Cap.9
Meu coração acelerou ao ouvir isso.
- O Que ?
- Não era isso que você queria ? Que eu desse um jeito de nos tirar da relação falsa ? Pronto, agora você já não precisa mais se preocupar. Pode voltar a sua namorada, tudo volta ao que era antes... - em tese era o que eu mais queria. Mas por algum motivo um angústia enorme encontrou o meu coração. Uma raiva subiu em mim. Ao mesmo tempo que eu sabia que havia pedido para que aquilo acontecesse, agora já não queria mais que acontecesse. Eu gostava da relação, mesmo que falsa. Eu estou começando a gostar dele. Eu não quero ser obrigado a separar assim do nada.
- Cuida de tudo aqui ! - falei, pegando a sacola que havia separado com as bebidas de Gustavo.
- EI... Espera ! Aonde vai ?
- Fazer uma coisa pro Gustavo...
- Gustavo ? - deixei a sala vazia logo em seguida. Mal virei o corredor, novamente aquela dor me atacou. Não, eu já não queria mais que ele se separasse de mim. Eu já não queria mais que a relação, mesmo que falsa deixasse de existir. Ela era o único motivo de eu continuar tendo uma relação com ele. Eu ficaria muito triste se de repente parassemos de nos falar. Quando cheguei na sala de música, já não tinha mais nenhuma vontade de continuar ali.
- E aí galera... - todos me olharam.
- Oi Lucas ! - Gustavo acenou
- Ah, está aqui o que você pediu ! - entreguei a ele as bebidas.
- Ah, obrigado. Não dá para cantar sem água, não é.
- É... - tentei sorrir, mas a verdade é que aquela revelação dele não saía de forma alguma da minha cabeça. Ficava lá, e como um ciclo, nunca saia dos meus pensamentos.
- O que houve ? Está tudo bem ?
- Está... - falei, olhando em seus olhos. De repente ele segura em meu braço e me puxa para fora.
- Vai, fala ! O que houve ?
- Não é nada. É só que... Já não... Já não existe mais farsa.
- Ué, e não era o que você queria ?
- Não sei se era mais... - de repente alguém me cutuca
- Anda Lucas, tem muita gente precisando de ajuda, um só não dá conta ! - Ghi sai me puxando como se o mundo fosse acabar.
- Você vai pra festa hoje ? - gritou Gustavo da porta.
- Vou !
MINUTOS DEPOIS
Ghilherme não havia exagerado. Diversas pessoas nos chamávamos pelos pontos. Alguns problemas já esperados estavam acontecendo.
- O que eu digo pro Daniel ? - perguntou.
- Pede para ele levar a diretoria para os camarotes...
- Leva os diretores até os camarotes ! - e então, terminamos todos os chamados. Tudo até ali ia bem. O horário do jogo se aproximava, logo iria ocorrer a primeira apresentação.
- Espero que saia tudo bem com a banda do Márcio.
- Se eles tiverem ensaiado direito vai sair tudo bem - um silêncio se formou na sala.
- Gostou dela mesmo foi ? - perguntei, inquieto.
- Ela é bonita - foi só o que ele falou - qual é essa festa que Gustavo mencionou ?
- Vai ser uma festa de comemoração por causa do aniversário dele. A nossa turma vai, mais alguns amigos...
- Ah... Posso ir ?
- Ele não te convidou ?
- Não... - mas que estranho. Até onde eu sabia Gustavo e ele tinham uma boa relação.
- Vai Ué. Tenho certeza que ele não vai te expulsar da festa kkkk - foi um dos poucos momentos em que houve descontração naquela sala.
- Você e o Gustavo são amigos ? - perguntou. Estranhei a pergunta, estava mais do que na cara a resposta.
- Melhores amigos. Porquê ?
- Você já dormiu na casa dele ?
- Não... Não que eu me lembre, mas ele já dormiu na minha - durante alguns segundos ele me olhou - mas porquê está me perguntando isso ?
- Curiosidade... - que estranho. O que Gustavo tinha a ver com toda a conversa ?
O resto do Torneio progrediu, graças a Deus, na santa paz. Os times fizeram um ótimo primeiro tempo, e não houve nenhum problema fora do campo. Chegou o intervalo, e eu já estava morrendo de fome.
- Nossa, que fome - dizia eu, deitando minha cabeça no balcão.
- Você não comeu de manhã ?
- Comi, mas já estou com fome.
- Ah... Espere aqui !
- Aonde vai ?
- Atrás de comida pra você.
- Não... Não precisa... - ele não me escutou. Pensava. Se ele havia arranjado uma namorada, não existia a remota chance de ele sentir algo parecido ao que sinto por mim. Mas... E aquela tentativa de beijo no hospital ? Pode ter sido apenas curiosidade. Aaaaiii ! - preciso parar de pensar nele ! - falei, dando um leve tapa no rosto - não posso me envolver ! Não posso !
MINUTOS DEPOIS
Ghilherme voltou com uma sacola nos braços.
- Não precisava ter ido, eu comeria depois.
- Não iria deixar você com fome. Se você emagrecer um quilo que seja meu pai vai me encher o saco por semanas - ri alto.
- Quer dizer que seu pai fala de mim mesmo quando não estou ?
- Fala e muito. Vai falar ainda mais quando descobrir que não estamos mais juntos... - Fechei a cara quando ouvi aquilo.
- A fome está até passando - falei
- Mas agora eu já comprei...
