Gabriel estava bem diferente da ultima vez que eu o vi, isto é, a dois anos atrás. Naquele tempo ele era bem magro, cortava o cabelo em um estilo Justin Bieber, e usava um aparelho de borrachinhas verdes. Agora ele estava grande e musculoso, o cabelo cortado nesse corte que está na moda, curto nos lados e comprido espetado em cima. Tinha tirado o aparelho, e agora exibia um sorriso branco e brilhante.
Quando nos encontramos ela começou o falatório, sobre como havíamos crescido, como era legal ter a família reunida, como estava quente e blá, blá, blá. Quanto a mim, bem, naquela van eu não conseguia tirar os olhos de Gabriel. Eu me sentia completamente o oposto dele. Ele era falante, eu quieto. Ele usava cores claras, eu escuras. Ele gostava de conversar, eu não. Para evitar o contato com os outros, coloquei meus fones de ouvido no volume máximo e comecei a olhar pela janela. Estava curtindo a minha musica, The Rock City Boy, quando senti um ar pesado pairando no me pescoço. Estava quase dando um chega pra lá na minha irmã quando percebi que não era a minha irmã, e sim Gabriel.
— Eu também adoro essa música — ele falou olhando pra mim
Olhei para ele assustado, por três motivos. O primeiro é ele conseguir ouvir a música do meu fone, isso significava que estava realmente muito alto. O segundo é ele conhecer essa musica, porque é uma introdução de anime, e, na época que eu o conhecia, ele não assistia anime. A terceira coisa é ele estar muito perto de mim. Na realidade, ele estava quase subindo em mim.
— Sai de cima — eu falei, dando uma cotovelada na sua barriga. Apesar de ser pego de surpresa, reparei que a sua barriga era bem firme, devia ser malhado.
— Desculpa, só queria puxar assunto. Você está tão quieto nesse canto, achei que era porque ninguém estava te incluindo na conversa.
— Desculpas não aceitas. — eu respondi, com raiva — E me deixe quieto.
Coloquei os meus fones de volta e continuei olhando pela janela. Essas férias serão insuportáveis, Pensei, não vejo a hora de acabar. O resto da viagem foi um silêncio mortal entre nós dois. O resto da família continuou conversando, mas eu não conseguia parar de pensar naquela barriga durinha e musculosa.
Quando chegamos na casa, e que casa, minha tia e Gabriel nos ajudaram a levar as coisas para dentro. A casa tinha sete quartos, um para meu avós, um para cada filho deles (ou seja, meus pais, minha tia e meus outros tios), um para minha irmã e as gêmeas, um para o irmão do Gabriel e um sobrinho da minha avó, e o último quarto para mim e Gabriel. O nosso quarto ficava no sótão, e era o único desse andar. Tinha um beliche, um guarda roupa de madeira e um quadro de uma casa branca em um grande gramado verde. Uma porta de vidro, que dava para uma varanda, ocupava uma das paredes, e era a única fonte de iluminação externa.a varanda tinha uma espreguiçadeira de madeira e um guarda corpo de alvenaria, e dela tínhamos uma linda vista para uma área verde.
Reparei que Gabriel já tinha pego a cama perto da porta da varanda, então coloquei as minhas coisas na outra. O quarto era retangular, com a porta de entrada na lateral maior, bem no meio das duas camas. Do lado direito ficava a porta da varanda, e o outro era uma parede fechada, com o quadro pendurado. Arrastei a minha cama até encostar nessa parede. Queria o máximo de distância possível de Gabriel. Minha tia explicou que eu poderia desfazer a minha mala e guardar as roupas no grande guarda roupa de oito portas. As quatro portas da direita já haviam sido ocupadas por Gabriel, então eu peguei as da esquerda. Arrumei as minhas coisas naquele armário enorme, sempre com muito metodismo, separando as roupas por cores e tipos. Quando acabei, senti o desejo ímpeto de ver como o meu primo arrumava as suas coisas então abri a porta do armário dele. Quase tive um treco. Era a maior bagunça. Fechei as portas antes que me desse a louca de arrumar tudo.
Reparei também que, no quarto, na parede da minha cama, tinha uma porta de madeira. Abri a porta e descobri um banheiro, que aparentemente funcionava, pois estava limpo. Resolvi aproveitar e tomar um banho. Viagens me cansam, e é sempre bom espairecer um pouco.
Peguei uma camiseta preta com uma estampa de TARDIS, e uma calça jeans preta larga. Liguei o chuveiro bem gelado, e fiquei uns quinze minutos só deixando a água cair no corpo. Desliguei o chuveiro e saí, pois já estava na hora do almoço.
Quando saí do banheirinho, vi Gabriel sentado na cama lendo um livro. Ele também tinha tomado banho, a julgar pelos cabelos molhados.
— Finalmente, achei que você tinha morrido no banheiro. Vamos, minha mãe está chamando pra almoçar.
Ignorei o seu tom de deboche, porque notei uma coisa estranha. Quando ele se levantou para sair do quarto, estava tentando esconder uma ereção. A curiosidade me venceu mais uma vez, e eu fui ver que livro ele estava lendo. Peguei o livro da cama e olhei. Não havia título na capa. Quando eu o abri, quase dei um berro. Dentro do livro tinha um tablet, e ele estava rodando imagens do banheiro do quarto, o mesmo que eu tinha tomado banho alguns minutos atrás. Fui até o banheiro. O tablet estava recebendo imagens ao vivo. Aquele filho da mãe tinha posto uma câmera no banheiro, e possivelmente tinha assistido a tudo. Me acalmei para não bater nesse desgraçado. Ele vai ver só.