Cap.20 (ULTIMO CAPÍTULO)
Quando vi aquele rosto entrar no tribunal, quase não o reconheci. Como estava diferente ! Havia cortado o cabelo, estava bronzeado. Nem parecia aquele garoto fofo com uma carreira inteira pela frente. Ele não fazia uma cara feia. Pelo contrário, tinha um semblante triste, como se pensasse na burrada que havia feito.
- O tribunal esta em sessão.
O primeiro testemunho dado foi de alguns alunos, respaldados pelos pais que viram o acidente. Durante todo o falatório percebi que Pablo não parava de me olhar. Seu olhar era triste, como se tivesse chorado por diversas horas.
- E então senhor Justin,como foi toda a cena pra vossa senhoria ?
- Eu e Renato vinhamos saindo da escola, na maior calmaria. Conversamos com alguns alunos e nos despedimos. Ele atravessou a rua e do nada o carro dirigido pelo réu apareceu e o atropelou brutalmente.
- Ele vinha em alta velocidade ?
- Vinha, tanto que o arremessou em uma distância grande.
- É só isso Meritíssimo
Logo em seguida fui chamado para depôr.
- Você jura dizer somente a verdade ?
- Juro - falei, olhando pro chão.
- Então, senhor Renato. O senhor foi o mais afetado pelo acidente. Como foi que você viu acontecer o fato ?
- O que aconteceu foi exatamente como os depoentes estão afirmando. Estava na calçada, conversando com Justin e alguns amigos. E então me despedi, e atravessei a rua lentamente. Não vinha nenhum carro. Do nada o carro apareceu e me bateu. Então eu apaguei e só acordei no hospital.
- Você viu precisamente o rosto do motorista ?
- Não, mas as câmeras e todas as testemunhas afirmam quando Pablo cometeu este crime.
- E quanto as sequelas do acidente.
- Bem, estou sem os movimentos das pernas como podem notar. Mas faço tratamento para reverter este quadro temporário.
- Sem mais perguntas.
Fui novamente trazido a mesa. Até o momento não havia nenhuma brecha pra absolvição de Pablo. Todas as alegações dadas pela defesa dele eram infundadas, tudo se encaminhava para que a justiça fosse cumprida e ele fosse condenado. Não que eu fosse um insensível, mas eu não conseguia mais ter pena de alguém que tentou me matar. Não tinha como.
- Gostaria de chamar o Réu para depôr - e então ele se levantou, com as mãos algemadas e foi até a tribuna. Fez o juramento e ficou quieto - e então Senhor Pablo, o que tem a dizer em sua defesa ?
- Nada. Eu cometi realmente o crime. Assumo o meu erro e peço perdão ao Renato. Naquele dia eu estava muito mal, me sentia arrasado. Eu ainda o amo, mas ele não quer nada comigo. Não sei o que deu em mim naquele dia, mas de repente eu comecei a pensar que ele não seria mais de ninguém. Então o atropelei, com o intuito de mata-lo e parar de pensar tanto nele. Mas acabou acontecendo tudo o contrário. Sei que meus pedidos de perdão não adiantam nada agora, mas eles são necessários para que eu me sinta em paz comigo mesmo - ele abaixou a cabeça e ficou calado.
- Sem mais perguntas meritíssimo - então ele assumiu. Ao menos ele teve essa dignidade. Ao terminar de falar, continuou de cabeça baixa e não mais a levantou.
- A sessão está suspensa. O juri irá se reunir e tomar a decisão.
TEMPO DEPOIS
- Como esta se sentindo filho ? - minha mãe me deu água.
- Normal. A justiça vai ser feita, eu tenho certeza.
- Eu também meu lindo - falou Justin, ajeitando meu cabelo - estou pensando nesse dia a meses, esperando que tudo dê certo e que ele pague pelo que fez.
- Ele vai pagar, você vai ver - Pablo havia perdido todo e qualquer respeito que havia comigo. Com um único ato, destruiu todos os sentimentos bons que eu tinha em relação a ele.
TEMPO DEPOIS
- Todos de pé, o juiz vai entrar. - e então aquele homem novamente retornou, trazendo o destino de Pablo nas mãos.
