridão reinava sem nenhum véu, o boi e eu; a câmera gravaria para o mundo e tiraria da sombra a perversidade humana. A língua foi expulsa de sua posição de pênis, comecei a esfregar suas vísceras no meu cu e no meu corpo, me banhando em sangue, me espojando em sangue, passei a me masturbar sobre o chão frio; gozei enquanto passava a cabeça bovina em meu corpo. Guardei a carcaça na mesma caixa, deixei-a num canto, desliguei a câmera e ao chegar em casa, postei o vídeo num site gore.