Cap.10
NARRADO POR KEISUKE
Eu estava extremamente empolgado aquele dia. Resolvi que seria o dia de arriscar tudo, de mais uma vez assumir o que eu sentia pra ele, e ver o que ele iria dizer. Dizia diversas vezes a mim mesmo que deveria esperar de tudo, uma reação boa ou uma reação ruim, eu não tinha certeza se ele sentia o mesmo por mim, ou se ele sentia algo por mim. O fato é que eu estava apaixonado por ele. A ponto de já não mais conseguir segurar. A ponto de querer demonstrar, dizer a ele o que eu realmente sentia. Estava fazendo de tudo para que ele sempre sentisse a minha presença. Ficava perto dele, o ajudava com os exercícios, beijava seu rosto, fazia ele rir. Eu não costumava sentir isso por um garoto, era algo especial. Quando entrei em seu quarto, meu coração saltitava, minhas mãos suavam, eu não sabia o que esperar. Esperava que ele dissesse que gostava de mim, que me queria também. Rezava para meu coração não ter me passado a perna mais uma vez.
- E então Saki, não vai falar nada ? - ele trancou a porta e se sentou ao meu lado.
- Você tem certeza disso ? - sua voz era doce, sua respiração calma.
- Absoluta. Não paro de pensar em você. Quero estar com você. Quero te beijar. Acho que me apaixonei por você Saki - ele demostrou surpresa.
- Uausilêncio extremamente doloroso se formou entre nós - Keisuke... Eu... Não sei o que dizer...
- Me dá uma chance vai ? Eu posso te fazer sorrir, te servir como ombro, me deixa ficar com você Saki - de repente ele se levantou. Ficou de frente pra mim.
- Eu sou apenas seu amigo Keisuke. Nada mais que isso - falou, agora beijando o meu rosto - me perdoe, mas eu sinto apenas amizade por você - aquelas palavras foram duras. Flecharam e fizeram meu coração sangrar mais uma vez, mesmo eu tenho prometido que não deixaria isso acontecer. Me deixaram triste - mas não fique triste. Você é um bom garoto, e eu sei que tem uma pessoa que quer muito te fazer feliz - uma pessoa ?
- Quem ?
- Não vou te dizer. Uma hora você vai descobrir. Não se chateie comigo Keisuke, mas não é de você que eu gosto - uma lagrima escorreu do meu rosto. Eu sempre fui muito sensível pra essas coisas. Me envolvia demais, mesmo não querendo, e depois sofria.
- Você gosta de Ken né ?
- Eu ? Claro que não...
- Não minta pra mim. Eu sei que é verdade. Só tenha cuidado Saki, eu o mato se ele te fizer sofrer - falei, me levantando - juro pelo meu avô que está no céu agora - limpei meus olhos.
- Keisuke...
- Tchau Saki, eu preciso... Digerir tudo isso - assim que Fechei a porta, sai correndo. Mais uma vez, sofria por amar sem ser correspondido.
NARRADO POR SAKI
Eu já esperava que um dia ele me fizesse essa confissão, mas não esperava que fosse doer tanto em mim mesmo. Doer por estar vendo uma pessoa sofrer por minha causa. Era minha primeira vez nisso também. Ninguém nunca se apaixonou por mim antes. Eu só beijei na boca duas vezes. Espero que ele não sofra demais. Espero que ele e Suzuki se encontrem e... Que eles se apaixonem por uma flechada do cupido e sejam felizes juntos. Guardei meu material da escola no mesmo lugar de sempre e já ia tomar banho, quando vi Ken entrar.
- O que houve com Keisuke ? - perguntou assim que entrou.
- Ele está triste. Mas vai melhorar, eu tenho certeza - o acompanhei com o olhar. Tirou o sapato, trocou por chinelos. Sentou se na cama, sem tirar o uniforme e de repente colocou as mãos no rosto - você esta bem ?
- Hoje... Fazem dois anos que meu avô morreu - falou, deixando uma lágrima escorrer.
- Você não me disse que tinha avô Ken - falei, me sentando na cama.
- Não gosto de lembrar, dói. Ele foi o criador do nosso patrimônio. Ele é um dos principais motivos para eu ter vindo pra cá. Mais ou menos uns 3 meses depois que entrei ele faleceu.
- Eu sinto muito por isso - falei. Imaginei como seria perder alguém na família. Não sabia se sofreria se algum dos meus pais morressem, mas não seria algo agradável.
- Éramos tão próximos. Ele me ensinou tanta coisa - foi a primeira vez que vi Ken chorar - sempre sofro quando lembro dele - falou, se aproximando de mim e deitando sua cabeça no meu ombro - Saki-San, se eu te pedir uma coisa você faz ?
