Alvaro e Ariel - Não Existe Fronteiras Quando se Ama
Os dias tem se arrastado bastante lentos deixando um rastro de saudades e melancolia.
Dormir se tornou um peso para Alvaro. As caixas de comprimidos e os pacotes de calmante se transformaram em seu passaporte para uma noite de sono digamos, digna de um justo, isso quando ele pode se dar ao luxo de pegar no sono. Ele não consegue essa façanha todas as noites. Aquele tinha sido um dia triste, melancólico. Enfim, esse tem sido o clima nos últimos anos.
Trabalhar, estudar tem sido uma graça conseguida com algum sacrifício. Sair, se divertir, malhar então nem se fala. São atividades que estão em decift. Não tem ânimo e lhe falta coragem.
Afinal, amar é mais padecer do que gozar.
Amar intensamente e ver esse amor ser abruptamente interrompido não é uma missão assim tão fácil de cumprir.
Naquela noite, Alvaro finalmente conseguiu pregar os olhos e pegar no sono, mas só depois de ingerir alguns comprimidos.
De repente no aconchego de seu quarto, quando ia alta aquela noite fria paulistana:
---- Ariel meu bem! Amor da minha alma!
Alvaro exclamou apreensivo.
Ele não conseguia conter as lágrimas que a emoção fazia brotar em seus olhos e como cascata desciam rosto abaixo. Ariel estava ali parado lhe fitando, como no primeiro olhar que trocaram quando ambos se conheceram, sentado do lado oposto de sua sua mesa, numa badalada noite de quinta feira num bar nos arredores da faculdade aonde ambos estudavam. Um olhar acinzentado, vivo, fuzilante penetrante, como uma flecha certeira em seu alvo. A boca esboçando um meio sorriso, que era a sua marca registrada.
Movido por uma indescritível euforia e um turbilhão de sensações e emoções simultâneas, olhando fixamente para Ariel, Álvaro ameaçava se levantar da cama. Seus lábios assim como seu corpo, tremiam. Parecia não acreditar no que presenciava. O carinha que ele mais amou em toda a sua mísera existência, estava ali de volta, após um longo e interminável tempo de saudade de pé diante dele.
---- Ariel, que saudade de você, meu gaúchinho mais lindo! - Conseguiu exclamar um tanto embargado por tamanha emoção.
---- Como você está? Por onde você tem andado? Me diga, por favor!
Ariel foi se aproximando da cama e sentou. Estava lindo como sempre. A roupa certamente era a que ele usara naquele fatídico dia.
---- Álvaro, não diga nada, só me abrace. - disse olhando em seus olhos, colocando o dedo indicador nos seus lábios.
Num ímpeto, Alvaro e levantou da cama num salto e os dois se entregaram num abraço forte. Álvaro apertava o corpo másculo de Ariel como se quisesse prendê-lo ali.
---- Eu te amo Ariel! - sussurrava Álvaro ao pé dos seu ouvido.
----Eu também amo você Álvaro
---- Então por que você me deixou? Meus dias tem sido tão cinzentos, tão difíceis sem você, Ariel! Não consigo raciocinar, não consigo comer, não consigo trabalhar nem estudar, a saudade é tão grande, só sei pensar em você. Eu estava enlouquecendo de desespero só de saber que você não voltaria, mas você voltou meu amor, pra me tirar dessa solidão, dessa angustia que tem se tornado a minha vida. Eu juro que não vou deixar você ir.
Assim, Alvaro apertava impetuosamente a Ariel como se não permitisse que ele escapasse.
---- A vida quis assim Alvaro. Deus, o destino, o acaso sei lá. Quero que você saiba meu bem, que nunca deixo de pensar em você. Nas minhas melhores lembranças, você está presente. Eu nunca deixei de te amar, meu Alvinho. Te amo como na primeira vez que te vi naquela mesa, tentando se esquivar do meu olhar, seu malandro! Descobri que de tímido tu não tem é nada, guri! Não saí de Porto Alegre e vim pra São Paulo só pra ralar e estudar. Vim pra conhecer você, pra amar você. Nosso amor estava escrito nas estrelas e foram essas estrelas que me guiaram até a você.
Alvaro escutava atônito o seu amado. Uma lágrima escapou do seu olhar atento e foi logo interceptada pelos dedos longos de Ariel. A emoção era tanta que Alvaro não conseguia conter os soluços ao falar.
