Décima segunda parteEu não acho que queria acreditar que eles sabiam sobre mim e Samuel, e perguntei;
Eu: como assim, não confiamos?
Pedro: se confiassem, já teria contado sobre os dois...
Acho que parei no tempo, como eles sabiam disso? Não foi preciso pensar muito para obter a resposta: Júlio. Mas e agora o que falar pra eles, que esperavam que falássemos alguma coisa, a forma que Pedro falou me fez supor que todos eles já sabiam e já haviam conversado entre eles, e agora todos ali estavam olhando pra mim e Samuel;
Eu: isso não é questão de confiança...
Pedro: é questão de quê?
Com essa pressão de Pedro eu fiquei sem ter o que falar de tanto nervosismo e Samuel finalmente resolveu vir pro meu lado e falar algo;
Samuel: reação.
Era uma boa palavra, mas não explicava muito e dessa vez um dos outros resolveu questionar;
Tomás: reação?
Samuel: é, reação. A pessoa que contou isso, não reagiu bem quando soube sobre mim e nós pensamos que nada impediria vocês de fazer a mesma coisa.
Pedro: a pessoa que contou é um canalha, acha que somos a mesma coisa?- perguntou e completou- nos conhecemos a muito tempo e pensar que iríamos virar as costas pra vocês por isso, é quase uma ofensa sabia?
Me senti envergonhado com isso e Marcelo disse;
Marcelo: Vejam bem, um casal como vocês dois é tão normal quanto um casal de homem e mulher hoje em dia e achar isso anormal é coisa de gente ultrapassada.
Os outros concordaram com o que Marcelo disse;
Eu: mesmo assim vocês nunca comentaram nada sobre esse assunto e preferimos deixar isso só com a gente.
Tomas: até podemos entender que vocês não teriam como saber como a gente iria reagir, e que foi certo manter seu relacionamento em segredo, mas nunca pensou que poderíamos descobrir?
Samuel: pensamos que descobririam cedo ou tarde e pedimos desculpas por não ter contado antes, mas nós não temos que decidir nada. Isso cabe a vocês, então o que vai ser?
Marcelo: o que vai ser o quê?
Eu: o que vocês vão fazer?
Pedro: como assim? Claro que não vamos fazer nada, eu não me incomodo com casais de homens, pra mim não é novidade.
Disse e deu de ombros indo pegar mais cerveja e então;
Marcelo: pra mim é novidade.
Todo mundo parou e olhou pra ele;
Marcelo: já vi casais de homens, mas não como vocês dois.
Se explicou, mas;
Pedro: agora que disse Marcelo, é mesmo, nunca tinha visto um casal como vocês dois.
Samuel: como assim? Como nós dois?
Marcelo: assim iguais, dois machões sem parecer, sabe? Qual a palavra?
Era visível que ele tivesse procurando uma palavra que não soasse ofensiva, Samuel disse;
Samuel: afeminado?
Pedro: isso mesmo, nenhum dos dois são afeminados acho que se fosse pra descobrir por nós, vocês iam ficar sem ser descobertos por um bom tempo.
Disse e gargalhou;
Marcelo: agora que confirmaram que são namorados ou maridos tanto faz, eu não estou acreditando ainda.
Tomas: fazem o seguinte, se beijem.
Senti meu rosto ruborizar, e Samuel riu e disse pra me deixar mais com vergonha;
Samuel: Daniel tem vergonha de me beijar na frente de pessoas, então não vai rolar.
Pedro: há não Daniel vai beijar sim, vamo lá gente torcida. Beija...
Não vou nem dizer que todos eles começaram a gritar a mesma coisa ‘’beija, beija, beija’’ o que foi uma cena totalmente esquisita, um bando de heteros casados, fazendo uma torcida pra ver um beijo gay. Tive que mandar eles calarem a boca e beijar o Samuel pra ver se paravam, mas a brincadeira com nosso relacionamento não parou, pois Samuel me chamou pelo apelido que ele colocou em mim ‘’tigrão’’, e eles descobriram que eu ainda não havia posto um apelido no Samuel e começaram a sugerir apelidos pra colocar nele, prefiro nem colocar, pois é cada mais esquisito do que o outro. Tive uma sensação familiar com aquilo, na verdade mais que uma sensação, eles eram a minha família, pois não julgaram, pelo contrário apoiaram, eu com certeza não poderia ter um presente mais gratificante do que isso. O churrasco continuou eles nos contaram que tinha sido o Júlio que contou pra eles sobre nós, enviando uma mensagem pra todo mundo e até nos mostraram a mensagem que foi seguidamente apagada, a mensagem dizia: ‘’casal de bichinhas a solta. A policial e a guardinha’’(sinceramente ele precisava ser mais criativo com isso), eles riam ao comentar que Júlio poderia estar interessado em Samuel, mas rapidamente mudaram de assunto pedindo desculpas, Samuel os tranquilizaram dizendo que Júlio não tinha e nem teria a menor chance com ele, pois ele já tinha dono e o amava, isso claro sobrou pra mim, que fui bombardeado de brincadeiras. Eles só foram embora no final da tarde completamente bêbados e soltos, soltos o suficiente pra começaram a chamar um ao outro de ‘’amiga’’ só pra nos zoar. Depois que eles foram embora, eu e Samuel sentamos nos sofás e rimos iguais a dois malucos, nem estávamos com a ideia de contar sobre nós pra nossos amigos, Júlio fez esse favor e graças a Deus nenhum deles virou as costas pra nós, não consigo nem descrever como eu fiquei aliviado com isso, acho que minha vida finalmente estava completa, uma pessoa pra amar e amigos pra me apoiar.
Eu poderia dizer que minha convivência estava indo as mil maravilhas, mas não demorou muito pra iniciar uma pequena turbulência, eu percebi que o ciúme dele era grande, pois começou a perguntar onde eu estava quando chegava alguns minutos atrasado do trabalho, e quando saía comigo nenhum olhar poderia ser pra mim ou ele inventava uma desculpa pra podermos ir embora, ele podia achar que eu não percebia, mas eu percebia e estava querendo falar com ele por isso, mas evitava confusões. Eu não consigo ficar com raiva dele a ponto de querer xingar, então ignorava essa mania dele e aceitava sem falar nada, até que um dia ele passou dos limites. Uma moça começou á frequentar a mesma academia que a gente, e os exercícios dela cruzavam com o meu fazendo com que nós revezássemos um equipamento e com isso acabávamos conversando, ela era nova na cidade então era natural querer me perguntar alguma coisa e além disso ela não estava dando encima de mim, nem preciso dizer que ele não gostou disso, sua cara era evidente e com isso ele começou a me tratar com certa frieza em casa. Um exagero que virou uma palhaçada da parte dele quando ele no meio do meu exercício com a menina me chamou pra ir embora e eu não fui, mas ele foi sozinho, com a saída dele a menina que se chamava Fernanda perguntou;
Ela: o que deu nele?
Eu: não sei.
É eu sabia sim, mas ela olhou pra mim e pareceu perceber alguma coisa;
Ela: agora já sei.
...