- Segundo decisão tomada pelo júri popular, ouvindo as partes e recebendo testemunhas e provas dos dois lados, declaro o réu Pablo Maciel, culpado do crime acusado, tendo que cumprir 13 anos e 5 meses em reclusão em regime fechado, podendo ter pena reduzida através dos benefícios. Caso encerrado !
TEMPO DEPOIS
Fazia quase 8 meses depois do acontecido. Meus dedos começavam a dar sinal, mas nada de minhas pernas voltarem a se mexer.
- Affs, já tô ficando cansado dessa fisioterapia - falei, mais uma vez sendo empurrado por Justin para dentro daquele consultório.
- Você precisa amor.
- Eu sei disso, só continuo fazendo por causa disso.
- Oh, que bom que veio Renato. Sinto que estamos perto do seu objetivo.
- Sério ?
- Sim, os movimentos estão voltando.
- Que bom, então vamos continuar - sempre tinha força de vontade. Queria muito voltar a andar, voltar a ser independente e deixar de dar tanto trabalho as pessoas.
TEMPO DEPOIS
- Vamos pro exercício da barra ?
- Ah não, é extremamente cansativo.
- Mas você tem que fazer Renato. Como sua musculatura vai se manter aquecida ?
- Affs, se não tem outro jeito - a fisioterapeuta me colocava entre duas barras, e nela ela me ajudava a passar, me puxando, trabalhando meus braços, mas nada das minhas pernas mexerem.
- Vamos lá Renato ?
- Vamos - e mais uma vez ela começou. Mas dessa vez eu senti algo diferente - espera
- O que foi ?
- Eu tô sentindo algo... - de repente minha perna mexeu - ai meu deus !
- O que foi Renato ? - até Justin se aproximou.
- Mexeu !
- O que ?
- Minhas pernas, mexeram !
- Mentira ?
- Olha ,olha - eu estava conseguindo mexer as pernas. Isso era quase um milagre. Não imaginam a alegria que eu senti, vendo que poderia novamente e rapidamente desfrutar dos benefícios de ser independente, poder andar e ser feliz assim.
- Continua Renato ! - minha médica falou. Sorriamos como loucos.
- Que bom amor, nem acredito - Justin me beijava, estava tão ou mais feliz do que eu. Meu sonho de voltar a andar estava batendo a porta de novo.
TEMPO DEPOIS
Estava conseguindo andar novamente com a ajuda de muletas. As minhas pernas mexiam, mas não com a mesma leveza de antes. Digamos que eu estava novamente aprendendo a andar, como um bebê.
- Vai, mais um pouquinho Renato ! - Justin segurava na minha cintura, me ajudando a andar sem as muletas.
- O que seria de mim sem você ein ?
- Pergunto a mesma coisa a você. E respondo. Eu não seria nada sem Você - ele sorriu.
- Não exagera.
- Você é tudo pra mim - sorri. E o beijei novamente - me solta, eu acho que da pra ir.
- Tem certeza ?
- Tenho, vai.
- Tudo bem - ele me soltou e eu tentei dar meus passos sozinhos. Já havia progredido, pois já me mantinha em pé. A alguns dias caia no primeiro sinal de que me soltariam. Mas ainda não estava 100%, tanto que desequilibrei.
- Ai ! - ele correu e me segurou.
- Não vou deixar você cair nunca. Prometo !
- Seu fofo - mais uma vez ele me beijou. Um beijo de amor, de paz, que mal lembrava as brigas que tinhamos antes. Naquele pôr do sol, eu podia ver o quanto aquelas aulas na casa dele haviam sido importantes. Resgatei um perdido, e arranjei o amor da minha vida ao mesmo tempo. Um homem, não mais garoto, com caráter , com maturidade, que me ajudava com tudo, que se transformava em um leão mesmo não precisando. Que superava todos os problemas comigo, ao meu lado. Que só sabia ser feliz comigo. Justin era a pessoa mais importante pra mim ! E assim sempre será !
- Mais um pouco ?
- Claro... - e assim continua a vida... A historia de superação. Uma história inesquecível.
FIM
Mudei o fim da historia inicial. Julguei que ele não ficaria adequado para a história Romântica que havia feito, então mudei. Espero que gostem. Beijos. Adorei escrever esse. E em breve, um novo conto. Aguardem.