---- E você foi tão descarado que veio até a minha mesa me xavecar. Ai! eu não tinha aonde botar minha cara de tanta vergonha e pior, tive que aturar o pessoal da turma que ficou o resto do ano me zoando, seu cachorro! Você foi lá no carinha que tava tocando, pegou o microfone, fez o seu showzinho e pediu pra ele tocar aquela música que você cantou pra mim, lembra? e o cara ficou perdido, coitado, tentando te acompanhar e você lá, todo desafinado e achando que tava abafando. Mas aquela foi a melhor noite da minha vida.
---- Claro, que lembro guri.
e começou a cantarolar:
----- Acho que eu não sei não
Eu não queria dizer
Tô perdendo a razão
Quando a gente se vê
Mas tudo é tão difícil
Que eu não vejo a hora
Disso terminar
E virar só uma canção
Na minha guitarra
Eu te amo você
Já não dá pra esconder
Essa paixão...
Alvaro muito empolgado cantou a estrofe seguinte junto com Ariel e os dois rindo:
Eu queria te ver
Sentindo esse lance
Tirando os pés do chão
Típico romanceUau! Que música linda! É como se eu revivesse tudo com você desde o início, quando gente se conheceu. É a música da nossa vida, da nossa história de amor, ArielMinha vida ao seu lado foi muito feliz, Alvaro.
---- E vai ser muito mais meu amor! ---- Alvaro prendeu o corpo de Ariel em seus braços com tamanha veemência.
---- De agora em diante, eu prometo que lutarei com todas as minhas forças pelo nosso amor. Nunca mais vou brigar com você por nada, por mais bestinha que seja o motivo, eu juro meu amor! ---- Alvaro tremia freneticamente agarrado firme em Ariel. Sua respiração ofegante acelerava a cada segundo daquele momento e seu coração disparava no mesmo ritmo como se quisesse acompanhar o compassoO primeiro semestre de 2007 chegara ao fim com muita estafa para os Alvaro e Ariel. Desgaste físico e mental, faculdade, trabalho e o relacionamento de três anos que enfrentava naqueles tempos uma leve turbulência. Os planos de casamento e de adoção de um filho e um cachorro, que o casal havia traçado na crista da onda de sua paixão, agora estavam em vias de ser repensado. Ciúmes, inseguranças, desconfianças e desentendimentos eram o tempero que fazia a relação amargar. Esse desgaste também trazia uma incontida tristeza à mãe de Alvaro que era uma espécie de madrinha e apostava muito na relação dos dois. Ela sempre que era necessário, procurava intervir na situação para que eles se entendessem e que tudo acabasse bem. Graças à torcida e ao esforço dela e a paixão que um tinha pelo outro, o namoro ia subsistindo e o amor prevalecia.
Ariel aproveitou as férias de julho e resolveu ir para Porto Alegre pra rever a família e descansar. Pensar um pouco e tentar salvar a relação com Alvaro também estava incluso nesse pacote. Eles se amavam demais pra permitirem que o relacionamento continuasse seguindo da forma que estava.
A despedida antes de Ariel atravessar a cancela de embarque, se deu sob um olhar turvo de ambos seguido de um longo abraço. Promessas de que na sua volta tudo estaria bem embalavam aquele momento.
No carro, de volta pra casa enquanto sua mãe guiava, Alvaro seguia pensativo e com um coração esperançoso. Ele tinha consciência de que seu ciúme um tanto doentio aliado à sua insegurança, atrapalhava em tudo. Ariel era um cara alegre, popular, atencioso e de uma presença super agradável que atraía as pessoas para perto de si. Foi esse atrativo inclusive que o encantou naquela noite do encontro naquele bar. Tudo bem que ele poderia estar agindo de modo aparentemente egoísta mas pensar em perder seu amado pra outro, o deixava receoso. Alvaro reconhecia suas atitudes tolas de ficar "espantando" principalmente as aparições masculinas que se aproximavam de Ariel, mas fazer o quê se ele o amava tanto a ponto de sentir medo de perdê-lo? Agora ele estava percebendo que sua loucura, suas atitudes ainda que bem intencionadas, estavam sufocando, aprisionando como teia de aranha o homem que ele tanto amava e que por sua vez nunca lhe deu motivos assim tão fortes ou provas que o fizessem ter tais procedimentos. Tudo bem que Ariel também cometia seus deslizes e já saiu algumas vezes fora dos trilhos, mas era um cara íntegro, que buscava resolver as situações com diálogo sem perder a razão e o equilíbrio. Alvaro preferia confiar em suas falsas intuições ou em rumores que ouvia sobre o namorado e sem procurar saber dele a veracidade dos fatos, o encurralava contra a parede.
