Ninguém quer envelhecer. A maioria de nós desejamos ter uma vida longa, por não desejar a morte iminente e precoce, mas ninguém quer ficar coberto de rugas, com a mobilidade debilitada e com limitações físicas e até mentais. Porém, ninguém consegue parar o relógio da vida. Ainda não descobrimos o caminho para a terra do nunca, para vivermos como Peter Pan. Assim acredito que são os nossos sentimentos. Por mais que calemos, sufoquemos e despejemos altas doses de veneno para mata-los quando indesejados, não conseguimos. Podemos doutrinar nossas mentes, para que ela faça um trabalho mais racional, porém o coração baterá num compasso próprio, alheio a nossa vontade. Uma hora vai doer, uma hora vai apertar e saberemos que tal sentimento ainda está lá. Envelhecer é uma arte. Saber amar também. Como tudo no ciclo mágico da vida, nasce, cresce e morre, no nosso coração não é diferente. Brota quando menos se espera, cresce de forma desordenada, mas uma hora morre e se transforma em adubo para outros que virão.
Durante a semana que se seguiu depois daquele incidente, foi tranquila apesar de tudo. Evitei ao máximo encontrar com o Erick, com medo de alguma pergunta que eu não soubesse responder. Também não tive mais notícias do Allan e nem quis perguntar para saber. Estava mais preocupado em viver minha vida, seguir com a minha rotina e não ter mais dor de cabeça.
Certo dia, estava fechando a academia depois de um longo dia de trabalho, quando escutei uma voz atrás de mim:
- Ta fugindo de mim?
O Erick falou, rindo em seguida.
- Nossa! Que susto. Fugindo, por que?
Perguntei, como quem não entendeu a pergunta.
- Hahaha. To brincando. É que não vi você na academia essa semana e só soube que hoje você iria embora essa hora porque minha irmã me contou. Mudou o horário?
- É... Eu mudo, às vezes.
Eu disse, voltando a minha atenção para a tranca da porta do estabelecimento.
- Ta afim de tomar um chopp agora?
Ele perguntou.
- Não posso. To cansadão. Vou pra casa.
- Ah, Biel. Coisa rápida, pra dar uma relaxada. Vamos?
- Não, fica pra uma próxima.
Eu disse, guardando a chave no bolso e me virando para ir embora.
- Nossa, por que você tem que sempre ser tão difícil? É só um chopinho, coisa rápida. Para de fazer tanto doce, rs.
Ele disse, sorrindo.
- Não faço doce.
- Faz sim. Minha irmã te chamou pro niver dela e você não queria ir. Eu te chamei pro show e você não queria ir e agora to te chamando pra um chopp rápido e você não quer. Cacete! Aprende a dizer sim. Rs
- Ta bom! Mas coisa rápida, ok? To cansado mesmo.
Eu disse, fazendo ele abrir um enorme sorriso.
Fomos para um boteco ali perto e nos sentamos na parte externa, pedindo um chopp pra cada. Confesso que o primeiro gole desceu redondo, fazendo eu relaxar de imediato. É obvio, que não demorou muito para que ele tocasse no assunto constrangedor daquela noite.
-Nossa, o que foi aquilo que aconteceu aquela noite? Não entendi nada que aquele garoto tava falando.
- Ah, Erick, ele tava bêbado ou sei lá o que mais. Nem vale a pena falar disso.
- É, mas ele falou como vocês se dois tivessem alguma coisa ou como se você tivesse trocando ele por mim... Sei lá...
- Hã?!
Eu perguntei atrapalhado, esbarrando no copo e fazendo com que todo o liquido gelado caísse em cima de mim.
Levantei assustado, com a bermuda toda molhada, segurando o copo a tempo para que ele não caísse e se quebrasse.
- Porra, que merda!
Eu praguejei, tentando tirar o excesso da cerveja com as mãos.
- Calma, eu vou buscar um pano.
Ele falou.
Momentos depois, ele voltou com uma toalha, a qual eu passei no tecido, tentando secar o que deu.
- Desculpa, eu não quis te deixar nervoso. Eu sei que é doidera, mas foi tão estranha a atitude dele.
- Tudo bem, eu que esbarrei no copo. Não foi culpa sua.
- Mas você pode ter se ofendido, porque eu sei que você não curte, nem é gay... Olha o seu tamanho, seu jeito...Nada a ver. Desculpa mesmo.
