- Ok! Se quiser dançar comigo, eu estarei por ai! – Dei um beijo no rosto dela e sai de perto, cantando e dançando sozinho.
Disfarçadamente eu observava de longe Théo e Ju. Ela não parecia estar gostando de ficar ali e Théo parecia não estar feliz também. Ele tentou beijar ela, mas Ju virou um tapa na cara dele.
Ela saiu pisando duro. Ela não viu que eu vi isso, mas Théo viu. Ele me encarou por um segundo. Senti o tempo parando na nossa troca de olhares. A musica ficou muda, o resto sem cor, sem vida. A única coisa que importava de verdade, eram seus olhos.
Ju me trouxe de volta a vida.
- Nando, a nossa dança está de pé ainda?
- Claro, linda! – Eu respondi. Quando eu olhei de novo para o Théo, ele me olhou e uma lágrima escorreu no seu olho e saiu pisando duro.
- Ta tudo bem com o Théo? – Eu perguntei, querendo saber o que tinha acontecido. Ver o Théo chorando rasgou meu coração em mil pedaços. Eu só queria ir até onde ele estava e consola-lo. Eu só queria ir atras dele.
- Nada, ele é um babaca! Vamos dançar!
Nós dançamos, mas eu fiquei com o coração apertado ali. É claro que eu beijei ela. Mas eu beijei com um gosto amargo de arrependimento. Eu não devia ter feito isso com Théo. Ele gostava da Ju e eu fiz ele infeliz por conta disso.
Deus, que arrependimento eu senti naquele momento. Tudo o que eu queria era ir atras dele, pedir desculpas para ele. Mas o orgulho falou mais alto. Fiquei na festa até o fim. Morto por dentro, mas fiquei.
No fim da festa, levei Ju para casa. A gente não transou, mas por que eu não quis. Ju estava louquinha para me dar. Mas eu só queria chorar.
Eu não dormi nessa noite. Chorei até nascer o sol. Tomei um banho e fui correr, mesmo ainda meio bebado. Eu só precisava esquecer de tudo. Eu só precisava do Théo. Mas eu não tinha, é claro que eu não tinha. E tudo o que eu fazia o afastava ainda mais.
Assim que cheguei em casa, resolvi que mudaria. E a primeira mudança: pararia de usar o relógio do Théo.
Sábado, pela tarde, eu fui até a oficina para fazer qualquer coisa. Théo estava lá também. Comecei a mexer em uma parte do carro e ele foi me ajudar. A gente não falava nada mais do que o necessário.
No fim da tarde, quando todos resolveram ir embora, eu ofereci carona pra todo mundo. Inclusive Théo. Tinha dois carros para levar o pessoal embora, mas como eles sabiam que o Théo morava na rua debaixo da minha, ele foi comigo.
Levei todos em casa, ficando apenas o Théo e eu ao fim do percurso. Nós ficamos em silencio durante todo o caminho. Não era longo, mas pareceu ser uma eternidade.
Quando paramos na frente da casa dele, Théo ia saindo do carro, quando eu o chamei:
- Théo, espera, por favor! – Ele parou e me olhou, não falou nada, apenas me olhou.
- Desculpa cara, por ontem – Ele abaixou a cabeça e se limitou a falar:
- Não – E saiu do meu carro, batendo a porta.
Fiquei parado ali, esperando o tempo passar. Não esperando, mas pensando em um jeito de me desculpar com o Théo.
Não encontrando um modo, liguei para alguns amigos pra beber uma cervejinha na minha casa, que de prontidão foram comigo. Pelo menos pra isso meus amigos eram bons, em beber comigo.
Eu e meus amigos ficamos em minha casa até madrugada, bebendo e tocando violão. Não nego que não estava ruim, mas podia estar muito, mas muito melhor! Para compensar o que faltava para ficar muito melhor, da-lhe cachaça!
Acordei no outro dia de ressaca. Marina estava deitada, só de calcinha e sutiã no meu lado. Eu estava só de cueca. “O que eu fiz?” pensei, tentando me lembrar de alguma coisa da noite passada.
Tomei um banho e saí do banho apenas de cueca. Marina estava acordando quando eu saí do banho.