- Guarda. Depois eu como - um silêncio se formou entre nós. Enquanto eu ouvia a banda de Gustavo cantar uma música romântica, ele novamente me chamou atenção.
- Tem algo te aflingindo ?
- Porquê ?
- Você está estranho...
- Não... Não é nada ! Problemas amorosos apenas.
- Problemas com a Nat ?
- Acho que estou me apaixonando por outra pessoa...
A NOITE
Cheguei todo arrumado a festa. Vestia uma camisa amarela de mangas compridas, xadrez. Debaixo dela uma regata preta e um jeans. Estava bonito, modéstia parte ! Depois do show que a banda de Gustavo havia dado no intervalo do jogo, todos o estavam elogiando, além de claro, parabenizando pelo novo ano. Assim que ele me viu, veio correndo me cumprimentar.
- Lucas ! Que bom que veio amigo !
- Você sabe que eu não deixaria você na mão maninho - começamos a andar, rente a piscina da festa.
- E aí ??? O que trouxe de presente ???
- Algo que você estava querendo muito. Eu tenho certeza que... - parei, quando vi que Ghilherme não havia vindo sozinho a festa.
- Eu não o convidei para a festa maninho. Outra pessoa o convidou ! - ele havia trazido a Flávia. Naquele momento me senti tão mal que tive vontade de ir embora.
- Eu não vou ficar... - falei, entregando o presente a ele.
- EI mano ! Qual é ? Se ele tá namorando com alguém é sinal de que não sente nada. Você vai ficar dando moral para essa paixão que nem se consolidou ? Não vá embora, é a minha festa ! - assim como fez mais cedo, ele me puxou.
- Eu não acredito que isso tá acontecendo... - Ergui o olhar levemente, e vi o momento em que ele acenou, indicando que estava ali. Apenas baixei a cabeça e passei direto. Eu não acreditei. Estava com ciúmes dele !
TEMPO DEPOIS
Já que eu não tinha nada a perder, comecei a beber. Normalmente eu não bebia porque era bem fraco para bebida. Não demorou muito tempo, e logo eu já estava dançando feito louco na pista, com a camisa de mangas compridas na cintura. Já não estava vendo muita coisa bem. Minha mente estava embaralhada, eu estava bêbado !
- Porquê estou sofrendo ??? - cantarolava enquanto capengava pelo salão da festa.
- EI Lucas. Te Senta aqui, você já não está mais bem para ficar em pé...
- Eu não quero me sentar ! Quero dançar até cair - continuava andando sem ver direito para onde ia. Só lembro de ter escorregado e caído dentro da piscina. Eu sabia nadar. Mas meus sentidos estavam tão ruins que eu já não conseguia mais me manter. Comecei a me afogar em segundos - socorro !!! - sem forças, eu não conseguia nem chegar a margem. Comecei a me desesperar, quando sinto alguém me pegar. Essa pessoa me puxa, leva até a borda, e me tira da piscina. Quase desacordado, escuto aquela voz que me fez recobrar um pouco dos sentidos.
- Você está louco ? Quer me matar de susto porra ? - olhei pro lado, e vi levemente o rosto dele.
- Ghi... - uma tosse vem e leva um pouco da água que eu engoli.
- Porquê você bebeu tanto assim ? - senti sua mão em minha testa, igual quando eu fazia enquanto ele esteve febril.
- Porquê sim ! - dizia eu, atropelando as palavras.
- Nós vamos embora ! - falou - Ué, Cadê a Flávia ? - não sei direito o que houve. Só lembro ter ouvido ele falar "ela foi embora". Ele me ajudou a levantar, igual eu fiz quando ele teve a crise de asma. Por eu ser menor que ele, a dificuldade era pequena. Senti quando fui colocado dentro do carro. Senti quando o carro partiu.
MINUTOS DEPOIS
- Porquê você me trouxe pra cá ? - perguntei, entrando pela porta da frente da casa dele.
- Pra onde mais eu deveria te levar ?
- Pra minha casa.
- Quer que seu pai te dê uma surra por ter bebido ? Acho que não. Vem, eu te ajudo - enquanto eu subia a escada, as perguntas vinham a minha mente. A vergonha naquele momento estava longe.
- Porquê você levou ela a festa ?
- Porquê alguns amigos queriam conhece-la... Eu...
- Eu convidei apenas você, não ela.
- É... Mas...
- Affs ! Porquê eu ando me sentindo assim esses dias ?
- Assim como ? - perguntou, enquanto entravamos no quarto dele.
- Apaixonado !
- E você está apaixonado ?
- Estou ! - falou, me arrastando até o banheiro.
- É pela Nat ?
- Não, é por um garoto.
- Garoto ? Mas você não é hétero ?
- Eu achava que era, tá bom... Mas... Com ele é diferente - falou, tentando me colocar dentro do box do banheiro. Ligou o chuveiro... Eu não sabia direito o que estava falando, mas assim que ele ligou a água gelada, minha consciência foi retornando.
- É o Gustavo ?
- Não.... É o Garoto dos meus sonhos...
- Dos seus sonhos ? Como assim ?
- Eu sonho com ele a um tempão. Mas aliás, porquê você está curioso ? Nós não temos nada...
- Porquê... Porquê... - aproveitei que ele se descuidou e o puxei para dentro do box. Assim como no hospital, nossos rostos colaram.
- Fala o porquê !
- Porquê você não sai da minha cabeça !
Continua
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