- Você acha que eu não curto só por causa do meu tamanho ou porque eu sou um cara com tipo de homem? Você acha que todo mundo tem que dar pinta? Rebolar? Falar fino?
- É..Não, não.. Não é isso. É que você é todo forte e másculo, sei lá, não diria nunca. Então é isso? Você realmente tem algo com aquele garoto?
Ele perguntou, com curiosidade.
- Não. Não tenho. Eu falei porque é um preconceito besta que a maioria das pessoas tem. Acham que determinadas pessoas tem que seguir um estereótipo. Acho errado, não tem nada a ver.
- Ah, claro. Você ta certo. É que na nossa cabeça a gente tenta agrupar as pessoas. Qualquer um pode curtir qualquer coisa, mas você me surpreenderia se curtisse homem. Você.... Você.. já teve... alguma coisa com um cara?
Ele perguntou.
Eu fiquei olhando nos seus olhos, querendo falar algo, mas minha voz não saia. Não queria expor minha intimidade, ainda mais que mal nos conhecíamos, mas também não queria mentir pra ele.
- O que você acha?
Perguntei.
- Eu acho que não, mas...
- E você?
Eu devolvi a pergunta, fazendo ele tomar um gole do chopp, afim de limpar a garganta.
- Não.
- Entendo.
- E você? É muito pegador ou prefere namorar?
Ele perguntou.
- Sou mais de namorar. Nunca curti ficar por ficar. Acho que minha timidez tem algo a ver com isso.
- Ah, nossa Biel... Se eu fosse como você não sossegaria até passar o rodo na cidade. Eu me viro bem até, mas pegaria bem mais. Sua namorada devia ser muito bonita. Como era o nome dela?
- É... Bom, já tomamos chopp e agora eu tenho que ir. To cansadão e amanhã eu madrugo.
- Tudo bem, eu também. Estudo de manhã. Vamos embora, então.
Ele disse, pedindo a conta.
Pagamos e eu fui pra casa, me sentindo tenso com aquela conversa, mas determinado a esquecer. Mais tarde naquela noite, ele me mandou uma mensagem avisando que faria slackline no parque pela manhã e me chamando para ir, porém eu ignorei completamente. Algo me dizia para me manter distante e era isso que eu faria.
Os dias se passaram e eu me mantive focado no trabalho. Eu ia sair mais cedo da academia para resolver umas pendências em banco e aproveitei para tomar uma ducha rápida no vestiário, visto que era um horário morto, quase sem alunos e iria otimizar meu tempo. Eu odiava fazer isso, mas não iria dar para passar em casa. Estava me secando rapidamente que nem em dei conta quando alguém entrou no banheiro.
- Ah, desculpa. Achei que não tivesse ninguém.
- Que susto! Tudo bem, Erick. Nunca tem ninguém nesse horário mesmo. Eu tenho que sair vazado daqui hoje e aproveitei pra já tomar uma chuveirada. Mas, pode ficar a vontade, eu já vou sair.
- É, eu fiquei até mais tarde na faculdade hoje e vim direto malhar, senão depois me dá preguiça.
Ele falou.
Eu amarrei a toalha na cintura e tirei a cueca da mochila, vestindo-a em seguida sem tirar a toalha. Eu olhei para ele e o flagrei olhando, mas ele se assustou e desviou rapidamente o olhar, virando de costas. Eu senti meu rosto queimar e aproveitei que ele tinha se virado, para retirar a toalha, vestindo a bermuda em seguida. O silêncio era incomodo e eu resolvi olhar na sua direção, quem sabe puxar um assunto que melhorasse aquele clima estranho.
Porém, quando voltei a minha atenção a ele, o vi nu, de costas para mim e foi inevitável não reparar em seu corpo. Era magro, mas com músculos levemente definidos nas costas, a bunda alva, pequena, mas redonda e um pouco arrebitada. Quando subi meus olhos, encontrei com os dele no espelho, me fitando. Na hora virei o rosto com pressa, derrubando o desodorante e o pegando em seguida, passando em mim, meio desajeitado. Senti que seus olhos ainda estavam em mim, então resolvi falar qualquer coisa que desviasse a atenção.
- Acho que vai chover hoje.
- Não tem uma nuvem no céu.
Ele respondeu.
- Mas vai chover. To falando que vai chover, é porque vai chover.
Eu disse, colocando a camisa e socando as coisas dentro da mochila.
