Limpei o rosto. Lavei a face no banheiro da minha suíte. Abri as janelas para aquele sábado de verão ensolarado e abri as portas. - Ele não vai me derrubar - disse pra mim mesmo.
Dei um passo a frente da porta. Tinha plena consciência que havia sido praticamente sido arrancado do armário, como se diz no popular, vi a necessidade de me explicar para meus pais. Era um passo importante e arriscado, seu Manfred um empresário prestigiado e dona Lucélia, um amor de pessoa. Ambos nunca falaram nada em relação ao homossexualismo, esse era meu maior temor. Não sabia qual seria vossa reação, por via das dúvidas, me preparei para o pior, acho que fiz bem em me preparar.
Desci as escadas e me deparei com papai e mamãe aos prantos:
- Filho, o que ter havido com você? Pensamos até... - a voz de meu pai embargou - no pior - suas palavras vieram acompanhadas de lágrimas, partiu meu coração vê-lo chorar por mim.
Minha mãezinha me encarou com um olhar choroso e foi ao meu encontro me abraçar.
- Estava louca, meu filho - chorava ao meu ombro me levando ao choro involuntário - Tentamos a todo o custo derrubar aquela porta, mas sabe que sua porta não cede fácil - minha mãe me apertava cada vez mais forte. - Só sabia que estava vivo por causa de seu choro. O que te aflige meu filho?
- A gente te amamos, minha filho. Pode contar conósco - Disse meu pai sentado no sofá.
- Não é nada fácil ter que contar...
Ao ouvir isso minha mãe me encarou ainda com lágrimas quando pedi:
- Senta do lado do papai, mãe.
Minha mãe sentou ao lado de papai e eu me assentei na frente deles em uma poltrona. Era chegada a hora da verdade.
- Bom, é o seguinte, eu estava na internet, aí um amigo meu me colocou em um grupo e...
Contei toda a história envolvendo Jorge. Meu pai me encarou séptico, sem demonstrar nada em específico. Mamãe era só emoção, chorou muito. Quando terminei a história, meu pai se levantou do sofá, olhou no fundo dos meus olhos e com olhar de reprovação me deu um tapão, o mais forte que levei em toda a vida.
- Ai - A lágrima caiu junto comigo, que com a força dos bíceps de papai trabalhados diariamente na academia, fui parar no chão.
Por um minuto me senti humilhado. Me recuperava do tapa e vi a mão de meu pai estendida, fiquei com medo e ele disparou:
- Vamos moleca. Pegue minha mon
Segurei na mão de meu pai, ele me levantou e me abraçou fraternalmente:
- Non quero te ver chorar. Meu filho.
Esse era meu pai, a mesma mão que batia, acolhia e fazia carinho. Conversamos muito aquela tarde. Precisava disso, precisava de apoio, meus pais foram incríveis comigo. Nos sentamos à mesa para tomar café e decidir novos rumos para minha vida.
- Tem certeza, meu filho? - Perguntou minha mãe tomando uma xícara de café
- Absoluta, mãe. Não posso continuar no Brasil. Chegou a hora de respirar novos ares - Digo eu mastigando um pão de queijo.
- Ainda hoje, eu vai ligar pra sua tia Charlot.
- Pai, queria saber se não posso ficar no nosso flat em Manhattan. Não quero incomodar tia Charlot que já está bem senhora.
- E como vai viver, meu filho?
- Tenho uma reserva econômica e também sei me virar. Quero concluir minha faculdade de administração.
- Que orgulho. Não deixe nada te abalar, meu filho. Siga sempre de cabeça erguida.
- Pode deixar, mãe. É pra frente que se olha.
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Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo que eu queria fazer, eh
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto a você, eh...
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