Cap.2
Eu não sabia o que fazer. De repente ele me mostrou uma caixa. Pode parecer antiquado nos dias de hoje, mas eu adorava guardar coisas importantes dentro de uma caixa. Essa caixa continha todos os meus segredos, minha vida, minhas paixões. Mesmo eu escondendo muito bem eles acharam. E agora, o que faria ?
- Você é gay, é isso ? - tirou uma revista porno de dentro, diversas fotos, eu não acreditei que aquilo estava acontecendo - é pra isso que você vive ? Pra se tornar viado ? - eu não sabia o que dizer, só conseguia chorar - isso é ridículo garoto - de repente ele começou a me bater - Olha isso, é nojento ! - eu não conseguia fazer nada, só chorar e me defender.
- Não tio, não me bate !
- Eu Bato ! Você já imaginou o desgosto que vai dar pra sua mãe por ser seguir esse caminho ? Aquele garoto ! Eu sabia que ele não era boa influência - de repente ele me puxou, pro lado de fora. Frágil, pequeno, acuado. Assim que eu me sentia ao ver meu tio descobrir meus segredos - vou queimar isso ! Pra que você nunca mais veja isso ! Você é nojento Gabriel ! - chorava mais e mais, sem saber o que aconteceria dali pra frente, ouvindo meu tio falar coisas péssimas de mim - você é mal ! Um garoto mal ! É uma vergonha ! - naquele momento, nem ver que Pedro me observava de longe, compadecido e sem entender nada, me acalmou.
HORAS DEPOIS
Obviamente assim que minha mãe chegou ele contou a ela.
- VOCÊ BATEU NO MEU FILHO ? VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO !
- Mas você não ouviu o que eu falei ? Ele é viado ! Uma vergonha !
- NÃO IMPORTA ! VAI EMBORA DAQUI ! SE VOCÊ ENCOSTAR A MÃO NO MEU FILHO DE NOVO EU QUEBRO A SUA CARA ! - apesar dela estar me defendendo, tinha quase certeza. Ela também me condenaria pelo que tinha acontecido. Ela também brigaria. Ela também me faria chorar. Que medo eu estava de ser eu mesmo naquele momento ! Enfiei minha cabeça por debaixo dos travesseiros, rezando para que aquilo fosse apenas um sonho ruim. Que eu não tivesse sido descoberto.
MINUTOS DEPOIS
Meu medo maior não era a reação da minha mãe, pois ela concordando ou não, sabia que não me botaria pra fora porquê ela é a minha mãe, e me ama. Meu medo, era que eles contassem a Pedro o que tinha acontecido. Não saberia aonde enfiar minha cara caso eles o fizessem. Meu coração, além de dilacerado, ficaria envergonhado de estar apaixonado por ele.
- Filho ? - não respondi. Estava tão envergonhado de mim mesmo e com medo que mantive a minha cabeça debaixo dos travesseiros, chorando para ver se aliava a tensão. Ela andou, sentou na cama, passou a mão pelas minhas costas - eu já esperava que você fosse. Não sei se é o certo ou não. Dentro de mim há uma dúvida. Tenho tanto medo do preconceito que você pode enfrentar na sociedade. Por causa da doença... Por causa disso ! Eu não sei o que se passa dentro de você. Mas tenho noção de que você não escolheria algo que pode trazer tristeza a você. Eu te amo filho ! - falou, aos prantos - prometo que vou tentar te entender. Prometo !
- Tudo bem mãe - foi só o que eu consegui dizer, com a voz bem baixa depois de tanto chorar. Alisou mais um pouco minha costa, e então saiu. Eu sabia como seria dali pra frente. Pessoas me apontando o dedo. Família se revirando contra. Estava com medo do que viria... Eu só queria ser feliz ! Só isso ! Será se é difícil aceitar ?
HORAS DEPOIS
Me entristeci tanto depois do acontecido que acabei dormindo. Acordei com meu celular tocando. Quando olhei no visor...
