Pessoal, por algum motivo o site não estava abrindo o capítulo anterior, mas agora está tudo ok!
Obrigado por todos os comentários maravilhosos, que me fazem ficar sempre animado para publicar o próximo capítulo. A parte 4, inclusive, sai na sexta.
Até lá e boa leitura!
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Corremos o mais rápido que conseguimos por aquela praia deserta, os dois nus e desesperados, enquanto o grupo de desconhecidos nos perseguia com a velocidade própria de quem quer fazer o mal. Tales gritava por socorro, o que eu sabia ser inútil, uma vez que além de nós seis, não havia mais uma viv'alma naquele local. Pensei por um momento em entrar na água, já que nadando eu me garantia, mas vacilei perante a possibilidade de ser alcançado e atingido enquanto nadava, o que resultaria certamente em meu afogamento. Além disso, eu não podia deixar o Tales sozinho, não podia...
— PEGA ESSES VIADOS! — berrou uma voz atrás de mim, suas palavras comparáveis a combustível para as minhas pernas. — Tão com medo, bichinhas?
Os passos dos nossos perseguidores soavam cada vez mais altos, e eu sabia que se não pensasse em uma solução, algo de muito ruim aconteceria a nós dois ali naquela praia. Por um segundo, cheguei a imaginar nossos corpos mortos e nus naquela areia e todos os comentários que isso atrairia. Tentei correr em ziguezague, até me dar conta que isso só me fazia parece bem bobo e diminuía a distância entre nós. Os xingamentos eram a trilha sonora para a nossa corrida, e eram tantos que com o tempo eu nem os escutava mais.
Percebi então que Tales corria em direção a uma casa que ficava à beira-mar mais pra frente, mas ao olhar para trás eu soube que não conseguiríamos chegar lá a tempo. Os gritos dos homens pareciam ainda mais assustadores e cada vez mais próximos — eu conseguia distinguir até mesmo o som das suas respirações ofegantes devido à corrida. Achei que o terror não poderia ser maior, mas quando fui conferir novamente a distância entre nós, dei de cara com o homem que carregava o pedaço de pau a apenas uns 20 metros de mim, perto o suficiente para que eu conseguisse ver a pinta que ele tinha acima da sobrancelha esquerda. Gritei desesperado, e a última coisa que vi foi Tales pulando nu o murinho da casa, enquanto berrava por ajuda. Depois, apenas ouvi a pancada que me levou ao chão e os chutes que trucidaram meu corpo.
Vermelho. Vermelho era a única cor que existia naquele momento.
A areia sobre a qual meu corpo era arrastado se tornava mais vermelha a cada segundo. Cada pedaço do meu corpo que eu conseguia enxergar através dos olhos semiabertos era vermelho. As mãos e pés dos meus agressores eram vermelhos. A minha roupa jogada ali perto agora era vermelha.
Acho que até o mar se tornou vermelho quando eles me jogaram ali para morrer.
Eu podia apenas escutar o som deles indo embora, ao mesmo tempo excitados e amedrontados. Tentei respirar, mas acabei engolindo uma grande quantidade de água. O desespero veio, mas meu corpo fraco já não podia fazer nada. Ali, aceitei que não viveria para ver outro dia nascer.
Acordei meio zonzo em um local desconhecido. Demorei um pouco até perceber que era um quarto de hospital. Notei que George lia uma revista na poltrona ao lado da cama. Apaguei. Agora Victor segurava minha mão, uma garota ao seu lado... Acho que o nome dela é Larissa, pensei. Onde está George? Ele estava aqui agorinha. Apaguei. Ah, aí está George, mas com uma roupa diferente. Acho que está escuro. Apaguei.
Quando acordei de vez, me contaram apenas que eu havia sofrido uma pancada e estava há dois dias no hospital. Por mais que perguntasse o que havia acontecido, todos se recusavam a dizer.
— Vocês tem que me contar! Eu sou adulto!