Durante o voo, Ariel também pensava sobre seus deslises, sobre algumas vezes que deixou Alvaro magoado com certas palavras um tanto duras que soltava nos momentos das discussões mas prometia ser mais paciente, falar mais abertamente com Alvaro a respeito das cantadas e assédios que recebia das colegas e de outros caras. O que fazia a coisa ficar tensa é que ele às vezes omitia certas coisas que acabavam chegando ao conhecimento de Alvaro e este por sua vez queria levar a situação para os finalmente a ferro e a fogo.
Apesar de tudo, o que importava é que, naquele momento ambos estavam revendo a situação e estavam dispostos a mudar cada qual, sua maneira de agir. Alvaro também, estava reconhecendo que precisava ter mais confiança em Ariel ser menos intempestivo e prometia que controlaria seus instintos ferozes antes de ter ataques de ciúmes.
---- Ariel, eu sei que eu fui egoísta, agi muitas vezes como um bobo, um idiota em vez de acreditar na sua integridade, no seu amor por mim mas quem sabe não é essa a chance que a vida está nos dando de concretizarmos o nosso sonho depois desse tempo todo? Eu faço tudo Ariel pra gente voltar a ficar juntos. Nós vamos nos casar, ter nosso apartamento, nosso filho, nosso Pichi. Lembra que agente se prometeu isso? Você ligou antes de voltar das suas férias e prometeu que quando chegasse em São Paulo agente ia agilizar tudo para o nosso casamento, lembra? Vamos resolver tudo sem delongas meu bem. Mamãe está mais ansiosa do que eu, a coitada! ---- Alvaro afirmou entre risos misturados às lágrimas.
---- Eu só quero você, eu quero voltar a ser feliz e isso só será possível se você tiver junto de mim. Eu não aguento mais viver sem você! ---- Nesse momento, as lágrimas de Alvaro iam ficando cada vez mais intensas e sua voz estava desesperadamente embargada sendo em certos momentos entrecortada pela emoção.
Ariel ouvia serenamente o apelo afobado do seu amado. Ele apoiou a cabeça de Alvaro em seu peito e enquanto soluçava, Ariel carinhosamente afagava seus cabelos encaracolados.
Alvaro meu bem, há coisas que acontecem em nossa s vidas, há caminhos que nossas vidas tomam e que não tem volta. A melhor solução é aceitar, procurar no mínimo aprender a conviver a compreender e se conformar, acreditando que tudo acontece para o nosso bem, por mais árdua, difícil e dolorosa que a situação seja e que não consigamos entender aqui e agora. Um dia todos nós encontraremos as explicações, os motivos e as razões de tudo que nos acontece.
Alvaro escutava aflitoAlvaro, o que eu mais quero é que você seja muito feliz. Não abra mão de sua felicidade por nada deste mundo. O que nós dois não conseguimos realizar juntos por causa das intempéries dessa vida, você vai conseguir ao lado de alguém especial que vai te amar e te respeitar da forma que tu merece, meu lindo! Você vai ter muitos filhos e muitos cachorros, além de um homem fantástico e especial ao seu ladoO que você está dizendo Ariel? ---- perguntou Alvaro num ímpeto de uma desesperada fúria levantando a cabeça do peito de Ariel e penetrando seu olhar fuzilante nos olhos serenos e tranquilos de ArielEu quero ter muitos filhos e muitos cachorros mas é com você, Ariel! O homem fantástico e especial na minha vida é você e não outro. É você que eu amo Ariel e se você tá pensando que dessa vez você vai embora, vai tirando seu cavalinho da chuva meu amor. Eu não vou deixar, nem que eu tenha que te amarrar no pé dessa cama, mas você não vai se afastar de mim.