Ele já tinha vestido a cueca e estava colocando o short, quando me despedi rapidamente e sai do vestiário. Parti feito uma bala, me odiando ao extremo por me atrapalhar tanto quando eu menos devia. Resolvi o que tinha que fazer na rua e fui para casa.
No dia seguinte, estava dando treino pra uma aluna e muitas vezes tinha que mostrar como o exercício deveria ser feito. Segurei o halter e flexionei o braço, mostrando o musculo que seria trabalhado, peguei a sua mão e coloquei na minha barriga, pra mostrar que o abdômen tinha que ficar contraído. Levantei meu olhar e vi que ele estava olhando, mas rapidamente ele virou o rosto pra outro lado, se dirigindo a outro aparelho. Momentos depois eu vi ele de papo com uma garota, rindo, jogando charme. Deixei pra lá, não iria me incomodar com aquelas atitudes estranhas.
Os dias iam se passando e ia levando a vida assim, um dia de cada vez, sem me preocupar muito com as coisas. Acordei cedo pra ir treinar no parque e estava na cozinha fazendo uma vitamina, quando o Guto apareceu.
- Guto?? Você aqui a essa hora?
Eu perguntei e ele ficou corado na hora, abaixando a cabeça.
- Ah, entendi. Você dormiu aqui. Rs
Eu mesmo respondi, me dando conta do que estava rolando.
- É, Biel... Eu sei que vocês fizeram um acordo de não trazer ninguém, mas eu acabei pegando no sono e fiquei com preguiça de voltar pra casa.
- Tudo bem. Eu nem posso falar nada. Já rompi muito esse acordo rs. Quer um copo?
- Ah, eu vim pegar agua, mas eu aceito sim.
Ele disse.
Servi um copo pra ele, outro pra mim.
Começamos a conversar enquanto bebíamos a vitamina. Apesar de eu estar super curioso sobre o motivo dele ter dormido lá, ele quis saber o que tinha acontecido com o Allan naquela noite, visto que o Kadu havia lhe contado por alto.
Expliquei tudo que tinha acontecido e como foi constrangedor. Que eu achava que o Erick tinha sacado alguma coisa e que ele estava agindo estranho comigo depois daquilo. Conversamos até eu me dar conta que já estava atrasado. Ele aproveitou que eu estava saindo e resolveu ir junto, mesmo eu não indo de carro. No caminho, resolvi me inteirar do que estava acontecendo.
- Eu não sabia que você e o Kadu tinham voltado.
- É... a gente já tava conversando desde aquela vez e entendi que não existe príncipe encantado. Ele realmente tava arrependido e sei lá. Ninguém foi enganado.
- Entendi. Você tinha me falado que tinha medo, que achava que não estava na hora. Vocês...?
Eu quis perguntar, mas fiquei sem graça na hora. Porém ele entendeu do que eu estava falando.
- Uhum, rsrs
Ele respondeu, sorrindo com vergonha.
- Olhaa. Rsrsrs. E aí? Como foi?
- Ah, doeu, foi estranho no começo, mas ele foi muito carinhoso e paciente. Foi bem especial.
- É natural. Esse desconforto vai passando com o tempo e você vai se soltando mais, relaxando. A primeira sempre é mais complicada, mas depois tudo flui.
- É, Biel. Acho que já está fluindo. Ele ta sendo bem legal nesse ponto e sinto que as coisas estão acontecendo. Me senti mais próximo dele, meu coração bateu mais forte e sei que o dele também. Ele me pediu em namoro.
Ele disse, sorrindo.
- Porra, que coisa boa! Fico feliz por vocês.
Eu disse, abraçando-o.
Nesse momento, o Erick passou andando de skate, com a mochila de slackline nas costas e nos olhou de forma estranha, porém não parou, nem me cumprimentou. Estranhei, porque ele sempre veio falar comigo toda vez que me via, mas também não fiz menção de ir atrás dele.
- É ele, né?
O Guto perguntou.
- É. Ele vem toda a manhã fazer slackline. Estranho, ele costumava cumprimentar. Acho que ele ta sacando alguma coisa. Ta agindo esquisito. Me olhando de forma diferente, agora nem falou comigo.
- É, pode ser. Ele realmente olhou de cara feia, mas será que não é por minha causa?
- Por que, Guto? Nada a ver. Ele nem te conhece. Além do mais, ele é hétero e deve ser preconceituoso. Sei lá.
