Cap.1
Acho que carrego algum carma de vidas passadas. Pra começar, não cresci muito. Baixinho, magrinho, pele branquinha, lisinha, sem marcas, cabelo lisinho, caindo sobre a testa, olhos pretos. Tudo em mim acaba se diminuindo. Eu não me acho muito bonito, talvez por isso tenha tão baixa confiança em mim mesmo. Segundo, tenho AIDS. Não, não transei com alguém sem camisinha. Nem perdi a virgindade da boca ainda, quanto mais do negócio lá. Mas minha mãe sim. Meu pai foi um homem ruim que a infectou. Eu nunca o conheci, nem quero. Mas ela me conta. Ele tinha um lindo discurso, uma linda aparência. Quando foram pra cama, ele insistiu tanto pra que eles fizessem sem o preservativo, e ela, confiando nele aceitou. Logo na primeira vez se infectou. Depois eles fizeram mais umas duas vezes, e numa dessas ela engravidou. Mas aí já estava infectada, e acabou me infectando também. Desenvolvi a doença, e tomo todos os cuidados que um aidético toma, mesmo tenho apenas 15 anos. Terceiro, sou gay. Numa sociedade como a nossa, isso pode se tornar um carma. Mas eu não consigo mudar. Meu coração e meu corpo não mudam. O jeito é aceitar e viver do jeito que sou de verdade. Quem sou eu ? Gabriel Vasconcellos, 15 Anos, Portador da AIDS, frustrado com a vida, apaixonado por alguém que é hétero e dificilmente mudará. Diz aí se não parece um carma ?
- Pega filho, comprei Guiozas pra você, tá muito gostoso !
- Brigado mãe ! - comecei a comer, pensando mais uma vez na minha vida - sabe, as vezes eu imagino que tem algum carma de outra vida que estou pagando.
- Porquê filho ?
- Tenho uma doença incurável, poucos amigos, baixa estatura e... - a última eu não podia dizer - enfim...
- Olha filho... A vida é assim. Muitos problemas vem, se vão, e a felicidade também. Você pode estar se sentindo frustrado agora, mas ainda é muito novo, tem que passar por isso para formar o caráter. Mas logo você vai ser um homem feliz, com uma família linda e um ótimo emprego. Você vai ser um ótimo homem !
Não sabia o que faria quando descobrissem minha sexualidade. Mas tudo indicava que a reação não seria boa. Isso é o que mais me amedrontava.
" O Que é a paixão ?"
Qual o conceito de paixão ? Pra mim, significa medo, sensações estranhas, vergonha, timidez. É assim que eu me sinto quando estou perto dele. Sou apaixonado por um garoto. Ele é meu vizinho. Mora na casa ao lado. Foi assim que o conheci.
" Jogava basquete, acreditando vocês ou não, na garagem de casa, quando vejo uma grande movimentação na casa ao lado.
- Acho que devem estar se mudando ! - de longe vi dois caminhões de mudanças, e logo apareceram os carregadores - tenho certeza ! - continuei meu jogo tranquilamente, quando escuto uma voz.
- Posso jogar ? "
Desde então ele está presente sempre no meu pensamento. Lindo, inteligente, sensível, cantor... Nem o mais fechado dos gays conseguiria evitar. Eu não consegui... Em pouco tempo me vi metido no meio de um mar de sentimentos que vinham tomando o meu corpo e de nenhuma forma eu conseguia deixar esse mar pra trás. Fui me apaixonando, e em pouco tempo ele já não saiu mais do meu coração. Quem é ele ? Pedro Maciel. 16 Anos, alto, corpo definido, cabelos pretos lisos, olhos pretos, sorriso lindo, cara de anjo, personalidade incrível, inteligência rara. Sem exagero, ele é tudo o que citei acima. Talvez deve ser por isso que eu vivo suspirando por aí quando o vejo. Enquanto eu fico quieto nos cantos, com poucos amigos e muitos pensamentos, ele está sempre rodeado de pessoas. Foi assim que foi parar na banda de música da escola.
"- Sério ?
- Humrum, eu vou cantar na Feira. Você vai assistir, não é ?
- Vou, claro !"
Desde então se tornou vocalista da banda e o garoto mais conhecido do colégio. Rodeado de meninas e amigos, imaginei que logo ele estaria apenas em meus pensamentos. Mas não. Mesmo com todas as suas ocupações, ele ainda arranjava tempo pra mim.
- EI, Gab ? - ouvia uma música romântica com o fone bem alto - Gab ? - de repente ele puxa o fone - estou aqui - sussurrou, me assustando.
- Aí Pedro, não faça mais isso !
- Desculpa, a cada vez fazer isso se torna mais engraçado.
- Piadista... - sentou no banco e eu deitei minha cabeça em suas pernas. Ele nunca reclamava então eu continuava fazendo. Era bom porque as vezes ele mexia no meu cabelo. E eu adoro quando fazem isso.
- Tá tudo bem ? Nunca mais você me mandou mensagem no Whats.
- Você está sempre ocupado, Achei que era melhor não incomodar.
- Que besteira ! Você é meu amigo, você deve mandar mensagens - durante esse momento, na minha mente se passava apenas uma pergunta. "Apenas Amigo ?" . Eu queria tanto ser mais que amigo. Mas isso dificilmente seria possível. Ele logo começou a namorar uma garota. Ela, comparada a mim era muito mais bonita. Além de ser mulher, tinha um corpo bonito, era mais alta que eu, bem mais cheia de atitude. Que chance eu teria contra ela. Durante esses tempos, eu nunca perguntei a ele nada sobre sexualidade, até porquê ele vivia demonstrando que era hetero. Mesmo assim, eu mantinha uma esperança e mandava indiretas. Colocava uma música que falava de amor não correspondido nas ligações, postava coisas do gênero no Facebook. Nunca deram certo. Muito da esperança que eu mantinha vinha de algumas atitudes dele.
"- EI, Gabriel, vem tirar foto !
- Já vou ! - sai correndo pra frente da câmera e sorri. Mas meu sorriso se transformou em vergonha quando ele me puxou pra um abraço e botou a mão na minha cintura. "
" Olhava pra ele e via o quanto ele estava mal. Estava com olheiras.
- Você tem que diminuir sua carga horária. É muito trabalho pra apenas uma pessoa.
- Humrum- Fiquei olhando o céu e as nuvens, quando de repente viro pro lado, algo bate no meu ombro.
- EI !
- Deixa eu colocar vai... Tô morrendo de sono"
Por essas e outras eu fazia a linha, garoto aidético apaixonado por um garoto hétero que namora mas mesmo sem querer acende fagulhas de esperanças no coração do apaixonado. Apesar de tudo isso, tudo ia muito bem até aquele dia.
- Gente, cheguei ! - mais uma vez chegava em casa. Estava morrendo de fome pois tinha esquecido o dinheiro do lanche. Fui até a cozinha e cortei um pedaço de bolo. Quando estava prestes a comer, sinto algo puxar o meu braço.
- Que fotos são essas Gabriel ? - virei e vi meu tio, com duas fotos na mão. Não acreditei quando vi que eram as fotos de Pedro que eu guardava
- Tio... Eu...
- Você é gay Gabriel ?
Continua
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