O desespero voltara a tomar conta do peito de AlvaroRelaxa benzinho! Eu estou contigo sempre, olhando e torcendo por você. Nada está perdido! Basta você lembrar dos bons momentos que nós tivemos juntos, das dificuldades que conseguimos vencer. Sabe os seus ciúmes bobos? As nossas brigas, as olhadinhas que eu dava pra aqueles caras da academia enquanto agente malhava só pra te irritar, porque eu achava que você ia ficar só com um pouquinho de ciúmes e não que você fosse derrubar seu mundo todo pra cima de mim com seu ataque de ira, lembra? De tudo isso tu pode esquecer. Mas das coisas boas tu pode lembrar sem reservas, tipo aquelas tardinhas gostosas que a gente saia pra pedalar, das nossas noites badaladas no Largo do Arouche, os sábados frios que a gente ficava o dia inteiro debaixo das cobertas assistindo filme e sua mãe fazendo chocolate quente pra agente, lembre sempre disso meu bem pois são esses momentos que levamos por toda a nossa vida. Se você ficar triste, deprê, pra baixo, eu fico triste também.
---- A vá Ariel, você não perde mesmo tempo de fazer graça, não é? Pilatrinha, e você acha mesmo que eu não sabia que era pra me irritar que você fazia aquilo? E ai de quem chegasse perto de você. Pior é que tinha um bando de marmanjo safado que ficava te olhando e eu ficava louco, né? Se eles atrevessem a se aproximar de você é porque não tinham amor pelo saco, porque eu seria capaz de rancar na unha! ---- os dois gargalharam.
---- Sabia Alvaro, que você fica tão "totozinho" quando tá com raiva? Tenho um pouco de saudade das nossas brigas, sabia? Eu gostava mais da parte em que agente resolvia nossas picuinhas, se é que você me entende. ---- Ariel provocou a Alvaro o encarando com seu meio sorriso safado que o fazia derreter. Naquele instante uma calma que durou sabe Deus quanto tempo, invadiu o ser de Alvaro, fazendo o esquecer por um momento seu desespero.
---- Seu safado! Você não vale nada mas eu te amo!
---- Eu também te amo! Vem cá meu Alvinho!---- os dois voltaram a se abraçar e ficaram por um tempo em silêncio. O som que se ouvia naquele instante eram as batidas apaixonadas de um coração compassado. O coração de Alvaro parecia tocar uma cantiga para Ariel, o grande amor de sua vidaAs férias estavam chegando ao fim. Foi um período curto mas suficiente pra que Ariel matasse a saudade de sua Porto Alegre e da sua família. Foi também um tempo pra refletir sobre os últimos acontecimentos no que se dizia a respeito ao seu relacionamento com Alvaro e foi um tempo imprescindível para admitir que o amava muito. O que ele mais queria na vida era ser feliz com Alvaro e também fazê-lo feliz. Com seu retorno em território paulistano, a prioridade para o próximo semestre seria além de outras, suas vidas, seu relacionamento. Agora era hora de voltar e dar prosseguimento à rotina frenética em São Paulo só que agora descansado e com a cabeça e os pensamentos em ordem. Estava ansioso pra encontrar Alvaro e abraçar e beijá-lo com toda intensidade da sua alma. Renovar com ele cara a cara, seus votos de amor.
Na casa de Alvaro, o telefone tocou. Sua mãe atendeu.
---- É o seu genro mais folgado falando
----- Barbaridade, tchê! Você foi de mala e cuia pra Porto Alegre e deixou sua sogrinha querida aqui jogada às moscas, é? Belo genro você é, hein?
----- Oh sogrita, tô que não me aguento de saudade da minha Pom - Pom. Como estão as coisas por ai?
---- Oh meu querido, tá tudo como você deixou. Tá tudo respirando saudade só esperando você voltar. E aí, como tá Porto Alegre, a sua família?
---- Minha Porto Alegre tá fria como sempre. Minha família tá mandando lembranças e tá louquinha pra lhe ver. Aonde tá meu guri? Tô mortinho de saudade dele.
---- Ele saiu agora há pouco mas logo logo ele estará de volta. Mas o garoto tem ficado o dia todo no quarto só curtindo tristeza o pobrezinho. Quando ele voltar da rua e souber que você ligou, ele vai sair pulando pela casa, escuta só!
-----olha sogrona, não posso me demorar muito mas fala pra aquele abestado que amanhã eu tô chegando aí e antes de embarcar eu ligo pra ele. E já vou aproveitando pra oficializar a coisa. Eu quero a mão do Alvinho em casamento, tu me dá?
----- E por acaso precisa você pedir, homem de Deus! Tu ta falando sério ou só quer brincar com sua sogra que tá cheia de serviço pra fazer e não tem tempo pra gracinhas?