- E ai gostosão! Malhar e correr quase todo dia tem feito bem para você, viu? – Olhei para ela.
- Obrigado, eu acho - Ela riu
- Vem cá, vem!
- Você não cansa de transar? – Eu perguntei rindo. Ela deu uma risada e me falou:
- Você não lembra de nada que aconteceu ontem né?
- Não – “Que merda eu fiz?” era o unico pensamento que passava na minha mente.
- Então senta boy, que a história é longa – “Jesus amado...”
- Primeira coisa: cachaça em excesso faz mal viu – Eu ri.
- Ontem a noite, desde que a gente começou a beber, você tava olhando para o Caio e ele te olhando – Caio era um boysinho da minha sala. Ele era até meio gordinho, mas me falaram que ele dava igual uma égua no cio.
- Jesus Maria José eu peguei o Caio?
- Pegou não, você arregaçou o menino. Vocês se pegaram muito forte no sofá da sala, e depois você levou ele pro banheiro. Eu passei em frente pra ver o q tava rolando, ele só pedia pra você ir mais devagar.
- Não lembro disso...
- Ele saiu mancando do banheiro. Você levou ele em casa, no carro já não sei o que rolou. Mas acontece que quando você chegou, você guardou o carro na garagem, mas não entrou em casa. Eu achei estranho isso. E então eu saí na garagem. E a porta do carro tava aberta, a garagem tava aberta e você não estava lá.
- Saí igual uma louca na rua te procurando pela rua. Fui até a pracinha, você não tava... Rodei o quarteirão e você não estava. Até que... Eu lembrei de algo.
- Lembrou do que mulher, conta logo! – Falei ansioso.
- Théo mora aqui perto. Na rua debaixo da sua – Minha espinha gelou – Fui até a casa dele. Você estava sentado, escorando no portão e o cachorro dele, o Thor, estava deitado, junto com você, e você por entre as grades fazendo carinho nele.
Lembram do Thor? O Husky do Théo que era super bravo com todos, menos comigo? Então. Ele deu uma sumida, mas ele é legal
- Sério? – Eu olhei incredulo para a Marina.
- É. Mas o mais interessante de tudo, é que o Théo, que te odeia, estava sentado na porta, olhando para você e o cachorro dele, sem falar nada, sem fazer nada.
Enquanto ela ia contando, minha lembrança foi voltando em alguns flashes. Eu lembrava do Thor, mas não do Théo. Lembrava do Caio (ele dava muitoooo bem).
- E o que ele falou quando te viu?
- Bom. Ele me falou que uma vez você cuidou dele e que não poderia deixar você por ai, bebado. Então ele tava te vigiando. Um fofo né? – Apenas assenti.
- E como nós viemos parar aqui? – Eu perguntei por fim.
- Bom, ele me ajuou a trazer você de volta. Nessa hora, só estavam a Meg e o Hugo na sala se pegando. Acho até que eles treparam lá. E eu te coloquei na cama, mas quando eu ia tirando sua roupa... você... Bem, acho que entendeu errado.
- Desculpa – Falei envergonhado.
- Que isso... Você ta muito gostoso! Me deu uma canseira ontem a noite! Você foi o cara que melhor me comeu na vida. Isso por que é gay! Imagina se fosse hétero!
- Mas eu desconfio que eu sei fazer tão bem por que tive bons professores – falei lembrando do Matheus e do Nick.
- Excelentes professores – Ela falou, sentando no meu colo. Tirei ela do meu colo, me levantei e fui até a minha escrivaninha, pegando uma foto que tinha toda a galera da sala, inclusive Théo.
Marina parou do meu lado.
- Você ama muito muito muito ele né? – Ela perguntou.
- Oi?
- O Théo.
- É tão obvio?
- Eu já saquei isso... Vários fatores já me levaram a ter certeza disso... Mas não se preocupe, eu não vou contar pra ninguem.
- Obrigado – Sorri, sem sal.
- Mais do que isso! Fernando, eu vou te ajudar a conquistar o Théo! – Ela falou em uma voz de “missão dada é missão cumprida”.