— Teremos muito tempo pra conversar — disse o dr. Villa. — Agora apenas descanse.
O que eles não sabiam é que não estavam totalmente certos sobre até onde iam minhas memórias. Pelo que entendi dos pedaços de conversas soltas que ouvi, eu não deveria lembrar de nada do dia do ocorrido. No entanto, eu lembrava de ter surfado, de ter conhecido as meninas na praia, de ter feito uma reunião lá em casa e, sim, eu lembrava de Tales. Lembrava dos olhares enquanto tocávamos violão, do baseado na areia, dos beijos no mar... Só não conseguia lembrar do que havia nos interrompido.
Tales veio me visitar no dia seguinte, quando já estava bem melhor e os médicos consideravam me dar alta, já que, apesar do grande susto, os exames indicavam que não havia maiores complicações.
— E aí, Gio! — falou, com aquele sorriso de sempre. — Graças a Deus você tá bem, tava muito preocupado.
— Você está bem? — perguntei.
— Estou. Consegui escapar.
— O que aconteceu, Tales? — perguntei, sem rodeios.
— Fomos assaltados. Estávamos na praia fumando um beck quando chegou um grupo de quatro homens que começaram a nos perseguir depois de roubar nossas roupas, que era só o que tínhamos conosco.
— Tales, por favor. Eu lembro do que houve entre nós.
Ele me encarou por alguns segundos, como se estivesse frustrado pelo discurso ensaiado ter se mostrado inútil. Por fim, sentou na poltrona ao meu lado.
— Ok. — respirou fundo — Nós estávamos transando quando eles chegaram e começaram a correr atrás de nós. Quando eles te alcançaram, eu tinha acabado de conseguir pular o murinho de uma casa que havia lá perto. Fiquei batendo na porta e fazendo bastante barulho, com medo que a casa estivesse vazia. Alguém acendeu uma luz lá dentro e, por cima do murinho, vi que eles estavam fugindo assustados, mas tinham te deixado sozinho e desacordado no mar. Corri até lá e te puxei. Os donos da casa chamaram a polícia, com medo de mim, e quando os caras chegaram eu tive que explicar mil vezes porque havia pulado nu o muro da casa de desconhecidos.
— E o que você disse?
— Que estávamos fumando um beck e eles vieram nos assaltar. Como não tínhamos nada, roubaram nossas roupas, mas deixaram cair enquanto nos aterrorozavam. Basicamente essa é a história oficial. Quando seu amigo quase morre espancado, um beck passa despercebido.
— Ah.
Tales me encarava com um olhar de confusão e pena, como se não tivesse certeza se deveria falar as próximas palavras.
— Olha, Tales, sobre o que aconteceu... Eu não sou gay. Eu gostei pra caralho de ter te conhecido, você é um cara bonito e legal, eu tava chapado e bêbado demais, devo ter confundido as coisas na hora. Eu amo a Lucila. E... Sou hétero. Desculpa.
— Eu não sou gay — respondi secamente. — Também não sei o que aconteceu ali. Só lembro que me deu tesão na hora e acabei me deixando levar. Tava chapado demais.
— Saquei.
Um silêncio constrangedor tomou conta do quarto.
— Trouxe uns álbuns pra você ouvir — ele disse.
Conversamos por alguns minutos, mas não havia mais clima. Quando George chegou, Tales se despediu de mim com um afago no cabelo e foi embora.
George ligou a TV e ficou assistindo um programa de auditório qualquer, embora não parecesse estar prestando atenção. Victor entrou um pouco depois, trazendo uma pizza quentinha.
— Não sei se isso é permitido — ele disse —, então vamos comer antes que alguém chegue.
Quando cheguei em casa com Victor e George naquela noite, uma surpresa aguardava por mim na sala de jantar: Tales, Lucila, Janaína e Larissa estavam ali para um banquete de comemoração. Acima da mesa, havia pizza, esfihas, coxinhas e batata-frita.