----- E que dia dona Rosana, que teu genrinho aqui deixou de levar alguma coisa a sério, me diga? Eu sou um guri de palavra, tchê! Tu vai perder seu Alvinho porque assim que eu chegar aí em Sampa já vamos botar os papéis pra correr. Vou levar ele pra morar comigo e não esquenta não sogrinha, a gente leva a senhora no porta malas, ha, ha, ha... acho que você cabe lá.
---- Engraçadinho! Pra levar meu Alvaro de mim, você vai ter que se tranformar em dois, rs. Brincadeiras à parte, você sabe Ariel, que eu torço demais pra vocês se acertarem e serem muito felizes.Pode crer que será a minha felicidade também.
---- Descobri Rosana, que amo demais o seu filho e não quero perdê-lo por nada desse mundoEle também te ama demais. Ele tem conversado muito comigo sobre o namoro de vocês e prometeu que se tiver uma chance de salvar o relacionamento, não vai deixá-la escapar. Ele tem sofrido muito com saudade de você. Ah como eu me sinto feliz em ver vocês se entendendo!
----- Quero agilizar o quanto antes o nosso casamento, Rosania.
---- Sim. Com a bênção de Deus vai dar tudo certo. A que horas você que você vem seu gaúchinho folgado?
---- Já comprei a passagem e meu vôo parte amanhã às 17:00 horas do Aeroporto Salgado Filho. À noite já estarei aí te perturbando Rosaninha, que não sabe viver sem o genro mais chato desse mundo! Agora, sem querer te pedir demais sogrinha, por obséquio, faça pra mim aquela sopa deliciosa de legumes com bastante carne que só tu sabe fazerPode deixar meu lindo, amanhã quando você chegar aqui, sua sopinha vai estar prontinha e fumegante à sua espera. Vamos te pegar no aeroporto, tá?
---- Está bem minha sogrinha fofusca! Te amo tá? Agora vou ter que desligar e quando o Alvaro chegar dê um beijo na bochecha dele por mim e diga pra ele que estou morrendo de saudades e que não vejo a hora de lhe dar aquele beijoPode deixar, meu bem. E u também te amo muito filhote! Boa viagem meu amor e chegue logo porque a saudade tá matando a gente.
Ao desligarem ao telefone, dona Rosana, não conteve a alegria. O fato de Ariel ter tomado a decisão de casar formalmente com Alvaro a deixou muito satisfeita. Ela torcia muito pelo amor dos dois e sempre tentava manobrar esse relacionamento afim de que eles chegassem sempre num denominador comum.
Quando Alvaro voltou da rua e soube que o seu amor havia ligado, ficou emocionado e saiu pela casa abraçado a sua mãe celebrando ambos com muitos gritos eufóricos de felicidade as boas notícias dos dias que estavam por vir. Era uma alegria pura, de menino quando é agraciado com um doce ou quando encontra o brinquedo predileto que perdeuAquele curto período de silêncio no quarto foi interrompido por uma respiração prolongada de Ariel. Alvaro ainda estava aninhado em seus braços, se deleitando do colo confortável do seu amor. O tempo parecia não passar. Eles eram capazes de ficar assim abraçadinhos por toda a eternidade. Foi quando Ariel finalmente sentenciou:
----- Alvaro, agora tenho que ir
----- Você não vai Ariel ---- retrucou Alvaro apertando-o ainda mais
----- Você precisa me soltar Alvaro. O meu tempo aqui com você esgotou. Não posso te impedir de tu seguir teu caminhoQuero seguir com você Ariel. Não me deixe de novo não! ---- Alvaro implorava desesperadamenteEu juro que vou te fazer o cara mais feliz desse mundo. Nós vamos nos casar, você me prometeu. Vamos ter a nossa casa, a nossa vidaFique bem querido, estarei sempre cuidando de você.
Ariel afastou os braços de Alvaro que fazia força para mantê-lo preso. Olhou bem no fundo de seus olhos e foi recuando pelo quarto enquanto Alvaro caminhava em sua direção, com um olhar suplicante, inundado de lágrimas, implorando para que ele não fosse mas que ficasseVenha aqui, Ariel! Não vá meu amor, não me abandone!
----- Adeus Alvaro!
Depois daquele adeus, em questões de segundos, Ariel alcançou a porta do quarto que estava fechada, passou por ela e desapareceu. Alvaro entrou em grande desespero . Com as pernas trêmulas, ajoelhando no chão, com voz estridente e estendendo as mãos como se tentasse trazer Ariel de volta, ele se pôs a gritar bem alto:
----- Nããããããoooooo!!! Nããããããããoooooo!!! Ariel não vá embora! Ariel, não me abandone! Volta pra mim Ariel, eu preciso de você!