- Você contou pra ele sobre você e o Allan?
- Não. Não tenho quer dar satisfação a ele. Mas depois do escândalo que seu primo fez, nem precisava falar. É só somar 1 + 1, que vai dá dois. Foda-se também. Ele que se foda. Ele parece ser um cara legal para se ter como amigo, mas não to com cabeça pra ter que me explicar. Nem quero mexer numa ferida que ainda não cicatrizou. Então deixa pra lá.
- É. Talvez seja melhor.
- Guto, o Allan ta com o tal do Murilo?
Resolvi perguntar, num impulso.
- Olha, Biel... Eu não sei ao certo, porque ele não tem me contado as coisas. Tá rebelde e arredio. Mas ele dormiu na casa desse garoto algumas vezes, com a desculpa de fazer trabalho de escola. Então, eu não sei.
Ele disse.
Senti meu estomago revirar. Por mais que eu tivesse consciência que não tínhamos mais nada, não conseguia suportar a ideia de outro estar tocando o corpo que um dia foi só meu.
- Guto, eu tenho que ir. Tenho que treinar. A gente se fala, ta?
Eu disse, virando-me e andando apressado, com o estomago dando voltas e voltas.
Na minha cabeça, vinham várias imagens do Allan nos braços do Murilo e eles fazendo todo tipo de sacanagem. Parei e escorei a mão numa arvore, vomitando em seguida. Me afastei um pouco, ainda meio zonzo e sentei na grama, bochechando um pouco de agua da garrafinha que carregava na mochila e cuspindo em seguida. Apoiei a cabeça nos joelhos e respirava devagar, quando senti alguém se aproximar.
- Você ta bem?
O Erick perguntou, me olhando preocupado.
- To...
- Tem certeza? Você ta muito pálido.
- Tenho. Só foi uma queda de pressão. Já to melhor.
- Você tomou café da manhã? Não deve ter comido direito, né? Não pode. É isso que acontece.
- É... foi isso.
- Aquele lá que você tava não te ajudou?
- Quem, o Guto? Não, ele já tinha ido embora.
- Hum...
Ele fez esse som, com uma cara esquisita.
- Por que você não foi falar comigo, quando passou por mim?
- Ah, não quis atrapalhar.
- Atrapalhar o que, Erick?
- Ah...não sei...eu achei... achei que pudesse atrapalhar. Você estavam...conversando... abraçados...
- E?
- Sei lá... não quis interromper...
Ele disse, sem saber como se explicar.
- Cara, ta pegando alguma coisa que você queira me falar e não está sabendo como?
Ele sentou-se do meu lado e passou a mão nos cabelos.
- É....tem....
- Então me fala.
- Eu não sei direito como falar... mas vou tentar.
... Continua.
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Hey Galera,
Aí está mais um capítulo. Peço desculpa pelos eventuais erros, mas estava em viagem e estou bem cansado. Me esforcei pra entregar tudo, mas não tive como revisar. Quero agradecer a todos que perdem minutinhos preciosos lendo e comentando aqui. Valeu pela participação massiva lá no blog. Acho que se não fosse vocês, não iria dar conta de tudo. Por isso que o comentário de vcs aqui, as vzs um simples email, qq coisa, faz toda a diferença. Obrigado.
O desfecho do capitulo já ta disponível la no blog. Quem quiser pode estar acessando e participando. Todo dia tem novidade lá: www.bielsabatini.wordpress.com
Quem quiser trocar uma ideia por email, pode mandar que eu respondo também: biel.sabatini@yahoo.com.br.
Vou responder alguns por aqui, mas lá no blog respondo a todos, ok?
A&M: Valeu de vdd. Passa lá no blog pq eu senti sua falta lá. Rs
bagsy: Po, brigadao. Fico bem feliz em saber q vc acompanha e torce. Espero q comente sempre agora. Valeu ;)
LC..pereira: Q bom q curtiu. Fico felizão!
Irish: Bom saber q vc vai lá. Se comentar iria ficar mais contente ainda rs. Valeu ;)
Pra todos vocês, um cheiro no pescoço: (Dark, A&M, bagsy, Brankelo, LC..pereira, Babado Novo, Crystal*.*, Ru/Ruanito, Irish, MorgauseDs, L.Paz, Bruce W., Jhoen Jhol, Rôh, Noni, FASPAN)