- Oi ? - ... Era ele
- Oi Pedro
- Tá tudo bem com você ?
- Mais ou menos.
- O que foi que houve ? Eu vi uma pessoa bater em você. Até pensei em reagir, mas vi sua mãe se aproximando então imaginei que logo o problema seria resolvido - suspirei. Era rezar pra que ele não descobrisse.
- Não foi nada.
- Quer conversar ? Vamos na praça daqui de perto ?
- Ah não, prefiro ficar em casa.
- Anda, não seja chato ! Te espero lá - suspirei novamente.
- Tá... Eu vou !
Em minha vida, eu nunca havia me sentido assim, amedrontado, envergonhado. Nem mesmo quando descobri que tinha AIDS. Nem mesmo quando me masturbei pela primeira vez. Eu... Estava com medo. Medo do meu sentimento, medo do que eu era. Eu não sabia como ele se sentiria se soubesse. Nem como reagiria.
- Oi - falei, me aproximando do parque. Ele estava sentado num dos balanços, levemente se balançando de um lado pro outro.
- Oi. Chegou rápido ein ?
- Sim - me sentei no outro, e baixei a cabeça. Estava muito nervoso e amedrontado com tudo o que podia acontecer.
- Então... Você pode falar agora o que tá te aflingindo - se levantou e veio para trás de mim. Começou a empurrar levemente o balanço.
- Bem... Meu tio... Encontrou umas revistas porno pelo meu quarto - obviamente eu não contaria tudo.
- Ah ? Só isso ? Ele te bateu por causa de umas revistas ? Mas isso é tão normal na nossa idade. Todos os garotos que eu conheço lêem. Porquê será que ele fez isso ? - ele não sabia do detalhe que eram masculinas. Nem ficaria sabendo.
- Vai se saber... Mas é melhor esquecermos isso !
- Poxa amigo. Tô vendo que você tá bem triste.
- Tô mesmo... Eu... Não queria brigar com ninguém ! - preferia não abrir o jogo de verdade.
- Tem que ter calma. Apesar de tudo nossa família quer sempre o nosso bem. Eu tenho certeza que ele vai repensar o que fez, e te pedir desculpas. Ele vai mentir e dizer que também não viu algumas quando era adolescente ? - enquanto ele me empurrava naquele balanço, eu... Sangrava por dentro .
NO DIA SEGUINTE
Me isolei durante o resto do dia. Não queria olhar na cara de ninguém. Vim pra escola sozinho, apenas para não ter que ver a minha mãe. Com medo de que ela mude de idéia e passe a me condenar veemente como fez meu tio. Entrei no colégio de cabeça baixa, e percebi uma movimentação excessiva naquele dia.
- Ele deve estar fazendo mais algumas das suas apresentações ao vivo - dizia eu, pensando em Pedro e lembrando do quanto as meninas piravam quando ele cantava. Continuei a fazer o mesmo caminho que sempre fazia, quando de repente alguém bate nas minha costas.
- E aí Gab, tá melhor ? - me virei e vi Pedro atrás de mim
- Ué ? Mas não é você que está ali ?
- Ah não. É um "novato veterano"
- Como assim ?
- Ele estudou por um bom tempo aqui, saiu e agora está voltando. Todos o conhecem. Seu nome é Michel.
- Menos eu...
- Menos nós - falou, colocando a mão nos meus ombros - e então ? Como está ?
- Melhor. Hoje evitei algumas pessoas e... Cheguei em paz na escola.
- Se tiver algum problema você pode me avisar. Eu te ajudarei em tudo !
- Tudo bem...
- Agora deixa eu ir, tenho que ver se a nova guitarra chegou.
- Tudo bem ! - ele sempre fazia isso. Me deixava sozinho quando eu mais pensava nele. Não o culpava, afinal ele não sabia dos meus sentimentos. Mas que doía, doía. Continuei andando por entre os corredores, quando me lembrei que tinha deixado um livro meu na biblioteca. Fui até a mesma pra pegar. Quando entrei, estranhei também a grande movimentação. Apenas estranhei, não fui averiguar o que era. Comecei a procurar por entre algumas prateleiras, e por algum motivo não achava.