Rapidamente a porta do quarto se abriu. Era dona Rosana sua mãe que levantara assustada com os berros desesperados de Alvaro e veio correndo até ao seu quarto para ver o que estava acontecendo. Ao abrir a porta ela viu seu filho sentado sobre os joelhos, com um semblante deplorável, chorando num soluço doído, chamando por ArielO que houve meu filho? ----- ela perguntou agachando e o abraçando carinhosamente, com voz chorosaPor que ele fez isso comigo, mãe? Por que ele não quer ficar mais comigo? É por causa dos meus ciúmes mãe? Eu pego demais no pé dele? é isso? Fala pra ele mãe, que eu vou melhorar, diga que ele pode confiar em mim mas fala pra ele não me abandonar de novo mãe! Eu não vou conseguir viver sem ele. Diz pra ele voltar, mãe pelo amor de Deus...
Rosana apertou mais o corpo do seu filho contra o seu num abraço confortante enquanto ele soluçava desconsoladoNo dia 17 de julho de 2007, dia da viagem de volta das férias, poucas horas antes de embarcar, Ariel ligou para Alvaro e a conversa foi um tanto comovente regada a promessas de que tudo seria diferente quando se reencontrassem. Alvaro ficou ainda mais eufórico e ansioso quando Ariel falou sobre o casamento que seria a prioridade logo que ele chegasse a São Paulo. Aquela era a melhor notícia que ele podia ouvir naquele momento. Soou como música aos seus ouvidos. Afinal, a felicidade estava voltando e dessa vez era pra ficar.
No saguão do Aeroporto de Congonhas, Alvaro e Rosania esperavam ansiosos com um sorriso que ia de uma orelha a outra, pela chegada do vôo de Ariel que não demoraria muito pra pousar, juntos das outras famílias que aguardavam seus parentes embarcados nos aviões que aterrisavam constantemente.
Repentinamente um estrondo foi ouvido pelos arredores. A rotina normal e tranquila do aeroporto foi logo substituída por uma súbita inquietação. Corria por aquelas dependencias um rumor de que uma aeronave desgovernada acabara de se chocar contra um edifício de uma companhia aérea e que o local estava em chamas. Em questão de segundos a notícia que agora estava confirmada, se espalhou e deu se início a uma frenética correria. Gritos desesperados eram audíveis. Alguns funcionários daquela companhia tentaram acalmar os ânimos daquelas pessoas. Os aparelhos de telefones celulares dos presentes, dispararam a tocar em uníssono. Muito desespero e gritos de dor de alguns a despeito dos suspiro aliviado de outros que viam seus parentes a salvo oriundos de outras aeronaves. Até então, para Rosana e Alvaro poderia ser qualquer outro avião mas alguem ali próximo deles estava no telefone em prantos falando com ulgum familiar que o avião acidentado era o que acabara de chegar de Porto Alegre e que um parente estava a bordo. Um tremor tomou conta das espinhas de ambos. Não podia ser. Seria o avião em que Ariel estava? Alvaro estava trêmulo como vara de bambú. Rosana estava apreensiva mas procurava acalmar seu filho, na esperança de que não fosse o avião em que Ariel estava. Ela pedia pra ele ter calma, pois Ariel poderia ter desistido de embarcar ou coisa do tipo mas só de ter ouvido a refência ao vôo que veio de Porto Alegre, a deixou muito desconsertada. No balcão da companhia, o tumulto já estava formado. Os parentes desesperados em busca de informações das vítimasMãe, pelo amor de Deus não pode ser o avião do Ariel mãe. Diz que não é, por favor mãe!
O apelo de Alvaro era de um tamanho desespero. Ele estava agarrado à ela, trêmulo, olhos rasos d´água, sibilando palavras de uma reza como se aquela atitude pudesse reverter a situação eminente.
---- Calma meu filho! Vamos esperar sair a lista dos passageiros. Só reze meu querido e peça pra Deus que tudo não passe de um pesadelo.
Do lado de fora do aeroporto, o cenário era assustador. O caos estava instaurados. Os bombeiros tentavam de todas as maneiras apagar as chamas que estavam muito altas e incontroláveis. Parecia um cenário de guerra. Peritos, legistas, bombeiros, curiosos e toda sorte de profissionais que o fato exigia, transitava por aquele local de tamanha destruição.