- O quê ?
- Vá comigo amanhã no local aonde ele está enterrado. Amanhã é sábado e eu consigo liberação facilmente pra você.
- Mas eu, porque eu ?
- Eu quero que você vá.
- Porquê não leva Suzuki ? - perguntei, olhando pro chão.
- Eu quero que você vá, não Suzuki - alguém me explica o que passa na cabeça e no coração desse garoto ?
NARRADO POR SUZUKI
Estava chateado comigo mesmo, por ser chato, desastrado e tímido. Como eu conseguiria reter a atenção dele assim ? Como um dia ele conseguiria olhar pra mim assim ? Depois do que aconteceu na biblioteca, ele deve estar achando que eu sou um retardado. Eu estou me achando um retardado. Como alguém não consegue se aproximar de quem gosta sem estar nervoso ? Como alguém não consegue demonstrar a verdade pra outra pessoa ? Nem esse livro está me animando agora. Maldito Herbert George Wells que escreveu um livro tão ficcional. O que será que ele estava pensando agora ? De repente vejo alguém correr na minha frente e entrar na biblioteca. Percebo que era ele. Fui atrás imediatamente.
- Keisuke ? - entrei e Fechei a porta. Assim como mais cedo, só estávamos nós dois na biblioteca.
- Vá embora Suzuki ! - percebi de longe que ele estava chorando.
- O que foi que houve ?
- Não foi nada - ele estava de costas pra mim, de frente para as prateleiras, chorando.
- Fala pra mim - coloquei uma das mãos nas costas dele, mas imediatamente ele tirou.
- Não pega em mim... - me espantei com essa reação agressiva. Dessa vez eu não estava nervoso. Sim intrigado. Porque ele estava agindo assim ?
- Porque está agindo assim ? Só quero saber o porquê você está chorando... - de repente ele se virou, e me olhou nos olhos. Os mesmos estavam bem vermelhos, como se ele estivesse a horas chorando.
- Suzuki... - de repente ele me abraçou, bem forte - me promete que você nunca vai me decepcionar... Nunca...
- Prometo claro ! Porque eu te decepcionaria ?
- Não me pergunte mais o que aconteceu OK ? Só, só deixa eu chorar.
- Tudo bem... - o apertei ainda mais forte e fiquei curtindo aquele abraço. Só depois me toquei o que estava acontecendo. De início fiquei nervoso. Acho que ele percebeu.
- Não fique nervoso... - ele deixou a cabeça dele recostar em meu ombro. Parecia carente. Apenas dei carinho a ele. De repente, o nervosismo e a timidez tinham sumido.
NARRADO POR SAKI
Depois daquele momento "consolando o galã" eu tomei um bom banho, o suficiente pra me fazer relaxar depois de uma rotina pesada de estudos. Logo vesti um moletom de mangas compridas, pois fazia frio, e um calça também comprida. Fui até o refeitório, peguei uma tigela de sopa. Como não o vi lá, decidi pegar uma pra ele também. Logo entrei no quarto
- Trouxe sopa pra você
- Arigato gozaimasu - seus olhos estavam inchados. Realmente, ele estava muito triste. Logo começamos a tomar a sopa. Estava muito boa. Quando terminamos, juntamos os pratos no mesmo lugar. Fiz a mesma rotina que eu fazia toda noite. Orei, sim, faço parte da reclusa comunidade cristã do Japão. Peguei meu celular e comecei a me atualizar sobre tudo o que acontecia mundo a fora. Fiquei lá, deitado de frente para a parede conversando com algumas pessoas. Normalmente as escolas internas não permitem uso de celulares pois os mesmos podem fazer a pessoa perder o ritmo do estudo. Mas a escola preferiu deixar isso a responsabilidade do aluno. Ele decide se quer passar ou não. Quando de repente, sinto alguém sentar na minha cama. Com o pequeno espaço que resta, me viro e vejo seu rosto.
- Ken... O que você... - de repente ele coloca o dedo na minha boca, me fazendo ficar em silêncio.
- Deixa por favor... Eu quero tanto esquecer isso ao menos por algumas horas, deixa por favor - como vocês mesmo sabem, minha mente não recusa pedidos de Ken, vai entender o porquê.
- Mas Ken ? - me viro e tento olhar em seu rosto. Mas de repente ele está colado com o meu. E me rouba um beijo - porquê você faz isso ? - ele vai aproximando seu nariz do meu pescoço.
- Adoro esse cheiro sabia ? - ele me arrepiou todo quando fez isso.
- Porquê faz isso ?
- Não quer que eu durma aqui ?
- Você não gosta do Suzuki ? Porquê faz isso comigo ?
Continua
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