- Ué, mas tenho certeza que deixei isso aqui ! - mudei de sessão e começei a procurar. Estava lá nos altos o bendito livro. Subi no máximo da escada, mas mesmo assim meu pequenino tamanho não permitia alcançar o livro. Comecei a me esticar em busca de alcançar o mesmo, quando sinto a escada balançar. Já não dava mas tempo, ela deslizou e... Alguém me segurou. Antes de cair, alguém me segurou. Foi inacreditável. Ainda de olhos fechados, não acreditei que não tinha caído. Quando abri os olhos, vi um garoto desconhecido.
- Mais cuidado, branquinho - me tremi todo ao ouvir essa voz. Suave, envolvente, deliciosa. O garoto era bonito ! Tão bonito quanto Pedro. Tinha olhos castanhos bem claro, cabelo idem, pele parda, uma barba rala, um sorriso bem branco. Era alto, tinha um corpo bem definido. Um verdadeiro galã !
- Desculpa...
- Está se desculpando por cair ? - ele riu
- Ah é... - fiquei mais vermelho ainda, depois de ter caído nos braços de um garoto bonito e desconhecido
- Deixa que eu pego pra você ! - subiu as escadas, e com uma maestria e destreza que não tenho, pegou o livro - aqui está !
- Ah, obrigado - me abraçei ao livro. Sempre fazia isso quando estava envergonhado.
- Você não estava aqui antes.
- Cheguei agora - ele riu.
- Não... Digo na escola !
- Ah. Estou a pouco tempo aqui.
- Entendo. Qual o seu nome ?
- Gabriel - ele sorriu.
- Prazer Gabriel. Me chamo Michel. Te perguntei isso porquê estudei aqui por muito tempo e nunca te vi.
- Você é o Michel ?
- Sim... Sou eu ! - não acreditei. Tinha caído em cima do novo famoso da escola ! Se alguém tivesse visto imagina o que sairiam falando ?
- Ah, eu preciso ir ! - sai rapidamente dali. Não podia ficar muito perto dele, falariam.
- Ei...
MINUTOS DEPOIS
Ouvia música enquanto o professor não chegava. Não demorou muito e Pedro entrou na sala. Como sempre fazia, veio e sentou-se ao meu lado.
- Compraram a guitarra nova. Agora o som vai ser ótimo.
- Que bom ! Fico feliz pela banda !
- Você ainda está triste... Eu espero que isso passe logo. Não gosto de te ver aqui - não demorou muito e eu vi uma pessoa que não esperava ver. Michel, adentrava a sala
- Ele vai estudar aqui ?
- Vai. Ele é gay sabia ? - arregalei os olhos.
- Sério ?
- Humrum. Pelo menos foi o que me contaram- Ele fatiou toda a sala com o olhar, e parou quando me viu. Novamente me escondi, envergonhado.
Passou, e sentou-se logo atrás de mim.
- Oi, branquinho ! Então quer dizer que estudaremos na mesma sala. Que ótimo ! - sorri, extremamente nervoso e envergonhado. Olhei pro lado, e vi Pedro olhar pra mim e pra ele sem entender.
- Você o conhece ? - sussurrou.
- Conheci na biblioteca agora pouco.
- Ah ! - por algum motivo nos olhou estranho. Algo que não consegui entender.
MINUTOS DEPOIS
O professor terminava de dar o assunto.
- Então é exatamente por isso que este carbono é terciário. Já que estamos falando de Hidrocarbonetos, quero que formem duplas ! - de cara eu e Pedro nos olhamos, pois sempre fazíamos duplas juntos. Até que...
- EI Gabriel, você não quer fazer dupla comigo ? Não conheço ninguém nessa sala... - a cara que Pedro fez não foi nada boa.
Continua
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