No saguão do aeroporto, no portão de desmbarque e nos balcões da empresa, o cenário era de grande desespero.
Finalmente um funcionário veio se aproximando e as pessoas ali se ajuntaram em torno dele. Ele deu umas poucas palavras e pregou em uma espécie de mural uma folha com uma grande lista. Os gritos e gemidos se intesificavam à medida que as pessoas acessavam e liam a lista com os nomes das vítimas daquele fatídico desastre. Rosana e Alvaro vieram se aproximando do mural um tanto apreensivos. Os dedos trêmulos deslizando sobre a listagem que certamente estava escrita por ordem de compra de passagens, a procura do nome pelo qual eles dariam suas vidas pra que não estivesse ali. Subitamente os olhos de Alvaro escureceram. Uma forte tontura o abateu e de repente um grupo de socorristas que estavam por perto se achegaram depressa. Alvaro desmaiou. Seu coração naquele momento, estava reduzido a um grãozinho minúsculo pra suportar tamanha dor. O nome dele constava lá naquela lista obscura. Ariel Santorini Dutra Gimenes.
O sonhos morreram. A vida se acabou. O que fazer agora? Como continuar vivendo, se a razão de sua vida acabara de se ir pra sempre? Por que, justamente quando tudo estava caminhando no rumo certo? Se Deus existe, aonde estava ele no momento daquela tragédia?
Eram tantas as perguntas, tantos porquês na cabeça de Alvaro mas o fato, as evidências da maior perda da sua vida estavam ali, do lado de fora daquele aeroporto.
Foi muito duro para Rosana e Alvaro fazerem o reconhecimento do corpo de Ariel que ficou num estado deplorável porém a tatuagem que ele havia feito de dois As unidos pelas perninhas representando o grande amor e a cumplicidade, apesar das desavenças que haviam entre Alvaro e Ariel, ainda estavam reconhecíveis. Díficil também foi dar a notícia pra sua família que ficara toda no sul e a recebeu de uma forma apreensiva e bastante doída.
Um clima púmbleo de pesar misturado a fortes odores de enchofre, querosene, corpos carbonizados, contagiavam os ares nos arredores. Quanta tristeza! E agora como aqueles familiares tocariam as suas vidas dalí por diante? Sonhos, projetos de vida, ansiedade em dar aquele abraço saudoso, tudo isso se perdeu na explosão daquela aeronave, naquele triste final de tardeNo quarto de Alvaro, aflita Rosana tentava consolar o seu filho que estava num pranto desesperado, após a aparição de ArielOh meu filhinho! Tenha calma! foi só um sonho querido. Faz oito anos que Ariel nos deixou mas acredite que aonde ele estiver ele está cuidando de você.
Rosana ficou por um bom tempo abraçada com Alvaro o acalmando, afagando sua cabeça e lhe falando palavras que lhe confortassem mas palavras, por mais doces e carinhosas que elas fossem, pareciam não surtir o efeito necessário. Os planos e sonhos de amor e felicidade tinham literalmente ido pelos ares naquela trajédia.
Os dias, semanas e anos que seguiram após aquele acontecimento trágico, foram muito difíceis. Muita tristeza, depressão e uma saudade indescritível. Remédios fortíssimos para dormir, falta de ânimo para fazer as coisas mais simples do dia a dia. Alvaro estava acabado, arrasado.
Oito anos se passaram do acontecido, mas a dor lateja no coração de Alvaro como se tudo tivesse acontecido ontem. No decorrer do dia que antecedeu a noite fria da aparição de Ariel, a saudade apertava tão forte seu peito como se fosse o afixiar. Sua alma parecia chamar por ele e ele veio visita-lo em seu quarto naquela noite gelada.
Ainda nos dias de hoje, as "boas" noites de sono de Alvaro são conseguidas por meio de remédios, calmantes e anti-depressivos. Alvaro chama Ariel em pensamentos. Sua alma grita desesperada pelo nome do seu amado e padece com a sua ausência. Apesar de tudo, morte não conseguiu romper os laços de amor desse que foi um casal tão apaixonado. E assim a vida vai seguindo seu curso. A alma de Ariel com certeza está velando incansavelmente pela vida e trabalhando pela felicidade do eternamente seu, Alvaro.
FIM