BIG BOSS
Quando você está viajando e não sabe direito o idioma do país para onde viajou, mais importante que tomar cuidado com o que fala é ter realmente certeza de que você entendeu o que lhe foi dito. Bem! Eu vou explicar, mas antes vou me apresentar.
Meu nome é Leonardo, tenho 1,78 de alt. Cabelo preto e curto topetinho arrepiado, olhos castanhos claros, narizinho reto e corpo em forma, mais para um magro sarado, saca? Por ai, nada muito sofisticado, um jovem normal para a minha idade.
O que aconteceu é que eu praticamente tive que implorar a meus pais por essa viagem aos Estados Unidos, sempre fui sedento por aventura e agora eu tinha a minha chance. Eles concordaram que eu iria, mas ficaria com o irmão do meu pai que mora lá já há cinco anos em São Francisco na Califórnia. O problema é que só conseguirmos passagem saindo do Rio de Janeiro com escala em Miami e para quem não sabe são dois extremos opostos no continente americano. Na época, foi o único voo disponível já que era alta estação.
Para encurtar a história, eu perdi a conexão em Miami e como bom arteiro que sou, vi a oportunidade perfeita para vivenciar uma verdadeira aventura. Há!Há!Há!
Eu queria cruzar o continente americano de carro, como havia visto nos filmes, onde os jovens mochileiros ficam na estrada a espera de carona e assim vivem sua grande aventura conhecendo novos lugares e tendo todo tipo de experiência.
Ignorei o fato, que eu estava com dinheiro suficiente para comprar uma nova passagem de avião. Ignorei o fato que eu poderia pegar um buzão que fizesse esse trajeto. O que eu queria mesmo era pegar carona. Jjoguei a mochila nas costas e a minha bolsa de viagem cruzando a parte da frente do meu corpo. Acessei a internet no celular para saber onde tinha uma parada de caminhoneiro em Miami e lá fui eu. Despois de lutar muito para conseguir um taxi, mostrei para o motorista o mapinha do celular, o lugar para onde queria ir.
Ele me olhou desconfiado, mas arrancou com o carro e já sabia que ele ia me cobrar os olhos da cara pela viagem, mas não estava nem ai. Tinha a minha meta. Há!Há!Há!
Chagamos ao que deveria ser o local onde eu sinalizei pra ele no mapa quarenta minutos depois, uma corrida que me tomou $400,00 – Suspeitei ter sido tapeado no valor da corrida, mas ignorei, estava muito empolgado pra me preocupar com isso, ainda me restavam $1500,00 dólares que eu mantinha uma parte escondido no sapato, outra dentro da cueca e outras partes pela minha bagagem. Ainda tinha o cartão de crédito que mantinha em uma pochete que ficava por baixo da camisa junto com documentos e outra parte do dinheiro.
O lugar era um posto de gasolina enorme com muitos caminhões estacionados naquela hora da tarde. Estava escurecendo e havia um grupo de caminhoneiros entrando num desses restaurantes de estrada que se vê nos filmes americanos. Ai mesmo que fiquei empolgado, ia entrar num ambiente que nunca havia entrado, era muito emocionante.
Entrei no restaurante e parecia tudo, menos um restaurante. O lugar não era muito grande, mas tinha muitas mesas, um balcão grande, onde vários homens truculentos estavam sentados. Homens de barba espessa e mal encarados, alguns até pareciam bem afeiçoados e do bem. Até que notei um grupo de quatro caminhoneiros ou pelo menos pareciam caminhoneiros. Estavam sentados em uma mesa jogando baralho. Devia ser pôquer. Fiquei fascinado, nunca havia visto isso de perto. Aproximei-me um pouco e sentei numa mesa próxima que dava para ver eles mais de perto, coloquei a bolsa no chão, entre meus pés e a mochila ficou no meu colo. Até que a garçonete apareceu. Uma mulher linda de cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo e um avental com uma estampa de peru por cima de um mini short. Perguntou-me alguma coisa e eu não entendi nada! Há!Há!Há!
Mas como ela apontou para o menu ai saquei que ela estava querendo saber o que eu queria. Abri o menu e apontei para a imagem da cerveja. Ela me encarou por algum tempo como quem parecia estar desconfiada, mas logo saiu. Será se ela achava que eu era menor de idade?
Fiquei um tempo olhando para a mesa dos quatro jogadores e uma coisa que logo notei era que eles sempre diziam alguma coisa e acompanhavam com BIG BOSS e ria de um deles, que era o maior de todos e uma cara de mal. Tinha os cabelos raspados bem curtinho, uma barba espessa, olhos azuis e era muito grande mesmo, acho que apenas um braço dele devia dar uns quatro do meu próprio. Ele usava uma camiseta regata evidenciando seus braços tatuados e seu peito cabeludo. O homem dava medo, mas de vez em quando ele deixava escapar um sorriso de canto que suavizava suas feições. Ele era o tipo de cara com quem ninguém mexeria e por alguma razão que desconheço no momento, senti que devia ser com ele. Porque tinha a intuição de que com ele estaria sempre em segurança. Mas ai, em um dado momento, ele me olhou e eu rapidamente desviei o meu olhar.
Só nesse momento é que fui perceber o quanto eu devia estar encarando ele. Mas é difícil não olhar, o cara é um monstro parrudo. Nesse mesmo instante a garçonete chegou e colocou uma Coca-Cola na minha frente. Olhei pra ela confuso. Peguei o menu e apontei para a cerveja.
- ID, please! – Ela disse. Eu sabia o que isso significava. Ela queria a minha identidade. Mostrei pra ela a minha ID e ouvi uma gargalhada dela que me devolveu o documento e se afastou. Não entendi nada e fiquei puto da vida, ainda mais quando reparei os risinhos do grupo pra cima de mim.
Quando olhei o grandalhão, ele apenas levantou uma sobrancelha, como se perguntasse: - Perdeu alguma coisa aqui? Por isso foquei na minha Coca-Cola.
Coca-Cola? Tá falando sério? Será se aqui eu sou menor de idade? Minhas expectativas de aventura haviam sofrido um grande abalo.
CONTINUA...