— Me perdoa — falou Janaína, quase aos prantos — Se eu tivesse vindo pra festa, tudo teria sido diferente e nada disso teria acontecido.
— Relaxa. Você não tinha como saber.
Quando nos sentamos à mesa, fiquei incomodado ao notar que Tales havia sentado ao meu lado, mas escolhi ignorar. Ninguém parecia querer tocar no assunto assalto, mas a curiosidade de Victor falou mais alto e Tales precisou contar pela milésima vez a versão pública do que havia acontecido.
Durante a narrativa, senti que a minha perna e a de Tales se tocaram por baixo da mesa, mas, ao contrário do que havia acontecido dias antes, nenhum dos dois se mexeu para afastá-las. Ficamos ali, perna com perna, até que nossos pés descalços se tocaram também. Tales, então, afastou-se completamente e passou o braço pelas costas de Lucila.
— Gio! — exaltou Larissa, ao passar por trás de mim com uma garrafa de refrigerante — Acho que tá na hora de trocar o curativo.
— O Tales faz curativos super bem — disse Lucila.
— Nah, não são tão bons assim — disse Tales.
— Que nada — provocou George — Aposto que suas mãos são tão habilidosas quanto parecem.
No final, não houve saída: precisamos subir os dois, constrangidos, para o meu quarto, onde Tales trocou cuidadosamente meu curativo. Sentado na beira da cama, sentia suas mãos grossas passeando pela minha cabeça, me concentrando bastante para esconder meu nervosismo.
— Pronto, estou quase terminando.
Ele passou o dedo delicadamente pelo esparadrapo, por tabela fazendo carinho na minha cabeça.
— Está doendo?
— Não.
Percebi que Tales olhava pra mim fixamente, e meus olhos também não conseguiam desviar dos dele. Nossos rostos se aproximaram aos poucos, encostando em um delicado beijo.
— Estava preocupado com você.
E sentou no meu colo, beijando-me com mais vontade. Nossas barbas roçavam uma na outra intensamente, enquanto eu puxava com delicadeza seu cabelo preto. Ele me empurrou com sutileza sobre a cama, me fazendo deitar, e deitou sobre mim. Meu pênis duro encostava em sua bunda por cima da bermuda, o que nos fez ficar em um movimento de vai-e-vem constante que quase me fez gozar.
Procurei seu pênis, mas ao alcançar o zíper de sua bermuda, ele afastou minha mão.
— Hoje você relaxa.
Puxou minha bermuda e beijou meu pau sobre minha cueca, antes de arrancá-la. Achei que fosse explodir de tanto tesão. Colocou tudo na boca e chupou com aquela maestria que impressionava, principalmente pela sua inexperiência com outros homens. Brincava com a língua e com os lábios, olhava em meus olhos, gemia baixinho. Avisei que ia gozar acreditando que ele tiraria o pênis da boca e me surpreendi quando fez questão de engolir tudo.
Depois que se limpou no banheiro, ele deitou ao meu lado na cama.
— Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo — Tales disse. — Mas não consigo parar de pensar em você desde que o conheci.
— Eu sinto o mesmo — e trocamos um selinho.
— Mas eu realmente amo a Lucila.
— Eu sei.
— Não tô entendendo nada. Não sei o que fazer. Nunca aconteceu algo assim antes.
— Relaxa. Você não tem que fazer nada agora. Vamos descer antes que alguém desconfie dos seus dotes para fazer curativos?
Voltamos para a sala e não trocamos palavra pelo resto da noite, embora nossas pernas não descolassem uma da outra por baixo da mesa. Quando eles foram embora, senti que o abraço de Tales durou um segundo a mais e que suas mãos passearam demais pelas minhas costas.
Victor foi dormir imediatamente após a saída do nossos amigos, mas George me seguiu até meu quarto.
— Fala, Geo.
— E se eu te dissesse — ele parecia escolher as palavras certas — que ouvi o suficiente antes de entrar no quarto do hospital, hoje cedo?
Eu senti como se tivesse levado outra pancada.
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Continua...