"Quando tudo parece estar perdido, você sempre encontra uma fagulha de esperança.
A chamada "luz no fim do túnel", e a minha foi o Nickolay."
Acordo assustando com alguém tocando a campainha repetidamente.
- Já vou! - grito.
Procuro um short em meio a bagunça, preciso arrumar meu quarto, mas não tenho nenhum ânimo. Bem, ninguém em minha situação teria. Para que você entenda melhor, eu vou explicar desde o começo. Me chamo Miguel Castelli, tenho 19 anos, sou estudante de Artes.
E como eu já imaginava é o sr. Alvarez, advogado da família, bem, agora só meu advogado.
- Bom dia, Miguel. - ele me cumprimenta e aperta minha mão rapidamente.
Eu o convido para entrar e nós nos sentamos no sofá da sala. Alvarez está com "com cara de poucos amigos", então sei que lá vem bomba.
- Vou ser bem franco com você. - ele diz olhando bem nos meus olhos.
Ele fica em silêncio, tem um olhar pensativo, de um certo modo até cauteloso. O que é estranho, pois o sr. Alvarez é sempre objetivo. Começo a ficar nervoso.
- Fale logo. - falo para encorajá-lo.
- Tudo bem, já faz uma semana e meia desde o... o ocorrido. - diz ele sem graça.
- Fale com todas a palavras sr. Alvarez, desde a morte da Clara, minha irmã. - rebato.
Falar disso trás a tona toda dor que eu tenho tentado suprimir esses últimos dias. Meus olhos começam a arder e eu sei que breve minha crise de choro diária irá começar. Tento me recompor a máximo que consigo e digo para ele prosseguir.
- Sua irmã deixou uma espécie de último pedido.
Olho pra ele, meio sem entender. Como assim último pedido? Ela esperava morrer?
- Como assim?
- São instruções, em vídeo. - ele explica.
Então, eu vou vê-la, mais um vez. Isso meio que me dá um sentimento de paz, "Será como minha despedida", penso.
- E onde está esse vídeo? - pergunto.
- Bom, está em um cofre, no banco. Você o assistirá amanha, venho te buscar as 10hrs.
- Isso é tudo sr. Alvarez? - digo me levantando.
Ele se levanta e aperta minha mão.
- Por enquanto, sim. - diz me dando seu sorriso mais polido.
O levo até a porta, mas antes disso ele me faz um par de perguntas, como "Como você está?", "Tem se alimentado bem?", entre outros. Dou respostas curtas, quero que ele vá logo, pra eu ficar só com os meus pensamentos.
Logo ele se vai e eu fico ali, de pé, costas viradas para porta fechada, encarando o apartamento. Está tudo no seu devido lugar, eu limitei a bagunça apenas ao meu quarto. Da forma que está, parece que nada aconteceu, parece que a Clara vai entrar pela porta a qual quer hora. Mas, não.
A Clara cuidou de mim desde que nossos país morreram, a seis anos. Sempre fomos muito unidos, mas desde que eu voltei da França, após ter estudo um ano lá, as coisas mudaram entre a gente. Boa parte da culpa, atribua a mim mesmo, fiz muitas coisas na França que nem em um milhão de anos eu comentaria com a minha irmã. Não passávamos muito tempo juntos e disso eu me arrependo muito.
Enxugo as lágrimas que eu nem tinha notado que tinham caído e decido arrumar o meu quarto. Arrumo meu quarto e aproveito para varrer o resto da casa. Quando pego meu celular para ver a hora ele começa a tocar. É Alice, uma amiga.
- Alô? - sua voz saí bem acanhada, coisa totalmente fora do normal.
Dou uma risada sem graça.
- Oi, Alice.
- Você finalmente atendeu, eu estava preocupada. Passei ai ontem, mas o porteiro falou que ninguém atendia o interfone.
Eu sei que é uma pergunta um pouco idiota, mas como você está?
Dou um suspiro. Como eu estou? Arrasado? Destroçado? Bem como você estaria se sua única irmã, última familiar existente morresse em acidente de carro, tal como os seus pais quando você era criança? Penso em inúmeras formas de descrever como me sinto, mas nenhuma parece apropriada.
- Bem, eu acho. - Por fim, eu minto.
- Eu sei que você não está bem, mas, eu só quero que você se comunique comigo. Não sou só eu que está preocupada com você. A Lisa e o Cadú também. Só quero que você saiba que estamos com você.
- Eu sei. - "... mas não tem como vocês me ajudarem.", penso.
- Promete que você vai voltar pra faculdade. - ela diz em uma voz manhosa.
Dou um sorriso preguiçoso. Alice é sempre assim, te faz sorrir quando você mais precisa. Desde que eu a conheci, foi uma espécie de química instantânea, não sexual, da minha parte, mas foi uma simpatia mágica. Alice é morena, cabelo comprido, alta, olhos azuis, corpo magro, porém torneado, mesmo ela se considerando magrela. Ela foi a primeira que eu conheci na faculdade. No começo, eu notei um certo interesse dela, coisa que eu logo cortei, pois não me senti sexualmente atraído. Logo após, conheci a Elisabeth, que é ruiva, cabelo curto, cheia de estilo, corpo também maneiro, me chamou muita atenção, mas eu logo percebi o amor platônico que rolava com o Cadú. Bom, esse nem sei o que falar, ele é brother pra qual quer hora, ele é um cara inteligente, meio nerd. O Cadú é um pouco mais baixo que eu, branco, cabelo escuro, ostenta um moicano, corpo normal.
- Prometo, Alice. - digo afim de tranquiliza-la e acabar com a conversa.
- Tá bom, é só isso. Vou desligar, depois a gente se fala. Ah, e quando eu ligar ou qual quer outro amigo seu, por favor, atenda. Ok?
Alice sendo Alice.
- Tá bom, beijo. - desligo.
Vou para o meu quarto e no corredor pego uma foto minha com Clara. Deito na cama e fico olhando a foto.
- Quase não nos parecemos. - digo a mim mesmo.
Após dizer isso, noto que não é verdade. Somos bem parecidos, nosso tom de pelo e cor do cabelo são apostos porém. A Clara tinha o cabelo bem loiro e a pele clara, puxou ao nosso pai. Já eu, sou um pouco mais moreno, tenho um corpo considerado forte, mesmo sem eu malhar a algum tempo e tenho o cabelo quase negro, como o da mamãe. Porém, nossos olhos são do mesmo tom de castanho, bem escuros. E ambos, sempre tivemos o cabelo bem liso.
Fico feliz em parecer com ela, mesmo em pequenas coisas. Fico mais um pouco ali, lembrando de coisas sobre a Clara, até a noite cair. Janto e me preparo para dormir.
- Amanha será um dia longo. - digo a mim mesmo.